Delúbio, tesoureiro do Mensalão, retorna à política e quer ser deputado em 2026

Lula diz a Trump que Bolsonaro “faz parte do passado da política brasileira”

Líderes do Brasil e dos Estados Unidos se reuniram na Malásia

Deu no G1

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou, nesta segunda-feira (27), que conversou com Donald Trump sobre Jair Bolsonaro, mas disse que o ex-presidente “faz parte do passado da política brasileira”. Os líderes do Brasil e Estados Unidos se reuniram na Malásia para discutir sobre o tarifaço e sanções contra autoridades brasileiras.

“Ele sabe que rei morto, rei posto. Ele sabe. O Bolsonaro faz parte do passado da política brasileira. Eu ainda disse para ele, com três reuniões que você fizer comigo, você vai perceber, sabe, que o Bolsonaro era nada, praticamente”, afirmou.

INVERDADE – Lula afirmou ainda ter dito a Trump que foi uma inverdade o que foi falado sobre o julgamento de Bolsonaro em carta dos EUA para justificar a taxação ao Brasil. O presidente disse que explicou a Trump que o julgamento foi “muito sério, com provas muito contundentes”.

“Eu disse para ele a gravidade do que eles tentaram fazer no Brasil. Disse a ele que eles têm um plano para matar a mim, para matar meu vice-presidente, matar Alexandre de Moraes”, disse Lula. No domingo, antes da reunião entre os presidentes, Trump foi questionado sobre Bolsonaro. Ele afirmou que “se sentia mal” pelo que o ex-presidente brasileiro passou.

ENCONTRO –  A reunião entre os presidentes, que aconteceu neste domingo (26), marcou um novo passo das negociações entre os dois países. Essa foi a primeira vez que os líderes se encontraram oficialmente para conversar sobre as tarifas impostas pelos EUA às exportações brasileiras.

Antes disso, Trump e Lula chegaram a falar por telefone e se encontraram brevemente na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em setembro. Em entrevista a jornalistas após a reunião, o ministro das relações exteriores do Brasil, Mauro Vieira, afirmou que o encontro foi positivo, e reiterou que Lula voltou a pedir a suspensão das tarifas durante o período de negociação.

Bolsa Família dos prefeitos corruptos: transforma a miséria em deboche político

Prefeitos que recebiam Bolsa Família tinham carros, terras e gados

Pedro do Coutto

Há momentos em que a política brasileira atinge níveis tão baixos que nem a indignação parece dar conta. O caso revelado por O Globo, em reportagem do jornalista Bernardo Mello, é um desses episódios que expõem a degradação moral de parte do poder público. Prefeitos donos de terras, gado e carros de luxo foram flagrados como beneficiários do Bolsa Família, um programa criado para sustentar quem vive à beira da sobrevivência.

Trata-se de um escárnio, um golpe não apenas contra o erário, mas contra a própria ideia de empatia social. É o retrato fiel de um país que permite que a esperteza ocupe o lugar da ética, e o privilégio se disfarce de necessidade.

PACTO DE SOLIDARIEDADE – O Bolsa Família, com todos os seus méritos e limitações, sempre foi um pacto de solidariedade: transferir um pouco da riqueza coletiva para os que não têm o suficiente para comer. O que se vê agora é a distorção desse pacto, transformado em um balcão de oportunismo.

Como pode um prefeito, que administra recursos públicos, dono de fazendas, veículos e rebanhos, constar no cadastro de um programa voltado à extrema pobreza? A resposta é simples e vergonhosa: porque a fiscalização é frouxa, e o senso de decência, em alguns, é inexistente. É o retrato de uma elite local acostumada a confundir o público com o privado, a usar o poder para benefício próprio, enquanto posa de protetora dos pobres nas campanhas eleitorais.

O episódio não é um caso isolado. É a ponta de um iceberg de descontrole e desfaçatez. Há anos, especialistas e auditores alertam para a fragilidade dos cadastros e a falta de integração entre os sistemas públicos. Quem tem carro, gado e terra deveria ser automaticamente excluído do programa, mas o cruzamento de dados é precário e a verificação, ineficiente.

INFILTRADOS – O resultado é que prefeitos, vereadores e servidores públicos com patrimônio expressivo acabam se infiltrando entre os mais pobres — e isso não ocorre por acaso, mas por conveniência. Em muitos municípios pequenos, o Bolsa Família ainda serve como moeda de troca eleitoral, um instrumento de controle social usado por quem domina as máquinas locais.

O que choca não é apenas o roubo material — afinal, para quem tem fazenda é troco de padaria —, mas o roubo simbólico. Quando um representante público toma o lugar de uma mãe solo que precisa escolher entre o gás e o leite, ele comete um crime moral: o de zombar da pobreza.

É uma agressão direta à dignidade de milhões de famílias que dependem desse benefício para sobreviver. É o que o texto de Bernardo Mello chama de “assalto contra a consciência coletiva”, e é exatamente isso: uma invasão silenciosa da ética por parte dos que deveriam defendê-la.

OBRIGAÇÃO – O governo federal, por sua vez, tem obrigação de reagir com firmeza. A mera exclusão desses nomes do cadastro é insuficiente. É preciso punir exemplarmente, devolver os valores indevidos, expor os responsáveis e abrir processos administrativos e criminais.

Porque o problema não é técnico — é moral. E moral não se corrige com relatórios, mas com consequência. Enquanto os corruptos de sempre continuarem a usar a pobreza como disfarce e o poder como escudo, o Brasil seguirá sendo o país onde a esperteza é premiada e a honestidade, punida pela omissão.

FRONTEIRA – No fundo, esse escândalo não é sobre dinheiro — é sobre valores. É sobre um país que parece incapaz de reconhecer a fronteira entre necessidade e ganância. Prefeitos que recebem Bolsa Família não estão apenas cometendo fraude: estão rindo na cara do povo. Rindo da mãe que levanta às cinco para trabalhar, do pai que enfrenta fila em posto de saúde, do estudante que depende do auxílio para não abandonar a escola. Rindo da própria democracia que os elegeu.

O Bolsa Família dos corruptos não é apenas uma denúncia jornalística — é o retrato de um Brasil que insiste em se trair. Um país em que o poder virou licença para o abuso, e a pobreza, vitrine de conveniência. Enquanto o Estado não punir o cinismo travestido de carência, continuaremos a viver sob o domínio daqueles que fazem da miséria um palco — e do assistencialismo, um espetáculo grotesco de impunidade.

