
Charge do Cicero (Arquivo Google)
Carlos Newton
Rio de Janeiro, capital da República, década de 1950. Naqueles anos as escolas públicas eram reconhecidas e prestigiadas face ao excelente serviço educacional e educativo que prestavam aos alunos, futuros cidadãos do país.
As aulas de história abordavam a vida de personagens já falecidos e também de alguns que estavam vivos. Havia o culto do respeito e reconhecimento aos que haviam trabalhado na edificação e consolidação do Brasil como nação soberana em todo o seu espaço territorial.
MARECHAL RONDON – Naqueles idos, um dos personagens históricos ainda vivos era o marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, que residia no bairro de Copacabana e sempre tinha disposição para receber crianças e jovens para longas conversas sobre sua vida, notadamente no contato com populações indígenas durante e após a instalação das linhas telegráficas no centro-oeste e no norte do Brasil. Pelo lado materno é bom que se frise que Rondon era filho de índia, portanto, neto de índios.
As histórias de Rondon despertavam e construíam, com material indestrutível e perpetuo, o patriotismo e a brasilidade naquelas crianças e jovens que o escutavam. Pena que seus ensinamentos verbais tenham se encerrado no início de 1958, ano em que faleceu.
Hoje, todas aquelas crianças e jovens que o escutavam, se vivos, teriam mais de setenta anos de idade. Um dos que ainda mantém viva a memória de Rondon é nosso comentarista Celso Serra, que, contagiado pelas histórias do grande sertanista brasileiro, aos 20 anos de idade, na década de 1960 partiu, pela primeira vez, para conhecer a Amazônia e o Brasil Central.
ATÉ IQUITUS – Celso Serra viajou de barco de Belém/Pará até Iquitos/Peru e também pelos principais afluentes das duas margens dos rios Solimões e Amazonas, manteve contatos permanentes com os brasileiros que lá viviam, civis e militares, descendentes de europeus, de negros, de indígenas e, em sua maior parte, de mestiços. Também com estrangeiros de diversas nações que transitavam pela Amazônia brasileira. Viajou de Porto Velho a Guajará Mirim na Estrada de Ferro Madeira-Mamoré. Subiu de barco o rio Guaporé até a Fortaleza do Príncipe da Beira, grande obra de nossos antepassados portugueses, localizada estrategicamente de frente para a Bolívia.
Ficou convencido que aqueles brasileiros que viviam na Amazônia exerciam importante serviço para o país, pois ocupavam fisicamente o território e se comunicavam no idioma português – é claro, com expressões regionais de origem indígena e africana. Enfim, ali estava parte importante de nosso maravilhoso Brasil mestiço, produtivo e patriótico.
HABITANTES – Em suas viagens pelo interior da região registrou que a ocupação econômica era basicamente extrativa dos produtos da floresta, notadamente castanha, borracha, frutos e raízes medicinais e que as áreas possuíam dimensões bastante expressivas. Não raro, participava em penetrações em pequenas canoas e a pé na mata, na qual permanecia por bastante tempo, dormindo em rede atada a árvores e comendo os mesmos alimentos catados pelos mateiros na floresta.
Celso Serra, junto com Wilson Cruz, escreveu o livro “Aspectos Econômicos e Sociais da Cidade Flutuante”, editado em 1964, sobre um povoamento que flutuava em casas construídas em cima de toras que flutuavam no rio Negro e atrapalhavam o acesso de navios ao porto de Manaus. Esse livro foi prefaciado pelo professor Samuel Benchimol, um dos maiores conhecedores da região. Os dados contidos na obra foram utilizados na criação da Zona Franca de Manaus.
PULMÃO DO MUNDO – Há cerca de 40 anos, quando começou a pregação que a Amazônia era o “pulmão do mundo”, Celso Serra sentiu que essa frase poderia ser maliciosa estratégia de contágio de mentes para esconder interesses maiores, principalmente com relação à área da mineração e da química-farmacêutica-microbiológica na região.
Como brasileiro, face sua formação profissional ligada ao planejamento estratégico, procurou buscar solução boa para o Brasil e que deixasse os supostos necessitados do serviço de purificação prestado pela floresta em situação que não pudessem recusar colaborar financeiramente com a região.
A ideia era muito simples: a floresta limpa a sujeira do ar? Quem suja? São nações que já derrubaram suas florestas? Se é assim, por qual razão essas nações não pagam pela faxina?
