Carlos Chagas
Tancredo Neves havia tomado posse no governo de Minas há menos uma semana quando os professores da rede pública entraram em greve e iniciaram momentosa passeata na Avenida. Lá do palácio da Liberdade o novo governador acompanhava tudo. Quando foi informado de que os manifestantes aproximavam-se da Praça da Liberdade anunciando que invadiriam o prédio da Secretaria de Educação, não teve dúvidas: chamou o comandante da Polícia Militar e determinou: “Baixe o pau em que ousar entrar, a Secretaria é propriedade pública”. Os que entraram saíram de camburão.
Falta aos governadores atuais a mesma disposição de um dos maiores democratas que o país já teve. Há uma semana, Sérgio Cabral, em vez de esconder-se com a família no apartamento de amigos, longe do Leblon, deveria ter mandado a polícia fluminense para a Avenida Ataulfo de Paiva para baixar o pau nos bandidos que depredavam bens públicos,lojas e agências bancárias. Além disso, cercar os quarteirões e prender quantos animais se encontravam com a cara encoberta ou eram flagrados quebrando vitrinas, saqueando o comércio, jogando pedras e alimentando incêndios. Se possível, com sua presença na rua, liderando restabelecimento da ordem e até evitando excessos dos policiais.
Em vez disso, escondeu-se, com toda certeza levando o Juquinha, cachorrinho que adora andar de helicóptero do governo. Perdeu-se o governador, perdido que já estava por outras atitudes pouco republicanas praticadas em Paris, Mangaratiba e arredores. Houve tempo em que seu nome era cogitado para vôos mais altos, até a sucessão presidencial.Pouco adiantou dizer, depois, estar defendendo a democracia contra a ação solerte de seus adversários. Uma pena para quem iniciou-se na vida pública defendendo os jovens e os velhinhos.
ALGUMA COISA NÃO BATE
Divulga-se estar a dívida pública em torno de dois trilhões de reais, ou seja, o que o Estado brasileiro deve a credores internos e externos. No mesmo dia, registra-se o aumento de 4.10% nos negócios da Bovespa. São dois Brasís, um que deve horrores, nós, e outro que lucra, dos banqueiros e especuladores. Não vai dar certo.
LIÇÕES LÁ DE LONGE
De passagem por Brasília, há dois anos e meio posto em sossego como embaixador do Brasil na Austrália, Rubem Barbosa (o bom), registra que aquele enclave ocidental no meio da Ásia, apesar das cautelas necessárias, constitui-se numa economia sólida e numa sociedade voltada para o aprimoramento educacional e cientifico, como raras vezes se tem visto no planeta. Ano que vem a Austrália abrigará a reunião do G-20, oportunidade para se verificar que apesar dos sacrifícios, é possível seguir adiante.
A CADEIRA COBIÇADA
Fernando Henrique era presidente da República, estava em curva ascendente e recebeu Lula em seu gabinete. Tinham sido aliados, na luta pela redemocratização, davam-se bem pessoalmente, apesar da feroz oposição desenvolvida pelo PT. Em certo momento da conversa, FHC não aguentou: levantou-se, convidando o visitante a acompanhá-lo, chegou à escrivaninha presidencial, afastou a cadeira e disse: “É bom você ir se acostumando e sentar aqui, porque um dia essa cadeira será sua”. Meio sem jeito,o Lula sentou, mas ainda perdeu a eleição seguinte, quando o sociólogo foi reeleito.
Esse episódio se conta a propósito da visita feita semana passada pelo presidente do Supremo Tribunal Federal à presidente Dilma, no palácio do Planalto.Foi um diálogo a sós, mas será que a anfitriã convidou o visitante a sentar-se em sua cadeira?
“Baixe o pau em que ousar entrar, a Secretaria é propriedade pública”. A ordem dada por Tancredo tem uma credibilidade, mesmo que não concorde com ela – mas vindo de Cabral é brincadeira não é Chagas? De vez em quando as histórias paralelas de Chagas são totalmente sem lógica e imoral. Se for para descer o pau vamos começar descendo o pau nos governantes que enriquecem ilicitamente e deveriam estar presos e não tomando conta dos impostos, taxas, tarifas exorbitantes que pagamos. Falta aos governadores atuais Chagas é a disposição para cuidar da coisa pública com dignidade e retidão agora bandido mandando meter o pau é fora de sentido. Chagas foi infeliz no texto ou não foi escrito por ele ou está pirando.
Pau no Carlos Chagas.
Eis a Tribuna de Carlos Lacerda de volta. Aquela mesmo que foi favorável a tomada de poder pelos militares e à queda de Goulart. É bom lembrar que, depois, uma das vítimas do golpe foi o próprio Lacerda.
“Escorraçado, amordaçado e acovardado, deixou o poder como legítimo IMPERATIVO DE LEGÍTIMA VONTADE POPULAR o senhor João Belchior Marques Goulart, infame líder dos comuno-carreiristas-negocistas-sindicalistas.(…)”. Tribuna da Imprensa, 02/04/1964.
Me admiro Carlos Chagas achar que Cabral deveria mandar baixar o pau como Tancredo! KKKKK que seria dele! O mundo viria abaixo! No tempo de Tancredo, havia respeito às autoridades! Agora até o Barbosão esnobou a Presidente da Republica, num evento de cunho internacional, transmitido para o Mundo todo. Barbosão, vaidoso, prepotente! Tomara que ele seja oPresidente da Republica para vocês todos irem para o inferno que o diabo amassou.
Walter Martins,
esclarecedora suas argumentações quando da precipitação de Carlos Newton em relação aos ditos vândalos, e mesmo aqui, com o bom mocismo hipócrita de salão de Chagas e o oportunismo equivocado e mal sucedido de Carlos Lacerda em 1964.
A debutação política partidária em busca das benesses do poder, dizem por aí, tal como o crack, sendo um usuário jovem ou velho, autor de renome ou leitor por opção de entretenimento…compromete a sobrevida dos neurônios, assim para uma atividade intelectual com crédito e digninidade humana.
Assim não seria de causar pânico, a hipótese de que a letra e voz do réquiem abaixo, fosse do nosso querido astro popular e Deputado Federal Tiririca ou de nosso respeitado e valente jornalista Hélio Fernandes ou algum de seus office boys:
– “Escorraçado, amordaçado e acovardado, deixou o poder como legítimo IMPERATIVO DE LEGÍTIMA VONTADE POPULAR o senhor João Belchior Marques Goulart, infame líder dos comuno-carreiristas-negocistas-sindicalistas.(…)”(Tribuna da Imprensa, 02/04/1964).
A História tarda, porém por mais que desta retiremos elementos, com o tempo estes acabam por ganhar materialidade teórica e visibilidade cotidiana, portanto o requiém citado acima, dá percepção do que foi manipulado… seja, assim como os governos militares golpistas, a fauna apeada do poder, bem como as governanças posteriores, aos dias de hoje, furtaram-se à construção de um Estado-Nação em bases concretas do que se pode nomear como Democracia ou um futuro digno para as novas gerações. Com maior empenho do que a famigerada ditadura da pólvora, o pessoal de colarinho branco (os Sarney, Collor, Itamar, fhc, lula e dilma), obtiveram o espantoso feito de disponabilizar as riquezas naturais, a mão de obra e mercado de consumo brasileiros às grandes corporações multinacionais, processo inexorável que converterá o já combalido empresariado nacional em meros atravessadores e testas de ferro,enfim, uma nova versão de Casa Grande e Senzala.