Carlos Chagas
Certeza, ninguém tem. Surpresas sempre podem acontecer. Mas como os ventos sopram em favor de Dilma Rousseff, importa raciocinar em função da vitória da candidata, domingo que vem. Com quem ela irá governar, impossibilitada de repetir a experiência do Lula, que nos últimos oito anos governou com ele mesmo, acima e além do seu partido?
Posiciona-se o PT para ocupar os espaços que, senão negados por completo, foram-lhe reduzidos pela onipresença do presidente. Imaginam os companheiros que com Dilma será diferente, tendo em vista o artificialismo de sua candidatura, tirada do bolso do colete presidencial. Pode repousar aqui o primeiro erro do partido: o lulismo não desapareceria mesmo se o Lula pretendesse entrar em cone de sombra, hipótese descartada pela própria personalidade do presidente em vias de tornar-se ex-presidente. Se na campanha prevaleceram integralmente a palavra e os conselhos do rei, porque seria diferente no governo da rainha? Para o primeiro-companheiro estarão voltadas as atenções e as expectativas dos novos ocupantes do palácio do Planalto. Aliás, nem tão novos assim, tendo em vista a presença obrigatória de ex-ministros no ministério a ser formado.
É preciso registrar, também, que depois de dois mandatos pendurados no salva-vidas oferecido pelo Lula, o PT não é mais o mesmo. Os que desejavam as mudanças fundamentais e até a revolução proletária dos idos da criação do partido não conseguiram fazê-las. Naufragaram, em grande maioria. E os que falsamente tentaram fazê-las, não as desejavam. O resultado foi a transformação do PT, de partido operário em partido de funcionários públicos, agarrados os líderes que sobraram às estruturas do estado, às diretorias de estatais, às ONGs de ocasião e até a uma burocracia fajuta.
Será esse o PT que pretende conduzir o governo Dilma Rousseff? Ela mesmo conseguirá dispersar e botar para correr quantos companheiros tiverem coragem de tentar condicioná-la. Bastaria um de seus tradicionais gritos tão a gosto de sua performance no governo Lula.
Sendo assim, a primeira conclusão será de que Dilma governará com o Lula, muito mais do que com o PT. E o Lula governará com Dilma, apesar do PT. Quebrará a cara quem imaginar o PMDB pensando em infiltrar-se no núcleo palaciano através do vice-presidente Michel Temer. O grande obstáculo a impedir essa trajetória chama-se Lula.
A MONTANHA GEROU UM RATO
A imagem é conhecida: raios, trovões e tempestades concentraram todas as atenções para o alto da montanha, de onde poderia surgir a hecatombe universal. No fim, quando temerosos e apavorados habitantes da planície procuraram o resultado, encontraram um ratinho…
Com todo o respeito, assim se registra o último fim de semana de atuação da mídia semanal empenhada em demolir e implodir a candidatura de Dilma Rousseff. Imaginou-se a revelação de escândalos inomináveis, de revolução nos intestinos do poder, de falência total das estruturas governamentais.
Fora a bolinha de papel e o carretel de fita durex que atingiram a careca de José Serra, apareceu o que? A denúncia de um ex-funcionário do ministério da Justiça, posto para fora depois de flagrado em irregularidades com uma quadrilha de chineses, dando conta de que a candidata pedia dossiês a respeito de adversários do governo. Só que não se revelou mais nada. Nem nomes, nem situações, muito menos provas, sequer evidências. A montanha gerou um rato…