Fome recua 16% no Brasil, mas ainda afeta 8,7 milhões de pessoas

Regulamentação tributária desloca debate político para matéria econômica

Haddad entregou projeto de lei complementar ao Congresso

Pedro do Coutto

Finalmente o debate político desloca-se para matéria econômica a partir do projeto do governo de regulamentação tributária do país. O sistema foi bastante simplificado e reduzido, prevendo uma incidência do imposto de forma geral até 27% a ser cobrado no ponto do consumo e não mais na esfera da produção.

Quatro meses após a promulgação da reforma tributária, o governo enviou o primeiro projeto de lei complementar com a regulamentação dos tributos sobre o consumo. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, entregou a proposta ao presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira  no início da noite de quarta-feira.

PREVISÃO – A proposta prevê alíquota média do Imposto sobre Valor Adicionado (IVA) de 26,5%, podendo variar entre 25,7% e 27,3%, informou o secretário extraordinário da Reforma Tributária, Bernard Appy. Atualmente, os bens e os serviços brasileiros pagam, em média, 34% de tributos federais, estaduais e municipais.

Com 306 páginas e cerca de 500 artigos, o projeto de lei complementar precisa de maioria absoluta, 257 votos, para ser aprovado. Em pronunciamento no Salão Verde da Câmara dos Deputados, Haddad disse ter recebido o compromisso de Lira de votar a proposta no plenário da Casa até o recesso legislativo do meio do ano, previsto para a metade de julho. Segundo Haddad, a alíquota média pode ficar menor que os 26,5% estimados porque o sistema tributário brasileiro será completamente digitalizado, o que coíbe fraudes e aumenta a base de arrecadação.

É claro que os interesses diversos ocorrerão, mas de qualquer forma avança-se num campo difícil de se focalizar dada a multiplicidade das situações. O volume da matéria, por si só, mostra que haverá espaço para muitas discussões e debates, começando uma nova etapa política. O objetivo é aumentar a receita pública. Caminhemos agora para um debate que não se refere aos aspectos fisiológicos apenas e sem maior profundidade.

ADIAMENTO –  Enquanto isso, o presidente do Congresso, senador Rodrigo Pacheco, adiou a sessão marcada para apreciar os vetos do presidente Lula que estão em aberto. O adiamento foi para beneficiar o governo, uma vez que os vetos corriam o risco de serem derrubados, pois a disposição da maioria dos deputados e senadores  corre nesse sentido.

O adiamento não agradou ao deputado Arthur Lira, presidente da Câmara. O problema do relacionamento do governo com o Legislativo prossegue e agora um grupo de aliados do Executivo tenta levar ao presidente Lula a hipótese da entrada do vice-presidente Geraldo Alckmin na articulação política do governo. Trata-se de uma reação ao modo de atuar do ministro Alexandre Padilha que, como já ficou bastante claro, não agrada os parlamentares.

Padilha, entretanto, está sendo criticado de forma exagerada, pois a ação que desenvolve exige atendimento concreto à grande parte das reivindicações que se chocam com os programas essenciais do governo. Aí a situação se complica e surge a insatisfação. Não sei se a entrada de Alckmin poderá resolver e dar sequência efetiva a um diálogo permanente entre a base de sustentação do governo no Congresso com a realidade dos fatos.

Lula recua e assume posição defensiva em relação ao Congresso

Charge do Izanio (instagram.com)

Pedro do Coutto

Depois dos desentendimentos entre Arthur Lira e Alexandre Padilha,a impressão que se tem é que o episódio de confronto está superado, sobretudo porque o presidente Lula assumiu uma posição defensiva em relação ao Congresso, e isso aliviou sensivelmente a atmosfera que fora criada em função das verbas orçamentárias, entre as quais as impositivas para os estados moverem recursos  à sua vontade.

Arthur Lira, por sua vez, em uma entrevista a Pedro Bial, na TV Globo, reconhece que os atritos são superáveis, e naturalmente ficou satisfeito com as afirmações de Lula ao dizer que depende muito mais de Lira do que o contrário.

INSTABILIDADE – Na entrevista, o presidente da Câmara dos Deputados negou que contribua para gerar qualquer instabilidade para o governo Lula, destacando, no entanto, que há falhas na articulação política do governo, que precisam ser resolvidas. “Não sou antagonista de ninguém”, disse.