Com prisão de Bolsonaro no horizonte, PL retoma pressão por anistia total no Congresso

Charge do Nando Motta (Arquivo Google)

Jussara Soares
CNN

Com a possibilidade de uma eventual decretação da prisão em regime fechado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o Partido Liberal voltará a insistir na aprovação do projeto de lei da Anistia. O tema será levado ao presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), na próxima reunião de líderes, prevista para terça-feira (28).

A pressão pela anistia retorna após o STF (Supremo Tribunal Federal) publicar, na quarta-feira (22), o acórdão do julgamento da trama golpista. Com isso, as defesas têm até a próxima segunda-feira (27) para apresentar recursos. A expectativa entre advogados que atuam no processo é que o STF não demore a julgar os chamados embargos de declaração. A previsão é que o trânsito em julgado ocorra até o fim de novembro.

CUMPRIMENTO DA PENA – Com os recursos esgotados, o ministro Alexandre de Moraes, relator da ação penal, deve determinar o início imediato do cumprimento da pena. A partir disso, poderá decretar a prisão definitiva de Bolsonaro em regime fechado. O ex-presidente cumpre prisão domiciliar desde agosto.

“Alexandre (de Moraes) acelerou para publicar o acórdão. Tínhamos combinado com o Centrão de dar um tempo nesse pedido. Mas agora não tem como esperar mais e vamos levar a pauta da anistia ao presidente Hugo na próxima semana”, disse o líder do PL, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ). Segundo o parlamentar, o pedido será para que o projeto seja pautado na primeira semana de novembro.

No dia 17 de setembro, a Câmara aprovou o regime de urgência do PL da Anistia. Escolhido relator, o deputado federal Paulinho da Força (Solidariedade-SP) passou a chamar de PL da Dosimetria, com o foco na redução das penas aplicadas aos condenados pelos ataques de 8 de Janeiro.

REJEIÇÃO – A proposta, porém, é rejeitada tanto pela esquerda quanto pela direita, enquanto o Centrão quer evitar se desgastar com mais uma pauta. O PL, partido de Bolsonaro, quer pautar esse texto e apresentar um destaque que restabeleça a proposta original de anistia com o perdão total aos condenados pela tentativa de golpe de Estado. “O desânimo é do Paulinho, não nosso. Ele não tem voto para aprovar o texto dele, mas para aprovar nosso destaque da anistia nós temos”, disse Sóstenes à CNN.

Até o momento, a tendência é que o presidente da Câmara não inclua o PL da Anistia na pauta. Hugo Motta tem afirmado que só levará o texto ao plenário se houver acordo para o Senado avançar simultaneamente com a proposta, a fim de evitar desgaste entre os deputados. Até agora, porém, não há sinalização do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP).

Mudança de postura de Fux mostra a que ponto chegou a disputa de poder

Charge: FUX deixa a primeira turma - Blog do AFTM

Charge do Cazo (Blog do AFTM)

Roberto Nascimento 

A sociedade brasileira está dividida de forma generalizada. Não há consenso nos Três Poderes, que deixaram de ser harmônicos. O Supremo reflete ao extremo essa divisão entre garantistas, positivistas, lavajatistas, bolsonaristas e lulistas. E o Direito, bem aí é um mero detalhe.

O ministro Luiz Fux declarou que não é demérito algum mudar de opinião, para justificar seu voto pela absolvição de Bolsonaro, o chefe da organização criminosa e condenar seu ajudante de ordens, o tenente coronel Mauro Cid. Considero essa incoerência, essa falta de lógica, completamente injustificável.

Antes do julgamento do processo do golpe de Estado, Fux era o ministro campeão na negativa de habeas corpus, sendo consagrado como um magistrado duro contra benefícios para réus envolvidos em ilícitos não penais.

NOVA POSTURA – Depois de condenar a 17 ou 14 anos os envolvidos no 8 de Janeiro, o ministro carioca mudou de opinião, nesse caso do golpe de Estado, e passou a absolver Jair Bolsonaro, generais, coronéis, só gente boa das classes privilegiadas. Um parênteses: abriu exceção para condenar o general Braga Neto e o tenente coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do então presidente Bolsonaro”.

São coisas da vida, que nós, pobres mortais, não conseguimos entender ou explicar. Acho que nem Freud explicaria essa reviravolta de 180 graus do ministro Luiz Fux, um inquestionável detentor de notável saber jurídico.

CRISE GRAVE – Para justificar essa reviravolta em seu posicionamento como juiz, Luiz Fux argumentou que as decisões judiciais devem se aproximar do sentimento do povo, para ter legitimidade constitucional. Em tradução, leia-se: no caso, o povo representado por deputados e senadores.

Note-se que em países ocidentais há um sentimento de chefes de Estado e dos Legislativos para  que determinadas decisões judiciais sejam submetidas ao crivo dos parlamentares.

O primeiro exemplo vem de Israel, onde o premier Netanyahu enviou um projeto ao parlamento, no qual as decisões de juízes contra membros do Executivo e do Legislativo só terão validade se aprovada por dois terços das casas Legislativas, Câmara e Senado.

PRISÃO DE JUÍZES – Pior ainda. Nos Estados Unidos, o presidente Donald Trump, neste ano, ameaçou prender juízes que decidiram contra ele. Está pressionando a Suprema Corte a ordenar processos contra juízes e já entrou na Justiça contra juízes que ousaram puni-lo por assédio sexual e sonegação de impostos.

Por fim, o Congresso brasileiro tentou votar uma Proposta de Emenda Constitucional em regime de urgência, submetendo a aprovação do Congresso (eles mesmos) as decisões judiciais contra deputados e senadores. O que deputados chamaram esse monstrengo de PEC das Prerrogativas, o povo que foi às ruas protestar, chamou de PEC da Bandidagem. Tiveram que recuar no momento.

Bem, os exemplos são amplos: na Hungria, na Turquia, em El Salvador, em Cuba, na Nicarágua e na Venezuela. Pensem nisso.

