Paulo Peres
Site Poemas & Canções
A professora, tradutora e poeta carioca Ana Cristina Cruz Cesar (1952-1983) é considerada um dos principais nomes da geração mimeógrafo (ou poesia marginal) da década de 1970. Para ela “Nada Disfarça o Apuro do Amor”.
NADA DISFARÇA O APURO DO AMOR
Ana Cristina Cesar
Um carro em ré. Memória de água em movimento. Beijo.
Gosto particular da tua boca. Último trem subindo ao céu.
Aguço o ouvido.
Os aparelhos que só fazem som ocupam o lugar
clandestino da felicidade.
Preciso me atar ao velame com as próprias mãos.
Singrar.
Daqui ao fundo do horto florestal ouço coisas que
nunca ouvi, pássaros que gemem.
TRIBUTO – Marcelo Yuka – Marcelo Fontes do Nascimento Viana de Santa Ana
(Rio de Janeiro, 31 de dezembro de 1965 — Rio de Janeiro, 18 de janeiro de 2019)
“A minha alma tá armada
E apontada para a cara
Do sossego
Pois paz sem voz
Paz sem voz
Não é paz é medo
As vezes eu falo com a vida
As vezes é ela quem diz
Qual a paz que eu não quero
Conservar para tentar ser feliz
As grades do condomínio
São para trazer proteção
Mas também trazem a dúvida
Se é você que está nessa prisão
Me abrace e me dê um beijo
Faça um filho comigo
Mas não me deixe sentar
Na poltrona no dia de domingo, domingo
Procurando novas drogas
De aluguel nesse vídeo
Coagido é pela paz
Que eu não quero
Seguir admitindo
É pela paz que eu não quero, seguir
É pela paz que eu não quero, seguir
É pela paz que eu não quero, seguir
Admitindo”
O RAPPA