Lira reconheceu que não utilizou termos corretamente em suas divergências com o ministro das relações institucionais de Lula, Alexandre Padilha: “A gente vai tratar isso com muita cautela. Eu não tenho como fazer, palavras ditas estão ditas, eu poderia ter adjetivado melhor ou pior, sou humano. Mas pra mim política tem que ser reta, nada em off, nada por trás, nada de vazamentos”, afirmou.

PAUTA-BOMBA – Lira destacou ainda que nenhuma pauta-bomba (que são os projetos que aumentam o gasto com prejuízos ao ajuste fiscal) foi tratada pelos deputados. “Qual pauta-bomba foi plantada? Qual instabilidade para um governo ou para outro? Não há nenhum governo desde que eu cheguei à Câmara que tenha tido melhores condições para governar o país do que as dadas por nós”, afirmou.

Por fim, ao que tudo indica, vira-se uma página da política em seu sentido menor que é o da troca de favores, mas que parece ter se tornado inevitável tanto por parte de Lula quanto de Lira. Falta falar, evidentemente, do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, mas este não parece disposto a criar dificuldades ao Orçamento da União.

Lula contribui para fortalecer as pressões do Legislativo sobre o Planalto

Lula busca recuperar a popularidade em queda nos últimos meses

Pedro do Coutto

Ao afirmar que depende mais de Artur Lira e de Rodrigo Pacheco do que os presidentes da Câmara Federal e do Senado dependem dele, surpreendentemente Lula contribuiu para fortalecer ainda mais as pressões do Legislativo sobre o Planalto em matéria de verbas públicas e emendas parlamentares para obras indicadas pelos deputados e senadores.

Ao mesmo tempo, Lula disse que os ministros precisam conversar mais com os parlamentares, ou seja, abrir o caminho para o abastecimento de verbas para os políticos, tornando assim ainda mais forte uma situação de dependência do Executivo que é prejudicial ao seu próprio governo.

POPULARIDADE – Lula, reportagem de O Globo, ao mesmo tempo, visando recuperar a popularidade em queda nos dois últimos meses, através de Medida Provisória estendeu crédito para pequenas empresas através de linhas específicas. O presidente da República aconselhou ainda o ministro Fernando Haddad a não ler mais um livro e sim conversar com as lideranças do Congresso Nacional.

A declaração soa como um toque de humor, mas no fundo funciona para legitimar ainda mais a ofensiva por verbas públicas. Tem-se a impressão de que o governo encontra-se abalado pelos índices das últimas pesquisas do Ipec e do Datafolha. Concretamente, ele deveria partir para uma ofensiva à base de projetos econômicos e sociais que se encontram adormecidos, pois caso contrário não dependeria de pressões parlamentares, fazendo a sua atuação assegurar efetivamente os efeitos para a sua popularidade.

CRISES – As pesquisas do Ipec e do Datafolha apresentaram também os pontos que geram as crises no governo. Qualquer governo enfrentará sempre pressões desse tipo, mas o problema está na capacidade de evitá-los ou de resolvê-los prontamente. Como se vê agora, a atuação nos setores citados não tem sido das mais rápidas e eficientes.

O próprio Lula na busca de resultados cobrou maior engajamento dos ministros em suas atuações com o Congresso. A solução destina-se também a refletir-se na classe média com os programas resultantes do financiamento para bens de consumo e liberação de créditos.

Controle da inflação é avaliado como “ruim ou péssimo” por 46% dos brasileiros

Somente educação é avaliada positivamente neste governo

Pedro do Coutto

A inflação, a segurança pública e a saúde, revela a pesquisa do Ipec publicada na edição de ontem de O Globo, foram fatores apontados como os maiores problemas para o presidente Lula da Silva. A atuação do governo nessas áreas deixa a desejar, enquanto na educação a posição governamental não é ruim. Sem dúvida, o presidente da República precisa dar mais atenção a esses três setores dentro do seu projeto de recuperar a popularidade perdida nos meses iniciais do seu mandato.

Entre as questões que despertam mais críticas, destaca-se a inflação. A pesquisa mostra que 46% julgam as medidas do governo para conter o aumento dos preços como ruins ou péssimas. O valor é o dobro do percentual que acredita que a atuação é boa ou ótima (23%).

