Carlos Chagas
De repente, desfizeram-se sonhos e certezas. Fala-se da sucessão presidencial do ano que vem. Até junho dava-se como certa a reeleição da presidente Dilma, talvez no primeiro turno, ainda que as expectativas tucanas se voltassem para o crescimento de Aécio Neves, com Marina Silva e Eduardo Campos fazendo figuração.
Pois mudou tudo. A explosão da juventude, mesmo desvirtuada pela baderna, levou os candidatos e seus partidos a perceberem a entrada no palco de um novo personagem: Sua Excelência o Eleitor Indignado. Ninguém fazia caso dele. Imaginava-se o eleitorado dividido entre a maioria de simpatizantes do PT e a minoria conservadora voando na esquadrilha dos tucanos. Pois frustraram-se marqueteiros, sociólogos e cientistas políticos. As ruas rejeitaram os pretendentes e seus rígidos esquemas viraram fumaça.
A presidente Dilma perdeu popularidade e votos, a ponto de crescer entre os companheiros a chamada solução final,que seria o lançamento do Lula. O ex-presidente teria mais chances do que a sucessora. Mesmo assim, sem garantias totais. Aécio não subiu nas pesquisas, pelo contrario, até recuou. Aproveitando-se da queda, inseriu-se José Serra, derrotado duas vezes mas convencido de que o PSDB de São Paulo tem mais influência que o de Minas. Marina afirmou-se como maior adversária de Dilma, enquanto Eduardo Campos entrou em cone de sombra.
Continua uma incógnita a candidatura do presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, saudado como o antipolítico que não para de assustar com suas singulares observações e inusitadas intervenções.
O importante nessa instabilidade súbita é que nenhum dos nomes referidos consegue sensibilizar o eleitor indignado. Mesmo sendo obrigatório, o voto poderá surpreender pelo número de abstenções. Se os atuais governantes, em todos os níveis, não conseguiram resolver os problemas da qualidade de vida da população, por que os futuros resolveriam? Em certas peças, o ator que fica em silêncio consegue os maiores aplausos…
O pior nessa equação ainda inconclusa está na falta de opções institucionais, muito mais do que pessoais. A tão falada reforma política dá a impressão de haver saído pelo ralo. A corrupção e a impunidade continuam de mãos dadas com o Estado, cada vez mais distanciado da Nação. A Federação parece posta em frangalhos. Tanto faz se o presidente da República, os governadores, os deputados e os senadores trocarem de nome. O modelo será o mesmo.
FALSA IMPRESSÃO
Declarou o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, que a partir da aprovação do orçamento impositivo os parlamentares deixarão de mendigar junto ao Executivo a liberação de verbas para suas emendas individuais. Acabará, para ele, a temporada de chapéu na mão e de subserviência.
Melhor seria menos confiança. Claro que a obrigação da presidência da República pagar sem tergiversar as contas de deputados e senadores trará mais conforto para o Congresso, ainda que mais despesas para o palácio do Planalto. Mesmo assim, permanecerá a dependência de Suas Excelências diante de nomeações e favores daqueles que só o governo é capaz de produzir.
Duvido muito que os donos do poder apostem suas fichas e deem o visto bom para um recém chegado e polêmico ocupar a gerência do sistema. O próprio Collor não era á época o preferido. Só recebeu apoio porque o Lula AINDA não tinha falado os costumes e baixado a crista para ser palatável. Acabou criando problemas com aquela denúncia do Pedro Collor e adiando seus planos até a posse do FHC. Eles tem muito mais cartas confiáveis nas mãos para apostar com segurança. Seus temores são o agravamento da crise econômica e as ruas.
Esqueceu o Bolsa Família, Carlos Chagas? Ele decidirá a eleição e o Estado continuará cada vez mais distante da Nação.