Excluíram o povão

Carlos Chagas

Quanto à performance dos jogadores, a tática do Felipão ou o pênalti inexistente marcado pelo nosso amigo nipônico, são assuntos por conta dos colegas especializados em futebol.

Não dá para ficar calado, porém, a respeito da profunda distorção social que o início da copa do mundo vai revelando. Quem assiste as transmissões, desde quinta-feira, tem a impressão de estarmos na Suécia, tantas lourinhas flagradas pelas câmeras em meio à euforia de um público bem vestido e elitizado. Negros e mulatos foram vistos só bissextamente, com o agravante de não ter aparecido nenhum torcedor trajado da forma modesta como a maioria de nosso povo.

Os estádios, mais parecidos com palácios, podem ter deslumbrado os turistas, mas pouco tem a ver com a realidade do país. Em suma, um espetáculo para os bem aquinhoados, claro que por conta do altíssimo preço dos ingressos, inacessíveis aos operários de salário mínimo.

E AS GERAIS?

Não há como deixar de comparar a atual copa com aquela outra, de 1950, quando em vez dos 60 mil privilegiados de hoje, compareciam 150 e até 200 mil pessoas, no antigo Maracanã. Lá, havia espaço nas “gerais”, onde a preços módicos as partidas eram assistidas de pé, alegria dos menos afortunados. Para não falar nas arquibancadas onde a gente sentava no cimento, quando podia sentar, em meio à multidão feliz. Agora, o povão está excluído da copa, obrigado a ver os jogos nos telões montados em praça pública ou nos monitores dos botequins. Por muitos anos, no Rio, os Fla-Flus reuniam a massa, pois o futebol era delas, além da classe média. Em São Paulo, a mesma coisa diante do embate entre Corinthians e Palmeiras, no Pacaembu.

Sobre o comportamento das massas, Nelson Rodrigues definiu muito bem ao escrever que elas vaiavam até minuto de silêncio, mas educadamente, ao contrário dos tempos atuais quando se ouvem chavões obscenos e desnecessários. E por um público menos numeroso, com dinheiro no bolso.

Uma palavra sobre a presidente Dilma, que demonstrou covardia ao não abrir a solenidade, escondendo-se na tribuna de honra e deixando de inaugurar o certame. No entanto, enganou-se, caso tenha pensado em não perder votos por conta das vaias. Porque foi descoberta pelas câmeras, mesmo em fugazes segundos, recebendo agressões verbais capazes de fazê-la meditar sobre as surpresas de outubro. Na presença do secretário -geral das Nações Unidas e de governantes de diversos países, omitiu-se a nossa presidente, para satisfação do dono da Fifa, que também seria vaiado.

 

7 thoughts on “Excluíram o povão

  1. Sr. Carlos Chagas,
    Não sou expert em futebol. Sou advogado tributarista, mas sei o que é PENALTY. FOI PENALTY SIM. O Sr. está torcendo pela a mídia estrangeira coisa muito comum dos brasileiros. Não se vê isso na Europa ou Estados Unidos. A G1-Noticias Globo em vídeo passou o lance em 18 posições. Em 4 delas, vê-se claramente o número 6 da Groácia empurrando com a mão esquerda o antebraço direito do FRED e o derrubando. Congelando-se o lance, vê-se claramente que foi PENALTY.

  2. Quer queiram, quer não é a Luta de Classe chegando aos estádios. Mao Tsé Tung dizia que a LdC move a História. De fato, a atualíssima História do Brasil “moveu” os torcedores pobres para as periferias, assistam em casa… ou nas ruas… Aliás, estádio agora se chama “arena” e eu sempre lembro que nas antigas arenas do Império Romano, os cristãos (pobres?) eram deglutidos pelos leões…

  3. PURO COMPLEXO DE INFERIORIDADE. O POVO BRASILEIRO É MESTIÇO. SE VOCÊ ESTÁ VENDO SO LOIROS, SÃO CRILOIROS OU LOIROSc TURISTAS EUROPEUS. kkkkk

  4. Não votei em Dilma nem em Lula.
    Porém entendo que a manifestação deveria ser de outra forma.
    Deveria ser uma colossal váia, que naturalmente envolveria quase
    todo o estádio : Ú, Ú, Ú. Ela mereceu, pois
    ” QUEM SEMEIA VENTO, COLHE TEMPESTADE”.
    Agora, quanto ao Lula, me lembrei do Carlos Drumond de Andrade:
    ” Onde estás que não respondes. Onde é que tú ti escondes ?
    É um fujão.

  5. Mas que mania é essa de achar que para ser brasileiro tem que ser preto e pobre?
    Eu não estava neste jogo, mas estava em jogo da Copa das Confederações, onde se falou a mesma insanidade. E eu sou mestiça e trabalhei muito duro para hoje poder pagar pelo ingresso nos estádios!
    O povo trabalhador, que move o país, merece mais respeito.

  6. Entendi a profundidade do texto, jornalista.
    O equivalente a pensar que nessa Copa, o Geral..dino vai assistir, de pé, em frente a um telão ou televisão na vitrine de alguma loja …

  7. Ai que demagogia barata, não aguento mais essa ladainha de rico contra pobre. Se em 1950 o Maracanã cabia 200 mil pessoas sendo uma grande parte sem o menor conforto e em pé, não vejo isso como vantagem do povo. Se hoje são colocados telões com boa imagem em braça pública e de graça não vejo onde possa se ver com indignação e preconceito esses espaços que são públicos e legítimos para quem quiser comparecer. Chega de palhaçada querendo jogar uns contra os outros só por que não foram aos estádios. Eu não fui porque não quis, acho melhor assistir aos jogos no conforto de minha casa na poltrona da sala.

Deixe um comentário para josé camilo de campos silva - muriaé - mg Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado.