Pedro do Coutto
Matéria das repórteres Cristiane Samarco e Vera Rosa, publicada no Estado de São Paulo de 18/05, revela que o deputado Michel Temer, presidente nacional do PMDB, convocou reunião da Executiva para aprovar o acordo com o PT que inclui sua candidatura a vice na chapa de Dilma Roussef. Setores partidários entretanto, resistem porque condicionam esta solução ao apoio do Partido dos Trabalhadores à candidatura do ex-ministro Helio Costa ao governo de Minas. Difícil.
O PT mineiro decidiu adiar sua resposta para os dias 19 e 29 de junho, daqui a um mês, quando realizará sua convenção estadual. Ora, se o propósito fosse apoiar Helio Costa, a regional não adiaria sua posição. Além do mais, já realizou uma prévia que apontou o ex-prefeito Fernando Pimentel como o nome preferido para disputar o Palácio da Liberdade. A meu ver, é um candidato basicamente mais forte do que Helio Costa, cujo eleitorado divide-se entre ele e Antonio Anastasia, candidato de Aécio Neves. Mas esta é outra questão.
O fato é que o PT encontra-se evidentemente disposto a concorrer com um candidato próprio de sua legenda. Se assim não fosse, já teria formalizado acordo com o ex-ministro das comunicações. Quanto à perspectiva de o PMDB condicionar seu apoio a Dilma Roussef ao apoio do partido do governo ao PMDB em Minas, não faz sentido. Um acordo nacional não pode se encontrar na dependência de uma coligação estadual. Inclusive porque o problema existe em vários Estados, não só em Minas.
No Rio Grande do Sul, disputam o Palácio Piratini José Fogaça, pelo PMDB, Tarso Genro pelo PT, E há dúvida quanto ao palanque duplo para a ex-chefe da Casa Civil, pois realizam-se articulações entre José Serra e José Fogaça, uma vez que Serra quer distância da governadora Yeda Crusius, do PSDB, cuja impopularidade é bastante elevada.
Na Bahia, outra divisão: Jacques Wagner, pelo PT, Geddel Vieira Lima pelo PMDB, disputam o governo. Pesquisa do Sensus divulgada pelo Jornal da Band de segunda-feira aponta Wagner disparado. No Rio, o governador Sergio Cabral, favorito, e o ex-governador Anthony Garotinho enfrentam-se. O PT apóia Cabral, mas há confronto para o senado: o PT com Lindberg Farias, o PMDB com Jorge Picciani.
No entanto, além dessas colisões, existem duas outras muito maiores, casos de São Paulo e Pernambuco. Em São Paulo, o ex-governador Orestes Quércia disputa o Senado e apóia frontalmente José Serra. Nem se trata de base dupla, trata-se de dissidência clara e insofismável. Que vai fazer a direção regional do PMDB que sustenta o governo Lula no Congresso e vai apoiar Dilma Roussef? Vai intervir na seção paulista? Vai expulsar Orestes Quércia? Nada disso. Vai conviver normalmente com ele e com a cisão.
As divergências não terminam em São Paulo. Estendem-se a Pernambuco. Na terra de Gilberto Freire e Marcos Vilaça, o senador Jarbas Vasconcelos, do PMDB, é candidato ao governo do Estado e já manifestou seu apoio à candidatura do ex-governador de São Paulo. Como a executiva nacional do PMDB vai proceder? Intervir na seção pernambucana, vai punir Jarbas Vasconcelos? Nada disso. Vai aceitar a dissidência e conviver com ela, embora os casos de São Paulo e Pernambuco contrariem a lei eleitoral. Mas para evocar a lei junto ao TSE é necessária uma iniciativa partidária. O PMDB não tomará iniciativa alguma. Ficará em silêncio. Essa não. Por que só em Minas é problema? E São Paulo e Pernambuco?