O dia seguinte pior do que a véspera

Carlos Chagas

Razão mesmo tem mestre Hélio Fernandes, aliás, há muitas décadas, quando diz que no Brasil o dia seguinte sempre consegue ficar um pouquinho pior do que a véspera. No meio dessa lambança explícita dos partidos da base do governo para embaralhar as cartas das eleições de outubro, quem se destacou esta semana foi o PR – Partido da República. Primeiro porque suas decisões provém das celas da Papuda, de onde o ex-deputado Valdemar Costa Neto continua dirigindo o partido. Depois porque diante de óbvia queda nos índices de preferência da presidente Dilma, nas pesquisas eleitorais, esses republicanos de duvidosas intenções acabaram dando o ultimato: ou ela demitia o ministro dos Transportes, César Borges, ou eles passariam a apoiar Aécio Neves.

Esquecem-se de que nos primeiros meses de governo, Dilma precisou afastar Alfredo Nascimento, que ocupava o ministério, acusado de flagrantes irregularidades. Assumiu Paulo Sérgio Passos, técnico e não político, mas logo o PR exigiu sua defenestração: ele não estava disposto a encobrir negócios especiais no ministério. Para compor a situação, já tendo abandonado o ânimo de moralizar seu governo, a presidente aceitou a indicação de César Borges, aliás, um excelente senador e ex-governador da Bahia. O problema é que o novo ministro também não se dispôs a chefiar um balcão de negócios e começou a ser hostilizado pelos dirigentes do próprio partido, que dormiram na pontaria.

Agora, com a reeleição de Dilma sendo posta em xeque, abriu-se a temporada de nova chantagem: ou a presidente demite César Borges ou o PR manda-se para os tucanos. Aceitam até a volta de Paulo Sérgio Passos, a quem devem ter pressionado para tornar-se um ministro diferente do que foi na primeira vez.

Mais desonesta fica a equação quando se ouve que Dilma aceitou a pressão para demitir o ainda ministro. Nada a ver com seus planos de recuperação dos Transportes, muito menos diante de sua performance elogiável até agora. Sequer cogita-se da evidência de que o ministério tem sobrevida até 31 de dezembro, reelegendo-se ou não a presidente.

Ceder à chantagem costuma ser tão vil quanto promovê-la, mas é o que acontece. A ameaça de debandada dos partidos da base oficial corporifica-se a cada dia. O PTB já abandonou o governo, o PMDB apresenta-se rachado em muitos estados. O PP hesita e o PSD finge-se de morto. Convenhamos, o dia seguinte não parece pior do que a véspera?

4 thoughts on “O dia seguinte pior do que a véspera

  1. Como bem lembrou o excelente e experiente comentarista Sebastião Nery, em 1989 o candidato Ulisses Guimarães tinha o dobro de tempo na propaganda de TV que concorrentes como Collor, Lula, Brizola, Covas, Maluf, Eneias e outros e mesmo assim teve que amargar um 6º ou 7º lugar.
    Diga-se de passagem que em termos de curriculo e experiencia politica Ulisses batia de uns 15×1 na PRESIDANTA.
    Assim, a candidata está realmente pagando um preço absurdo pelo tempo de TV que esses partidos estão lhe vendendo.Aliás rigorosamente estão vendendo mesmo apenas isso, porque se empenhar e vestir a camisa petista esses caras não vão fazer nem que a vaca tussa.Logo, a candidata está mesmo é comprando gato por lebre, eu diria, nem gato é, ela está mesmo é comprando ratos por lebres.
    Finalmente temos que lembrar que no 2º turno os tempos de TV são rigorosamente iguais para os 2, logo o preço pago pelos minutos a mais no 1º turno não tem validade alguma no 2º.

  2. Boa tarde leitores(as),se a presidente DILMA tiver um minimo de bom senso e inteligencia,ela podera usar estas debandadas de seus pseudos (falsos) aliados,como oportunidade unica para descarta-los de uma vez por todas,basta ela parar de mentir para o povo Brasileiro e residentes e assumir os reais problemas do pais e dizer como fara para equaciona-los caso seja reeleita, em suas andancas no pais afora e nas campanhas eleitorais,e com uma vantagem sem precisar usar “MARQUETEIROS” para mascarar o que todo povo ja sabe,basta ver os movimentos populares.

  3. Perfeita em todos os sentidos a análise do jornalista Carlos Chagas, sempre ligado aos detalhes que são componentes do quadro politico mas que eventualmente caem no esquecimento do cidadão.
    Os alertas realmente são necessários e os lembretes idem, dado a avassaladora rapidez dos acontecimentos e o repique com que o governo, através da maciça propaganda, tenta encobrir ou desqualificar os fatos para o mesmo cidadão.
    O presente artigo, como sempre, muito bom, perfeito, repetimos.
    O dramático é percebermos que o título é pertinente aos fatos, lembrando, também o caso do humorista Tiririca, que foi eleito exatamente por causa do bordão, pior do que está não fica…
    Resumo da ópera, sem maiores delongas ou o Brasil acaba com o PT ou o PT acaba com o Brasil…

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