O caldeirão das urnas

Gaudêncio Torquato

Passados os lúdicos tempos da Copa, o país retornará ao ciclo da “opressão psíquica”, termo que Serge Tchakhotine usa para explicar o tiroteio verbal a que será submetido o eleitorado brasileiro na arena que abrigará contendores até a luta de outubro, quando as urnas mostrarão quem viverá, morrerá ou será ferido na eleição mais emblemática das últimas décadas.

Mesmo levando em conta que a evolução social da massa impede que seja entorpecida como “um rebanho de carneiros que não se governa por si mesmo, devendo ser conduzido por entusiasmo e interesse”, como dizia Mussolini, é fato que parcela ponderável das camadas menos esclarecidas e até de segmentos mais elevados é muito influenciada pela propaganda política. Não por acaso, a conquista de maior espaço na mídia eleitoral foi o fator mais ponderado nas negociações para a formação da mais estrambótica frente de parcerias e alianças entre partidos e candidatos.

Afinal, que condimentos entram no caldeirão eleitoral, a ponto de atrair o apetite de milhões de pessoas de todas as classes? Vejamos alguns. O medo, por exemplo. Exerce o medo maior influência sobre camadas em precária situação econômica, contingentes esgotados ou amedrontados por diversos motivos. Por isso mesmo, procura-se marcar candidatos com a pecha de contrários a programas assistenciais, como o Bolsa Família.

ACREDITAR E ADMIRAR

Harold Laswell, estudioso norte-americano, coloca ainda no caldeirão que começa a ferver duas categorias assim designadas: os “credenda” e os “miranda”, ou seja, as coisas a serem acreditadas e as coisas a serem admiradas. A primeira comporta o discurso, as promessas etc. Já na galeria da admiração, emerge o candidato com sua história e valores que modulam o perfil: experiência, simplicidade etc.

Os grupos de amigos, a vizinhança e a própria vida no bairro têm peso no processo decisório do eleitor, eis que funcionam como cola de pertinência social e do cotidiano comum. Explica-se, assim, a proximidade como fator gerador da distritalização do voto, tendência crescente no país. As bases buscam cada vez mais candidatos que se identifiquem com as localidades, que são os centros da micropolítica.

EMOÇÃO E RAZÃO

Questão instigante na propaganda política é a que procura distinguir a linguagem da emoção da linguagem da razão. “As pessoas que votam com o coração são mais numerosas que as que votam com a cabeça; as eleições são ganhas e perdidas pela emoção, não pela lógica”, proclama o famoso profissional de propaganda norte-americano Joseph Napolitano.

Como se conclui, é imbricado o tecido sobre o qual se desenvolve a artilharia discursiva das campanhas. Pode-se até apostar no entorpecimento das massas por meio da “mágica da expressão” a cargo do marketing eleitoral. Mas a excitação, a animação, a indução, enfim, os fenômenos que explicam os comportamentos humanos ganham outras influências, a par da artilharia desfechada pela palavra. Sem esquecer que existe a força do imponderável, aquele vento que causa destruição quando entra pelas frestas eleitorais sem dar aviso prévio. (transcrito de O Tempo)

 

4 thoughts on “O caldeirão das urnas

  1. Há controvérsia. No caso, de nada vale o caldeirão sem o caldo, que tb não ferve sem lenha na fogueira. E exceto os profissionais mercenários da área, e os partidários diretamente interessados, mais ninguém em sã consciência está disposto a tomar partido e, de graça ou de bobeira, botar mais lenha boa nessa fogueira ruim, gelada, fria, que exposta à luz do meio-dia revelou-se boa só para os que della tiram todos os proveitos possíveis e se dão bem, levando na bicaria e de roldão os inocentes úteis e os incautos de volume à farsa. Portanto, desta feita, prefiro apostar na última frase do seu texto: “Sem esquecer que existe a força do imponderável, aquele vento que causa destruição quando entra pelas frestas eleitorais sem dar aviso prévio “, desde que seja o caso da destruição por uma nova, melhor e mais evoluida construção.

  2. É certo que a maioria vota com a emoção, com o coração, infelizmente.
    O horário eleitoral, permite que o candidato possa enganar o eleitorado,
    não tem ninguém para contesta-lo, mostra filmes que apenas lhe interessa: crianças na escola bem uniformizadas, dentro do refeitório alimentando-se etc
    Ainda existe a figura do marqueteiro, que transforma o candidato num artista.
    lembram-se do Lulinha paz e amor, o candidato perde sua identidade, passa
    a representar o papel designado pelo marqueteiro, tudo é válido para enganar
    o eleitor. Sempre defendi que o ideal seria os debates, em horário nobre no
    final da semana com VT no meio da semana. Num debate: mentir e enganar o
    eleitor, o candidato corre o risco de ser desmascarado. Quem ganha é o eleitor
    que poderá fazer a comparação entre os candidatos e escolher o melhor.
    O que não é correto, é o debate marcado para as 23 horas, e acabar 1 hora do dia seguinte. O trabalhador que acorda muito sedo, deve ter o direito de assistir o debate.
    O tempo dado aos candidatos para perguntas, respostas , réplica e tréplica, é absurdo,
    há perguntas que não podem ser respondidas em 1 minuto, nessa caso fica prejudicada
    a resposta. Os debates são tão importantes que alguns candidatos se negam a comparecer,
    só vai no último, com medo, para não se desgastar.

  3. Que mal eu perguente, o modello político-partidário-elleitral é picareta porque a maioria dos políticos são picaretas, ou a maioria dos políticos são picaretas porque o modello é picareta, e até por isso dão chances ao gollpismo-ditatorial vellhaco ?

  4. Controverso presidente do Supremo Tribunal Federal quer porque quer a permanência de seus 46 assessores depois de ele finalmente deixar o STF; após reiterar ao vice-presidente Ricardo Lewandowski pedido pela manutenção dos servidores do seu gabinete na corte após sua aposentadoria, o ministro agora tem telefonado para os outros membros do STF pedindo para eles absorverem os seus funcionários em seus gabinetes; qual o interesse de Barbosa em manter um cabide de empregos, mesmo depois de deixar o tribunal?

    Filei do blog brasil247.
    Minha intençao é mostrar quem realmente é esse amigo do Frei Beto

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