Malu Gaspar
O Globo
A Polícia Federal descobriu que assessores da deputada Carla Zambelli (PL-SP) fizeram pagamentos para o hacker da Vaza Jato Walter Delgatti Neto para que tentasse fraudar as urnas eletrônicas e invadir as contas de e-mail do ministro do Supremo Alexandre de Moraes.
No total, os repasses somam R$ 13 500 e foram feitos via Pix por dois servidores do gabinete de Zambelli que hoje são alvo das buscas: Renan Cesar Silva Goulart e Jean Hernani Guimarães Vilela. Foram feitos também pagamentos em espécie ainda não contabilizados. Delgatti Neto confirmou à PF ter recebido dinheiro vivo, mas não disse quanto foi. A PF ainda está apurando essa informação.
PRINCIPAIS EVIDÊNCIAS – Esses pagamentos estão entre as principais evidências consideradas pelo ministro para ordenar as buscas e apreensões desta no gabinete da deputada e no apartamento dela em Brasília, e ainda nas casas dos assessores dela, uma em Brasília e outra em São Paulo.
Delgatti tentava conseguir um acordo de delação premiada, mas acabou preso hoje por ordem de Moraes nesse mesmo inquérito sobre Zambelli, que integra as investigações sobre os atos antidemocráticos de 8 de janeiro. A prisão é preventiva, ou seja, sem prazo determinado.
O hacker contou em depoimento à PF ter sido procurado pela deputada em setembro de 2022, durante a campanha eleitoral. Ela queria que ele fraudasse as urnas eletrônicas e invadisse o e-mail do ministro do Supremo. Na época, Lula já aparecia em vantagem sobre Jair Bolsonaro nas pesquisas sobre o pleito. Mas o hacker não conseguiu cumprir nenhuma das duas missões.
DUAS HACKEADAS – O que ele conseguiu fazer foi inserir no sistema do Conselho Nacional de Justiça um mandado de prisão falso contra o próprio Moraes. O próprio hacker disse à PF que esse ataque, ocorrido em janeiro e, portanto, depois das eleições, teria sido ideia dele, para compensar as falhas anteriores.
Zambelli, que chegou a levar o hacker a reuniões em Brasília, durante a campanha, justificou os encontros na época dizendo que pretendia montar uma equipe de consultores para fiscalizar as urnas eletrônicas. Ela também levou Delgatti Neto para se encontrar com o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, na sede do partido, e com o então presidente Jair Bolsonaro no Palácio da Alvorada.
No entanto, a deputada sempre negou ter pedido que o hacker fraudasse as urnas eletrônicas ou que invadisse o e-mail de Moraes.
VAZA JATO – Delgatti Netto se tornou conhecido como o hacker da Vaza Jato depois que vieram à tona os diálogos entre procuradores da Lava Jato, o então juiz Sérgio Moro e diversas outras pessoas no aplicativo de mensagens Telegram. Os diálogos, divulgados em 2019, abalaram a credibilidade da operação Lava Jato.
Por causa desse vazamento, Delgatti ficou preso preventivamente de julho de 2019 a setembro de 2020. Ele já responde a uma ação penal acusado de interceptação telefônica ilegal (por 126 vezes) e invasão de dispositivo informático (por 176 vezes), crimes que, considerados individualmente, têm pena máxima de quatro anos de prisão.