São Paulo quer “esconder” os mendigos para ter aparência de Primeiro Mundo

A publicada na Folha de São Paulo no dia 04 de Maio de 2025, mostra o desenho de um mendigo deitado sobre a obra de arte "Brillo Box", do artista Andy Warhol, composta por diversas caixas de madeira estampadas com uma marca de produto de limpeza.

Ilustração de Adams Carvalho, pós Andy Warhol

Antonio Prata
Folha

Tenho ódio sempre que ouço essa aberração do politicamente correto: “Pessoa em situação de rua”. Primeiro, porque não existe, em nosso idioma, ninguém “em situação” de nada. Nunca estive ou conheci alguém “em situação de gripe”. Lá pelo meio-dia não estou “em situação de fome” e depois da meia-noite nunca me descreveria “em situação de sono”. Não sei de onde importaram essa frase horrível, só sei que ela não foi bem adaptada à nossa “situação de língua”.

Não é a “situação de aberração”, porém, que me revolta mais ao falarmos “pessoa em situação de rua”. É a mentira que a frase, em sua deliberada assepsia semântica, tenta passar.

MISÉRIA PERMANENTE– É como se o sujeito que tá dormindo na calçada, em cima de uma caixa de papelão aberta, coberto com aquela manta de proteger móvel em mudança, com uma garrafa (vazia) de cachaça ao lado, sem tomar banho há semanas, sem laços sociais, familiares, talvez viciado em crack, enfim, é como se essa pessoa ferrada estivesse numa “situação” momentânea que logo, logo, vai ser resolvida.

Tipo: o cara perdeu o último ônibus pro seu bairro, ficou em “situação de rua”, mas amanhã pegará o busão e estará “em situação de casa”.

Mendigo é o nome dessa pessoa. Mendigo não é alguém que simplesmente não tem casa. Não tá em “situação de rua” e nem é “sem teto”. É sem tudo. É o fundo do fundo do alçapão no fundo do alçapão do poço.

MAQUIAGEM COVARDE – Qualquer corrupção linguística para maquiar sua condição serve só para amenizar nossa culpa. É calhorda. É covarde. Em vez de tentar salvar a pessoa da degradação total, fingimos que ela não está assim tão mal. “Só uma situação”.

Fingir é uma grande habilidade nossa, brasileira. Difícil viver e ser são neste país sem fingir barbaramente um monte de coisa. Finge que o cara tá “em situação de rua”. Finge que não vê os miseráveis nos faróis de trânsito. Finge que não vê o mar de favelas sob o Rodoanel.

Finge que não teve tentativa de golpe. Finge que é normal o “orçamento secreto”. Finge que a CBF tem algum interesse na melhoria do futebol brasileiro. Pensando bem, não é só um fenômeno brasileiro. O mundo finge que não tá acabando.

EMBAIXO DO MINHOCÃO – Tudo isso pra chegar na grande mágica, no grande fingimento, não só semântico, mas concreto, urbano, proposto pelo vice da prefeitura: trocar mendigos por carros embaixo do Minhocão. Tirar “pessoas em situação de rua” e colocar “carros em situação de estacionamento”.

Se a gambiarra semântica da esquerda parece bizarra, por “amaciar” a existência dos mendigos, o que a direita propõe agora em São Paulo vai muito além. É a metonímia feita ação. É a falta de vergonha: “vamos sumir com esses pobres!”. Vai ter matéria mostrando como a área do Minhocão ficou mais bonita. Mais segura. Vai gerar renda. Não tenho a menor dúvida. Varrer a miséria pra longe sempre melhora o perto.

Eu, se morasse ali, não seria hipócrita. Adoraria a medida. A questão é que esses pobres existem. Continuarão na rua, em outra rua. Na frente da casa de outra pessoa. E continuarão sem casa, sem trabalho, sem banho, sem porra nenhuma, “em situação de mendigo”, em algum lugar.

12 thoughts on “São Paulo quer “esconder” os mendigos para ter aparência de Primeiro Mundo

  1. Simples: O irrizório salário mínimo ao ser constituido do “religioso dízimo” do exorbitante e ganancioso teto, sem dúvida anulará a “classe” dos miseráveis!
    PS. Logo, concluimos identificando e apontando para os responsáveis por tal desumano resultado!

