Racha entre União e PP prejudica a candidatura de Moro no Paraná

Moraes terá pouca margem para decisões individuais nos recursos de Bolsonaro

Direita aposta em racha entre Lula e Alcolumbre com indicação de Messias ao STF

Oposição vê indicação de Messias como “ponto de virada”

Bela Megale
O Globo

Governadores de direita que pretendem disputar a Presidência contra Lula têm acompanhado com lupa a indicação que o presidente fará para o Supremo Tribunal Federal (STF). Existe uma torcida para que o petista indique o advogado-geral da União, Jorge Messias, que hoje é o favorito para o cargo.

O motivo passa longe de qualquer crítica ou afinidade com o AGU. O cálculo é político. A leitura é que, se Lula desagradar Davi Alcolumbre (União-AP), que trabalha pela escolha do senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) para a Corte, a relação entre ambos pode passar por um “ponto de virada”.

MUDANÇA DE POSTURA – Com resistência na Câmara, Lula tem contado com o presidente do Senado para garantir a votação de temas importantes e, assim, ajudar na governabilidade. Se tiver seu candidato ao Supremo preterido, Alcolumbre pode mudar de postura e passar a dificultar a vida do governo. Ao menos, essa é a torcida dos governadores que fazem oposição a Lula.

Aliados do presidente, no entanto, avaliam que Alcolumbre colocará na balança o cenário eleitoral de 2026 antes de fazer qualquer gesto de afastamento do chefe do Executivo.

Isso porque os nomes apoiados pelo presidente do Senado para concorrer ao governo do Amapá e ao próprio Congresso estão atrás nas pesquisas eleitorais. Lula pode despontar como cabo eleitoral importante para os afilhados políticos de Alcolumbre em seu estado.

Nesta semana, Lula fez um gesto a Alcolumbre ao adiar o anúncio de Jorge Messias como indicado para o STF, após se reunir com o presidente do Senado na noite de segunda-feira (20).


NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Messias não tem saber jurídico nem experiência para ser ministro do Supremo. Em síntese, é um advogado que sempre trabalhou para o PT, igual a Toffoli. No entanto, é melhor do que qualquer candidato indicado por Davi Alcolumbre, que é igual a Lula e só conhece falsos juristas, ligados à corrupção que corrói este país. Infelizmente, somos assim. (C.N.)

Moraes autoriza Mauro Cid a deixar prisão para festa de 90 anos da avó

Ex-ajudante já teria cumprido dois anos de prisão preventiva

Bruna Rocha
Terra

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, autorizou na última sexta-feira, 24, a ida do ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid, à confraternização em celebração ao aniversário de 90 anos de sua avó materna.

Cid foi condenado pelo Supremo a dois anos de prisão em regime aberto, por cinco crimes relacionados à trama golpista. Com a autorização, ele poderá sair no dia 1º de novembro para comparecer ao evento, que ocorrerá a partir das 18h, no Condomínio Solar de Athenas, em Sobradinho (DF).

CARÁTER PROVISÓRIO – “Ressalte-se o caráter provisório da presente decisão, que não dispensa o requerente do cumprimento das demais medidas cautelares a ele impostas”, afirmou Moraes na decisão.

Além de autorizar a saída, o ministro solicitou à Secretaria de Estado de Administração Penitenciária do Distrito Federal o monitoramento detalhado da tornozeleira eletrônica de Cid durante o período da confraternização.

Ao apresentar o pedido, a defesa de Cid alegou que a solicitação tinha caráter humanitário e excepcional, sustentando que o ex-ajudante de ordens já teria cumprido integralmente a pena de dois anos, embora ainda esteja sujeito a medidas cautelares. Em setembro, a defesa de Cid havia solicitado a extinção da pena, mas o pedido não foi atendido por Moraes.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGQuanta bondade do ministro Alexandre de Moraes… De repente, o algoz dos golpistas se torna uma espécie de Madre Teresa de Calcutá dos condenados. É o espírito de Natal baixando no ilustre magistrado, que condenou a 14 anos de prisão a mulher que escreveu uma mensagem com batom na estátua da Justiça. Quanto a Mauro Cid, é aquele militar covarde que dedurou seus companheiros e chorou ao saber que ia ser preso. E vida que segue, diria João Saldanha, cujo apelido, dado por Nelson Rodrigues, era João Sem Medo. (C.N.)

MP quer fiscalização rigorosa do TCU sobre caixa do Tesouro em 2026

Subprocurador destacou risco à transparência e às regras fiscais

Fernanda Tavares
Leonardo Ribbeiro
CNN

O subprocurador-geral do Ministério Público junto ao TCU (Tribunal de Contas da União), Lucas Rocha Furtado, protocolou uma representação solicitando que a Corte acompanhe de forma contínua e rigorosa a gestão do caixa do Tesouro Nacional, especialmente diante da proximidade do ano eleitoral de 2026.

A medida também requer que o TCU cobre do Tesouro informações detalhadas sobre a comunicação interna entre servidores e a alta administração, para identificar possíveis ordens não registradas e interferências que possam comprometer a independência técnica da equipe responsável pela programação financeira da União.

