Sandra Starling
Falo hoje da celeuma em torno da abstenção do representante do Brasil junto ao FMI na votação de mais um empréstimo daquela instituição para a combalida Grécia. A notícia apareceu na grande imprensa como um ato irrefletido do ilustre economista Paulo Nogueira Batista Jr., que não teria se reportado ao ministro da Fazenda antes de decidir. Divulgou-se até uma estranha versão: o representante brasileiro teria ficado preocupado com a solidez financeira do próprio Fundo em face da operação. O ministro Guido Mantega teria, em seguida, telefonado para a diretora-gerente do FMI para esclarecer que a posição brasileira seria de total apoio ao empréstimo, considerando que uma derrocada da Grécia importaria uma verdadeira “débâcle” de todo o sistema financeiro.
O mais interessante, porém, veio depois. Agora se pode entender melhor a braveza do ministro da Fazenda e sua pronta ação no sentido de esclarecer o pensamento do governo brasileiro. Depois de tantas fanfarronices, evocando-se nossa condição de “credor” do FMI, vemo-nos, uma vez mais, prostrados diante da instituição por conta dos solavancos aos quais se assistem na economia brasileira nos últimos meses.
CÁLCULO DA DÍVIDA
O jornal “Valor Econômico” revela, em sua edição da última segunda-feira, que, em carta à diretora-gerente do FMI, o ministro teria pedido a revisão do cálculo da dívida bruta brasileira, por considerar inflacionária a metodologia utilizada. O jornal salienta que o pleito brasileiro é importante porque o conceito de dívida bruta é o indicador de solvência mais utilizado pelos investidores e pelos analistas internacionais. A correção da distorção que hoje prejudica o cálculo da dívida bruta brasileira feita pelo FMI teria um efeito favorável sobre as expectativas em relação ao Brasil.
Trocando em miúdos, pode-se ver agora que, a despeito dos discursos ufanistas, há uma preocupação crescente com os fundamentos macroeconômicos que estariam a levar investidores estrangeiros a puxar o freio de mão em relação a colocar dinheiro no Brasil. Mais do que nunca, se sente aquele clima de “entrar na festa, mas ficar sempre perto da porta de saída”.
Não bastassem as turbulências econômicas, a instabilidade em termos de governança (relação governo x Congresso Nacional) e governabilidade (expressiva queda de popularidade do governo desde as manifestações de junho) sinaliza um ambiente de insegurança jurídica que é o verdadeiro pavor de todo capitalista. Agosto é um mês aziago na política brasileira. É melhor a presidente Dilma procurar uma reza forte.