Descortês, Trump vestiu uma bela saia justa em Lula ao falar na prisão dele

Ilustração de Caio Gomez (Correio Braziliense)

Carlos Newton

Como a reunião entre Lula da Silva e Donald Trump, foi altamente sigilosa, a repercussão dividiu opiniões. Enquanto integrantes do governo petista comemoraram o sinal de retomada do diálogo com os Estados Unidos, políticos da oposição festejaram o fato de o presidente americano ter elogiado o ex-presidente Jair Bolsonaro diante dos jornalistas, antes da reunião.

Sempre espalhafatoso, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) aproveitou para desmoralizar o encontro. Nas redes sociais, ele compartilhou um vídeo antigo em que Trump diz que “sempre gostou” do ex-presidente Jair Bolsonaro.

INCÔMODO – “Lula encontra Trump e, na mesa, um assunto que claramente incomoda o ex-presidiário: BOLSONARO. Imagine o que foi tratado a portas fechadas?”, escreveu Eduardo no X, e sua publicação foi compartilhada por um dos irmãos, o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ), reforçando o tom de provocação da ala bolsonarista diante da aproximação entre os dois presidentes.

Ao mesmo tempo, houve comemoração dos petistas e da base aliada. O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, exagerou na dose e escreveu na rede social: “Lula, gigante pela própria natureza!!!”.

Já o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, do PSD, sem medo do ridículo, afirmou que “o Brasil retoma o diálogo com o mundo sob a liderança de um verdadeiro estadista”.

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P.S. 1
–   Lula disse ter tido ‘ótima reunião’ com Trump, porque, “quando líderes escolhem conversar, a História agradece”. E acrescentou que “as negociações sobre tarifas começam imediatamente”. Ora, todos achavam que as negociações já haviam começado, a imprensa não fala em outra coisa, e de repente Lula revela que só vão começar agora…

P.S.2 – Assim, a reunião parece ter sido mais um “embromation act”, e só os participantes sabem o que realmente foi tratado. O fato é que Trump botou o presidente brasileiro no corner, ao perguntar quanto tempo o petista ficou preso, dizer que tinha sido “perseguição” e depois elogiar Bolsonaro. Foi uma bela saia justa, para quem passou 580 dias no xadrez.]

P.S. 3 – Quanto às sanções já aplicadas, seria fácil rever o bloqueio de vistos, mas é muito difícil anular incriminação na Lei Magnitsky, que até agora só pegou Alexandre de Moraes e sua esposa advogada. É uma lei muito grave, que só é aplicada quando há provas inequívocas de desrespeito aos direitos humanos ou prática de terrorismo. (C.N.)

COP30 é importantíssima, mas já começa desprestigiada por Trump

Homem de terno escuro, camisa branca e gravata vermelha está em pé próximo a uma parede branca, com a bandeira dos Estados Unidos parcialmente visível à esquerda.

No EUA, procuradores de 17 estados boicotam a COP30

Vicente Limongi Netto

Oportuno artigo da atilada Ana Dubeux (Correio Braziliense – 26/10 ), destacando a importância da COP30 e as excelentes matérias da craque Cristina Ávila, publicadas no Correio Braziliense sobre florestas, meio ambiente e rios do Xingu. Dubeux acentua que o Correio vai acompanhar a COP30 “com um olho na floresta e outro no cerrado”.

Por rigorosa justiça, nesta linha, recordo, como se diz no futebol, o pontapé inicial sobre o tema. Foi na Rio-92. O anfitrião e chefe da nação era Fernando Collor de Mello.

CÚPULA DA TERRA – O certame reuniu, em junho daquele ano, mais de 100 chefes de Estado e de governo, na “Cúpula da Terra”, também chamada de Congresso das Nações Unidas sobre meio ambiente.

O certame resultou em várias resoluções sobre diversidade biológica e mudanças climáticas. Foram elaborados documentos importantes, a agenda 21, a convenção sobre diversidade biológica e a convenção das Nações Unidas sobre a mudança do clima. 

Na ONU, em discurso, como presidente da República, Lula enalteceu os resultados da Rio-92. Agora, a COP30 já começa esvaziada pelos Estados Unidos, pois Trump não vai comparecer.

RECALCADO – Autoridades brasileiras, em geral, graduadas e menos graduadas, da política, da economia e do empresariado,  como seria de se esperar, manifestaram-se otimistas com o encontro, na Malásia, entre Trump e Lula. Todos salientando os prováveis avanços econômicos entre Brasil e Estados Unidos que poderão avançar entre os dois países.

Trump e Lula conversaram como dois presidentes que pensam no bem comum.  Pelo quadro belicoso existentes até então, a reunião entre os dois chefes de nações, pode, seguramente, ser considerada histórica. 

O lado insano e estúpido a respeito do encontro, ficou com a declaração da excrescência fujona, o ainda deputado federal, Eduardo Bolsonaro. Nota recalcada, ressentida, infeliz, torpe, fracassada, leviana e irresponsável.

Senado usa lista do impeachment de Moraes para tentar barrar Messias no STF

Votação de Messias no Senado é considerada arriscada

Danielle Brant
Folha

Senadores de oposição e aliados do ex-presidente da Casa Rodrigo Pacheco (PSD-MG) passaram a citar a lista de 41 assinaturas de apoio ao pedido de impeachment contra o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), como parâmetro de votação de uma indicação de Jorge Messias à corte.

As 41 assinaturas representam a maioria dos 81 senadores. O número é o mínimo necessário para aprovar Messias no plenário caso o presidente Lula (PT) decida indicar seu advogado-geral da União para a vaga de Luís Roberto Barroso no STF.

TENTATIVA BARRADA – A tentativa de abrir processo de impeachment contra Moraes foi barrada pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), defensor do nome de Pacheco para a vaga de Barroso.

Senadores da oposição passaram a citar a coesão alcançada nas assinaturas do pedido como um recado ao governo de que, já que não conseguem avançar na saída do ministro do Supremo, podem, ao menos, impedir a aprovação de um nome muito ligado ao PT.

VOTAÇÃO SECRETA – Pacheco, ex-presidente do Senado, é o nome favorito mesmo entre alguns aliados de Lula, que apontam ainda como risco a Messias o fato de a votação ser secreta. A leitura de senadores é que a reeleição do presidente hoje está mais assegurada do que estava há três meses e que o petista poderia guardar uma indicação mais alinhada ao partido para um eventual quarto mandato.