PRODUTOS MAIS CAROS – A despeito de a inflação oficial acumulada nos últimos 12 meses (de 3,93% até março) estar abaixo do teto da meta, a percepção de que serviços e produtos estão mais caros permeia todos os estratos da população. Dentre os mais ricos, que ganham acima de cinco salários mínimos por mês, 59% acham que o governo vai mal no controle da inflação. A taxa é menor entre os mais pobres (37%), mas mesmo nesse grupo a insatisfação também supera o percentual dos que veem um “bom” ou “ótimo” desempenho do governo.

Os resultados também mostram que a avaliação é negativa com relação à segurança pública e à saúde. Os dados apontam que 42% consideram a atuação do governo como ruim ou péssima em ambas as áreas. O levantamento foi realizado entre os dias 4 e 8 de abril, com 2 mil pessoas. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

ELEIÇÕES – Os dados da pesquisa são importantes, inclusive, para os candidatos às eleições municipais deste ano, pois os problemas não solucionados ou para os quais, segundo a população, não são alvo correto de acertos do governo, acendem um sinal de alerta para o Executivo.

Nem todos os problemas focalizados aqui, como o da segurança pública, dependem mais diretamente do governo federal. Mas, o importante é que a sociedade brasileira não vê distinção entre o governo de Brasília e os governos estaduais. Portanto, seria importante para o governo Lula reunir-se com os governadores para tratar do tema, fixando metas e novas diretrizes de combate à criminalidade que está correndo solta em centros urbanos e em áreas do interior.

Não é possível que o governo apenas assista à divulgação dos crimes praticados no país. A sociedade espera que o presidente dê grande ênfase à questão que atinge o seu prestígio e a segurança de todas as pessoas.

Ipec: novos resultados aferidos se somam a desgastes para o governo Lula

Educação é a única área da gestão com saldo positivo na avaliação

Pedro do Coutto

Pesquisa do Ipec revela um desgaste do presidente Lula em vários setores sob a sua administração. Importante é o sinal de alarme no convés do governo, sobretudo porque um dos setores que gera mais reclamações é o de alimentação.

Era esperado, pois a questão do consumo de alimentos é fundamental uma vez que acarreta um desembolso diário da população, sobretudo a mais carente, sem que os seus rendimentos avancem na mesma proporção. É preciso que o governo atente para esse aspecto e não fique apenas no debate sobre déficit zero sem levar em consideração a questão da fome.

QUEDA – Quase dois meses após a pesquisa Ipec mostrar que a avaliação positiva (soma de “ótimo e bom”) para o governo do presidente Lula da Silva caiu cinco pontos percentuais e chegou a 33%, novo levantamento do instituto, divulgado neste domingo, revela que o cenário segue desanimador para a gestão de Lula.

Além da baixa popularidade, o Ipec aponta que entre oito áreas da gestão de Lula, apenas uma, a educação, tem mais avaliações positivas que negativas. A população se mostrou preocupada e descontente especialmente com o controle da inflação e a condução das políticas de saúde e segurança pública.

Quando se trata do quesito “controle da inflação”, a população se demonstrou fortemente insatisfeita. Para 46% dos entrevistados pela pesquisa, o Palácio do Planalto tem atuação ruim ou péssima nesse quesito. Enquanto isso, com altas frequentes nos preços dos alimentos, somente 23%, consideram o controle da inflação bom ou ótimo e 27% avaliam como regular.

RECUPERAÇÃO – O desgaste do governo Lula viabiliza a possibilidade de formação de um panorama a ser percorrido pelos adversários com vistas às eleições de outubro. É possível que o governo recupere até lá parcelas do eleitorado, mas o que está causando insatisfação revelada pelo Ipec é a falta de cumprimento das promessas de campanha  que levaram Lula à vitória nas urnas.

Agora, novamente o problema se coloca e há divisões partidárias em vários pontos, afastando o PT de outras siglas na disputa como é normal em política. Em vários estados verifica-se que, por exemplo, o Psol tem uma posição e o PT outra. Realmente é um fator que deve preocupar o governo, inclusive porque na campanha municipal a linguagem utilizada não é uniforme como na presidencial.