MOTIVAÇÃO – O pedido foi motivado pela decisão do secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, de substituir o subsecretário de Administração Financeira Federal, Marcelo Pereira de Amorim — responsável pela supervisão do caixa da União.

A mudança, justificada como renovação de liderança, causou preocupação entre técnicos do órgão, que enxergaram a substituição como afastamento de um servidor que frequentemente fazia alertas e objeções às decisões da cúpula. Amorim será substituído por Paulo Moreira Marques, atual coordenador-geral do Tesouro Direto.

Amorim era um dos quadros mais preparados do órgão e que vinha manifestando discordâncias quanto a decisões não registradas por escrito e medidas que, em sua avaliação, deveriam ser submetidas à Junta de Execução Orçamentária, consta no documento.

MONITORAMENTO –  Na representação, Furtado destaca que a área comandada por Amorim é estratégica, pois realiza a programação financeira do governo federal e autoriza os limites de gastos dos ministérios, em conformidade com as regras fiscais. Por isso, defende que qualquer tentativa de interferência política precisa ser monitorada com atenção, sobretudo em ano eleitoral.

O subprocurador menciona ainda que houve relatos de ordens informais e ausência de registros documentais de decisões relevantes sobre o caixa da União, o que poderia dificultar o controle externo realizado pelo TCU.

REQUERIMENTOS – Entre as medidas requeridas ao Tribunal de Contas, estão:0 monitoramento contínuo da gestão do caixa do Tesouro em 2026; solicitação de registros e pareceres técnicos sobre decisões financeiras, incluindo recomendações de veto à LDO [Lei de Diretrizes Orçamentárias] de 2024; apuração de possíveis ordens não documentadas que afetem a atuação técnica dos servidores; envio do caso ao Congresso Nacional após decisão.

Furtado argumenta que, em um contexto de alta sensibilidade política, é essencial garantir a autonomia técnica dos servidores do Tesouro para preservar a transparência, a responsabilidade fiscal e a confiança da sociedade na administração pública.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – O subprocurador-geral Lucas Furtado é uma das autoridades mais respeitadas de Brasília. Desde que assumiu o cargo, tem demonstrado o rigor necessário para combater a corrupção. Faz seu trabalho com denodo, mas a grande maioria dos ministros é oriunda da classe política, que já nasceu comprometida com os desvios de recursos públicos. De toda forma, Lucas Furtado dá à nação um exemplo de que é possível levar a sério esse país. (C.N.)

Em eterna crise, Motta governa à base de urgências e sessões extraordinárias

Um arrebatado poema de amor, saído dos desejos eróticos de Hilda Hist

As mulheres em geral são chatíssimas;... Hilda Hilst - PensadorPaulo Peres
Poemas & Canções

A ficcionista, dramaturga, cronista e poeta paulista (1930-2004) Hilda Hist é considerada pela crítica especializada como uma das maiores escritoras em língua portuguesa do século XX. No poema “Do Desejo”, Hilda revela que o desejo não faz medo.

DO DESEJO
Hilda Hilst

Porque há desejo em mim, é tudo cintilância.
Antes, o cotidiano era um pensar alturas
Buscando Aquele Outro decantado
Surdo à minha humana ladradura.
Visgo e suor, pois nunca se faziam.
Hoje, de carne e osso, laborioso, lascivo
Tomas-me o corpo. E que descanso me dás
Depois das lidas. Sonhei penhascos
Quando havia o jardim aqui ao lado,
Pensei subidas onde não havia rastros.
Extasiada, fodo contigo
Ao invés de ganir diante do Nada.

Ver-te. Tocar-te. Que fulgor de máscaras.
Que desenhos e rictus na tua cara.
Como os frisos veementes dos tapetes antigos.
Que sombrio te tornas se repito
O sinuoso caminho que persigo: um desejo
Sem dono, um adorar-te vívido mas livre.
E que escura me faço se abocanhas de mim
Palavras e resíduos. Me vêm fomes,
Agonias de grande espessuras, embaçadas luas
Facas, tempestade. Ver-te. Tocar-te.
Cordura. Crueldade.

Colada à tua boca a minha desordem.
O meu vasto querer.
O incompossível se fazendo ordem.
Colada a tua boca, mas descomedida
Árdua
Construtor de ilusões examino-te sôfrega
Como se fosses morrer colado à minha boca.
Como se fosse nascer
E tu fosses o dia magnânimo
Eu te sorvo extremada à luz do amanhecer.

Se eu disser que vi um pássaro
Sobre o teu sexo, deverias crer?
E se não for verdade, em nada mudará o Universo.
Se eu disser que o desejo é Eternidade
Porque o instante arde interminável,
Deverias crer? E se não for verdade
Tantos o disseram que talvez possa ser.
No desejo nos vêm sofomanias, adornos
Impudência, pejo. E agora digo que há um pássaro
Voando sobre o Tejo. Por que não posso
Pontilhar de inocência e poesia
Ossos, sangue, carne, o agora
E tudo isso em nós que se fará disforme?

