Pedro do Coutto
Na edição desta segunda-feira de O Globo, reportagem de Carmélio Dias, Giulia Ventura, Karoline Bandeira e Luísa Ernesto Magalhães, destaca amplamente uma tragédia que atinge principalmente a Zona Norte do Rio de Janeiro, através das chamadas “balas perdidas”, que de perdidas só têm o nome.
Elas transportam consigo a tragédia da morte tendo como alvo crianças e adolescentes que nada têm a ver com o duelo de facções criminosas e com confrontos mortais entre a Polícia Militar e os bandidos, tanto do tráfico de drogas quanto das milícias, e que dominam os cenários carioca e fluminense.
PERPLEXIDADE – As ocorrências se repetem em série interminável e agora atingiram a menina Eloah de cinco anos de idade, cortando a sua vida e o seu futuro, deixando mais uma vez a sociedade perplexa, atingida por um sentimento de impotência. Que balas perdidas são essas? Levam consigo um roteiro repetidamente assassino. As crianças são os alvos comuns dos disparos, aumentado, sem dúvida, à luz da lógica, a impressão de que as armas que as dispararam seguiam o caminho de áreas que se transformaram em roteiros da violência pelos mais diversos motivos.
O ministro Silvio Almeida, dos Direitos Humanos, convocou uma reunião de emergência das polícias para investigar e focalizar o assunto. A menina Eloah e Wendel Eduardo, de 17, morreram durante uma ação da Polícia Militar no último sábado na Ilha do Governador.
Não é possível, penso, que balas perdidas só atinjam inocentes, o que transmite a hipótese da tragédia ser ainda maior porque tais episódios sinistros conduzem a uma intimidação e a uma inevitável submissão social em que bandidos impõem a obrigação de que casas sirvam também de esconderijos, e da parte policial para que as populações não acolham os criminosos no duelo de morte do fogo cruzado.
CONTRADIÇÕES – Os bastidores do crime e do castigo são complexos. Ninguém pense – disse outro dia o meu amigo Ruy Castro – que possam ser facilmente desvendados. São relacionamentos obscuros, plenos de contradições, de interligações, de comprometimentos parciais nos quais os verdadeiros chefões de organizações criminosas não têm problema de que agentes seus sejam mortos. Eles os substituem.
O comprometimento vai até o limite em que os que ocupam um lado contrário possam facilitar o tráfico e ações milicianas se isso puder ser feito. Se não puder, podem matar os inimigos que os chefes os trocam sem maiores problemas. No Correio da Manhã, onde trabalhei praticamente 20 anos, também atuavam os delegados Rescala Bitar e Oswaldo Carvalho.
Esses trabalhavam na Redação. Havia também repórteres que eram policiais. Um dos temores era o de que fossem atingidos de surpresa nas movimentações constantes que a atividade exige. Ocorreu, por exemplo, com o policial Perpétuo de Freitas no cerco ao bandido Mineirinho na Mangueira. P
CONEXÕES – Perpétuo frequentava a Redação do Correio da Manhã e contava histórias surpreendentes. Todos esses casos revelam como são complexas as teias da criminalidade, e as conexões nos lances em que se perdem vidas humanas.
O governador do Rio, Claudio Castro, pensa em construir um muro para proteger a Linha Vermelha. Proteger de quê? Dos disparos criminosos. Portanto, neste caso, as balas têm endereço certo e as vítimas perdem a vida no abismo da calamidade.
ELETROBRAS – Em matéria na Folha de S. Paulo, Marcos de Vasconcellos publicou artigo revelando que enquanto as ações da Copel, Companhia Paranaense de Energia, subiram após a sua privatização na última semana, as da Eletrobras, agora, exatamente um ano depois de ter sido desestatizada, recuaram 20%.
As ações, seis meses antes da privatização, haviam subido 35%. Portanto, os investidores passaram a temer as perspectivas, inclusive porque o próprio presidente Lula da Silva classificou a privatização de uma “bandidagem”. O preço da venda do controle acionário foi ridículo, R$ 33,7 bilhões.
Só Furnas sozinha vale mais do que isso. Além de sua produção, é responsável pela transmissão da energia proveniente de Itaipu. A Companhia Hidrelétrica do São Francisco vale mais também do que R$ 33 bilhões. A privatização foi um desastre para o país e um sucesso para os compradores. Marcos de Vasconcellos assinala ainda que analistas do BTG Pactual e da XP continuam a recomendar a compra de ações da Eletrobras.