Existe também uma cobrança velada por reciprocidade do governo com o Senado. Os parlamentares lembram que derrotaram recentemente a PEC (proposta de emenda à Constituição) da Blindagem, o que contribuiu para praticamente encerrar a discussão sobre a anistia aos envolvidos nos ataques de 8 de Janeiro, tema caro à gestão petista.

Quando nação vira regime surge o erro de confundir povo e governo

Os extremismos polares envenenam a opinião pública

Demétrio Magnoli
Folha

No início do cessar-fogo, a pretexto de punir o Hamas pela demora na entrega de restos mortais de reféns, as forças israelenses limitaram a entrada de ajuda humanitária em Gaza. Foi um gesto perverso, uma nova violação das leis de guerra. O Hamas não foi punido, pois tem alimentos e combustíveis à vontade. A punição recaiu sobre a população civil de Gaza. O conceito que a sustenta é a identificação do Hamas com o povo palestino.

Salem Nasser, da FGV-SP, acusou Lula de desferir “um golpe injusto contra os palestinos” ao afirmar que o Brasil tem um problema com Netanyahu, não com Israel. Segundo ele, o presidente “comete um erro factual ao sugerir que a política de Netanyahu não tem o apoio da população de Israel e que essa mesma política não seria a do Estado como um todo”.

CONCEITO – Seu conceito operativo espelha o utilizado pelo governo de Israel: a identificação do governo de Netanyahu com a nação israelense. O obstáculo de fundo à paz na Terra Santa não são as fronteiras, os assentamentos ou o estatuto de Jerusalém. É o conceito de que o outro encarna o mal absoluto —uma nação “genocida” ou uma nação “terrorista”— e, portanto, precisa ser exterminado.

São duas narrativas paralelas contadas incansavelmente desde antes da fundação do Estado judeu. De um lado, os arautos do Grande Israel repetem as histórias (verdadeiras) dos planos de paz recusados pelos palestinos e dos atos de terror cometidos contra israelenses ou judeus da diáspora. Do outro, os arautos do rejeicionismo de Israel repetem as histórias (verdadeiras) da expulsão dos palestinos em 1948, da implantação de assentamentos na Cisjordânia e dos massacres perpetrados pelas forças israelenses.

PLATAFORMAS – As duas verdades simétricas não formam empreendimentos historiográficos. São plataformas destinadas a avançar um objetivo político: o “Grande Israel, do rio até o mar”, numa versão, ou a “Palestina Livre, do rio até o mar”, na outra. Os extremismos polares envenenam a opinião pública, na Terra Santa e fora dela, enterrando as vozes racionais sob pilhas de detritos ideológicos.

O Estado de Israel, segundo Salem Nasser, é igual a Netanyahu e seus cavaleiros da limpeza étnica. Nele, inexistem Rabin, assassinado pela assinatura dos Acordos de Oslo, Barak ou Olmert, autores de mapas da paz, líderes que denunciaram os crimes de Israel na campanha militar deflagrada pelo 7 de outubro de 2023.

Já a Palestina, segundo os supremacistas judaicos, é igual aos fundamentalistas antissemitas do Hamas, que sonham destruir o Estado judeu. Nela, inexistem Arafat, signatário de Oslo, ou Marwan Barghouti, o líder que o governo israelense não liberta justamente por almejar a paz em dois Estados.

POSIÇÃO BRASILEIRA  – Lula erra muitas vezes, na tática e no tom, quando aborda o conflito na Terra Santa. Acerta sempre, porém, no terreno dos princípios. Ao dizer que o Brasil nada tem contra Israel, reafirma a histórica posição brasileira de defesa da solução incontornável de paz: a convivência entre o Estado judeu e um Estado palestino.

Nesse passo, contraria os interesses dos que enxergam o cessar-fogo como curto parêntesis na guerra sem fim pelo Estado único, “do rio até o mar”. O suposto ódio eterno, atávico, entre os dois povos é um mito. A cólera deve ser semeada todos os dias, pela palavra. O “pecado” de Lula é não semeá-la.

Ausência de mulheres limita a pluralidade e empobrece o debate constitucional

Diversidade de gênero cria espaços para novas perspectivas

Angela Boldrini
Folha

O presidente Lula (PT) ainda não formalizou a indicação do novo ocupante da vaga deixada por Luís Roberto Barroso no STF (Supremo Tribunal Federal) mas tudo indica que não será desta vez que a ministra Cármen Lúcia deixará de ser a solitária representante de mais da metade da população brasileira, as mulheres, na corte.

Nas três oportunidades que teve de nomear ministros ao Supremo desde que foi empossado, em 2023, Lula optou por homens. Escolheu Cristiano Zanin para substituir Ricardo Lewandowski, Flávio Dino para a vaga de Rosa Weber e agora deve nomear o advogado-geral da União, Jorge Messias.

MUDANÇAS – Mas como a presença de mulheres em cortes superiores afeta os tribunais? Faz diferença ter juízas e ministras no funcionamento do Judiciário? Segundo a professora de direito da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) Juliana Cesário Alvim, sim. Primeiro, porque há estudos no exterior que apontam para uma mudança nas decisões sobre temas ligados à discriminação por gênero ou sexo quando há uma presença maior de mulheres.

Além disso, a presença de mulheres cria espaços para novas perspectivas nos julgamentos, ainda que não altere os resultados. A professora cita, por exemplo, a juíza Ketanji Brown Jackson, primeira mulher negra indicada à Suprema Corte dos Estados Unidos. “Ela quase sempre é voto vencido, mas traz argumentos que não chegavam à corte antes e isso é muito importante”, diz Cesário Alvim.

POLÍTICA DA PRESENÇA – É a chamada política da presença, explica a pesquisadora Débora Thomé, da Fundação Getúlio Vargas. “As pessoas não são dissociadas das suas experiências vividas, do lugar que elas ocupam no mundo”, afirma. Ou seja, se cada ministro decidirá a partir de seu “lugar no mundo”, a falta de mulheres e de pessoas negras faz desaparecer perspectivas majoritárias na sociedade brasileira, argumenta.

As pesquisadoras também apontam que o número ínfimo de mulheres que já ocuparam postos no STF faz com que a corte adote dinâmicas de gênero nos próprios trabalhos.