Após as urnas, cabe ao governo recompor o que foi abalado ou destruído. Mas o problema fundamental continua o mesmo, que é a questão da recuperação do governo como um todo, indo ao encontro da sociedade e cumprindo metas indispensáveis.

Extrema pobreza atinge menor nível já registrado, mas ainda há muito para se fazer

16,9 milhões de pessoas ainda vivem na miséria

Pedro do Coutto

O governo divulgou, edição de O Globo de ontem, que o avanço generalizado nos rendimentos médios dos brasileiros em 2023, que foi mais forte entre os mais pobres, levou a miséria ao menor nível da história, apontam cálculos do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas (FGV Social).

Ano passado, 8,3% da população, ou 16,9 milhões de pessoas, estavam abaixo da linha de extrema pobreza. Em 2022, 9,6% da população estava na condição de extrema pobreza, o equivalente a 19,5 milhões de brasileiros, segundo cálculos feitos a partir de dados da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios Contínua (Pnad-C), divulgados nesta sexta-feira, pelo IBGE.

DESIGUALDADE – É necessário, porém, destacar que a desigualdade entre as faixas de renda continua. A extrema pobreza refere-se aos que passam fome, e na minha opinião acho que a queda desta não se mantém na realidade, pois dizer que o Bolsa Família alavancou faixas de pobreza para um patamar melhor é uma afirmação que gera dúvidas.

Mas, aceitando a informação publicada, verifica-se que ela é completada por um avanço da distribuição de benefícios governamentais. Não está assim transferindo renda, mas sendo abastecida por recursos financeiros da União. Dessa forma, identifica-se que não houve avanço entre uma transferência de renda do capital para o trabalho, pois no caso trata-se da transferência de recursos públicos para socorrer quem tem fome.

ATENDIMENTOS – A iniciativa é positiva, pois estamos diante de um quadro em que milhões de pessoas estão na faixa de extrema pobreza, o que implica em outros atendimentos essenciais que ainda não são vistos efetivamente. Para reduzir os problemas, seria necessário um acesso muito maior ao sistema de empregos. Verificar um número tão alto de pessoas nessa situação afeta profundamente o sentimento humanístico. Não há motivo ainda para comemorarmos de fato, embora tenhamos tido um avanço.

O problema maior, entretanto, é a dívida social. A população encontra-se mergulhada numa série de outras faces que aguardam soluções, como as questões do saneamento, do abastecimento de água, do atendimento médico, da educação, da segurança, entre outros. É preciso ver através dos números a realidade diária dessa imensa parcela da sociedade brasileira que merece uma vida digna e com acesso aos serviços públicos.

O salário médio, por exemplo, é muito baixo. Esse dado é muito importante, mais até do que a renda per capita, pois essa inclui todos os rendimentos divididos pela população. O problema, no fundo, é a distribuição de renda. Um tema que se repete, mas que agora ganha aspectos essencialmente relevantes.  O problema é um desafio para o governo e para todo o país.

Governo libera R$ 2,4 bilhões para atender senadores e deputados

Charge do Jorge Braga (opopular.com.br)

Pedro do Coutto

O presidente Lula enfrenta pressões parlamentares que têm interesse nas elevações dos gastos atingindo assim o planejamento traçado pelo governo. É claro que os deputados e senadores estão forçando a liberação de recursos de acordo com as00 obras que pretendem realizar para benefício próprio e de seus apadrinhados, sobretudo em ano de eleições.

Nesta semana, o governo Lula autorizou os repasses de emendas parlamentares que totalizam R$ 2,4 bilhões. Os pagamentos atendem principalmente a pedidos feitos por senadores e deputados federais mais próximos ao governo. Entre os beneficiados está o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, que recebeu R$ 24 milhões do valor das emendas. O presidente da Câmara, Arthur Lira, que recentemente fez críticas ao ministro Alexandre Padilha, das Relações Institucionais, não recebeu emendas até o momento.

RECORDE – O valor liberado pelo governo federal é o recorde do ano e chegará diante de votações importantes que passarão pelo Congresso. Entre elas, a votação no Senado do dispositivo já aprovado na Câmara que antecipa a expansão do limite de gastos de 2024, dando uma despesa extra calculada em R$ 15,7 bilhões. A votação dos vetos presidenciais também estará marcada para as próximas sessões.