Existe a noite, e existe o breu.
Noite é o velado coração de Deus
Esse que por pudor não mais procuro.
Breu é quando tu te afastas ou dizes
Que viajas, e um sol de gelo
Petrifica-me a cara e desobriga-me
De fidelidade e de conjura. O desejo
Este da carne, a mim não me faz medo.
Assim como me veio, também não me avassala.
Sabes por quê? Lutei com Aquele.
E dele também não fui lacaia.

Racha à direita: Eduardo Bolsonaro chama Cleitinho de “erro” e expõe disputa por 2026

Eduardo Bolsonaro perderá para Lula em 2026, diz Cleitinho

Rafaela Gama
O Globo

O deputado federal Eduardo Bolsonaro disse que foi “imprudência” dar uma vaga no Congresso ao senador Cleitinho Azevedo (Republicanos), após ele ter dito que o filho do ex-presidente perderia para o presidente Lula (PT) em 2026. Em entrevista ao Metrópoles na última quarta-feira, Cleitinho se colocou contrário ao lançamento da candidatura do deputado ao Planalto por ele estar fora do Brasil, avaliando a hipótese como “imprudente”.

Em resposta, Eduardo escreveu em um post no X nesta sexta-feira que “imprudente foi darmos a vaga do Senado para você”, em referência à fala de Cleitinho. “Mas muitos dos nossos erros iremos corrigir”, acrescentou. O comentário, no entanto, também veio após o senador ter dito que “pagou pela gratidão” ao ex-presidente Jair Bolsonaro, apoiando-o em 2022.

GRATIDÃO – “Se eu achar que não tenho os mesmos pensamentos que esse candidato que o Bolsonaro apoiar, eu não preciso apoiar, não. Tenho gratidão com o Bolsonaro. Não é com a família dele, com os apoiadores, não. É com ele. Uma gratidão que eu também já paguei e pago apoiando e votando nele em 2022. Não é porque vai chegar em mim e falar “oh, tem esse candidato aqui que eu vou apoiar” que eu vou apoiar. Se eu não concordar, não vou”, disse.

A fala repercutiu entre perfis bolsonaristas nas redes sociais e foi criticada por apoiadores do ex-presidente, como o blogueiro Allan dos Santos. Já Eduardo repostou em sua conta no X uma publicação de uma seguidora que pedia para eleitores bolsonaristas não votarem naqueles que “não apoiam as ações de Eduardo nos EUA em prol da liberdade”.

Em MG, Cleitinho é cotado para disputar o governo do estado no ano que vem, largando na frente nas pesquisas realizadas até o momento. Na última rodada realizada pela Genial/Quaest em agosto, ele registrou 28% das intenções de voto e ficou 12 pontos percentuais à frente do segundo colocado, o ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil (PDT).

FORA DO PAÍS – Além do pedido, o post compartilhado por Eduardo também trazia um trecho da entrevista no qual o senador diz que não apoiaria a candidatura do deputado para a Presidência por ele “não estar no Brasil”.

Na ocasião, o senador também apontou preferência pelos nomes dos governadores Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo, e Ratinho Júnior, do Paraná, descartando a candidatura de Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais.

Após a repercussão do caso, o senador Cleitinho se retratou durante um discurso no plenário do Senado.

PEDIR PERDÃO – “Venho aqui hoje pedir perdão para o nosso querido ex-presidente Bolsonaro. Na minha entrevista, que eu dei sexta-feira agora, tiraram um pouco do contexto, também porque editaram uma parte toda da entrevista. Me equivoquei na hora de falar: eu penso uma coisa, falo outra e falo errado sobre a questão da gratidão. E a minha gratidão ao Bolsonaro, à população brasileira e, em especial, para toda a direita vai ser sempre eterna. Não tem preço que pague, gratidão não tem valor, e eu vou sempre pagar isso”, declarou.

Procurado pelo O Globo sobre a repercussão do caso, o senador afirmou que “é um direito deles fazerem críticas, defendo a liberdade de expressão deles também”. “Cabe a mim, com o tempo, mudar a opinião deles”, acrescentou.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Alguém precisa dizer urgentemente aos filhos de Jair Bolsonaro que o Brasil é uma república, e não uma monarquia. Pensam que o poder passa direto de pai para filho, mas isso non ecziste, diria Padre Quevedo. Nenhum deles entende o que é política em país democrático republicano. Quanto à dona Michelle, tem todo direito de querer imitar Isabelita Perón, mas a situação é diferente, porque a mulher do caudilho era vice-presidente, eleita na chapa dele, e assumiu quando ele morreu. E o resultado foi o sangrento golpe militar que destruiu um dos países mais promissores do mundo. Recordar é viver. (C.N.)

Flávio Bolsonaro cede em pontos da anistia para viabilizar projeto que beneficia o pai

Flávio defendia uma “anistia ampla, geral e irrestrita”

Gabriel Sabóia
O Globo

O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) sinalizou a possibilidade de abrir mão da anistia para determinados crimes relacionados aos atos do 8 de janeiro, com o objetivo de viabilizar a aprovação do projeto de lei da Dosimetria, em tramitação na Câmara dos Deputados, e que poderia beneficiar seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

A pressão dos bolsonaristas para avançar com a proposta, relatada pelo deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP), aumentou desde a última quarta-feira, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) publicou o acórdão do julgamento que condenou o ex-presidente.