INTERRUPÇÃO – Em um artigo publicado em 2024 no Journal of Empirical Legal Studies, Cesário Alvim e colegas demonstraram, por exemplo, que as ministras brasileiras são mais interrompidas do que seus colegas homens durante as falas no tribunal. Além disso, quando elas são relatoras, os ministros homens tendem a abrir mais divergências.

Os estudos partiram de uma fala da ministra Cármen Lúcia que, em 2017, deu uma bronca em plenário no colega Luiz Fux. O ministro havia dito que “concederia” a palavra a Rosa Weber.

Foi interpelado por Cármen, que presidia a corte: “Como concede a palavra? É a vez dela de votar. Ela é que concede, se quiser, a Vossa Excelência um aparte”, ralhou a ministra. E relatou uma conversa que teve com a juíza Sonia Sotomayor, da Suprema Corte dos EUA. “A ministra Sotomayor me perguntou: ‘E lá [no Brasil], como é que é?’ ‘Lá, em geral, eu e a ministra Rosa não nos deixam falar. Então, nós não somos interrompidas’. Mas agora é a vez da ministra Rosa, por direito constitucional, de votar. Tem a palavra, ministra”, concluiu.

NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – É uma falácia achar que as mulheres são melhores ou piores do que os homens. Moral, ética e competência são valores que deveriam caracterizar todos os ministros do Supremo, independentemente de gênero ou preferência sexual, mas não é isso que se vê.

Lembrem que o voto decisivo para libertar Lula, em 2019, foi de Rosa Weber. O então presidente Dias Toffoli comprometeu-se com ela a fazer uma votação adicional para que os réus cumprissem pena após terceira instância (Superior Tribunal de Justiça), e Lula não seria beneficiado, mas Toffoli decidiu sozinho a prisão após quarta instância (Supremo Tribunal Federal).

Assim , o Brasil passou a ser único país da ONU que não prende criminoso condenado em segunda instância, quando se esgota a discussão do mérito (se é culpado ou não). Rosa Weber ficou calada e nenhum ministro protestou contra a armação de Toffoli. Isso é Brasil. (C.N.)

Procuradoria-Geral persegue seus servidores que ironizaram os penduricalhos

Charge do Alpino (Arquivo do Google)

Daniel Gullino
O Globo

A Procuradoria-Geral da República (PGR) abriu uma investigação interna sobre a conduta de servidores do órgão que criticaram em grupos de WhatsApp o recebimento de penduricalhos por procuradores. O procedimento foi aberto a pedido da Associação Nacional de Procuradores da República (ANPR) e tramita em sigilo.

O caso foi revelado pelo portal Uol e confirmado pelo GLOBO. Em nota, a PGR afirmou que “há um procedimento aberto a pedido da ANPR para apurar condutas de servidores” e que a portaria que regula esse tipo de expediente “define que procedimentos dessa natureza devem tramitar sob sigilo”.

CONCESSÃO RETROATIVA – As mensagens que serão investigadas criticavam a concessão retroativa de uma licença compensatória a procuradores. O benefício, que pode ser concedido em folgas ou dinheiro, ocorre quando há acúmulo de trabalho ou o exercício de funções extraordinárias. Os textos diziam que, enquanto isso, servidores do Ministério Público da União (MPU) estão com defasagem no salário.

Também foi divulgado um “simulador de penduricalhos”, que ironiza quanto seria possível ganhar com benefícios inexistentes, como “gratificação por resistência climática”.

Em nota, a ANPR afirmou que “o direito de crítica é legítimo”, mas ressaltou que precisa ser diferenciado de “manifestações que ultrapassam o debate de ideias e o respeito mútuo, como a propagação de informações falsas, de forma anônima, que além de não contribuírem para o diálogo público, comprometem a imagem institucional”. A associação afirmou que pediu uma “apuração responsável” e disse ter “profundo respeito pelo trabalho” dos servidores.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Os penduricalhos são um desrespeito à nacionalidade. Significam  elevações ilegais de determinados salários de servidores públicos, que se tornam legais mediante ardis e artifícios jurídicos, num país que abriga a mais desumana desigualdade social do planeta. Perseguir quem ataca esses privilégios é apenas o arremate nesse festival de barbárie social. Tragam o balde grande, urgente. (C.N.)

Com Bolsonaro em declínio, velha guarda da direita se move para retomar o poder

Olhos tristes, almas aflitas e um amor que não existe mais…

Primeira mulher eleita para integrar a Academia Mineira de Letras, em 1963,  a poetisa Henriqueta Lisboa nasceu em Lambari, no Circuito das Águas, a 15  de julho de 1901, e faleceu emPaulo Peres
Poemas & Canções

A renomada poeta mineira Henriqueta Lisboa (1901-1985), no soneto “Olhos Tristes”, mostra a sensação de uma despedida através de renúncias repetidas.

OLHOS TRISTES
Henriqueta Lisboa

Olhos mais tristes ainda do que os meus
são esses olhos com que o olhar me fitas.
Tenho a impressão que vais dizer adeus
este olhar de renúncias infinitas.

Todos os sonhos, que se fazem seus,
tomam logo a expressão de almas aflitas.
E até que, um dia, cegue à mão de Deus,
será o olhar de todas as desditas.

Assim parado a olhar-me, quase extinto,
esse olhar que, de noite, é como o luar,
vem da distância, bêbedo de absinto…

Este olhar, que me enleva e que me assombra,
vive curvado sob o meu olhar
como um cipreste sobre a própria sombra.

Trump ganha tempo com a reunião, e segue embromando Lula

A cautela de Lula com Trump diante da Venezuela

Muita espuma e pouco chope na reunião da Malásia

Hugo Henud
Estadão

A reunião entre Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump, neste domingo, 26, na Malásia, repercutiu entre a oposição e aliados da base governista. Enquanto integrantes do governo comemoraram o encontro como sinal de retomada do diálogo com os Estados Unidos, políticos do PL exploraram o fato de o presidente americano ter mencionado o ex-presidente Jair Bolsonaro antes da conversa bilateral.

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) ironizou o encontro nas redes sociais. Ele compartilhou um vídeo em que Trump diz que “sempre gostou” do ex-presidente.