TÍTULOS DE PRESERVAÇÃO – Imaginou, então, a instituição de títulos de preservação da floresta, cujos valores seriam determinados pelo valor extrativo e de comércio das espécies existentes nos locais, por meio de rigoroso inventário e avaliação florestal. Pensou apenas nas áreas ocupadas, a qualquer título, por particulares.
Como cidadão pleno de ideais, Celso Serra encaminhou seus estudos ao governo brasileiro. Jamais teve efetiva resposta, apenas conversas com agentes públicos que não conheciam a região amazônica.
Nos anos de 2006 e 2007 presidiu, foi coordenador e principal artífice do estudo intitulado “Amazônia, Soberania Nacional”, realizado pela histórica Loja Maçônica Dous de Dezembro.
DIZ FREGAPANI – O estudo foi de tal perfeição que Gelio Fregapani – uma das maiores autoridades sobre a Amazônia, na qual serviu ao Exército e ao Brasil por quase 40 anos, um dos fundadores do Centro de Instrução de Guerra na Selva, no qual foi um dos principais comandantes, autor de diversos livros sobre a região – escreveu que ele (o estudo) “…descreve a situação com a precisão de um relatório de Inteligência dos mais avançados países”.
Neste mês, precisamente no dia 19 de agosto de 2019, a publicação Relatório Reservado nº 6.181 menciona que está em estudos pelo Governo brasileiro a criação de “um surpreendente fundo da Amazônia”.
A MESMA IDEIA – Será que a ideia de Celso Serra ressuscitou em outras cabeças, cerca de 40 anos depois? É provável que ele seja o ponto de referência, pois no início do mês de maio deste ano foi noticiado pelo jornal O Estado de São Paulo que o Governo brasileiro, com a ajuda do Banco Mundial, está estudando “nova formulação para o Pagamento por Serviços Ambientais”, ressarcimento aos donos pela preservação da terra.
A tese ganha cada vez mais força, mostrando que o estudo de Celso Serra não foi em vão.
1) Pensamento do dia:
2) “Os grandes incêndios nascem de pequenas faíscas!” = Cardeal de Richelieu (1585-1642) clérigo, político, arquitetou o Absolutismo, Primeiro Ministro de Luís XIII, promoveu a liderança francesa na Europa. Nome: Armand Jean du Plessis. Autor do livro: “O Testamento Político”.
3) Fonte: Os Pensamentos são mais poderosos que os Exércitos, Prof. Samuel Lago, pág.243.
Puxa vida, mas não precisa disso não! É só voltar a aceitar a graninha generosa dos europeus destinada às ONGS idôneas preocupadas com as arvorezinhas da Amazônia. Puxa vida, querem desempregar essa “meia-duzia” de ongueiros, coitados?
Gostei do texto e da solução proposta. Se a Amazônia é muito importante ao clima do mundo, a criação de um fundo internacional para preservação da floresta é muito justo.
Um dos problemas é como seria gerido e fiscalizado tal fundo, sem que os países, a quem pertence a área a ser preservada, percam sua soberania.
Claro que tudo deve ser acompanhado por estudos científicos, sem ideologias.
Fundo da Amazônia? Já proposto e implementado no governo Lula?
Cândido Mariano da Silva Rondon era filho de Bororo e Terena. Fundou o Serviço de Proteção aos Indios em 1910. Órfão aos 2 anos, foi criado e educado por um tio do qual adotou o sobrenome Rondon. Na Escola Superior de Guerra (onde foi aluno de Benjamin Constant), Formou-se em Engenharia Militar. Positivista convicto, orientou-se durante tôda vida pelos princípios filosófico-religiosos de Augusto Comte, donde a adesão às causas da Abolição e da República. Prestou um serviço inestimável ao Brasil singrando toda a Amazônia estendendo linhas telegráficas em seu interior e demarcando as fronteiras. Teria que escrever um livro para retratar tôda a epopeia que foi a vida de Rondon que ao morreu em janeiro de 1958 nos braços de Darcy Ribeiro recitando princípios do catecismo positivista. (gravou uma mensagem ao índios bororos que ficaram perplexos sem saber como entender aquilo. Darcy procurou explicar-lhes).
Parabens a TI por tao brilhante materia!. Que seja uma licao para os Tres Poderes e para quem se interessa pela Amazonia!. Filmes da NASA, transmitidos pelo Canal 594(H2) exibe a floresta evaporando 20 bilhoes de litros dagua por dia, formando um Rio no Ceu, para irrigar com chuvas Goias, Piaui, Mato Grosso do Sul, Pantanal e Norte da Argentina. Assimila bilhoes de toneladas por dia de gas carbono. Eh preciso que o onus desse bem comum nao seja pago apenas pelo Brasil. Quanto a CELSO SERRA eh o maior indianista vivo, no momento, e ninguem entende tanto de indio e da AMAZONIA como ele. Que essa excelente materia chegue as maos das Autoridades que decidem e oucam os Militares da Regiao e a Maconaria.