PRAZO – A partir da publicação, abre-se o prazo de cinco dias para a apresentação de recursos pelas defesas. Uma série de resistências na Câmara e no Senado vem travando o andamento, no entanto.

Até então, Flávio defendia uma “anistia ampla, geral e irrestrita” para todos os condenados por envolvimento nos atos antidemocráticos. Agora, afirma que a estratégia do PL considera a possibilidade de recuar em relação a alguns pontos, como a anistia de crimes específicos.

— Faremos emendas com base em um texto que consideramos justo. Vamos esperar o que será apresentado, mas já temos nossa estratégia pronta de defender a anistia ampla. Podemos, tendo isso em mente, negociar penas por depredação de patrimônio que podem não ser anistiadas, desde que individualizadas. Podemos negociar as penas de quem tentou explodir caminhões de combustível no aeroporto também, não concordamos com isso. Mas queremos que o projeto deixe claro que não existem crimes de tentativa de golpe de Estado — afirmou o senador.

ANISTIA – No mês passado, o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, declarou ao O Globo que o partido trabalhava por uma anistia que alcançasse Jair Bolsonaro. À época, estabeleceu o prazo de um mês para a resolução do tema no Congresso, diante do receio de que o ex-presidente tivesse de cumprir pena em regime fechado. O prazo, no entanto, já se esgotou.

Jair Bolsonaro foi condenado pela Primeira Turma do STF, em 11 de setembro, a 27 anos e três meses de prisão, por tentativa de golpe de Estado. Outros sete réus foram considerados culpados, com penas entre dois e 26 anos de reclusão.

Com a publicação do acórdão, começaram a valer os prazos para apresentação de recursos. Para embargos de declaração — utilizados para apontar contradições, omissões ou obscuridades — o prazo é de cinco dias. Também é possível apresentar embargos infringentes, destinados a tentar reverter o resultado do julgamento, no prazo de 15 dias. Contudo, o entendimento do STF é de que esse recurso só cabe quando houver ao menos dois votos pela absolvição. No caso de Bolsonaro e da maioria dos réus, apenas o ministro Luiz Fux votou pela absolvição.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Esse pessoal é de uma burrice teratológica. O jurista carioca Jorge Béja (jurista, mesmo, reconhecido consensualmente) já explicou que não pode haver projeto de lei sobre dosimetria. Se quiserem modificar a exclusividade do presidente da República na comutação de pena, terão de apresentar emenda constitucional, que exige quórum de três quintos. Qualquer projeto de lei será inconstitucional. Mas quem se interessa? (C.N.)

O silêncio de Fux e o ruído no Supremo: por que a mudança de turma exige explicação

Mudança reacende o debate sobre o equilíbrio no STF

Pedro do Coutto

A ida do ministro Luiz Fux da Primeira para a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) acendeu um debate que ultrapassa a burocracia interna da Corte. Trata-se de uma decisão que, pela falta de explicação convincente, gerou desconforto entre ministros e despertou desconfiança na opinião pública.

O STF não é um colégio onde se troca de turma por afinidade ou conveniência; é a instância máxima do Judiciário brasileiro, cuja credibilidade depende da transparência de seus atos. Por isso, Fux deve explicações não apenas a seus colegas — Flávio Dino, Cristiano Zanin, Cármen Lúcia e Alexandre de Moraes —, mas à sociedade, que tem o direito de compreender as motivações de uma mudança com impactos políticos e jurídicos relevantes.

MAL-ESTAR – Segundo reportagem de O Globo, a movimentação de Fux gerou mal-estar dentro do tribunal, especialmente porque ocorre num momento em que o STF se prepara para julgar recursos do ex-presidente Jair Bolsonaro. A dúvida agora é em qual turma o processo será analisado: na Primeira, de onde Fux saiu, ou na Segunda, para onde ele foi. Essa definição importa.

Na Segunda Turma, o ministro se juntará a André Mendonça e Kassio Nunes Marques — ambos indicados por Bolsonaro —, o que pode alterar o equilíbrio de forças e até provocar um eventual empate de três a três, cenário que abriria margem para recursos protelatórios. Na Primeira Turma, a composição seria diferente, e a probabilidade de impasse, menor. O ministro Edson Fachin, presidente da Segunda Turma, teria o voto de desempate, mas a simples possibilidade de rearranjo em um julgamento dessa magnitude alimenta interpretações sobre motivação política.

É inegável que ministros têm direito de solicitar transferência de colegiado, mas a questão central é o momento e o contexto. Quando essa decisão ocorre às vésperas de um julgamento de alto impacto, a ausência de explicação pública dá espaço a suspeitas — e suspeitas corroem a confiança institucional. O STF tem sido alvo constante de ataques e desinformação, e cada movimento interno precisa, portanto, ser tratado com cuidado redobrado.

OBRIGAÇÃO DEMOCRÁTICA – A transparência, nesse caso, não é um gesto opcional, mas uma obrigação democrática. Explicar por que um ministro muda de turma, quais critérios regem essa decisão e se há ou não impactos sobre casos específicos é fundamental para preservar a integridade da Corte.

