Carlos Chagas
Convocado pelas centrais sindicais e marcado para depois de amanhã o Dia Nacional de Luta, ou que outro nome tenha, prevê greves, paralisações e passeatas em todo o país. O diabo é saber o objetivo político da manifestação, porque a CUT, levando o PT de carona, jamais imaginaria sair às ruas para contestar o governo Dilma. Mas a Força Sindical já anuncia palavras de ordem oposicionistas, inclusive a singular exortação para que a presidente da República caia no precipício. Parece que assistiremos um movimento “bom-bril”, de mil e uma utilidades.
São contraditórias as informações. Umas dão conta de que o Lula e o palácio do Planalto estimulam o movimento. Outras, de que não serão toleradas agressões à ordem pública, estando os organismos policiais de prontidão.
Mesmo sem bola de cristal, fica óbvio que se houver sucesso, quer dizer, muita gente nas ruas de São Paulo, Rio e outras capitais, ninguém impedirá os trabalhadores de se pronunciarem contra o governo, as autoridades públicas, os salários baixos, a corrupção e outros temas. As centrais poderão integrar-se aos recentes movimentos estudantis, mas, no reverso da medalha, imagina-se que também possam homenagear Lula e Dilma. Faixas para todo gosto estarão sendo pintadas.
Em suma, uma grande confusão, capaz de revelar-se até geográfica, porque em alguma capital do Nordeste pode haver protestos e em outras do Sudeste, aplausos para os detentores do poder. A maioria deverá inclinar-se para a crítica. Tomara que os organizadores do movimento tenham tomado providências para isolar os vândalos de todas as ocasiões, aqueles empenhados em saquear, invadir, roubar e destruir. O que os jovens não conseguiram, três semanas atrás, os sindicalistas talvez obtenham sucesso, pois mais organizados e experientes.
OS CAVALEIROS DE GRANADA
Há quem veja na manifestação de quinta-feira algo parecido com o soneto de Cervantes sobre os Cavaleiros de Granada, aqueles que saíram alta madrugada, em louca disparada, brandindo lança e espada. Para quê? Para nada…
Falta uma pauta efetiva de reivindicações para o trabalhador, pela impossibilidade de as centrais sindicais exigirem do governo aquilo que ele não lhes pode dar, como a participação no lucro das empresas, a cogestão, a volta à estabilidade no emprego e o reajuste do salário-família.
Tem gringo nisso?
Por conta da grande crise mundial do sistema capitalista, desde 2008, batendo muito forte na economia do primeiro mundo, especialmente em Portugal, Espanha, Grécia, e outros, causando imensos desempregos, a mais de 22%, expressos em variadas violentas manifestações de ruas, repletas de desempregados enfrentando a polícia.
Por outro lado, em países com altos níveis de desempregos, mas não tão a elevados patamares, as manifestações de ruas praticamente nem existiram, como nos EUA, Inglaterra, França e outros.
Mesmo nos países atingidos por severo desemprego, pelo que me consta, não assistimos os cruéis bloqueios de rodovias, causando deliberada criminosa desestruturação de toda rede de abastecimentos e sérios comprometimentos do setor industrial. Porque será que aqui no Brasil, justo com economia apresentando índices de desempregos da ordem de 5%, em algumas cidades do Sul, abaixo de 2,5%, ainda assim, insistem em bloqueios de rodovias? Tem gringo nisso?
ERRO TRIPLO DO PT – Lideranças do movimento sindical que organizam o manifesto da próxima quinta-feira, 11 de julho, anunciaram a intenção de centrar suas reivindicações em busca da redução da jornada de trabalho, do fim do fator previdenciário, de reajuste para os aposentados e maiores investimentos em educação e saúde. O deputado Paulinho da Força Sindical (PDT-SP) está protestando contra a Executiva Nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), que decidiu na quinta-feira passada convocar os petistas a engrossarem as manifestações sindicais com a defesa de plebiscito para reforma política. Comete três erros o alto comando petista: 1. Tenta interferir numa luta de classe com claro propósito de deformar o significado de suas manifestações; 2. Insiste com plebiscito sobre reforma política como saída para a crise sabendo que não há chance de ser viabilizado; 3. Celebra 10 anos de poder tendo fechado suas prévias pelo presidente Lula, que fez uma “reforma política às avessas” sem contestação da estrutura.