Percival Puggina
Mesmo sem ter formação na área jurídica, participei intensamente, há muitos anos, na criação da Associação dos Juristas Católicos no Rio Grande do Sul e compareço, sempre que possível, às suas reuniões ou solenidades. Sinto-me estreitamente alinhado com a ideia de que congregar juristas católicos seja uma necessidade nacional.
No pequeno grupo de queridos amigos que semanalmente se reúne em minha casa para conversarmos, como católicos, sobre os problemas sociais, políticos, e religiosos do Brasil, sou dos poucos sem formação em ciências jurídicas. De tais convívios concluo: a alma cristã padece no ambiente jurídico nacional.
PROFANO E SAGRADO – Vivemos realidade cultural em que o profano vale mais do que o sagrado, o temporal se sobrepõe ao eterno e o natural se impõe ao sobrenatural. Escrevendo sobre o tema, o filósofo espanhol Andrés Ollero identifica um novo confessionalismo. Diz ele:
“O temporal se sacralizou até converter o religioso em elemento estrangeiro à sociedade civil. É lógico, portanto, que o convide a se recolher ao templo”.
Está caracterizada a inversão: o profano (o que está fora do templo erguido a Deus) virou sagrado para o homem e o sagrado virou profano (descartado dos altares que o relativismo moral, o materialismo dialético e o ativismo judicial ergueram aos seres e às coisas criadas). Adão vai à forra e expulsa Deus do seu enfatuado “paraíso”.
OS “ADJETIVOS” – Raros brasileiros atentos aos fatos da República deixarão de concordar com alguns adjetivos frequentemente aplicáveis à conduta de tantos mestres, legisladores, julgadores: vaidade, arrogância, presunção. Quando se recusa o Direito Natural, convertendo algo tão importante quanto o Direito na petulante construção de um indivíduo ou de um coletivo, o efeito psicológico dessa dicção é terrível. Como ensina o insigne jurista espanhol na menção acima, são criadas uma nova religião, um novo altar e uma nova Tábua de uma lei qualquer. Novas divindades surgem.
Não estou defendendo qualquer forma de fundamentalismo. Bem ao contrário, estou combatendo o fundamentalismo jurídico laicista que de modo impositivo e com aparatosa indignação recusa espaço às afeições morais partilhadas pela imensa maioria da sociedade, sobre a qual se impõe um Direito cada vez menos parecido com ela mesma. É hipocrisia defender o pluralismo impondo silêncio aos cristãos!
UM BELO EVENTO – Saúdo, por isso, a realização de um evento como o I Congresso Nacional dos Juristas Católicos, que vai acontecer em São Paulo, no dia 30 de agosto, no auditório da Academia Paulista de Letras, como promoção da União dos Juristas Católicos de São Paulo.
Eu, você que lê este artigo, os muitos mais que não o lerão, e tantos outros que sequer tomarão conhecimento de um evento com tal magnitude, reunindo as personalidades que ali se irão encontrar, muito terão a dever ao florescer de ideias e iniciativas que suscitará para a salvação do Brasil.
Se eu ler esse artigo e levar a sério uma linha do que voce escreveu, aí sim estarei profanando o sagrado….
“Líderes fracos e arrogantes sempre serão derrubados.
Lideres racionais, de principios honestos, disfrutarão do apoio das pessoas que eles guiam em direção ao sucesso mútuo”
Todo esse papo furado de Templo de Deus já era.
O sagrado e Deus estão presentes num simples grão de areia.
É esse intento de alguns homens, de construir templos e criar dogmas e ritos em nome de Deus que é profano.
Religioso no Brasil está se enganando, ou sendo enganado, ou se lamentando, ou enchendo o pau oco da santinha de ouro, roubando.
Os países que mais avançaram em prosperidade e igualdade social deixaram de lado essa pregação loroteira desses homens ditos escolhidos com seus simbolos espúrios na lapela, e trabalharam para o bem comum por si próprios.
Nesses países os governantes são meros funcionários publicos, e não mintos ou divindades…
A Alma Cristã padece é de cair na real.
“Não estou defendendo qualquer forma de fundamentalismo. Bem ao contrário, estou combatendo o fundamentalismo jurídico laicista que de modo impositivo….”
O mesmo discurso do Talibã , Sionismo, Seitas Neo Pentencostais, Estado Islâmico, etc.
De uma falsidade incomensurável.
Para o articulista o Sagrado se resume a uma religião apenas.
Falso até a medula, sob uma lente de aumento, máscaras seriam jogadas ao mar.
Os cristãos já tiveram seu tempo áureo. O que resultou foi enriquecimento da igreja, atrofia das idéias (Galileu que o diga), mortandade (inquisição) e atraso. A fé não é racional.
Sarcasmo celestial
Não, não culpem Deus
Pelas misérias do mundo,
Deixem isso pros ateus,
Esses pobres vagabundos!
Eles vagam sem templo, sem fé,
Só crêem em lógica e fatos,
E, para explicar o mundo como é,
Usam da ciência artefatos.
Eu creio: Deus nos assiste,
Creio até que nos protege,
Sei que sofredores existem,
Mas por certo são hereges!
Deus fez-se até mortal,
Pra amenizar nosso sofrer,
Ele é justo, imparcial,
Basta ter olhos pra ver!
Muito oportuno e pertinente esse artigo do Sr Percival Puggina. Aliás, o nome Percival remete a Parsifal, esse arquétipo do buscador de si mesmo, onde o Santo Graal é a própria centelha divina em nós mesmos.
O artigo me lembrou o pensamento do rabino e teólogo judeu Abraham Joshua Heschel, que percebe que o interesse e a busca do ser humano pelo divino é capacitada porque, antes, o divino se interessa e busca pelo ser humano.
Quando pergutaram a ele qual a finalidade dos seres humanos, sua resposta foi que o ser humano é a possibilidade de atuação de Deus no mundo.
E tem ainda essa pérola na questão da justiça:”A preocupação incondicional de Deus com a justiça não é um antropomorfismo. Ao contrário, a preocupação humana com a justiça é um teomorfismo”.
Saudações