A jurisprudência brasileira se sustenta sobre a ideia de imparcialidade e estabilidade das decisões. Quando um ministro se transfere e o público não entende o motivo, instala-se a dúvida: estaria buscando um ambiente mais favorável para si, para terceiros ou para determinados processos?

O simples fato de essa pergunta circular já é um problema em si. A Suprema Corte, mais do que qualquer outro poder, precisa blindar-se de percepções de conveniência. A credibilidade do Judiciário não depende apenas das decisões que toma, mas da forma como comunica e fundamenta cada uma delas.

MOVIMENTAÇÃO INESPERADA – Luiz Fux é um ministro com trajetória sólida, reconhecido por sua atuação técnica e pela defesa da segurança jurídica. Justamente por isso, sua movimentação inesperada exige uma explicação compatível com o peso de sua biografia e com a responsabilidade institucional que carrega.

A sociedade brasileira vive um momento de tensão e descrença nas instituições, e o Supremo precisa reafirmar, por gestos e palavras, que suas decisões não se curvam a pressões políticas, internas ou externas. A confiança pública é o ativo mais valioso de uma corte constitucional — e, uma vez abalada, é difícil de reconstruir.

RUÍDO POLÍTICO – A mudança de Fux pode ter razões legítimas, administrativas ou pessoais, mas sem transparência elas se perdem no ruído político. Cabe ao ministro e ao próprio STF dissipar dúvidas e reafirmar o princípio de que, no Estado de Direito, até mesmo os movimentos internos da Suprema Corte devem ser claros, motivados e compreensíveis. O silêncio, neste caso, não é prudência — é omissão. E omissão, em tempos de desconfiança generalizada, tem custo institucional alto.

Em última instância, o que está em jogo não é apenas a composição de uma turma, mas a confiança do cidadão de que os julgamentos mais sensíveis do país são feitos por juízes movidos pela lei, e não por conveniências.

Luiz Fux, ao mudar de turma, acendeu uma luz sobre um ponto que o STF não pode mais ignorar: transparência e coerência não são virtudes secundárias — são pilares da Justiça e da democracia.

O teatro do Conselho de Ética e a absolvição de Eduardo Bolsonaro

Valdemar aposta em prisão domiciliar e diz que Papuda faria de Bolsonaro um mártir

Valdemar está proibido de fazer novas visitas a Bolsonaro

Bela Megale
O Globo

Os cálculos de Valdemar Costa Neto vão na contramão da maioria dos aliados de Jair Bolsonaro quando o assunto é o futuro do ex-presidente, após o esgotamento dos recursos da trama golpista, previsto para o mês que vem.

O presidente do PL tem dito que não acredita que o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes determinará que Bolsonaro cumpra pena em um presídio convencional, como a Papuda, no Distrito Federal. A explicação que Valdemar dá nos bastidores é que, preso em casa e com a possibilidade de receber visitas apenas com autorização judicial, Bolsonaro está sendo obrigado a submergir.

MAIS FORÇA – Valdemar avalia que, no cenário de uma prisão na Papuda, Bolsonaro cresceria entre a população, o que daria mais força ao seu grupo político e ao sucessor que ele escolher para representá-lo na eleição presidencial de 2026.

O presidente do PL esteve com Bolsonaro na segunda-feira (20), mas agora está proibido de fazer novas visitas ao capitão reformado. Isso porque o STF reabriu a investigação contra Valdemar no processo da tentativa de golpe de Estado.

A aliados, Valdemar não demonstrou surpresa. Ele afirmou a interlocutores que, ao ver a linha de defesa de Carlos Cesar Rocha — que questionou o fato dele não ter sido denunciado — passou a ponderar que poderia voltar a ser alvo do processo da trama golpista. Rocha é presidente do Instituto Voto Legal, que embasou o pedido do PL para recontagem de votos na eleição de 2022 e foi condenado pela Primeira Turma da Corte a sete anos e seis meses de prisão.

Apoio de Lula a traficantes provoca espanto e temor entre empresários

celso amorim cre senado - Metrópoles

Amorim é fá de Maduro e gosta de deixar isso bem claro

Milena Teixeira
Metrópoles

Ministros do governo Lula tentam minimizar a declaração dada pelo presidente nesta sexta-feira (24/10) de que “traficantes são vítimas dos usuários” de drogas. A fala foi feita pelo petista na Indonésia, quando comentava as ações do governo Donald Trump contra carteis de drogas no mar do Caribe, próximo à Venezuela.

À coluna, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, argumentou que Lula fez a declaração em uma tentativa de evitar conflitos na América do Sul.

ZONA DE PAZ – “Lula é um líder. Ele está lutando para garantir uma zona de paz, sem conflitos armados”, minimizou Teixeira.

Líderes empresariais, contudo, acenderam alerta com a fala de Lula, especialmente por ter sido feita na véspera do encontro entre o petista e Trump, previsto para o domingo (26/10).

Sob reserva, ouvidos pela coluna, dizem temer que a declaração de Lula prejudique as negociações entre Brasil e EUA pelo fim do tarifaço imposto pelos americanos.

A FALA DE LULA – Em entrevista a jornalistas quando deixava a Indonésia rumo à Malásia, Lula foi questionado sobre as ações do governo Trump contra o tráfico internacional de drogas na Venezuela.

