Sebastião Nery
A primeira vez em que Ulysses Guimarães deixou de ser presidente da República não foi em 1974, quando o MDB o lançou de anticandidato contra o general Geisel, com Barbosa Lima na vice.
Quem contou foi ele, numa inesquecível conversa com meu colega da “Folha”, o saudoso jornalista–astrólogo Getulio Bittencourt, que reproduzi na integra em meu livro “Folclore Político – 1950 Historias da Política Brasileira – 5 Volumes em 1” – Geração Editorial – SP).
MORENO
Relembro o múltiplo Getulio ao ler “A Historia de Mora”, talentosa sacada do Jorge Bastos Moreno, de “O Globo”, que presta ao pais o enorme serviço de refazer a quase sagrada saga de Ulysses, através das hipotéticas relembranças da doce Dona Mora, sobre uma rígida fidelidade aos fatos.
Fez bem nosso unanime Moreno (única unanimidade de inteligência e afetos que conheço nas revoltas redações da imprensa brasileira) em lembrar ao pais que daqui a três anos (2016) será o centenário de Ulysses. (Nasceu em 16 de outubro de 1916 e morreu em 12 de outubro de 1992, em um infinito mergulho de helicóptero nos mares encapelados de Angra dos Reis, com Dona Mora e os amigos Severo Gomes e dona Henriqueta).
MAZZILI
Ulysses contava, em seu gabinete, numa tarde seca de Brasília:
– “Por ingenuidade, deixei de ser presidente da República interinamente. Os cardeais do partido se reuniram em 1955 para ver a preferência da bancada em torno de um nome para a presidência da Câmara. Fui o mais votado e os cardeais se reuniram para sacramentar o meu nome. Como o PSD tinha maioria, o presidente saía dos seus quadros.
– “Aí a bancada paulista do PSD decidiu se reunir também. E me convidaram. Eu sentia que não devia ir, mas fui. E a bancada paulista decidiu que seu candidato seria o Ranieri Mazzilli”.
CARLOS LUZ
– “O Carlos Luz me procurou e disse que, como eu não seria candidato, ele seria – e se tornou presidente da Câmara. Nessa função chegou à Presidência da República interinamente, no meio daquelas crises todas do 11 de Novembro” (quando a UDN e seus militares golpistas tentaram impedir a posse de Juscelino, que havia ganho em 3 de outubro).
“Acho que tudo isso aconteceu também porque evitaram a solução natural, que seria o meu nome” (e não o Carlos Luz, do PSD de Minas, mas totalmente udenista) tanto que no ano seguinte fui o presidente da Câmara. Em política, quando se evita a solução natural só se provoca crise”.
LACERDA
– “O pior momento da minha carreira foi o período em que presidi a Câmara dos Deputados, nos dois primeiros anos do governo Kubitschek”.
– “O Lacerda se exilou no exterior, depois daquelas lutas contra a posse do Juscelino, reações militares e tal. Quando Lacerda voltou, ele pediu a palavra e eu estava na presidência. Garanti a palavra a ele, mas os ânimos estavam exaltados, alguns queriam matá-lo”.
– “ O Lacerda começou a discutir e notei que vinha se aproximando o Molinaro, um parlamentar oficial da Aeronáutica, que esteve no Canal de Suez quando a ONU tinha tropas lá onde causou os maiores problemas”.
– “ O Molinaro estava carregando uma pasta. Eu suspendi a sessão, desci da Mesa, peguei-o pelo braço e o levei ao meu gabinete, onde o desarmei. Havia uma arma na pasta. Depois reabri a sessão e garanti a palavra ao Lacerda”.
COLLOR
Em 1989 Ulysses se achava, e era, o herdeiro da redemocratização. Mas Mario Covas exigia ser candidato. Com Franco Montoro, Fernando Henrique, José Serra, Pimenta da Veiga, José Richa,, racharam o PMDB, fundaram o PSDB, derrotaram Lula e Brizola. E elegeram Collor.
A Presidência não era o destino de Ulysses. Dona Mora não sabia.
ULISSES NÃO TEVE PEITO PARA SER PRESIDENTE. Com a morte de Tancredo Neves eleito presidente, quem devia constitucionalmente assumir o governo era Ulisses Guimarães presidente da Câmara dos Deputados. Sarney não podia assumir pois Tancredo não tomara posse na presidência e a vice-presidência só se efetiva se o titular tomar posse. Acontece que o “magestoso???” general Leônidas Pires Gonçalves que ainda faz caminhadas na praia de Ipanema, com um parecer jurídico de Afonso Arinos no bolso, entrou na sala e deu um grito: Quem assume é o Sarney! Balançava a Constituição em uma das mãos. A sala esta cheia de senadores, Ulisses, Simon,Sarney, Maciel ainda vivos e outros. Ulisses murmurou baixinho no ouvido de Simon. Perguntem ao Simon o que lhe foi dito. Resultado: Ulisses que devia assumir e em 60 dias convocar nova eleição não assumiu. Sarney assumiu e nos governou como impostor. Figuiredo, alertado por Leitão que a Constituição estava sendo violada não lhe passou o governo. Disseram que Figueiredo não lhe passara a faixa porque dele não gostava. Conversa, Ulisses medrou e Sarney gostosamente nos governou como IMPOSTOR. Muita e muita gente sabia disso. Mas cadê a coragem para falar?
ÓI, OME, com todo o respeito, mas o DR.ULISSES votou
no CASTELO BRANCO,no colégio eleitoral. E, precisa dizer
mais alguma coisa.
Prezado Sr. Antonio Santos Aquino, Saudações.
Acho que o Sr. Ulysses Guimarães disse baixinho para o Sr. Pedro Simon: Se eu assumir a Presidência, em 60 dias devo convocar Eleições Indiretas, das quais estarei EXCLUÍDO, e não Governarei nada, apenas presidirei uma transição rápida, que pode terminar com o Sr. Paulo Maluf na Presidência. Se eu concordar com a ideia do Gen. Leônidas Pires Gonçalves, o Presidente Sarney assume a Presidência por 5 anos e no Governo dele, onde temos maioria no Congresso, mandarei mais do que ele. Até lá teremos novamente Eleições Diretas para Presidência da República e nessa, “eu que fiz a Constituição Cidadã de 1988”, ganho de barbada. Mandou bastante no Governo Sarney, mas deu tudo errado na Eleição seguinte. A meu ver, ninguém medrou, a solução do Gen. Leônidas é que agradou todo mundo. Abrs.
Antônio, concordo com você e, comentei isso naquela época,
mesmo porque não existe presidente putativo. A posse não
é um simples ato formal, consagra a eleição que lhe é anterior.
Dr. Ulysses não assumiu na minha opinião por medo e, não por
conveniências futuras, não era de seu feitio.