Carlos Chagas
Senão remando contra a maré, pelo menos servindo de anteparo a ondas inusitadas, o deputado Ciro Gomes identifica fatores positivos na atual temporada de denúncias envolvendo irregularidades no Legislativo. Para ele, os 21 anos de democracia plena que vivemos, a partir da Constituição de 1988, permitem ao país assistir a luz do sol iluminando sombras e becos. Lambanças maiores e menores aconteceram na história do parlamento, mas a diferença é que agora tornam-se claras, visíveis e expostas à ação da sociedade, com a imprensa na linha de frente. Em vez de ficarmos lamentando as falcatruas praticadas por deputados e senadores, jamais a maioria, podemos identificar, cobrar e chamar à responsabilidade representantes do povo que faltaram ao seu dever.
O importante, para o ex-governador do Ceará, é que a sociedade tome conhecimento de tudo e possa atuar, seja através dos mecanismos institucionais existentes, seja por meio da maior arma jamais posta a serviço das democracias: as eleições. Porque os parlamentares pegos com a boca na botija poderão receber a censura definitiva do eleitorado, não sendo mais votados. Além, é claro, de responderem por seus atos junto a conselhos de ética, plenários, polícia federal, ministério público, tribunais e sucedâneos.
Sendo assim, para ele, não haverá que desanimar nem considerar perdida a luta pela melhoria de nossas instituições, mais, em vez disso, celebrar o aprimoramento causado pelas denúncias e acusações.
Ciro Gomes faz a ressalva de que certos meios de comunicação exageram, empenham-se em transmitir à opinião pública a impressão de que o Legislativo está podre e que não há salvação. Por coincidência, muitos que se colocam nessa postura negativista andam a serviço do oposto ao qual se apresentam, ou seja, pretendem o caos. Tanto faz, porque a população não é boba e percebe o melhor funcionamento das instituições, preparada para deixar saírem pelo ralo os culpados.
Candidato à presidência
O duas vezes candidato à presidência da República mantém o propósito de disputar a terceira eleição para o palácio do Planalto. Elogia a estratégia do presidente Lula, de haver lançado Dilma Rousseff, forma de conter a explosão do PT em montes de grupos conflitantes, cada qual com sua indicação. Mas reconhece que se até o início do próximo ano a candidata não decolar nas verdadeiras pesquisas, outras opções precisarão ser examinadas. O objetivo será manter e ampliar o projeto político adotado a partir da ascensão do presidente ao poder, não a continuidade, mas a abertura de novos horizontes. Está à disposição das forças empenhadas nesse objetivo. Não é candidato dele mesmo. Mas imagina-se em condições de avançar.
Para Ciro Gomes, o Brasil retrocedeu fundamentalmente com o governo Fernando Henrique, em termos de desenvolvimento econômico. Engolimos a falácia do “fim de História” a partir do fracasso do socialismo autoritário, mas o neoliberalismo resultante daquele período revelou-se um horror. Suicidou-se, essa temporária fase da economia mundial, abrindo-se oportunidades para soluções diferentes. É o que Barack Obama tenta nos Estados Unidos, é aquilo que o presidente Lula começou, ainda que sabotado pelas forças da reação.
A hipótese de candidatar-se não à presidência da República, mas ao governo de São Paulo, não pe considerada pelo parlamentar pelo Ceará. Poderá cristalizar-se, no futuro, ainda que por enquanto não faça parte de suas cogitações. Não transferiu seu título eleitoral do Ceará para São Paulo, ainda que possa fazê-lo mais tarde, de acordo com as circunstâncias. Por isso vem sendo atacado pelas forças do governador José Serra e até olhado de banda por alguns petistas da paulicéia.
Nem convidado foi
Ciro Gomes, que ocupou o ministério da Fazenda no período critico da afirmação do Plano Real, nem convidado foi para a sessão solene do Congresso em comemoração aos quinze anos do programa que acabou com a inflação. Tratou-se de uma festa tucana, de exaltação a Fernando Henrique Cardoso, quando a maior das injustiças foi praticada contra Itamar Franco. Afinal, foi o ex-presidente, também ausente das festividades, o grande mentor do Plano Real. Estão escrevendo uma outra história, que o tempo se encarregará de desfazer. Mas não deixa de ser inusitado que o Congresso tenha encenado uma peça pela metade, onde o autor e muitos dos protagonistas viram-se confinados aos porões do teatro.
Mão Santa vai deixar o PMDB
Se alguém falar em Francisco de Assis Moraes Sousa, médico-cirurgião, só se lembrarão os parentes e amigos mais chegados. No entanto, citar o Mão-Santa equivale a acender a luz na mais escura das profundidades nacionais. Não há quem não conheça, discutindo, apoiando e divergindo do senador que pronunciou mais de mil discursos, na atual Legislatura, e que presidiu o Senado por 500 vezes, pelo menos, de 2006 até agora.
Crítico permanente do governo do presidente Lula e insurrecto profundo da direção do PMDB, o Mão Santa ocupa lugar fundamental na crônica do Congresso. Está sempre presente, afugenta meio mundo quando começa a cobrar coerência de seus correligionários e parece a um passo de deixar seu partido para poder concorrer à reeleição, ano que vem. Querem negar-lhe oxigênio para uma disputa da qual sairá vencedor.
Mão Santa é daqueles poucos peemedebistas que sustentam a necessidade de o maior partido nacional lançar candidato próprio à presidência da República em vez de ficar à espera das migalhas do poder do governo Lula.