
Charge do Son Salvador, reprodução da Charge Online
Eliane Cantanhêde
Estadão
Tecnicamente, digamos assim, o presidente do Senado, Renan Calheiros, tem argumentos de sobra para defender a Lei de Abuso de Autoridade, a flexibilização dos acordos de leniência com as empreiteiras e, principalmente, a comissão para identificar e cortar os supersalários dos três Poderes. E qual é o problema? O problema é o próprio Renan Calheiros, ou a falta de legitimidade dele para capitanear tudo isso, neste momento.
Ninguém, em sã consciência, defende abuso de qualquer autoridade, nem de procuradores e juízes nem de um guarda de trânsito, um auditor e um policial civil, militar ou federal. Não podem constranger quem quer que seja, perseguir adversários, descumprir a lei, exorbitar penas ou multas. Certo? Certo. Mas Renan, alvo de 11 inquéritos, pode capitanear esse debate? E é hora de “cortar as asinhas” de investigadores, bem no meio da Operação Lava Jato?
No caso dos acordos de leniência, faz sentido separar, de um lado, empreiteiros e executivos corruptos e, de outro, empreiteiras que empregam milhões de pessoas, contratam centenas ou milhares de outras empresas de diferentes ramos e aquecem a economia.
ANISTIAR CRIMINOSOS? – Mas, peraí, isso não pode anistiar pessoas físicas e jurídicas que tanto prejudicaram o País e nossas empresas públicas. E mais: que financiaram campanhas e carreiras políticas a vida toda. Não haverá como convencer a opinião pública de que o Congresso quis fechar os olhos para a corrupção, como forma de pagar os favores recebidos.
Bem, quando se fala nos supersalários, há uma unanimidade. É indefensável sob qualquer aspecto, seja orçamentário, seja legal, seja ético, que um juiz ganhe até R$ 200 mil por mês, quando a Constituição, que ele é pago para defender, estabelece como teto os menos de R$ 40 mil que os ministros do Supremo recebem. É óbvio para qualquer mortal que é preciso acabar com jeitinhos e extras moldados para descumprir a lei no Judiciário, Legislativo e Executivo. Mas Renan é o homem certo, na hora certa, para fazer isso?
SOB ETERNA SUSPEIÇÃO – Muito gente, dentro e fora do Congresso, considera Renan Calheiros um ótimo presidente do Senado. Tem força, liderança, diálogo com os diferentes partidos e combate o bom combate, defende o regimento e as causas certas. Mas Renan é Renan, entronizado na política por Collor, às voltas com inquéritos, com uma rejeição popular gigantesca. Tudo o que ele faz está automaticamente sob suspeição. Ainda mais se parece ser, ou é mesmo, contra a Lava Jato.
Um outro projeto que irrita e incomoda os investigadores, apesar de não ser diretamente contra eles, é o de repatriação de recursos não declarados no exterior. Se o governo arrecadou R$ 46 bilhões só com 15% de impostos e mais 15% de multas da repatriação na primeira leva, isso corresponde a cerca de R$ 150 bilhões enviados para fora do País clandestinamente. Por quem? Por quê? Qual a origem?
SEGUNDA LEVA – Nesse saco de gatos, há de tudo, desde sonegação de dinheiro lícito até lavagem de dinheiro de corrupção e tráfico de drogas. E não acabou. Vem aí a segunda leva da repatriação, com multas e impostos um pouco maiores, para lavar a jato (mas na contramão da Lava Jato) o resto do dinheiro, boa parte dele sujo, que andou passeando por paraísos fiscais e agora serve para amenizar a imensa crise de União e Estados.
Mas, na guerra com o Congresso, o Judiciário também tem suas armas, como a pressão crescente para acabar com o foro privilegiado dos políticos, que sobrecarrega o Supremo e é fator de impunidade de políticos. Um a um, os ministros do STF estão assumindo clara e publicamente a posição contra o privilégio, em consonância com o que deseja a sociedade, cada vez mais bem informada e cada vez mais sabendo o que quer – e o que não quer.
As empreiteiras roubam , devolvem 1/3 , mandam dinheiro para o exterior e são anistiadas , etc….
O acervo técnico de uma firma pertence aos seus respectivos funcionários.
Desacato é uma coisa , medida judicial é outra assim como a jurisdição da ” Polícia do Senado.
PS. As grandes empreiteiras subcontratam as pequenas e médias empreiteiras. Conversa pra boi dormir.
Fazer como se faz em países sérios, onde a seguradora da obra faz o controle técnico , medições e autoriza ou não os aditivos , nem pensar né ?
Quem manda hoje no país é o presidente do Senado. Todas as pautas do fim do mundo, aquelas que causam tormentas para todo lado, vêm do Senador. Principalmente a Lei do Abuso de Autoridade. Na prática é a volta da antiga Lei que impedia a imprensa de noticiar a corrupção e os Procuradores e Delegados de comentarem sobre os processos públicos. A pauta foi retirada da agenda congressista pela pressão das ruas. As manifestações causam verdadeiro horror nos deputados e senadores. Temem o povo nas ruas, mais do que o diabo na cola deles.
No momento há um direcionamento da Câmara e do Senado, no sentido de votarem Leis em regime de urgência para tolher e até acabar com a Lava Jato. Vamos a elas:
Lei do abuso da Autoridade.
Lei do Acordo de Leniência;
Lei de Anistia do Caixa Dois;
Lei do Fim da Transmissão dos Julgamentos da TV Justiça.
Nunca em tempo algum na história republicana do Congresso Bicameral, a elaboração de leis andaram tão rápido como agora. Isso tudo somado as votações da PEC dos Gastos Públicos. Trata-se de uma produção legislativa sem precedentes neste século e no anterior. Os historiadores terão muito trabalho para contar esses fatos, que remetem ao desnudamento das autoridades dos Três Poderes da verdade que nunca veio a tona.
Uma outra Lei, a do Fim do Foro Privilegiado, essa estranhamente anda a passos de tartaruga e as vezes até retrocede.
Sinceramente, o povo brasileiro merece isso tudo?
A Lei da Mordaça é aquela que impedia a imprensa de noticiar pautas desfavoráveis aos maus congressistas. Felizmente aquele monstrengo não passou. Entretanto, virá coisa pior. Alguém tem dúvidas em sentido contrário?
Nenhuma.
Virão na reforma política, inclusive com a lista fechada para deputados.
Lindo ver os ministros do STF se posicionando contra o foro privilegiado….
Que tal aproveitarmos o ensejo e acabarmos com isso aqui também…..:
“Art. 42 – São penas disciplinares:
…..
V – aposentadoria compulsória com vencimentos proporcionais ao tempo de serviço;” (Lei Orgânica da Magistratura Nacional)
http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/83621-cnj-decide-pela-aposentadoria-compulsoria-de-juiz-do-tjpa