Carlos Chagas
Quando as coisas desandam, numa empresa, num clube de futebol, num partido político ou numa candidatura, a primeira solução é criar um conselho de notáveis para enfrentar a crise. Geralmente não dá certo, pois maior número de palpites só faz acirrar dificuldades.
Decidiu José Serra estabelecer um “conselho de campanha” para dirimir dúvidas, reorganizar a estratégia e recuperar tempo e espaço perdidos. Promete reunir todas as semanas representantes dos partidos e grupos que o apóiam, numa espécie de colegiado capaz de promover sua nova ascensão nas pesquisas.
Pode estar entrando numa fria. A menos que pretenda repetir episódio do qual Jânio Quadros foi protagonista, em 1960. Depois de haver renunciado à candidatura e deixado a UDN pendurada no pincel, sem escada, obrigada a trocar Leandro Maciel por Milton Campos, como vice, o singular candidato viu-se compelido a constituir um “conselho de campanha”. Era o mês de março. Até um casarão centenário foi alugado no bairro do Flamengo, no Rio. Jânio compareceu apenas no dia da inauguração. Nunca mais pôs os pés naquilo que seria o centro das decisões para sua marcha ao poder. E nem o colegiado, composto por luminares de espécies variadas, conseguiu reunir-se. O candidato buscava votos pelo país inteiro como bem entendia, sem ouvir ninguém. Deu certo e ganhou a eleição.
Assim poderá comportar-se José Serra: fazendo salamaleques e reverências ao DEM e penduricalhos, até curvando-se figuradamente a tucanos emplumados como Fernando Henrique, mas conduzindo sua campanha como bem quiser. Um exemplo de como gostaria de governar, sem empecilhos nem estorvos. Agora, se vai funcionar, é outra história, porque pode ser tarde demais. Já estamos em julho…
Candidatos de granada
Com todo o respeito, mas candidatos, mesmo, à sucessão presidencial, só três: Dilma Rousseff, José Serra e Marina Silva. Numa homenagem ao seu passado coerente de socialista e católico praticante, inclua-se Plínio de Arruda Sampaio, mesmo sem votos.
Os demais, com pedido de registro apresentado esta semana, são menos do que figurantes. Freud talvez explicasse porque pretendem disputar a presidência da República José Maria Emayel, Levy Fidelix, José Maria de Almeida, Ruy Costa Pimenta e Ivan Pinheiro.
Quem sabe Cervantes pudesse compreendê-los, incluindo-os no magistral soneto dos “Cavaleiros de Granada”, aqueles que alta madrugada saíram em louca cavalgada, brandindo lança e espada. Para que? Para nada…
A poupança do andar de cima
Declarou Henrique Meirelles ser a poupança doméstica a chave para o desenvolvimento sustentável do Brasil. Só se for a poupança do andar de cima, aliás, cada vez mais rara, pois as elites preferem especular em vez de poupar, registrando-se a ampla diferença entre os dois verbos.
Porque se a referência é para a classe média e as situadas em patamares inferiores, o conselho do presidente do Banco Central soa como piada. No mesmo dia em que apresentava sua chave, deveria o banqueiro ilustre ter atentado para comunicação da Serasa, dando conta de haver aumentado a inadimplência nas classes C e D.
Iludidos com a farta propaganda de poderem comprar produtos da chamada linha branca, os cidadãos de salário mínimo e adjacências estão, aos montes, deixando de pagar as prestações mensais. Assim como outros, de renda um pouco superior, atrasam as mensalidades do carro novo. Como formam a imensa maioria da população, serão esses os poupadores do dr. Meirelles?
Festa no céu
Todo mundo conhece a história do sapo que soube da festa a se realizar no céu e, sem saber voar, pediu para ir dentro da viola do urubu. Foi, divertiu-se, mas, na hora de voltar, verificou que o urubu já tinha descido. Resultado: esborrachou-se cá em baixo.
Com todo o respeito, o mesmo pode acontecer com Índio da Costa, candidato a vice-presidente na chapa de José Serra. Por enquanto, está em festa, levado de carona pelo candidato. Depois, fará o quê se precisar assumir o governo? Vai faltar viola…