Procuradoria denuncia ex-delegado por incinerar o pai de Santa Cruz e outros onze

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Cláudio Antonio Guerra, delegado do DOPS, incinerou doze corpos

Roberta Jansen, Caio Sartori e Pepita Ortega
Estadão

O Ministério Público Federal denunciou o ex-delegado do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS, Cláudio Antônio Guerra, de 79 anos, pelo crime previsto no artigo 211 do Código Penal – ‘ocultação e destruição de 12 cadáveres, nos anos entre 1973 e 1975, por meio de incineração em fornos da Usina Cambahyba, em Campos, Norte-Fluminense’. As informações foram divulgadas pelo Ministério Público Federal nesta quinta-feira, dia 1º.

Segundo a Procuradoria, uma das vítimas de Guerra foi Fernando Santa Cruz, pai do atual presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Felipe.

SUBSTITUIÇÃO – A denúncia é apresentada no mesmo dia em que foi publicada no Diário Oficial da União, a decisão de substituir quatro integrantes da Comissão Especial Sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, que concedeu, no mês passado, depois de 45 anos, o atestado de óbito de Santa Cruz, confirmando que ele foi morto pelo estado.

Nesta terça-feira, dia 30, o presidente Jair Bolsonaro citou o pai de Felipe, dado como desaparecido desde fevereiro de 1974. “Se o presidente da OAB quiser saber como o pai dele desapareceu no período militar eu conto.”

Bolsonaro disse ainda. “Conto pra ele. Não é minha versão. É que a minha vivência me fez chegar nas conclusões naquele momento. O pai dele integrou a Ação Popular, o grupo mais sanguinário e violento da guerrilha lá de Pernambuco e veio desaparecer no Rio de Janeiro”.

IMEDIATA REAÇÃO – A fala do presidente provocou imediata reação da Advocacia. Na quarta-feira, dia 31, Felipe Santa Cruz e 12 ex-presidentes da Ordem interpelaram Bolsonaro no Supremo para que diga o que sabe sobre o sumiço de Fernando.

De acordo com o MPF, no entanto, o fato de a denúncia acontecer hoje é mera coincidência, já que a investigação está sendo feita há, pelo menos, oito anos.

Na denúncia contra o ex-delegado do Dops, a Procuradoria sustenta que sob a forma de ‘confissão espontânea’, depoimentos reunidos no livro ‘Uma Guerra Suja’, Guerra relata que de 1973 a 1975, recolheu no imóvel conhecido como ‘Casa da Morte’, em Petrópolis (RJ), e no Destacamento de Operação de Informação e Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI), na Tijuca, os corpos de 12 pessoas, levando-os para o município de Campos dos Goytacazes (RJ), ‘onde foram incinerados, por sua determinação livre e consciente, nos fornos da Usina Cambahyba’.

MOTIVO TORPE – Para o Ministério Público Federal, o ex-delegado do Dops ‘agiu por motivo torpe (uso do aparato estatal para preservação do poder contra opositores ideológicos), visando assegurar a execução e sua impunidade, com abuso do poder inerente ao cargo público que ocupava’.

“Assim, com o objetivo de assegurar a impunidade de crimes de tortura e homicídio praticados por terceiros, com abuso de poder e violação do dever inerente do cargo de delegado de polícia que exercia no Estado do Espírito Santo, foi o autor intelectual e participante direto na ocultação e destruição de cadáveres de pelo menos 12 pessoas, nos anos de 1974 e 1975”, argumenta o procurador da República Guilherme Garcia Virgílio, autor da denúncia.

Além da condenação pelos crimes praticados, o procurador pede ‘o cancelamento de eventual aposentadoria ou qualquer provento de que disponha o denunciado em razão de sua atuação como agente público, dado que seu comportamento se desviou da legalidade, afastando princípios que devem nortear o exercício da função pública’.

PROVAS – A confirmação nominal dos corpos levados por Cláudio Antônio Guerra para incineração ocorreu em diversos depoimentos prestados à Procuradoria da República no Espírito Santo.

Além da confissão, testemunhas e documentos confirmaram a autenticidade dos relatos de Guerra. As doze pessoas citadas por ele constam na lista de 136 pessoas dadas por desaparecidas da Lei n° 9.140 de 1995, que ‘reconhece como mortas pessoas desaparecidas em razão de participação ou acusação de participação em atividades políticas, no período de 2 de setembro de 1961 a 15 de agosto de 1979’.

