Camila Turtelli e Lauriberto Pompeu
O Globo
A Comissão Parlamentar de Inquérito Mista (CPMI) dos atos golpistas entrará em uma nova fase após a volta do recesso, com a análise de documentos relacionados a quebra de sigilos de investigados e depoimentos do ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Silvinei Vasques, e do ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, Mauro Cid.
A partir do dia 1º de agosto, quando vai retomar os trabalhos, o colegiado também focará na atuação dos suspeitos de financiar os ataques e em personagens-chave dos episódios ocorridos no dia 8 de janeiro, como o ex-ministro da Justiça e então secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Anderson Torres.
Embora tenha sido convocado, Torres ainda não foi chamado para depor à comissão. A expectativa é que ele seja ouvido logo na primeira semana da volta dos trabalhos do Congresso, a partir de 1º de agosto. Já o tenente-coronel afirmou que ficará em silêncio, não respondendo aos questionamentos feitos por deputados e senadores.
DADOS IMPORTANTES — Vão chegar dados importantes para criar novas estratégias. Os relatórios de inteligência financeira serão fundamentais para o trabalho. Com os dados na mão, a gente reorienta os próximos depoimentos e acelera processos — afirmou a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) ao Globo.
A parlamentar se referia aos documentos produzidos pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) que indicam movimentações consideradas atípicas de suspeitos de envolvimento nas investidas antidemocráticas.
A ideia é que, até o fim do recesso, os integrantes da CPI já tenham analisado documentos importantes. Os papéis trazem dados telemáticos, telefônicos e bancários de pessoas envolvidas em atos de cunho golpista. Os pedidos de informação foram aprovados no início de julho. Também foram solicitados dados de parentes dos alvos da CPI.
CONTAS DE CID – O colegiado já recebeu, por exemplo, relatórios sobre as atividades bancárias de Mauro Cid. Interlocutores que tiveram acesso ao documento identificaram a movimentação de grandes volumes de dinheiro. Os mesmos dados relativos a Silvinei foram requisitados.
Uma parte da base do governo deseja focar na análise dos dados sigilosos para SE preparar melhor. “Há uma necessidade de estudar os documentos sigilosos liberados para seguir com a investigação” — declarou o deputado Rafael Britto (MDB-AL).
Procuradas sobre as quebras de sigilo, a defesa de Cid não retornou. Já o advogado de Vasques, Eduardo Simão, diz que a ação da CPI é “uma cortina de fumaça para desviar o foco”.
NOVOS DEPOENTES – A data do depoimento de Torres envolve uma queda de braço entre a relatora da CPI, a senadora Eliziane Gama (PSD-MA), e o presidente do colegiado, deputado Arthur Maia (União-BA). Ela gostaria de ter ouvido Torres antes do recesso, mas Maia atendeu a um pedido da oposição e do próprio ex-ministro, que alega depressão, e adiou a oitiva para o segundo semestre.
Maia também sinalizou que Saulo Cunha, que comandava a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante o 8 de janeiro, será o primeiro a ser ouvido na comissão em agosto, quando o Congresso voltar do recesso. Eliziane Gama prevê que Torres seja o segundo.
O cronograma dos depoimentos ainda não foi fechado, mas pode ser finalizado na próxima semana. Saulo Cunha é nome de interesse da oposição, que tenta construir uma tese de que o governo Lula se omitiu durante os ataques. A maior parte dos depoimentos prestados antes do recesso parlamentar foram articulados pelo governo, que quer emparedar o ex-presidente Jair Bolsonaro.
QUEBRAS DE SIGILO – Outra quebra de sigilo que já chegou às mãos da CPMI foi o bancário de George Washington Oliveira, preso após uma tentativa com ataque a bomba nas imediações do aeroporto de Brasília em dezembro.
— O foco agora são os financiadores. Esperamos agora a quebra de sigilo não só desses personagens, mas das empresas que financiaram o golpe —afirmou o deputado Rubens Pereira Junior (PT-MA).
A CPI também pediu quebras dos sigilos bancário, telefônico, fiscal e telemático de Daniel Cid, irmão do ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, além de informações sobre empresas estrangeiras que podem ter sido usadas por golpistas que atacaram os três Poderes.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – As quebras de sigilo vão ajudar muito os trabalhos da CPMI. Um dos casos mais interessantes é o de Daniel Cid. Os parlamentares querem saber como um jovem brasileiro rapidamente conseguiu ficar milionário nos Estados Unidos. (C.N.)