“Toda vez que a gente fala de combater as drogas, possivelmente fosse mais fácil a gente combater os nossos viciados internamente, os usuários. Os usuários são responsáveis pelos traficantes, que são vítimas dos usuários também”, disse o chefe do Planalto.

NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Recentemente, Lula já havia defendido os menores que roubam celulares para sobreviver, e a  repercussão foi altamente negativa. O pior foi a intervenção do principal assessor de Lula para Assuntos Internacionais, o ex-chanceler  Celso Amorim, que reagiu às ameaças de ação militar dos Estados Unidos na Venezuela para atingir o regime de Nicolás Maduro. “Vejo com muita preocupação. Não é a mesma coisa. Você pode gostar ou não do Maduro, mas ele não é o Bin Laden. Maduro não é um patrocinador de terrorismo”, disse Amorim ao Metrópoles. Será que Lula terá coragem de dizer isso a Trump, neste domingo? (C.N.)

Troca de turma de Fux reacende disputa sobre inelegibilidade de Bolsonaro no STF

STF amplia alcance da Justiça e mira Paulo Figueiredo na investigação do golpe

Gleisi acusa família Bolsonaro de “trair o Brasil” após Flávio sugerir intervenção dos EUA

Gleisi sobre Eduardo e Flávio: “Vocação para trair o Brasil”

Mariana Brasil
Folha

A ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, voltou a criticar a família Bolsonaro, após o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) sugerir uma intervenção armada dos Estados Unidos para combater o narcotráfico no Brasil.

Flávio havia comentado via X (antigo Twitter) a publicação do secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth, sobre o ataque americano a uma embarcação no oceano Pacífico, que estaria mirando o tráfico de drogas.

“BRASIL COM DROGAS”   – “Eu ouvi que há barcos assim aqui no Rio de Janeiro, na Baía de Guanabara, enchendo o Brasil com drogas. Você não gostaria de passar uns meses aqui nos ajudando a combater essas organizações terroristas?”, escreveu ele, em inglês.

Em reação, Gleisi afirmou que a vocação da família Bolsonaro para trair o Brasil não tem limites. “Primeiro, Eduardo Bolsonaro pediu o tarifaço e as sanções da Magnitsky para atacar o Brasil. Agora é Flávio Bolsonaro que pede a intervenção armada dos EUA em nosso território. Não tem limites a vocação dessa família para trair o Brasil. Felizmente temos o presidente @LulaOficial no comando, para defender nossa soberania contra qualquer tipo de intervencionismo”, escreveu ela.

Além do pedido do primogênito do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ao secretário norte-americano, seu irmão, Eduardo Bolsonaro, é o responsável por articular sanções ao governo brasileiro e ao Supremo Tribunal Federal (STF), por meio da aplicação da Lei Magnitsky e da tarifa imposta pelos EUA sobre produtos brasileiros.

Com Trump mirando vizinhos, Lula aposta na diplomacia pragmática

Lula e Trump vão falar de Venezuela por pura formalidade

Eliane Cantanhêde
Estadão

Quanto mais se aproxima do Brasil e de Lula, mais Donald Trump investe contra a Venezuela e, agora, a Colômbia. O Brasil é líder político e econômico da América do Sul e, até por isso, ou principalmente por isso, o Lula não pode ignorar a gravidade dessas investidas no encontro que terá com Trump, possivelmente no próximo domingo, na Malásia. Não pode ignorar, mas também não deve perder o foco: a prioridade brasileira é o Brasil, o resto é acessório.

Lula vai cumprir a formalidade e manifestar preocupação, mas sem pegar em armas e gastar cartuchos para defender os dois países vizinhos, num encontro para consolidar a aproximação com os EUA e o processo para livrar o Brasil de sanções econômicas e políticas injustas e danosas aos interesses nacionais. Posicionar-se na tensão na Venezuela e na Colômbia, sim. Ameaçar o namoro com Trump e o fim das sanções, definitivamente, não.

AMEAÇA – Enquanto a Bolívia elege um presidente de centro-direita, depois de décadas de governos de esquerda, e a Argentina, em sua eterna crise, conquista uma linha de financiamento de US$ 20 bilhões dos EUA, as relações entre Trump e Petro vêm se deteriorando no rastro das graves ações dos EUA contra a Venezuela, até com ameaça de invasão por terra.

Não é trivial, nem aceitável, que Trump chame o presidente Gustavo Petro de “líder do narcotráfico” e que Petro responda xingando Trump de “ignorante”, depois de convocar o embaixador do país a Bogotá, “para consultas”. Na linguagem diplomática, significa desagrado, ou irritação, com o outro governo. Para aumentar a complexidade da questão, a Colômbia é, historicamente, o maior aliado dos EUA na região.

O risco não se limita a Petro e a Nicolás Maduro, que está isolado e desmoralizado, mas atinge toda a América do Sul que, como Lula lembra, é uma região pacífica, sem crises externas, muito menos guerras, mas “vive um momento de polarização e instabilidade”. E alertou: “Intervenções estrangeiras podem causar danos maiores do que o que se pretende evitar”. Recado dado.