O Ministério Público Federal argumenta que ‘não se pode considerar os crimes praticados pelo ex-delegado na Lei da Anistia, tendo em vista que a lei trata de crimes com motivação política’.

CRIMES BÁRBAROS – “Não importa sob que fundamentos ou inclinações poderiam pretender como repressão de ordem partidária ou ideológica, sendo certo que a destruição de cadáveres não pode ser admitida como crime de natureza política ou conexo a este”, pontua.

A Procuradoria destaca ainda que sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos, no caso Gomes Lund versus Brasil, em 24 de novembro de 2010 – a qual estabeleceu para o país a obrigação de investigar não apenas o episódio conhecido como Guerrilha do Araguaia, mas também outros episódios de igual natureza, visando a identificação dos autores materiais e intelectuais do desaparecimento forçado de pessoas, não se aplicando, a esses casos, a Lei da Anistia, tendo em vista o caráter permanente de crimes que, ‘por constituírem crime de lesa-humanidade, não são abrangidos pelo ordenamento doméstico, seja por anistia ou por prescrição’.

INCINERAÇÃO – Em seu depoimento, Cláudio Antônio Guerra relatou que havia ‘preocupações nos órgãos de informação, por parte dos coronéis Perdigão e Malhães, na medida em que os corpos daqueles que eram eliminados pelo regime acabavam descobertos, o que já movimentava a imprensa nacional e internacional’.

Ele narrou que uma das estratégias de sumir com os corpos ‘consistia em arrancar parte do abdômen das vítimas, evitando-se com isso a formação de gases que poderia fazer com que o corpo emergisse, assim como os rios constituíam a preferência para afundamento dos corpos, dado que no mar a onda traz de volta’.

O ex-delegado do Dops informou ter sugerido o forno da Usina Cambahyba, como forma de eliminação sem deixar rastros, ‘dado que já utilizava a usina e seus canaviais para desova de criminosos comuns, do Espírito Santo, em razão de sua amizade com o proprietário da usina’.

SACOS PLÁSTICOS – Para retirar os corpos na ‘Casa da Morte’, Guerra relatou que encostava o carro no portão e recebia, em seguida, de dois ou três militares, os corpos em sacos plásticos.

“Ao chegar na Usina, passavam os corpos para outro veículo, que ia até próximo dos fornos, sendo então colocados na boca do forno e empurrados com um instrumento que lembrava uma pá, e, ainda, que o cheiro dos corpos não chamava atenção por causa do forte cheiro do vinhoto”, assinala a Procuradoria, com base no relato atribuído a Guerra.

Em 19 de agosto de 2014 foi feita a reconstituição no local, com a presença de Cláudio Antônio Guerra, ‘com a confirmação de que a abertura dos fornos era suficientemente grande para entrada de corpos humanos’.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
A verdade acaba emergindo. No caso, a consciência pesada do delegado fez com que admitisse voluntariamente ter cometido os crimes. Quer dizer, confessou sem ter sido torturado… (C.N.)

11 thoughts on “Procuradoria denuncia ex-delegado por incinerar o pai de Santa Cruz e outros onze

  1. Tirando a bajulação que o Rubem Gonzalez faz a Russia, no geral o áudio dele mostra muito bem como quem apoia os Estados Unidos hoje é sinônimo de país fracassado.

    No programa de hoje, abordamos a inédita cooperação entre a União Europeia, a China e a Rússia para promover a paz no Golfo Pérsico. Também comentamos a prisão do super doleiro Dario Messer e os estranhos movimentos da Lava Jato, que definitivamente se transformou em mais um poder no Brasil. Iniciamos o esclarecimento sobre os pontos em comum entre a técnica da destruição da URSS e a utilizada para desmontar o Brasil. Não percam!

    https://www.youtube.com/watch?v=izJk0R6Q-pc

    Os colunistas do Tribuna da Internet deveriam apoiar o Portal Rubem Gonzalez em vez de ficar acreditando em Sergio Moro.

  2. Tenho uma mania, talvez vício , de ler tudo que me parece interessante. Só que não anoto ou escrevo o que leio. Li um livro, que falava sobre estas incineraçoes., e que os os executores se encontravam num restaurante da Praca Maua, cujo proprietario era o Gomes (dono das antigas carrocinhas que vendiam angu em diversos locais do Rio – Angu do Gomes.)