Alguns comentários sobre esta matéria mostram que algumas pessoas não entenderam a questão. Desde Rondon, passando pelo sertanista Celso Serra, a defesa da Amazônia Brasileira sempre foi uma questão de Estado, não aceitando nenhum domínio estrangeiro. É exatamente o que o Bolsonaro defende.
O Coronel Gelio Fregapani, quatro turmas à minha frente, é um dos maiores e melhores estudiosos sobre a Amazônia.
Conhece a região com a biodiversidade existente dentro dela própria.
Excelente artigo.
Celso Serra é uma referência em questões que envolvem a soberania nacional! É um exemplo de Cidadão Brasileiro preocupado com os destinos da Amazônia! E muito ates do Protocolo de Kioto elaborou um projeto que estimulava preservação da floresta em pé, além de permitir a sustentabilidade da sua exploração! Sendo essa a linha do Governo, tenho a certeza de que a Amazônia será uma fonte inesgotável de riqueza para o Brasil!
Excelente artigo, conheci mais sobre a amazônia e seus pioneiros.
Parabéns.
Gélio Fregapani entrincheirou-se na prefeitura de Pacairama com o prefeito Paulo Cesar Quartieiro para receber o “Exército à bala em razão de Quartieiro com documentos falsos querer apossar-se de terras indígenas da “Raposa Serra do Sol”. Paulo Cezar Quartieiro mudou curso de rio para suas pantações de arroz, envenenou grande parte das terras com agrotóxico, matou indios , expargiu agrotoxico sobre aldeias indígenas, incendiou aldeias: Fez o Diabo e ainda era amigo irmão camarada de Chaves, tendo convidado-o para defenderem suas terras. Gélio pode ser o que for, mas deu prova de ser desequilibrado. Um coronel não pode fazer isso. Há 7/8 anos já frequentou este Blog.
Quem é Celso Serra?
É um grande brasileiro, que assina seu nome quando escreve e emite opinião.
CN
Então é mais um palpiteiro?
O desejo do Boloro de explorar a Amazônia não faz sentido nenhum. Para que o Brasil possa desfrutar das riquezas minerais da Amazônia, o país precisa de uma indústria que ele não tem. A Embraer, vendida. As Telecoms estatais, vendidas. A Embratel, vendida. A Engesa, fechada. A Avibrás perdeu a Base de Alcântara. A ABICOMP e as outras empresas brasileiras de desenvolvimento de hardware, desaparecidas. O Brasil simplesmente devastou a própria indústria de tecnologias sensíveis e de alto valor agregado. Por qual razão O Brasil precisaria dos minérios amazonicos, se ele costuma vender o seu parque tecnológico? Não faz sentido nenhum.
A China precisa desses minérios. Os Estados Unidos precisam. A União Européia precisa. O Japão precisa. A Coreia do Sul precisa. Israel precisa. Eles não são como o Brasil que tem uma vocação irrefreável para o suicídio econômico. Eles supostamente precisam desses recursos brutos amazônicos; e, no entanto, têm sobrevivido muito bem sem eles. Está claro que o Coiso está com segundas intenções.
Lamentavelmente, a elite parasitária brasileira transformou o país num grande fazendão. A elite não precisa de uma indústria nacional. Ela vive dos juros da dívida pública. Então, que se ferre o Brasil. Que se explodam as possibilidades do país em aprender as tecnologias caras. A elite estuda no exterior! Levando esse fato em consideração, as queimadas que estão acontecendo na Amazônia dão bastante sentido para as supostas intenções do Coiso. Ele quer queimar a Amazônia, não porque realmente acredita que a região tenha condições de virar um Japão em vinte anos. Isso é papo para enganar bolsominions lambedores de coturno. O que Boloro quer é transformar a Amazônia num grande pasto. Numa grande fazenda de soja. Não é sequer para plantar a comida que nós humanos comemos. Mas meramente para produzir as rações para a pecuária. Ele quer agradar os seus eleitores fanáticos do agronegócio.
A situação do Brasil é tão louca, que o país, sendo um suposto campeão do agronegócio, importa o trigo para fazer o amado pão “francês” brasileiro! O Brasil não fabrica nem mesmo os remédios que vêm das plantas da Amazônia. Ele importa quase todos! Excetuando-se a Petrobras, que a Lava-Jato tentou desesperadamente destruir, o Brasil não tem nada de industrialmente relevante. Nada. Mesmo com a Petrobras, o país importa gasolina!
