Carlos Chagas
Com todo o respeito aos dez secretários-executivos e chefes de gabinete ontem transformados em ministros, a pergunta que se faz é contundente: alguém, fora da Esplanada dos Ministérios, já ouviu falar deles? Os nomes relacionados pelos jornais não dizem nada, em termos políticos. E os ministérios, desde o Império, são organismos eminentemente políticos.
O resultado é que o presidente Lula, na reta final de seu governo, acaba de compor um miniministério. Botou em campo o time reserva, mesmo ciente de que os minutos finais da partida são os mais importantes para a vitória ou a derrota no campeonato.
As devidas desculpas, mesmo sem citações nominais, também vão para os ministros que ficaram, com raras exceções, da mesma forma carentes de expressão política.
A gente se pergunta o porquê desse ato final do primeiro-companheiro. Será porque fica mais fácil para o técnico orientar auxiliares ainda não consagrados pela crônica esportiva? Senão pernas-de-pau, ao menos um conjunto inexperiente que põe um olho na bola e outro no treinador.
Quando deputados ou senadores consagrados pedirem audiência para forçar benesses, favores e nomeações, terão os novos ministros condições de rejeitar? Sempre será possível que revelações apareçam, mas fácil não parece.
Poderia ser diferente? Claro. Mesmo sabendo que os políticos profissionais disputarão a reeleição, impedidos por isso de integrar o ministério, bem que o presidente Lula poderia, até para coroar seu governo, lançar mão de luminares, de cidadãos apolíticos com destaque nas diversas atividades a que se dedicam. Formaria uma seleção digna de ganhar a Copa do Mundo. Como preferiu, mesmo, escalar um time de reservas, corre o risco de enfrentar arquibancadas vazias no fim da partida.
O rolo compressor
Tem gente sem dormir, em Brasília, em especial depois que o delator Durval Barbosa ameaçou metade dos políticos locais com um rolo compressor. Locais e nacionais, ressalta-se, porque a boataria envolve até altos dirigentes de partidos supostamente brindados com regalos pecuniários do ex-governador José Roberto Arruda. Enquanto habitava o mundo dos vivos, ele imaginava altíssimos vôos, como tornar-se companheiro de chapa de José Serra, indicado pelo DEM. Também tratava do “Plano B”, que seria sua reeleição, necessitando para isso do apoio do PMDB. Que se cuidem os donos desses dois partidos. E de outros, porque Durval Barbosa mostra-se disposto a jogar barro no ventilador.
Marmita requentada
Marina Silva chegou à perigosa conclusão de que só crescerá nas pesquisas caso venha a bater firme no governo. Sua definição sobre o PAC II é contundente: “marmita requentada”. Desfaz-se aos poucos o ameno clima que marcava o relacionamento da candidata com o presidente Lula. Como Ciro Gomes vem poupando cada vez menos o PT, e José Serra logo assestará sua metralhadora sobre os detentores do poder, Dilma Rousseff ficará sozinha na trincheira, com a função de rechaçar a invasão.
Aquilo que o governador Aécio Neves sustenta ser exclusiva característica de Minas, onde não existem inimigos, mas apenas adversários, ameaça desfazer-se na sucessão presidencial. Daqui até outubro chumbo grosso cruzará o céu da disputa. Tomara que ninguém saia mortalmente ferido.
Primeiro de abril
Hoje é primeiro de abril. Que tal imaginarmos a realização em Brasília da mais formidável reunião de líderes mundiais, sob a presidência do Lula, para a celebração da paz e da concórdia no Oriente Médio? Ou o compromisso dos presidentes dos Estados Unidos e da Rússia de destruírem em quinze minutos todo o seu arsenal atômico? Por que não se supor um pacto mundial pela extinção do terrorismo? Mais a destinação de metade da riqueza mundial para a recuperação dos países pobres e miseráveis?
Aqui no Brasil, então, nossa imaginação não teria limites: a prisão de todos os implicados no mensalão; a devolução dos recursos destinados pelo governo às ONGs fajutas; a realização de todas as promessas contidas no PAC I; a dissolução dos partidos políticos cujos dirigentes se envolveram em maracutaias; a utilização em escolas e hospitais dos bilhões carreados pelo governo em publicidade e propaganda… E quanta coisa a mais?