Carlos Chagas
Por duas vezes, um dia depois do outro, mais de um milhão de pessoas na praia de Copacabana. Significa o quê, essa demonstração de solidariedade para com o Papa Francisco? Primeiro, que ele merece. Depois, que nem só de agruras vivem os cariocas e seus visitantes. Houve tempo para celebrações, também. No caso uma festa também política, mas sem políticos, daí sua importância fundamental. O Brasil real foi para as ruas sem cogitar do Brasil formal, que fez bem de ficar escondidinho. Mesmo hoje, quando Dilma Rousseff e mais alguns presidentes latino-americanos devem despedir-se do Sumo Pontífice, a expectativa é de que não atrapalhem. Que permaneçam à margem, o mais que puderem.
De vez em quando, o povo faz valer sua presença, desconectando-se de molduras não raro esgotadas e supérfluas, quando não incômodas. Não sabemos se chegou a desembarcar no Rio a tal comissão de senadores designada para apresentar seus cumprimentos ao Papa. Ausentes, não fizeram falta. Se vieram, foram ignorados. O indigitado governador do Rio apareceu no dia da chegada do Papa, em recepção no palácio Guanabara, perdido no meio de convidados que tratou com copos d’água e bolachas. O governador de São Paulo esteve em Aparecida do Norte, mas isolado numa plataforma lá em cima, longe do personagem principal. E também ignorado.
O país de verdade deu de ombros para o país de mentirinha numa demonstração sem protestos e vaias, simplesmente desconhecendo as poucas autoridades que por dever de ofício não puderam omitir-se.
Seria bom se esses episódios pudessem repetir-se todos os dias, até bem mais densos e significativos do que as manifestações de protesto verificadas de junho para cá. Basta comparar o número de participantes de um lado e de outro. Um milhão, ou mais, contra 500 ou 600, descontados os baderneiros e os vândalos.
Francisco não pode ser candidato à presidência da República do Brasil, apesar de suas mensagens atingirem muito mais fundo a alma e os anseios da multidão reunida ao seu redor. Sendo assim, haverá que nos conformarmos com o que virá ano que vem, cientes de que pretendente algum ao palácio do Planalto conseguirá reunir cem mil pessoas, quanto mais um milhão.
A Jornada Mundial da Juventude apresentou um inequívoco sentido cívico, tanto quanto religioso. É o que ficaremos devendo ao Papa, em sua primeira fuga do Vaticano.
OS PARTIDOS ALIADOS
“Só existe uma coisa pior do que combater junto com nossos aliados: é combater sem eles…”
O comentário é de Winston Churchill, quando se referia a Charles De Gaulle, para quem o general francês imaginava-se uma nova Joana D’Arc.
Assim a presidente Dilma deveria raciocinar diante das armadilhas que o PMDB vem colocando diante dela,a começar pela sugestão de reduzir o número de ministérios.Sem falar na operação para derrubar seus vetos, prevista para a terceira semana de agosto. Ruim com eles, é óbvio. Mas pior sem eles…
DEFEITOS E VIRTUDES
Vale ficar no mesmo personagem, o inesquecível primeiro-ministro inglês, que assim definiu a economia mundial: “o defeito inerente ao capitalismo é a distribuição desigual das benesses; a virtude inerente ao socialismo é a distribuição equitativa das desgraças…”
Bem que o ministro Mantega poderia adquirir um exemplar do recém-lançado “Winston Churchill – Suas Grandes Tiradas”, organizado por Richard Longworth e editado pela Odisseia.