BOLSONARO – “Lula encontra Trump e, na mesa, um assunto que claramente incomoda o ex-presidiário: BOLSONARO. Imagine o que foi tratado a portas fechadas?”, escreveu Eduardo no X.

A publicação foi compartilhada pelo vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ), reforçando o tom de provocação da ala bolsonarista diante da aproximação entre os dois presidentes.

Do lado do governo, ministros e aliados celebraram o gesto diplomático. O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, afirmou que “o Brasil retoma o diálogo com o mundo sob a liderança de um verdadeiro estadista”. Já o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, escreveu: “Lula, gigante pela própria natureza!!!”.

CONCILIADOR – O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), também comentou o encontro e adotou um tom conciliador. Ele elogiou a iniciativa de Lula e Trump, afirmando que o diálogo e a diplomacia “voltaram a ocupar o centro das relações entre Brasil e Estados Unidos”.

Lula diz ter tido ‘ótima reunião’ com Trump e que negociações sobre tarifas começam ‘imediatamente’. Ele acrescentou que “quando líderes escolhem conversar, a História agradece”.

Motta disse ainda que a Câmara está “à disposição da diplomacia brasileira, votando temas importantes e comprometida em servir ao País”.

PL DA ANISTIA – A manifestação ocorre num momento em que o presidente da Casa tenta se equilibrar entre o grupo bolsonarista, sob pressão pela votação do PL da Anistia, e as siglas da base governista, que foram decisivas para sua eleição ao comando da Câmara.

O encontro entre Lula e Trump começou às 15h30 (horário local), no Centro de Convenções de Kuala Lumpur (KLCC).

Entre os temas tratados, estiveram o tarifaço de 50% imposto aos produtos brasileiros exportados para os EUA e as sanções aplicadas contra autoridades brasileiras. Trump indicou que poderá rever as medidas, a depender do avanço das negociações entre os dois países.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
A reunião parece ter sido mais um “embromation act”, porque as tarifas não foram revogadas. Aliás, ninguém sabe o que realmente foi tratado na ocasião. Sabe-se apenas que Trump botou Lula no corner, ao perguntar quanto tempo o presidente ficou preso. dizer que tinha sido “perseguição” e depois elogiar Bolsonaro. Quanto às sanções já aplicadas, é fácil rever o bloqueio de vistos, mas muito difícil anular incriminação na Lei Magnitsky, que até agora só pegou Alexandre de Moraes e sua esposa advogada. (C.N.)

Dispersa e sem rumo, direita assiste à recuperação política de Lula sem reagir

O presidente Lula já recuperou parte da confiança perdida

Sergio Denicoli
Estadão

A direita vive um impasse que a mantém parada diante de um governo em movimento. As lideranças conservadoras disputam espaço, esperam um posicionamento de Jair Bolsonaro e se equilibram entre projetos que, na prática, fortalecem Lula.

O engavetamento da PEC da Blindagem, a promessa de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, a tarifa zero no transporte público e a adoção da escala 6×1 são medidas de apelo popular que ocupam o noticiário e alimentam a percepção de que o governo recuperou o controle da narrativa. Lula, que passou meses reagindo a crises, voltou a definir a pauta.

BASE – Apesar da paralisia, a direita não perdeu sua base de sustentação. As divergências internas existem, mas são administradas com cautela, com as principais lideranças evitando ser autofágicas, buscando preservar entre seus apoiadores a ideia de responsabilidade fiscal e capacidade de gestão.

As críticas entre pares se concentram em pontos menos fulcrais, como a proximidade com o centrão ou o distanciamento de pautas caras ao bolsonarismo mais radical, como a anistia geral e irrestrita. São divergências que soam como discordâncias, mas não como rupturas.

Ninguém do grupo parece disposto a destruir a credibilidade dos potenciais candidatos, e isso revela que, uma vez superado o impasse, o campo conservador poderá se unificar e se reorganizar com relativa facilidade.

FORTALECIMENTO – O governo aproveita o intervalo para se fortalecer. Mais ágil, conseguiu transformar medidas administrativas em gestos políticos. O discurso deixou de ser defensivo e passou a transmitir sensação de entrega. Cada anúncio é feito com simplicidade e direcionado a públicos específicos. Enquanto isso, a oposição se vê presa a cálculos internos e a disputas de protagonismo que desgastam, mas não derrubam.

O problema da direita é o tempo. Sem a decisão de Bolsonaro sobre os rumos que pretende seguir, o bloco segue fragmentado, testando nomes e estratégias sem assumir compromissos claros. A ausência de um comando unificador impede a costura de um projeto capaz de dialogar melhor com o centro e atrair o eleitor moderado.

RECUPERAÇÃO – Lula, por sua vez, aprendeu com o desgaste do início do mandato, simplificou a mensagem e recuperou parte da confiança perdida. Hoje sua imagem nas redes é mais competitiva e, pela primeira vez em meses, o governo disputa o debate público em vantagem.

Já a direita mantém base ampla, lideranças visíveis e influência nas redes, mas está tendo dificuldades de estabelecer um projeto que organize sua energia e de construir uma direção que defina se quer reproduzir o passado ou construir uma alternativa para o futuro.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGUm artigo do tipo que o PT adora… Com base nessas pesquisas compradas no atacado e no varejo, Lula já ganhou a reeleição, porque a direita está fracionada e perdida, sem candidato, sem lenço e sem documento, diria Caetano Veloso, enquanto a esquerda trafega em céu de brigadeiro. A meu ver, porém, quando a direita se unir ao centro, as coisas vão mudar muito por aqui. (C.N.)

Após encontro com Trump, Lula fala em “ótima reunião” e promete avanço nas negociações

O caso Lula e a polêmica sobre os “traficantes vítimas dos usuários”

Gaza: a trégua que nunca chega e o cessar-fogo que não acontece

Bombardeios prosseguem em várias zonas de Gaza

Marcelo Copelli
Revista Visão (Portugal)

A tão anunciada interrupção da guerra no território palestino revelou-se, mais uma vez, uma ilusão diplomática. Apesar dos comunicados triunfais e das fotografias cuidadosamente encenadas nas capitais ocidentais, o som das explosões continua a ecoar sobre as ruínas de um território exausto, onde a população civil tenta sobreviver entre promessas de cessar-fogo e a brutalidade quotidiana das operações militares. A retórica da paz transformou-se, neste conflito, num instrumento político — não numa realidade no terreno.