CAUTELA – Quem se agarrou à bandeira da soberania quando o ataque foi ao Brasil, em forma de tarifas, suspensão de vistos e Lei Magnitsky, não pode lavar as mãos. O fundamental, porém, é cuidar do interesse brasileiro. Como ilustrou um embaixador, “o rabo não pode abanar o cachorro”.

Não se pode esperar que Lula e Trump discutam se as tarifas serão zero, 20 ou 50, se café, carne e suco de laranja serão excluídos do tarifaço e quais vistos para os EUA serão ou não mantidos, o que cabe aos escalões ministeriais e técnicos. O importante é o fato político e a foto: os dois presidentes trocando um aperto de mãos, de preferência sorrindo.

Uma imagem vale mais do que mil palavras. No caso, para encerrar de vez as versões de Eduardo Bolsonaro e das redes bolsonaristas de que era só jogo de Trump, Marco Rubio acabaria com qualquer chance de dar certo, o telefonema dos dois presidentes não serviu para nada e, até, que o encontro de Rubio e Mauro Vieira “nem aperto de mão teve”. Teve, sim, senhores.

PAZ E AMOR – Soa como desespero, porque a realidade é outra. Trump e seus assessores estão num clima de paz e amor com Lula, nunca mais citaram Jair Bolsonaro, criticaram o Brasil ou acenaram com sanções. Daí a fingir que o Brasil não tem nada a ver com ingerência na Venezuela e na Colômbia seria demonstrar medo ou fraqueza, algo que Lula não pode, não deve e tem horror de fazer.

Trump sabe disso e ambos sabem jogar o jogo. Um tem de falar, o outro está preparado para ouvir e fica por isso mesmo. O tema será abordado na Malásia, mas por pura formalidade.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGNão se deve esperar muita coisa dessa reunião com Trump. O presidente americano é muito esperto. Quando não quer decidir nada, enche a sala de repórteres e deixa o interlocutor inibido. Se tentar pressioná-lo, Trump faz alguma grosseria e corta o assunto, como já fez com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, que tentava pedir-lhe maior apoio financeiro na guerra. A reunião com Lula será assim e não vai decidir nada. Não comprem pipocas. (C.N.)

 

Governo articula ala da base para enquadrar centrão como inimigo do povo

Charge do Cazo (blogdoaftm.com.br)

Gustavo Zeitel
Folha

Para a esquerda, o inimigo agora é outro. Passado um mês desde a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por tentativa de golpe de Estado, uma ala que integra a base do governo Lula (PT) busca expor o centrão como inimigo dos interesses da sociedade. Trata-se de uma estratégia para consolidar o bom momento político do petista, alicerçado na campanha pela soberania nacional e no aumento de sua aprovação registrado nas pesquisas.

Contudo, desafios que assombram o Planalto há três anos, como a descaracterização da esquerda e a própria fragilidade do governo diante do centrão, dificultam a estabilidade da conjuntura até o início das eleições.

PONDERAÇÃO – O deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP) faz uma ponderação sobre o novo cenário, dizendo que Bolsonaro não saiu totalmente de cena. Suas ideias, ele afirma, continuam sendo propagadas por segmentos do centrão que aderiram à direita nos últimos anos. Segundo diz o parlamentar, o adversário de Lula em 2026 sairá dali.

“A negociação entre o bolsonarismo raiz e o centrão foi um acordo para o controle do Orçamento”, diz Valente. “O centrão se autonomizou em relação ao governo e muitos também se bolsonarizaram.”

ESTRATÉGIA – Com o ex-mandatário em prisão domiciliar, o deputado afirma agora que a esquerda precisa se diferenciar das demais forças políticas, em um contraponto à maioria do Congresso. Ou seja, a estratégia é explorar derrotas, textos impopulares da oposição e impor agenda própria, de modo a incorporar à pauta matérias como o fim da escala 6×1.

“Eu defendo que o governo paute questões, mesmo que perca, para expor o centrão”, afirma Valente. “O governo precisa acabar com qualquer ilusão de ser possível agradar tanto o mercado quanto o agronegócio, porque eles são ideológicos.”

A retórica mostra-se estar, em parte, de acordo com movimentos recentes de Lula. Na semana passada, o presidente criticou o baixo nível do Congresso, num evento no Rio de Janeiro. Na mesma ocasião, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB) foi vaiado e ouviu ainda gritos de “sem anistia”.

POPULARIDADE – Embora esteja distante dos patamares de seus mandatos anteriores, Lula viu a sua popularidade registrar o maior índice no ano. Em setembro, pesquisa Datafolha mostrou que a aprovação do presidente chegou a 33%, melhor resultado desde dezembro de 2024, quando somava 35%.

De acordo com o cientista político Leonardo Belinelli, da UFFRJ (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro), alguns fatores explicam a conjuntura positiva para Lula: o tarifaço do presidente americano Donald Trump, que provocou a campanha em defesa da soberania nacional, as manifestações que descartaram a PEC da Blindagem e a condenação do núcleo crucial da trama golpista.

“O campo bolsonarista, refletido em parte no centrão, ficou muito desorganizado sem a liderança de Bolsonaro, até porque nomes como Ciro Nogueira e Valdemar Costa Neto não parecem ter um projeto comum”, afirma Belinelli. “O papel da comunicação do governo será fundamental para a consolidação do momento pró-governo.”

