Nova York em disputa: Zohran Mamdani e a reconfiguração do poder urbano

Eleição de Mamdani reabre o futuro político dos EUA

Marcelo Copelli
Revista Visão (Portugal)

Enquanto o trumpismo transforma o imigrante em ameaça, Nova York se afirma como obra coletiva das diásporas. A eleição de Zohran Mamdani reabre o futuro político dos Estados Unidos a partir do território concreto da vida urbana.

Nova York não enviou apenas um recado — lançou um aviso. A vitória de Mamdani marca uma virada histórica: não se trata de administrar a cidade tal como ela existe, mas de disputar o que ela pode vir a ser. A capital simbólica do capitalismo global transforma-se, agora, no laboratório da sua própria contestação. O resultado expressa o esgotamento do consenso neoliberal e recoloca no centro a pergunta que o establishment tentou enterrar: quem tem direito à cidade?

COMANDO POLÍTICO – Pela primeira vez, um socialista declarado — negro, filho de imigrantes ugandeses de origem indiana, formado na luta contra despejos e defensor de políticas universais — assume o comando político da cidade que, durante décadas, sintetizou desigualdade, especulação imobiliária e finanças desreguladas. Não se trata de uma simples alternância de poder: é uma ruptura na gramática política dos Estados Unidos.

Durante quase meio século, Nova York funcionou como vitrine do dogma que equiparou desenvolvimento urbano à acumulação privada. Mamdani desfaz essa naturalização. Recoloca a habitação, o transporte, o espaço público e o controle democrático do solo urbano como fundamentos — e não como concessões marginais. Desestabiliza a lógica que transformou o território em ativo financeiro e a vida urbana em sobrevivência permanente.

Contra o pragmatismo defensivo que se tornou reflexo do Partido Democrata, emerge a possibilidade de uma cidade orientada para a vida comum — e não para a rentabilidade de poucos. Não é apenas um programa de gestão: é uma reconfiguração da própria ideia de cidadania urbana.

ROSTO E RUA – A genealogia desse momento tem rosto e tem rua. A virada municipalista foi construída por movimentos de base — sindicatos de inquilinos, campanhas contra despejos, organizações de trabalhadores essenciais — mas também por figuras como Bernie Sanders e Alexandria Ocasio-Cortez, que legitimaram a justiça econômica não como horizonte moral, mas como proposta governável. Mamdani não surge como exceção: ele é produto de um ciclo consistente de educação política e mobilização social.

A batalha decisiva, porém, será travada onde o poder real se concentra: fora dos parlamentos. Em Nova York, grande parte da governança urbana opera na sombra — fundos imobiliários, fundos de pensões, incorporadoras e consultorias de zoning moldam o cotidiano por mecanismos extraeleitorais. O desafio é transformar programa em norma, norma em política, política em estrutura — resistindo à litigância estratégica, à sabotagem regulatória e às manipulações de mercado.

PRECEDENTES – Há precedentes internacionais. Barcelona, Berlim, Viena e, em menor escala, Lisboa, experimentaram regulamentações antiespeculativas, expansão da habitação pública e mobilização cívica. Os resultados mostram o essencial: reverter a financeirização é possível, mas a contraofensiva econômica é persistente e tecnicamente sofisticada. A transformação exige política — mas também paciência, perícia jurídica e astúcia institucional.

No plano nacional, o impacto é explosivo. Em um país onde Donald Trump consolidou poder transformando o imigrante em ameaça, Mamdani afirma a cidade como obra coletiva das comunidades que a constroem. Para o trumpismo, a presença estrangeira é risco; para Nova York, é fonte de vitalidade. Não é apenas divergência ideológica — é disputa sobre quem pertence à América do século XXI.

DISPUTA MATERIAL – Nada, porém, está garantido. Fora das metrópoles, a retórica anti-imigração continua ancorada na desindustrialização, na precariedade e no ressentimento. Mamdani representa uma alternativa — não uma hegemonia. A disputa será material: no aluguel, no transporte que funciona ou falha, no salário que permite ou não viver. É na economia do cotidiano que o futuro político dos Estados Unidos será decidido.

Dentro do Partido Democrata, o desconforto é evidente. Uma geração jovem, multirracial e urbana exige redistribuição e direitos sociais; a elite partidária teme que a palavra “socialismo” feche portas nos subúrbios e no Meio-Oeste. Mamdani pode inaugurar um novo realinhamento — ou ser isolado como excentricidade municipal. A chave será enfrentar o lobby imobiliário — o verdadeiro governo invisível da cidade.

O laboratório está aberto. E, se der certo, a velha ordem não voltará intacta.

