Eduardo Aquino
A cada dia, manchas senis vão decorando o dorso de minha mão, como estrelas que vão surgindo no início da noite. O sorriso sendo emolduradas por bem desenhadas rugas, alegres e expressivas. Um vinco insiste em descer a cada lado do nariz em direção aos lábios. A pele vai lentamente se descolando dos músculos como se divorciasse de sua elasticidade. O sono piora e mais pareço um vaqueiro que às 4h já não cabe na cama.
E dia a dia, mês a mês, vou desenvolvendo a natureza, aquilo que não é meu: células, proteínas, carbonos, nitrogênios, enfim, a matéria!
Lenta e continuamente me despeço da juventude, do vigor, das ilusões e sonhos impossíveis. Não há mais lugar para arroubos, impulsividades, revoltas juvenis. Pouco a pouco sou dominado pela moderação, pela compreensão profunda do que vai na minha mente, coração e alma. Observo o mundo que me cerca, munido de curiosidade, sabedoria. Pouca coisa me surpreende, quase nada me incomoda, uma serenidade me acalma mesmo diante dos absurdos que abalam o mundo.
PERMITIR O DESCANSO
Procuro entender a tecnologia como instrumento e facilitação do cotidiano, mas sem deslumbramento ou dependência. Continuo anotando em papéis e arquivando, algo que não pega “vírus” nem é alvo de “hackers”. Continuo sonhando, construindo sonhos e já consigo morar dentro de alguns deles. Ainda batalho, luto, mas me permito o descanso.
A energia da fé e a energia mental continuam firmemente aumentando, na mesma proporção que minha vitalidade e físico vão decrescendo em direção ao fim. Continuarei todos os dias buscando evoluir até o dia que deixar a vida: um acidente fatal, um infarto fulminante, um câncer devastador – nada me aterroriza. Espero a morte, assim como um passageiro aguarda um trem ou um avião. Um dia chegamos, num outro partimos. Morrer é tão natural quanto nascer…
“Nu viestes a esta vida, tão nu quanto viestes sairás dela, e pelo teu trabalho nada que fizestes louvarás em tuas mãos. Isto é vaidade e vento que sopra…”, como nos ensina Eclesiastes. A vida é meramente um estágio onde, presos em quatro dimensões, a consciência mora num corpo material fadado a ser extinto, após inúteis vaidades, raivas, ódios, ciúmes, ressentimentos, invejas, apegos, medos, angústias e, em menor proporção, a alegria, o amor, o carinho, a fé, a confiança, a lealdade e a humildade.
SERENAMENTE…
Morrerei, espero, serenamente! Afinal, nada nem ninguém me prende à vida material.
Amo, sou amado, sei que poucos têm antipatia, raiva, ódios de mim, mas a recíproca não é verdadeira: o perdão mora em meu coração!
Peço perdão aos que possa ter ofendido. Não sou candidato a nada, nunca fui, nunca serei. Apenas busco com minhas palestras, livros, no exercício da medicina, ser um instrumento de inteligência divina e superiores. Busco crer e saber! Alio minha fé ao estudo científico.
Creio que há eternidade e reencontro de almas (ou “consciências não materiais”, se quiserem) daqueles que se amaram na vida terrena. E sei que há “inferno” para os que se viciaram, corromperam, traficaram, assassinaram, se apegaram a uma ilusão absoluta que é a vida terrestre e material.
No mais, cada um busque um sentido de viver, envelhecer, morrer, ser eterno!!!
Bela reflexão ! Há um mantra/prece/oração budista: “A morte é certa. A vida é incerta”. Muito bom para treinarmos desapegos, qualquer tipo de apego: apego a pessoas, coisas, fatos, situações…
Sr. Eduardo Aquino, ótimo artigo, de alerta sobre nossa responsabilidade sobre a “VIDA”.
Esta frase de Machado de Assis, é magistral.
Como essência somos eternos, e estamos no mundo para nosso PROGRESSO à Caminho da LUZ que alcançaremos um dia, através das vidas sucessivas materiais e temporárias, é o que demonstra a História evolutiva do homem, que deveria ser pautada no AMOR FRATERNO, mas é no desamor que ele caminha, que só causa DOR.
O Criador, sempre nos mandou Espíritos da LUZ, para nos trazer ao redil do BEM, mas, os assassinamos, e o maior D’Eles, que entre nós chamou-se JESUS, o pregamos na CRUZ, e ainda continuamos com o martelo funcionando até hoje.
Nos dizemos CRISTÃOS, mas o Código de VIDA, o Evangelho, é seguido por poucos, e deturpado pela maioria, com seus condutores de almas, conforme frase de Machado, para dominar mentes e corações, através do medo do inferno, que não existe, como “local eterno” mas…em nossa consciência, que falará além túmulo: A cada um segundo suas obras” e “Pagarás até o último ceitil”, acreditemos ou não.
Comentários para profundas reflexõs. “Nos dizemos cristãos, mas o Código da Vida, o Evangelho é seguido por poucos e deturpado pela maioria” Cristão da boca para fora.
Muito obrigado, Dr. Aquino. Suas palavras aquietaram meu coração e trouxeram refrigério à minha alma, reacendendo-lhe a chama do perdão, que jamais deve bruxolear. Abraços fraternos.