Nas últimas semanas, governos e organismos internacionais celebraram o que chamaram de “pausa humanitária”, fruto de negociações entre Israel, mediadores regionais e a Organização das Nações Unidas. Contudo, como sublinhou António Guterres, Secretário-Geral da ONU, o que se observa em Gaza está longe de constituir uma trégua autêntica: os bombardeamentos prosseguem em várias zonas, os corredores humanitários funcionam de forma intermitente e a ajuda que entra permanece manifestamente insuficiente perante a catástrofe em curso.

SEM GARANTIAS – A dimensão prática dessa limitação é devastadora. Agências humanitárias e organismos das Nações Unidas relatam que o fluxo de alimentos, água, combustível e medicamentos está muito aquém do necessário. Muitos caminhões ficam horas retidos nos controlos fronteiriços ou são desviados, e o acesso a Gaza City e às áreas do Norte continua severamente restringido. Sem corredores seguros e sem garantias de distribuição, o auxílio transforma-se em imagens e estatísticas — não em socorro real às famílias encurraladas.

Politicamente, o suposto compasso de alívio está refém de interesses contraditórios. A intervenção diplomática de Washington, fortemente influenciada por Donald Trump, construiu uma narrativa ambígua: por um lado, exalta-se a negociação que permitiu a libertação de reféns e a abertura limitada de rotas de ajuda; por outro, declarações sobre a Cisjordânia — incluindo o anúncio do presidente norte-americano de que não permitirá uma anexação formal — misturam-se a gestos que alimentam desconfianças regionais. Essa ambivalência mina qualquer consolidação de confiança: a diplomacia que proclama paz, enquanto impõe condições territoriais, inviabiliza um acordo duradouro.

No interior de Israel, a dinâmica política agrava o impasse. O governo de Benjamin Netanyahu equilibra pressões internas — vindas da direita mais dura e das suas coligações — com advertências externas quanto aos riscos humanitários e diplomáticos.

RECONSTRUÇÃO – A narrativa oficial de “eliminar a ameaça” do Hamas serve de justificativa para operações de larga escala; o resultado é a destruição de infraestruturas civis e um êxodo interno que as agências internacionais descrevem como cataclísmico. As necessidades de reconstrução já atingem proporções que apenas a ONU e as organizações humanitárias conseguem dimensionar, enquanto as promessas de apoio revelam-se incapazes de restaurar os serviços básicos.

A ONU é taxativa: é imprescindível uma cessação duradoura das hostilidades e mecanismos verificáveis que protejam civis e assegurem a assistência. As palavras de Guterres — elogiando os avanços diplomáticos, mas exigindo cumprimento e escala da ajuda — revelam uma contradição estrutural do sistema internacional: há vontade declarada, mas faltam instrumentos de garantia e pressão efectiva sobre os actores que controlam fronteiras e rotas de abastecimento.

MEDIDAS URGENTES – Que medidas urgem para que este interregno não se reduza a propaganda? Em primeiro lugar, a criação de corredores humanitários realmente seguros, supervisionados por observadores independentes e com acesso incondicional das agências.

Em segundo, um compromisso público e verificável para multiplicar as entregas diárias — para além das promessas — e assegurar que combustível e insumos médicos cheguem sem entraves.

Em terceiro, uma acção diplomática coordenada — europeia e multilateral — que vá além das declarações: sanções direccionadas, condicionamento de apoios militares e vetos operacionais devem ser considerados instrumentos legítimos de protecção de civis.

ENFRENTAMENTO – Por fim, é indispensável iniciar um processo político que enfrente as causas estruturais do conflito: a ocupação, os bloqueios e a ausência de um quadro credível para a paz. Sem isso, qualquer pausa humanitária será apenas um prelúdio para nova escalada.

Em Gaza, as pessoas não vivem — resistem. A promessa de um alívio temporário converteu-se num instrumento de propaganda útil a governos que necessitam demonstrar sensibilidade enquanto preservam intactos os alicerces da guerra. E, enquanto se negoceia cada transporte de farinha, cada litro de combustível, cada evacuação médica, a trégua continua a ser apenas uma palavra — uma miragem num deserto de cinzas.

ENCENAÇÃO – Falar de Gaza impõe uma questão ética inescapável: trata-se de um conflito a ser observado à distância ou de uma realidade que exige acção efectiva da comunidade internacional? A resposta requer determinação política — para condenar violações do direito internacional, exigir responsabilização e orientar as políticas externas segundo a defesa da vida humana. Sem essa coragem, qualquer cessar-fogo não passará de uma encenação momentânea de esperança, enquanto a tragédia prossegue no silêncio devastador das cidades em ruínas.

O conflito no território palestiniano é hoje o espelho de um mundo onde a moral se mede pela conveniência política. Israel insiste em que luta pela sua segurança; os Estados Unidos afirmam que procuram estabilidade; a ONU pede o impossível; e a Europa observa, dividida, o colapso de mais uma promessa de paz. O resultado é uma tragédia em câmara lenta, onde o cessar-fogo nunca cessa e a paz é sempre adiada.

A tal “química” entre Trump e Lula não vai alterar a política americana

A 'química' entre Trump e Lula | Diário do Grande ABC - Notícias e  informações

Charge do Gilmar (Diário do Grande ABC)

William Waack
Estadão

Os velhos temas nas relações com os EUA foram agravados pela nova forma de trato imposta por Donald Trump, que é a única grande novidade no trato recente dos Estados Unidos com a América do Sul. As questões são as de sempre, mas a forma como estão sendo encaradas acaba sendo um imenso desafio para o Brasil.

Criminalidade e dívida foram sempre as preocupações centrais americanas nas últimas décadas em relação à região. Às duas Trump acrescentou uma dimensão geopolítica e militar só comparável ao que ocorreu na Guerra Fria 1.0.

“COOPERAÇÃO” – Há mais de 50 anos que agências americanas operam na América do Sul no combate ao narcotráfico, num tipo de estratégia que partia do pressuposto da cooperação (forçada ou voluntária) dos Estados da região. Foi o que permitiu o envolvimento direto de militares americanos no Peru e Colômbia, por exemplo.

