
Jorge de Lima, retratado pelo amigo Cândido Portinari
Paulo Peres
Poemas & Canções
O político, médico, pintor, tradutor, biógrafo, ensaísta, romancista e poeta alagoano Jorge Mateus de Lima (1893-1953) nos mostra neste soneto que “o relógio” é a vida em segundos.
O RELÓGIO
Jorge de Lima
Relógio, meu amigo, és a Vida em Segundos…
Consulto-te: um segundo! E quem sabe se agora,
Como eu próprio, a pensar, pensará doutros mundos
Alma que filosofa e investiga e labora?
Há a morte de ceifar somas de moribundos.
O relógio trabalha…E um sorri e outro chora,
Nas cavernas, no mar ou nos antros profundos
Ou no abismo que assombra e que assusta e apavora…
Relógio, meu amigo, és o meu companheiro,
Que aos vencidos, aos réus, aos párias e ao morfético
Tem posturas de algoz e gestos de coveiro…
Relógio, meu amigo, as blasfêmias e a prece,
Tudo encerra o segundo, insólito – sintético.
A volúpia do beijo e a mágoa que enlouquece.
A vida é uma ilusão
De um sopro nascida
Seja pálida ou colorida
É qual bolha de sabão
Que só uma vez inflada
Tem sua tênue camada
Rompida pela pressão
*Na vida, por mais importantes que nos julgamos, somos apenas cadáveres ambulantes, com prazo de validade!
*Neste mundo de lendas e mitos, a única verdade absoluta é a morte. Pois, nem mesmo o nascimento é inevitavelmente real, já que ele pode ser abortado. E o que é o abortamento, senão a própria morte?
PS: Esta é a terceira vez que posto os três poemetos acima, aqui na TI.
1) Jorge de Lima, ótimo clássico da poesia brasileira.
Quem sou eu?
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Sou uma estrada sinuosa,
Por mim passam todas as gentes:
Homens simples, mulheres vaidosas,
Ricos, pobres, culpados, inocentes.
Levo a vida a todos os nortes,
Por vales e montes vagueio,
Levo à fama, à miséria, à morte,
Sou idealizado em devaneios.
Mudo com o adverso e o querer,
Mas à realidade me confino,
Sou o que voce é ou venha a ser,
Melhor dizer: sou o destino!
* Publicado anteriomente por mim ou por um francês com nome de rua!