
NOITE CARIOCA
Murilo Mendes
Noite da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro
tão gostosa
que os estadistas europeus lamentam ter conhecido tão tarde.
Casais grudados nos portões de jasmineiros…
A baía de Guanabara, diferente das outras baías, é camarada,
recebe na sala de visita todos os navios do mundo
e não fecha a cara.
Tudo perde o equilíbrio nesta noite,
as estrelas não são mais constelações célebres,
são lamparinas com ares domingueiros,
as sonatas de Beethoven realejadas nos pianos dos bairros distintos
não são mais obras importantes do gênio imortal,
são valsas arrebentadas…
Perfume vira cheiro,
as mulatas de brutas ancas dançam o maxixe nos criouléus suarentos
O Pão de Açúcar é um cão de fila todo especial
que nunca se lembra de latir pros inimigos que transpõem a barra
e às 10 horas apaga os olhos para dormir.
“Só não existe o que não pode ser imaginado”. Está é uma frase típica de cético!
-Aqui, eu aproveito para empurrar a minha graforréia também: “Sugerido o ‘diabo’, o ‘deus’ brotará pelo instinto de autodefesa”
1) Na antiga TV Rio, se não me falha a memória, existia o programa humorístico “Noites Cariocas”.
2) Era o Canal 13.
3) A poesia em tela espelha bem as noites guanabarinas…
as mulatas de brutas ancas dançam o maxixe nos criouléus suarentos.
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Por que brutas ancas? Por que suarentos? Se fossem belas morenas, seria um ambiente suarento ou era suarento porque era um criouléu? Hoje isso soaria como racismo.
“Então não bula na cumbuca
Não me espante o rato
Se o branco tem ciúme
Que dirá o mulato”
(Do samba batuque na cozinha)
“Só não existe o que não pode ser imaginado”. É de se concluir, de outro modo, que o que puder ser imaginado existe, estou certo?
Pergunta: dragão existe? Não, claro, mas pode existir em nossas mentes e nas figuras que criamos dele conforme nossa imaginação.
(Não sou filósofo mas me formei em Logística. E quem sabe logística sabe tudo – pode ser até Ministro da Saúde! E contratar Veterinário para cuidar do povo)