Os produtos que o país chama de nacionais são apenas uma ficção fiscal da Receita Federal. O Brasil não projeta nada e não produz nada. Ele só monta e encaixa as peças dos produtos importados e coloca-os em embalagens de papelão. Só. É isso que a Receita Federal chama de produtos nacionais. O Brasil é um fazendão que não serve aos interesses do povo brasileiro e que condena o próprio povo a ser um país agrícola terceiro-mundista para sempre. Se o país não tem indústrias sensíveis, por que ele precisa desses minérios amazônicos?
O fato é que existe um motivo mais sinistro por trás. Competem às FFAA a realização de “serviços técnicos” nas reservas. Naturalmente, como tudo no Brasil as coisas acontecem ao contrário, esses serviços técnicos eventualmente podem incluir o apoio armado ao garimpo ilegal, entre outras coisas. Vender matérias-primas da Amazônia, para as empresas estrangeiras, é uma oportunidade não só para vender os minerais a troco de balas e espelhinhos. Mas em toda operação de exportação há a oportunidade de uma “comissão” em caixa dois, uma propinazinha por baixo. Os aspirantes a exploradores da Amazônia acusam as ONGs de fazerem justamente isso. A verdade é que eles imputam-nas crimes que eles mesmos querem praticar. Puro ciúme, mesmo se eles estiverem certos quanto as ONGs. E não estão, embora as exceções. A oposição das FFAA contra as reservas indígenas não tem nada a ver com a soberania, que elas não tem condições de defenderem; mas, sim, com a pura e simples exploração econômica mesmo. Demarcar as reservas frustra os intentos dos exploradores ou diminui severamente as possibilidades de exploração.
É ilegal que o Brasil renuncie a parte do seu território soberano. Nada no direito internacional manda que o Brasil renuncie à sua soberania sobre a Amazônia. A questão, a partir daqui, é se o Coiso vai criar uma situação na qual a autonomia será concedida pelo Congresso Nacional ou imposta pelo Conselho de Segurança da ONU.
Bolsonaro realmente não parece estar ciente da gravidade de suas palavras. Em sua história, o Brasil, como qualquer outro Estado, foi parte de conflitos diplomáticos e geopolíticos. O Brasil esteve, inclusive, sob ameaças de guerra, décadas atrás. Mas é a primeira vez na história do país, que o Brasil se tornou um assunto das principais potências econômicas e militares do mundo, como um sério incômodo. Quem acompanha o desenvolvimento do direito internacional sabe que o direito internacional se realiza a partir de uma sequência de cúpulas similares ao G7. Esta reunião do G7, em particular, não teve nenhuma consequência relevante para o Brasil. Mas foi a primeira vez que as grandes potências discutiram a possibilidade de relativizar a soberania de um Estado por questões ambientais. Até então, essa relativização da soberania foi sugerida individualmente por vários líderes políticos. Mas nunca por uma cúpula de Estados tão poderosos. Em outras palavras, o G7 lançou uma semente, que provavelmente vai florescer no futuro como uma convenção da ONU, que especificará os limites da soberania de todos os países em questões ambientais, e as possíveis sanções econômicas, além das medidas militares, em razão da inconformidade legal.
A vergonha do Brasil é ser o pivô dessa discussão. Apesar dos vários períodos controversos e tristes de sua história, o Brasil sempre foi, de modo geral, respeitado como uma influência de diplomática muito positiva para o mundo. Agora, porém, o Brasil foi tratado como um problema para o mundo. A arrogância do Boloro tende a tornar essa situação extremamente grave e ruim, em algo explosivo.
A única salvação do Bolsonaro é Trump. O jornal The Intercept tem denunciado que o Brasil tem entregado a soberania da Amazônia para os EUA. É por isso que Trump tem apoiado Bolsonaro. A venda da Embraer para a Boeing é um motivo para Trump apoiar Bolsonaro. A oposição visceral de Bolsonaro à esquerda latino-americana é um motivo para Trump apoiá-lo. Mas Trump não durará para sempre. Se ele cair ou for embora, Bolsonaro provavelmente cai. Bolsonaro também teve sorte, sem que sequer percebesse, porque a Alemanha quer mesmo o Mercosul com a União Européia. Merkel não estava disposta a tornar o conflito maior do que já é. Mas isso pode mudar se o humor dos EUA mudarem. A sorte do Brasil definitivamente está lançada.