
Alceu Valença canta a alegria, mas também canta a dor
Paulo Peres
Poemas & Canções
O pernambucano Alceu Valença é formado em Direito e pós-graduado em Sociologia, mas por causa da música desistiu dessas carreiras, para ser cantor e compositor. Na letra da música “Na Primeira Manhã”, gravada em 1980 no seu LP “Coração Bobo”, Alceu utiliza metáforas para definir a perda e, consequentemente, a solidão pela qual estava passando.
NA PRIMEIRA MANHÃ
Alceu Valença
Na primeira manhã que te perdi
Acordei mais cansado que sozinho
Como um conde falando aos passarinhos
Como Bumba-Meu-Boi sem capitão
E gemi como geme o arvoredo
Como a brisa descendo das colinas
Como quem perde o prumo e desatina
Como sol no meio da multidão
Na segunda manhã que te perdi
Era tarde demais pra ser sozinho
Cruzei mares, estradas e caminhos
Como um carro correndo em contramão
Pelo canto da boca um sussurro
Fiz um canto doente, absurdo
Um lamento noturno dos viúvos
Como um gato gemendo no porão
Solidão
1) Poeta pernambucano, compositor ótimo. Letrista de primeira.
O que comemorar nesse 7 se setembro?
O novo lobo-guará ou o sofrimento do povo relegado ao deus-dará?
Ou o aumento da renda per capita pela decréscimo na sua equação do importante denominador:
as vidas perdidas pelo descaso do governo no combate ao virus devastador!
Afinal, o que nos importa o que comemorar, se a desgraça vivemos agora e o futuro promete piorar?
A hora é agora, mas é preciso querer e saber fazer. Ou só nos resta rezar!
NUMA SEXTA-FEIRA DE JUNHO
Saudades. Todas tuas.Quão sozinho!
Quão cheio de esperança me perdi!
Ao ver-te em plenitude te sofri,
Sentindo-te mais forte do que o vinho .
Saudades.E não vens.Mas adivinho
Como estejas agora por aí.
E juro que ao olhar-te me senti
Como quem nuvens colhe num caminho.
És o sol que me guia ou que me aquece.
És a valsa distante, da quermesse.
És o trigo do sonho a florescer.
Penso em teu rosto fino e delicado
E mesmo ao ver-me assim, tão desolado,
Já quase morto estando, vou viver!
Eis uns versinhos singelos, que para mim são tão belos, porque fui eu que os fiz! É sempre assim: amamos o que nos engrandece e agraciamos a vaidade que o nosso eu aquece. Dê o que der, a sorte está lançada: eis uns versos que fiz para minha amada:
Nosso encontro de amor
Foi tão engraçado…
Teu rosto de tão perfumado
Cheirava a tudo que é flor:
Rosa, cravo, jasmin.
Estavas bela e garbosa,
Que te vendo tão formosa,
Tive até pena de mim.
Abraçamo-nos, nos beijamos,
Instantes de amor tivemos.
Com eles nos acostumamos,
E com o tempo os perdemos.
Faço meus, teus lábios róseos
Quando um sorriso estampa
E essa linda boca se abre
Dá fôlego a ninha esperança
De um dia na vida, quem sabe?