    • “O teto nacional, também conhecido como teto remuneratório do funcionalismo público, é equivalente ao subsídio mensal pago aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Atualmente, esse valor é de R$ 46.366,19, desde 1º de fevereiro de 2025.”
      PS. R$ 4.636,61 deverá ser suficiente para suprir as necessidades de um então “mais aproximado” semelhante!

  2. 90% desses moradores de rua são viciados em alguma droga. Vira e mexe um doido corre atrás de alguém com um pedaço de pau ou faca. Julio Lancelotti nao quer tratamento compulsório para esses viciados. Parabéns, Ricardo Nunes.

  3. Concentração, exclusão e desigualdade persistem

    A riqueza no País é historicamente concentrada entre poucos, e a pobreza, distribuída em larga escala.

    • Quando fui trabalhar em São Paulo pelo ano de 1970 lá não existia uma só favela … Existia cabeça de porco.
      Com o desenvolvimento do agronegócio tivemos os boiasfrias e os trabalhadores do campo indo para as cidades.
      Sou do Rio de Janeiro.

      • O êxodo rural foi, naquela época, ‘um efeito colateral’ do Estatuto da Terra da Ditadura Militar (Lei 4.504, sancionada pelo marechal Castelo Branco em 30 de novembro de 1964).

  4. Agora vai!
    Temos jornalistas em situação de esculhambar Bolsonaro e outro tanto maior ainda em situação de não cheirar o dedo sujo do Dom Curro de La Grana.
    Um em situação de esfaqueado, outros em situação de roubar até dos velhinhos escangalhados pelos ladrões dos que estão em situação de governo da esquerda peculatária.
    Os que estão em situação de eleitores, ainda não descobriram que votar em ladrão é um tiro no pé.
    A metade da população desse país já está em situação de pernetas com tanto tiro.
    Quanto a situação dos golpistas, caso grave, planejaram uma metralha medonha com tiros de feijão.

  5. Algumas certezas não foram ditas:
    O brasileiro (67%) finge:
    . que Lula não é ladrão;
    . que o irmão-lalau-também não é ladrão;
    . que é coincidência o stf nada fazer quando o criminoso é do PT;
    – que vai receber em dobro a grana subtraída sob apropriação indébita;
    – tudo é culpa do governo anterior, ainda que CGU/TCU demonstrem o contrário;
    – trocando o ministro da previdência pelo seu braço direito resolverá o problema da roubalheira
    – ……………………………

  6. SÃO PAULO NÃO TEM PREGUIÇA, é pujança, é trabalho, é determinação, e capacidade criativa, é força realizadora, ainda não é primeiro mundo, mas, cá entre nós, tem tudo para ser, falta-se apenas a autonomia necessária, capaz de levar consigo para o primeiro mundo MG, RJ, PR-SC-RS e, por conseguinte, o norte, o nordeste e o centro-oeste, à moda unidades autônomas, tipo unidas porém independentes, inclusive porque o socialmente desejável está condicionado ao economicamente possível (incluindo aí a solução da mendicância e, sobretudo, a ditadura da criminalidade que solta nas ruas e presa em presídios tipo masmorras super lotados…), e isso significa nivelar por cima, como propõe o megaprojeto novo e alternativo de política e de nação, no bojo da Revolução Pacífica do Leão, a nova via política extraordinária, que mostra o novo caminho para o necessário novo Brasil de verdade, confederativo, com democracia direta, meritocracia e Deus na Causa, que tem como impeditivo apenas a “Ilha da Fantasia Brasuca”, sediada em Brasí8lia, há 60 anos, operada à moda plutocracia putrefata com jeitão de cleptocracia e ares fétidos de bandidocracia, forjada, imposta, protagonizada e desfrutada, há 135 anos, pelo militarismo e o partidarismo, politiqueiro$, e seus tentáculos velhaco$, com as suas armações, esquemas, golpes, ditaduras e estelionatos eleitorais, à moda “Triângulo das Bermudas” que, alicerçada na areia movediça da gastança, da comilança e da impostança, consome todos os recursos necessário para fazermos do Brasil um Nação de Primeiro Mundo. Simples assim, pronto, falei e tenho dito. http://www.tribunadainternet.com.br/2025/05/05/sao-paulo-quer-esconder-os-mendigos-para-ter-aparencia-de-primeiro-mundo/#comments

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