
Sem cautela e gradualismo, Cintra quebrou código de conduta
Gustavo Paulo
O Globo
Marcos Cintra, secretário da Receita Federal até o início da tarde desta quarta-feira, dia 11, amigo pessoal do ministro Paulo Guedes, estava no cargo para elaborar mudanças estruturais na área tributária brasileira. Era menos secretário de arrecadação e mais formulador da receita futura. Para isso, dentro de uma reforma tributária ampla, ele defendia a CPMF como forma de arrecadar mais e ampliar a base de arrecadação. Era uma obsessão.
Desde os anos 1990, defendia a ideia de um imposto único como uma arma para “acabar com o leão e com os outros 58 (!) bichos”, como chegou a defender em publicidades pagas. No atual governo, ele encontrou a possibilidade de dar prosseguimento a suas ideias. Mas Cintra, que já vinha acumulando desgastes no governo por várias outras razões desde que assumiu a Receita em janeiro, acabou sendo abatido por avançar demais na defesa do tema, sem que todas as pontas estivessem amarradas.
CÓDIGO DE CONDUTA – Na prática, quebrou um dos códigos de conduta deste governo – e de outros também. Temas politicamente controversos devem ser tratados com cautela e gradualismo, sempre com aval dos superiores. Ao autorizar o secretário especial adjunto da Receita Federal, Marcelo de Sousa Silva, a expor detalhes do projeto da “nova CPMF”, ele deu pela primeira vez um tom oficial à medida que ainda estava sendo discutida publicamente como uma proposta.
Nas falas e entrevistas de Paulo Guedes e nos comentários do presidente Jair Bolsonaro admitindo que poderia admitir a CPMF caso fosse convencido, o assunto ainda estava na etapa anterior do projeto final, era um rascunho. Ontem, em uma apresentação detalhada e bem feita, passou a ser um projeto. Com isso, o governo se viu engolfado por críticas ao projeto, que voltaram com força total de economistas, analistas e, principalmente, de políticos. Os presidentes do Senado e da Câmara foram veementes em rechaçar o novo imposto.
GOTA D´ÁGUA – Essa brecha é tudo o que o governo não quer, principalmente por ainda precisar ganhar musculatura política para aprovar outros temas importantes, como a reforma da Previdência e as indicações do novo procurador-geral da República e do filho-deputado Eduardo para a embaixada em Washington. Essa foi a gota d’agua para a saída de Cintra: sua posição ficou insustentável. Mas ele cai também pelo conjunto de desgastes acumulados antes mesmo de o governo começar.
Em novembro passado, em um programa de televisão, o então presidente eleito já ameaçava retirá-lo depois de declarações a favor de uma “nova CPMF”. “Parece que tem certas pessoas, se é verdade a informação, que não podem ver uma lâmpada e se comportam como mariposa”, disse o presidente eleito.
Marcos Cintra estragou os planos de Boçalnaro e Paulo Guedes de voltar a CPMF.
Ele falou demais sobre um assunto que era para manter em segredo.
Por isso ele caiu.
TEM MAIS QUE SE DANA ESSE FDP
O Guedes falou desse imposto numa entrevista ao Valor, inclusive citando um número de 150 bi. E quem é demitido é o Cintra.