ARREFECIMENTO – Para Christian Lynch, cientista político da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), a atual conjuntura parece indicar o primeiro arrefecimento, em uma década, do entusiasmo do brasileiro com o conservadorismo.

Segundo ele conta, a sociedade viu o centrão se perder em sua postura fisiológica e o bolsonarismo se consumir em seu ímpeto golpista. Nada, porém, que deva suscitar a euforia da esquerda. Afinal, diz Lynch, os problemas para o governo continuam, sendo um deles sua presença minoritária no Legislativo.

RENÚNCIA – “Em termos de governabilidade, ela nunca funcionou e talvez já exista uma certa renúncia à governabilidade”, afirma Lynch. Neste mês, a Câmara impôs mais uma derrota ao Planalto ao deixar perder validade a medida provisória que previa aumentar a arrecadação. Capitalizar derrotas expõe, em caminho inverso, um governo frágil.

“O governo passou a ser oposição ao centrão, tentando propagar o pensamento de que o Congresso representa o atraso”, conta Lynch. “Não é uma onda positiva para Lula, mas uma marolinha.”

ALA CRÍTICA – Ex-presidente do PT, o deputado federal Rui Falcão (PT-SP), também integra a ala mais crítica ao centrão. “Outro dia me perguntaram ‘deputado, por que a gente não põe para votar pautas nossas, mesmo que a gente perca?’ Sou a favor, precisamos ter uma disputa de ideias e criar um movimento de massas para que existam condições melhores para Lula em um novo governo”, diz, acrescentando que o seu raciocínio não fomenta a antipolítica.

“O pensamento contra a política se manifesta de outros modos, quando a gente tolera, por exemplo, as emendas secretas ou uma proposta para blindar parlamentares.”

SEM EUFORIA – O deputado se opõe, no entanto, à ideia de renunciar à governabilidade, porque seria um pensamento eleitoreiro. Segundo Falcão, é comum a esquerda operar em uma ciclotimia, ora melancólica, ora eufórica. Ele reconhece o momento positivo, até porque a pauta da anistia aos golpistas regrediu, mas prefere evitar a euforia, pontuando problemas mais profundos para a esquerda.

De acordo com o deputado, o PT, em especial, está perdendo sua identidade, que, ao longo da história, ofereceu à população um horizonte de transformação social. Ele afirma que o partido está distante das periferias e só com pressão popular seria possível reverter algumas propostas no Congresso.

Nesse sentido, diz que a comunicação do governo deve deixar de ser apenas celebratória, passando a ser convocatória. “Se a gente quer ter uma vitória, precisamos de um partido engajado em lutas”, afirma ele. “Não podemos ser encarados como o sistema.”

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGEmbriagado pelo sucesso momentâneo, o PT delira e dá tiro no pé. Sem apoio do centrão, ninguém ganha eleição no Brasil. (C.N.)

O colapso venezuelano é o vizinho incômodo que não deve ser ignorado

Uma desesperada canção de amor, na poesia de J.G. de Araujo Jorge

Veredas da Língua: J.G. DE ARAÚJO JORGE - POEMASPaulo Peres
Poemas & Canções

O advogado, político e poeta acreano José Guilherme de Araujo Jorge (1914-1987) ou, simplesmente, J. G. de Araújo Jorge, foi conhecido como o Poeta do Povo e da Mocidade, pela sua mensagem social e política e por sua obra romântica mas, às vezes, dramática, como no poema “Canção do meu abandono”.

CANÇÃO DO MEU ABANDONO
J. G. de Araújo Jorge

Não, depois de te amar não posso amar ninguém!
Que importa se as ruas estão cheias de mulheres
esbanjando beleza e promessa
ao alcance da mão?
Se tu já não me queres
é funda e sem remédio a minha solidão.

Era tão fácil ser feliz quando tu estavas comigo!
Quantas vezes, sem motivo nenhum, ouvi o teu sorriso
rindo feliz, como um guiso
em tua boca?

E todo momento
mesmo sem te beijar eu estava te beijando:
com as mãos, com os olhos, com os pensamentos,
numa ansiedade louca!

Nossos olhos, meu Deus! nossos olhos, os meus
nos teus,
os teus
nos meus,
se misturavam confundindo as cores
ansiosos como olhos
que se diziam adeus…

Não era adeus, no entanto, o que estava em teus olhos
e nos meus,
era êxtase, ventura, infinito langor,
era uma estranha, uma esquisita, uma ansiosa mistura
de ternura com ternura
no mesmo olhar de amor!

Ainda ontem, cada instante era uma nova espera…
Deslumbramento, alegria exuberante
e sem limite…

E de repente,
de repente eu me sinto triste como um velho muro
cheio de hera
embora a luz do sol num delírio palpite!

Não, depois de te amar não posso amar ninguém!

Podia até morrer, se já não há belezas ignoradas
quando inteira te despi,
nem de alegrias incalculadas
depois que te senti…

Depois de te amar assim, como um deus, como um louco,
nada me bastará, e se tudo é tão pouco…
… eu devia morrer…