Em dezembro do ano passado, publiquei aqui no Blog um importante artigo de denncia, mostrando que a poltica de pacificao das favelas no passa de uma manobra eleitoreira do governador cabralzinho, que inclui um incrvel e espantoso acordo entre as autoridades estaduais e os traficantes que atuavam (e continuam atuando) nessas comunidades carentes.
O acordo est firmado sob as seguintes clusulas: 1 Os traficantes somem com as armas da favela, com os soldados de mscaras ninjas, com os olheiros e tudo o mais. 2 A PM entra na favela, sem enfrentar resistncia, ocupa os pontos que bem entender, mas no invade nenhuma casa, nenhum barraco, e no prende ningum, pois no “acha” traficantes ou criminosos. 3 A favela tida como pacificada, no existem mais marginais circulando armados, os moradores no sofrem mais intimidaes, no h mais balas perdidas. 4 Em compensao, o trfico fica liberado, desde que feito discretamente, sem muita movimentao.
At o Blog publicar esses artigos, ningum havia tocado no assunto. A implantao das chamadas UPPs (Unidades de Polcia Pacificadora) vinha sendo saudada pela imprensa escrita, falada e televisada como uma espcie de panacia na segurana pblica. Era como se, de sbito, as autoridades estaduais e municipais tivessem conseguido colocar o ovo em p, resolvendo de uma hora para outra o maior problema da atualidade: a violncia e o trfico de drogas nos guetos das grandes cidades.
No h dvida, esse UM DOS MAIORES DESAFIOS DA HUMANIDADE. Como todos sabem, em praticamente todos os pases do mundo, governantes e autoridades da segurana pblica continuam sem saber como enfrentar e vencer o problema da criminalidade e do trfico. Menos no Rio de Janeiro. Aqui, houve uma espcie de abracadabra, um toque de varinha de condo, e num passe de mgica, as favelas foram pacificadas, que maravilha viver.
O mais interessante: no foi disparado UM NICO E ESCASSO TIRO, os traficantes e donos das favelas no lanaram uma s granada, um solitrio morteiro, no acionaram seus lanas-chamas, seus msseis portteis, seus rifles AR-15 e M-16, suas submetralhadoras Uzi, nada, nada.
No artigo-denncia que publiquei no final de dezembro e nos outros que se seguiram em janeiro, chamei ateno para esse fato espantoso: ningum reparou que a tal pacificao foi fcil demais, no houve uma s troca de tiros?
O pior foi a atitude do governador cabralzinho, que deve pensar (?) que os demais cidados so todos imbecis e aceitam qualquer explicao que lhes seja fornecida pelas autoridades. Recordemos que foi ele quem teve a ousadia e a desfaatez de vir a pblico e proclamar, textualmente: DEI PRAZO DE 48 HORAS PARA OS TRAFICANTES DEIXAREM O CANTAGALO-PAVO-PAVOZINHO.
Como que ? O governador esteve como os traficantes, cara-a-cara, e fez o ultimato? Ou mandou recado por algum amigo comum? Como foi o procedimento? Ningum sabe.
O que se sabe que o governador alardeava (e continua alardeando) que, em todas as favelas onde a Polcia Militar instalou as UPPs, os traficantes e criminosos simplesmente sumiram, assustados, amedrontados, apavorados.
Seria to bom se fosse verdade. Mas o que a verdade para esse governador enriquecido ilicitamente, cuja manso beira-mar em Mangaratiba virou ponto de atrao turstica? Para ele, a verdade a verso que ele transmite, por mais fantasiosa que seja, como se fosse um ridculo Pinquio de carne e osso (alis, muito mais carne do que osso, j caminhando para a obesidade precoce), a inventar contos da Carochinha para iludir os eleitores.
Quando escrevi a srie de artigos desmascarando a pacificao das favelas, houve tremenda repercusso (como ocorre com tudo que sai publicado nesse Blog ou na Tribuna da Imprensa). Mas a maioria das pessoas se recusava a acreditar. No podiam aceitar que um governante descesse a nvel to baixo, criasse to estarrecedora mistificao, tentasse manipular to audaciosamente os eleitores.
Mas meus artigos plantaram a semente da dvida. Nas redaes, os jornalistas comearam a questionar a veracidade do sucesso dessa poltica de segurana pblica. At que, h dois ou trs meses, O Globo publicou uma pgina inteira em sua seo Logo (que uma espcie de pensata), ironizando a facilidade com que as favelas teriam sido pacificadas. (No me deram crdito nem royalties, claro, mas fico esperando o pr-sal).
Agora, no dia 2 de julho, mais uma vez O Globo, em reportagem de Vera Arajo, comprova que meus artigos de denncia estavam corretos. Sob o ttulo FEIRO DE DROGAS DESAFIA UPP), com fotos impressionantes feitas em maio na Cidade de Deus, a matria mostra que o trfico de drogas est e sempre esteve liberado, exatamente como afirmei.
Ao que parece, a reprter nem chegou a ir Cidade de Deus. As fotos na favela pacificada foram feitas por um morador do local, que as enviou ao jornal. Foi faclimo fazer a matria, as imagens dizem tudo.
No dia, seguinte, mais um repique em O Globo, mostrando que, assim com o trfico de drogas, tambm a explorao de caa-nqueis est liberada na comunidade tomada pela PM. As fotos, novamente, so de um morador da favela, que o jornal, obviamente, no identifica.
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PS Isso no est acontecendo somente na Cidade de Deus. Em todas as favelas pacificadas, ocorre o mesmo.
PS2 Aproxima-se a eleio e, na campanha, o governador vai massacrar a opinio pblica com a divulgao do xito da pacificao das favelas. Este ponto mais forte de sua plataforma eleitoral, ao lado das UPAs (Unidades de Pronto Atendimento).
PS3 Alis, UPPs e UPAs, tudo a ver. As UPAs tambm so um golpe de marqueting poltico-eleitoral, conforme iremos demonstrar neste Blog.
PS4 O desgoverno de cabralzinho um tema longo, do tipo E o vento levou. E seria bom, perdo, seria timo, se o vento o levasse permanentemente para longe de ns.
NO DEIXE DE LER AMANH:
Saiba como o governador cabralzinho teve a ideia de
forjar a pacificao das favelas, fazendo acordo com os
traficantes, para iludir a populao e se reeeleger