    Curioso e que estes crimes eram relatados com detalhes. O que foi feito desse livro, não sei

    Bem que o dr Ruy me ensinou, sobre livros, e não aprendi: DOIS BURROS, O QUE EMPRESTA E O QUE DEVOLVE.

  3. Isso é história velha conhecida. O Alberto Dines entrevistou o Cláudio Guerra quando o livro do Marcelo Neto foi publicado. As pessoas eram assassinadas sob tortura na Casa da Morte em Petrópolis e depois eram incineradas na usina em Campos.

  4. O único comunista honesto se chama Apolônio de Carvalho que, quando lhe perguntaram se não tinha ficado com raiva dos militares que barbaramente o torturaram, ele respondeu que não, pois se seu lado tivesse vencido, teria feito a mesma coisa.

    Enfim, guerra é guerra e não existe nada de divertido nela.
    Ao participar de uma, reze para não cair prisioneiro.

    Quanto a ditadura já tem mais de meio século e a anistia colocou um fim nessa chatice que alguns insistem, de ambos os lados, encher o saco do povo, que nunca teve nada com ela.

  5. É fácil ler em um jornal quem foi preso pela ditadura.Esse delegado é um pilantra. Conheci rapidamente esse sujeito no Club Raio do Sol em Vila Isabel. Estava assistindo uns sambistas quando vi um alvoroço. Algumas pessoas se aproximando de um individuo de meia altura vestido de terno escuro sem gravata. Foi entrando para uma sala reservada e frequentada por contraventores do jogo dos bichos que lá jogavam cartas. Não demorou e saiu logo. Eu então perguntei a um conhecido chamado “Cabinho”. Quem é esse cara. Disse Cabinho ele é conhecido como “delegado matador do Espírito Santo e vem aqui todo mês apanhar alguma encomenda com os bicheiros. Prossegiu dizendo: É amigo do “capitão Airton Guimarães”. Um militar expulso do Exército por contrabando que agora é um dos chefões do jogo. Depois de algum tempo soube que esse delegado tinha matado todos os bicheiros do Espirito Santo e quem mandava era “o capitão Guimarães” que ainda manda no jogo e no Carnaval. Posteriormente soube que um bicheiro de Niteroi que fora sócio de Guimarães tinha desaparecido. Esse pilantra estava metido no sumiço. Ele deve ter matado algumas pessoas . Mas a especialidade dele era trabalhar para o Guimarães. Esse negocio de incineração. Para mim é cascata. Escreveu um livro e contou um histria assombrosa. Eu não li o livro e nem vou ler., mas a própria imprensa publicava coisas. Por exemplo com a morte do Mariel Mariscot. Ganharam rios de dinheiro reportando esses acontecimentos.

  6. Esse oilantra nunca falou em “capitão Airton Guimarães”. Perguntem a ele se conhece. A ligação entre os dois é de irãos gêmeos.

  7. Boa tarde , leitores (as):

    Senhores Roberta Jansen , Caio Sartori e Pepita Ortega ( Estadão ) Carlos Newton , acontece que as ” INSTITUIÇÕES BRASILEIRAS ” foram tomadas / assaltadas por maus elementos e de má índole e criminosos da própria sociedade civil , desde á dita ” REDEMOCRATIZAÇÃO EM 1985 ” , e que agora foram desmascarados , e estão incentivando a ” Revogação da Lei da Anistia ” , objetivando conflagrar o Brasil , para não terem que pagar por seus crimes , tendo á frente alguns ministros / juízes do próprio Supremo Tribunal Federal – STF , isso é público e notório.

  8. Pelo que vivi naquela época, e pelo que li, os comunas, com o apoio das ditaduras cubana e de países da cortina de ferro, queriam tomar o poder no Brasil e nos tornar um país satélite russo. Os militares impediram e os revolucionários comunistas, assim como ocorreu em muitos países naquela época (idem entre na Espanha), pegaram em armas e cometeram muitos assassinatos. Entre eles mesmos haviam o julgamento pessoal e sumário de quem julgavam ser traidores da revolução. Evidente que houve reação a isso. Afinal foi uma “guerrilha”, uma guerra civil praticamente. Basta ver em vários documentários e relatos fidedignos, sobre guerras civis mundo agora para ser ter uma ideia dos genocídios ocorridos de ambos os lados (vide operação mar vermelho da NETFLIX, baseado em fatos verdadeiros). Agora não é certo, nessa situação ser julgado só um lado, afinal só um lado fala a verdade e o outro é sempre mentiroso? Todos deveriam ser julgados para ser justo.

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