19 thoughts on “Nova York em disputa: Zohran Mamdani e a reconfiguração do poder urbano

  1. O articulista restaria desculpado se não tivesse idade suficiente para ter acompanhado o gradativo e proposital “CONDESCENDENTEavanço da “Maré Vermelha”, designando China e Rússia como os escriturais e servis “Gog & Magog”, tendo à testa o “abastecido veículo “DRAGÃO”, para efetuarem “o serviço (khazariano), de limpeza”(redutor populacional mundial)?
    PS. Entenda-se como um dos multilaterais fomentadores de genocídios mundiais!
    Adendos, em 3 artigos, conforme:
    “Os Comandantes!”
    https://www.oevento.pt/tag/mafia-khazariana/?fbclid=IwQ0xDSwML_MljbGNrAv7dMmV4dG4DYWVtAjExAAEeKBaV_UluZx67JJvRYZY6JBWyQNPzuyLQyYRkrfwl7hlwxFsbOoN35EysyUM_aem_VSE3Qa_v1NbSEysl10064Q

    • “Afirmamos que o progresso submeteria todos os cristãos ao reinado da razão. Será esse o nosso despotismo, que saberá enganar todas as agitações com justas severidades, extirpando o liberalismo de todas as instituições.

      Quando o povo viu que fez tantas concessões e complacências em nome da liberdade, julgou que era amo e senhor, e se lançou sobre o poder; porém, naturalmente, foi de encontro, como um cego, a muitos obstáculos; pôs-se a procurar um guia, não teve a ideia de voltar ao antigo e depôs todos os poderes aos nossos pés. Lembrai-vos da revolução francesa, a que demonstramos o nome de “grande” ; os segredos de sua preparação nos são bem conhecidos, porque ela foi totalmente a obra de nossas mãos (9).

      Desde então, levamos o povo de decepção em decepção, a fim de que renuncie mesmo a nós, em proveito da rei-déspota do sangue de Sião, que nos preparamos para o mundo (10).

      Atualmente somos invulneráveis ​​como força internacional, porque quando atacamos um Estado, somos defendidos nos outros . A infinita covardia dos povos cristãos, que rastejam diante da força, que são impiedosos para as fraquezas e para os erros, porém indulgentes para os crimes, que não querem suportar as contradições da liberdade, que são pacientes até o martírio diante da violência dum despotismo ousado, tudo isso favorecendo nossa independência. Sofrem e apoiam dos primeiros ministros de hoje abusos pelo menor dos quais ficaram decapitados vinte reis.

      Como explicar tais características e tal incoerência das massas populares em face dos acontecimentos que parecem da mesma natureza?

      Esses comentários se explicam pelo fato de fazerem esses ditadores – primeiros ministros – dizerem baixinho ao povo que, se causam mal aos Estados, isto é com o fito de realizar a felicidade dos povos, sua fraternidade internacional, a solidariedade, os direitos iguais para todos. Naturalmente, não se diz que essa unidade será feita sob nossa autoridade.

      E é como o povo condena os justos e absolve os culpados, persuadindo-se cada vez mais que pode fazer o que lhe der na veneta. Nessas condições, o povo derrota toda estabilidade e cria desordens a cada passo.

      A palavra “liberdade” propõe as sociedades humanas em luta contra toda força, contra todo poder, mesmo o de Deus e o da natureza. Eis porque, no nosso domínio, excluiremos essa palavra do vocabulário humano por ser o princípio da brutalidade que transmuda as multidões em animais ferozes. É verdade que essas feras adormecem logo que se embriagam com sangue, sendo, então, fácil encadeá-las. Mas se não lhes der sangue, não adormecem e lutam (11).”
      https://www.islam-radio.net/protocols/indexpo.htm?fbclid=Iwb21leANTeiBjbGNrA1N6GmV4dG4DYWVtAjExAAEeezAiqXQ29MNitVdUqejX0tyGanSpNJJYuOGygL-rrmklpUNJNl_YOK3zOds_aem_XAOcJQ6_naibMmyVC4vZTw

  2. O Aparato Petista transformou a Academia em seu aparelho de dominação ideológica, (assim como os midiático, cultural, jurídico, social, político, religioso etc.) para criar uma realidade paralela que omite os fatos, cultua a figura de Lula e evita qualquer crítica. Trata-se de produção mística e alienante não-científica.

    Diante disso, nosso objetivo com este site é preenchermos essa lacuna com uma análise crítica e realista desse Aparato, expondo seu caráter hegemônico de extorsão, dominação e manipulação da Sociedade e como vem aprofundando os problemas estruturais do país.

    Por acreditarmos que a Academia está impossibilitada de realizar uma análise crítica assim, por ter se tornado uma linha de produção fordista de intelectuais orgânicos do Aparato, produzindo ideologias justificantes e não ciência, optamos por desenvolver tese autônoma sobre o tema e publicar os respectivos estudos e opiniões neste site.

    Visite o nosso site e acompanhe em tempo real a construção da nossa tese independente e autônoma:
    https://www.criticapoliticabrasileira.com/

  3. O laboratório está aberto. E, se der certo, a velha ordem não voltará intacta.”..

    Sr. Copelli

    Nunca deu certo, desde 1.917 que estão tentando e só produziram miséria, pobreza e muita violência..

    A cidade de Belém foi administrada pelo Mandami Bostileiro e deu no que deu….

    Lá nos Isteitis é bem diferente destas bandas…

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