Carlos Chagas
Não há que brigar com os fatos. Nem com os números. A última pesquisa Datafolha faz acender não mais o sinal amarelo no semáforo tucano da sucessão presidencial. Acendeu o sinal vermelho. Onde vai dar a tática de José Serra, omitindo-se e deixando dúvidas, aliás inexistentes, sobre ser ou não ser candidato? Deu no empate técnico com Dilma Rousseff, sequer aliviado na simulação para o segundo turno, pois se antes os percentuais eram de 49% para o governador e 34% para a ministra, agora revelam-se em 45% contra 41%.
Para Serra, pode tratar-se de manobra de caso pensado, como naqueles antigos filmes de faroeste onde os índios fugiam depois de defrontar-se com a cavalaria do general Custer, que passava a persegui-los com exagerado entusiasmo para verificar, pouco depois, haver caído numa armadilha, cercada e trucidada pela principal força adversária de sioux, comanches e sucedâneos.
Se for isso, está na hora de o governador rever seus planos. Ficar na sombra, alegando que a lei ainda proíbe o lançamento de candidaturas, equivale a um profundo desgaste. Basta ver o crescimento de seu índice de rejeição: passou de l9% para 25%.
Está programado para esta semana um encontro entre José Serra e Aécio Neves, em Minas. Não se espera o milagre de o governador mineiro dar o dito pelo não dito e aceitar a vice-presidência na chapa do paulista. Se acontecer, essa conjunção acontecerá mais tarde. Mesmo assim, seria a oportunidade de um sinal efetivo capaz de marcar a reação, caso ambos liberassem uma espécie de roteiro capaz de unir o tucanato. Fora daí, mesmo sabendo-se que pesquisa não ganha eleição, os números da próxima consulta poderão revelar-se arrasadores.
TRINTA DIAS DECISIVOS
Estamos a um mês do prazo fatal das desincompatibilizações dos governadores e ministros que forem candidatos às eleições de outubro. Com a ressalva de que os governadores empenhados em mais um mandato em seus estados poderão ficar onde estão, absurdo criado por Fernando Henrique Cardoso para disputar a reeleição no exercício da presidência da República. Governadores e prefeitos beneficiam-se da maracutaia, como fez também o Lula, em 2006.
Dia 3 de abril Dilma Rousseff precisará deixar a chefia da Casa Civil, como José Serra o palácio dos Bandeirantes, se quiser trocá-lo pelo palácio do Planalto. Roberto Requião deixará o governo do Paraná, seja para concorrer à presidência da República, seja para voltar ao Senado. Ciro Gomes permanecerá na Câmara, como Marina Silva, no Senado, já que as regras do sociólogo beneficiam o Legislativo.
Quanto ao ministério, também devem sair quantos aspirem governos estaduais ou o Congresso. Bem que o presidente Lula conseguiu segurar alguns, como Nelson Jobim, da Defesa, Paulo Bernardo, do Planejamento, Carlos Lupi, do Trabalho, e Henrique Meirelles, do Banco Central, que se tinham aspirações eleitorais, acabaram por abandona-las. Mas estão de malas prontas os ministros das Minas e Energia, Previdência Social, Integração Nacional, Comunicações, Transportes, Integração Social e outros, como já viajou o da Justiça, na maior parte substituídos pelos secretários-executivos.