Trump acaba de ampliar do Caribe para águas internacionais no Pacífico os ataques a embarcações que os americanos designam como integrantes do narcotráfico. Sem a menor preocupação com a reação dos países sul-americanos ou mesmo com os aspectos legais nos Estados Unidos (a ponto de o comandante responsável pela área pedir demissão).

Considerado agora como “terrorista” e, portanto, ameaça à segurança nacional americana, o crime organizado tem alta probabilidade de ser usado como “guarda-chuva” para um eventual ataque a alvos terrestres na Venezuela. É uma formidável encrenca política, diplomática e até mesmo militar para o Brasil – e já é tema eleitoral para 2026.

APOIO À ARGENTINA – Trump decidiu socorrer um sul-americano – a Argentina – em difícil situação financeira. Não é novidade. Os Estados Unidos já tinham feito coisa semelhante com o México, trinta anos atrás, embora sejam contextos com diferenças importantes.

Um derretimento do México era visto como risco considerável do ponto de vista de imigração e funcionamento do comércio na América do Norte.

A dívida Argentina não é hoje um “perigo sistêmico”, como alegou Trump, (e tinha sido o caso da dívida latino-americana nos anos oitenta). A não ser que se considere como problema “sistêmico” um político amigo de Trump perder eleição e, principalmente, permitir avanço político, comercial, econômico e até mesmo militar da China na região.

E O TARIFAÇO? – Mas é essa a visão de mundo do presidente americano. O tarifaço imposto especialmente ao Brasil é um resumo dessa forma de encarar a realidade e, como pretende Trump, mudá-la na marra em favor do que ele considere interesse nacional americano. Que ele está mais prejudicando do que ajudando, mas essa é outra história.

A recém anunciada “química” entre Trump e Lula não parece alterar esses pontos fundamentais – são inclusive uma das poucas coisas constantes no mar de oscilações e mudanças de rumo do presidente americano.

O que permite um mínimo de previsibilidade daquilo que vai enfrentar nas relações com os Estados Unidos quem quer que seja o vencedor das eleições brasileiras no ano que vem. Vai ser muito difícil.

Lindbergh, Quaquá e Ceciliano exibem a degradação de Lula e PT

Para controlar redutos e partido, petistas do Rio lançam 'afilhados' nas  eleições municipais

Personagens de destaque do PT trocam ofensas nas redes

Caio Sartori
O Globo

Em episódio que acirra o embate entre setores do PT do Rio, o prefeito de Maricá e vice-presidente nacional do partido, Washington Quaquá, acusou lideranças ligadas ao Planalto de usarem a máquina federal para “fazer política própria” e de descaso com o presidente Lula.

Como resposta, o líder do partido na Câmara dos Deputados, Lindbergh Farias, classificou o correligionário como “desprezível” e “cheiro de esgoto”.

SUJEIRA NAS REDES – A publicação de Quaquá nos stories do Instagram, que foi acompanhada ainda de um texto enviado por WhatsApp, é direcionada a Lindbergh, ao secretário especial de assuntos parlamentares do governo Lula, André Ceciliano, e até à ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann.

Ao compartilhar um vídeo em que Lindbergh e Ceciliano aparecem ao lado do prefeito do município de Casimiro de Abreu, o dirigente criticou o fato de que Lula só é citado “no final e por um segundo”, enquanto o prefeito do Rio e provável candidato a governador, Eduardo Paes (PSD), “nem foi citado”.

“Lindbergh e Ceciliano usando a influência com a @gleisihoffmann para fazer política própria”, alegou o prefeito de Maricá.

“CHEIRO DE ESGOTO” – Gleisi é namorada do líder da legenda na Câmara, enquanto o cargo de Ceciliano no governo é vinculado à pasta da ministra. Além da publicação em si, Quaquá disparou o link dela, com texto adicional, a alguns contatos. Na mensagem, é ainda mais duro:

“Aqui no Rio o uso da máquina federal por Lindbergh e Ceciliano serve só pra eles! Não falam sequer do Lula! Não organizam nada pra fazer campanha pro Presidente Lula e Eduardo Paes!”, insistiu, antes de também ser mais enfático na crítica à ministra: “Ministra Gleisi, pare de usar a máquina do governo federal pra fazer política particular! Não vamos tolerar isso!”

Em resposta, Lindbergh escreveu, também nas redes, que dá “preguiça e uma sensação de perda de tempo ter de responder a uma figura que eu, cada vez mais, considero desprezível”. Usou ainda as expressões “baixo nível” e “cheiro de esgoto” para se referir a Quaquá.

“ESSE ELEMENTO”… – Lindbergh, líder do partido na Câmara, avaliou ainda que, no campo político, “esse elemento frequentemente adota posições avessas ao PT, prejudicando as ações partidárias e nossa retomada política”.

“Foi assim ao defender a anistia aos envolvidos nos ataques de 8 de janeiro e, depois, a defesa do PEC da Blindagem”, disse, antes de afirmar que Quaquá “sobra” no PT.

Nos últimos meses, os diferentes setores do partido no estado já vinham manifestando discordâncias por causa da eleição de 2026.

“MACHISMO” – Procurado, Ceciliano reagiu às declarações de Quaquá. Mandou um vídeo do compromisso em Casimiro de Abreu no qual enaltece feitos do governo Lula e chamou de machista a crítica à ministra Gleisi, “como se ela fosse capaz de se deixar ser usada”.

“Chega a ser uma piada, com o histórico que tem, o prefeito de Maricá falar em uso da máquina pública em benefício próprio”, afirmou ainda o ex-presidente da Assembleia Legislativa do Rio.

“Em todas as agendas que participo, a defesa do governo Lula é mister em minhas falas. Compreendo a subserviência cega do prefeito em relação à possibilidade de Eduardo Paes ser candidato a governador ano que vem, fato que aliás até o momento não foi admitido pelo mesmo”.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Briga boa, da melhor qualidade, que exibe as vísceras do PT.  Como diz Lindbergh Farias, as críticas de Quaquá têm “cheiro de esgoto”. É verdade. Mas isso não é culpa de Quaquá, vice-presidente nacional do partido. Desde sempre o PT inteiro exala um odor putrefato, nauseabundo e pestilento, que contamina o próprio Lula. Comprem pipocas, porque essa briga vai durar muito. (C.N)