Paulo Peres
Poemas & Canções
A publicitária, tradutora, compositora e poeta curitibana Alice Ruiz Scherone explica no poema “Sim” por que todos os seus poemas são de amor, inclusive, quando a vida vira palavra.
SIM
Alice Ruiz
Sim.
Todos os poemas
São de amor
Pela rima,
Pelo ritmo,
Pelo brilho
Ou por alguém,
Alguma coisa
Que passava
Na hora
Em que a vida
Virava palavra.
Tem certeza, minha princesa
Que ritmo, rima e brilho
Transformam o poema em amor?
Que tal esse de Augusto dos Anjos:
Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão – esta pantera –
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
QED (Quod erat demonstrandum)!