As emendas parlamentares são garantidas para todos os deputados federais e senadores, mas costumam ser utilizadas como moeda de troca entre o governo e o Legislativo. Cada deputado tem direito a R$ 37,9 milhões anualmente e cada senador tem direito a R$ 69,6 milhões que devem ser investidos em seus estados.

SOLUÇÃO – Tenho a impressão de que o problema é de solução trabalhosa, mas não impossível. É importante considerar que é preciso reduzir os gastos dos parlamentares com as emendas e ajustá-las aos programas que estão na própria pauta governamental. O que não pode haver é uma rebelião de deputados e senadores em função do déficit zero que o governo quer alcançar.

Os obstáculos devem ser transpostos, mas a repercussão na opinião pública é grande. A responsabilidade do governo é maior ainda. Afinal, se abandonar o teto de gastos a inflação poderá voltar a ultrapassar as metas pré-estabelecidas. Enfim, governar é articular os interesses e conduzi-los para um patamar capaz de torná-los viáveis sem a abertura de gastos extraordinários.

Confronto entre o Congresso e o Supremo provoca reflexos no governo Lula  

Charge do J. Bosco (oliberal.com)

Pedro do Coutto

O confronto entre o Congresso e o Supremo Tribunal Federal tem se refletido no governo Lula  na medida em que a derrubada de matérias julgadas pela Corte Suprema transformam-se em matérias constitucionais. Até a saidinha de presos de bom comportamento em datas festivas também se transformou em matéria da Lei Maior. O Congresso está usando a derrubada de veto do presidente Lula para impor as suas disposições em questões de conteúdo pouco relevantes, mas que custam recursos financeiros ao governo e sobretudo o enfraquecem junto à opinião pública.

A temperatura na Praça dos Três Poderes assim se eleva. Como consertar isso, não se sabe, pois o Congresso está fazendo pressão para obter decisões que beneficiem correntes nele representadas. A articulação política do governo com o Legislativo, por sua vez, não é das melhores. Assuntos surgem e são imediatamente colocados numa tabela de interesses do Poder Legislativo, invadindo atribuições do Executivo.

DIVISÃO –  O problema de conteúdo é fundamental. Ele abrange e até supera a capacidade de legislar, pois não se pode compreender que o Legislativo assuma poderes do Executivo e também do Judiciário. Afinal,se existem Três Poderes é porque uma divisão precisa ser estabelecida. Atravessar esses limites é uma questão complexa. Só o espírito público poderá resolver. A lógica está faltando no debate político do país, especialmente na área do Legislativo.

No meio dos problemas que se desenrolam, surge agora uma negociação absurda com empresas que foram multadas pelo processo da Lava Jato, inclusive negociando o pagamento de dívidas relativas às multas. As organizações atingidas reconhecem as suas participações nas ilegalidades, mas agora desejam agora um desconto de 50% na área financeira que totaliza R$ 4 bilhões, segundo se calcula.

Não sei de onde surgiu essa negociação, mas só o fato dela girar no cenário de ações judiciais, ultrapassam os acordos na ocasião. As empresas desejam essa redução sob a alegação de que a dívida como está hoje choca-se com a realidade inflacionária do país. São absurdos que ocorrem no Brasil, demonstrando a fragilidade institucional.

Governo já contabiliza mais uma derrota, no PL das saidinhas

Governo Lula propõe trocar superávit por déficit zero em 2025

Governo tem tido dificuldade em fechar as contas e elevar receita

Pedro do Coutto

O presidente Lula da Silva adiou o déficit zero nas contas governamentais para 2025 e o ajuste fiscal vai para 2026, o que equivale dizer que ficou para o seu sucessor. Talvez seja ele próprio, uma vez que já afirmou que deve se candidatar à reeleição. A proposta anterior previa superávit de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) para o ano que vem e foi alterada menos de um ano depois de ter entrado em vigor o novo arcabouço fiscal. Também foi mantida a meta de zerar o déficit em 2024.

A modificação da previsão ocorre diante da dificuldade do governo federal em fechar as contas públicas e elevar receita, mas também abre espaço fiscal para a realização de mais gastos públicos em 2025 e 2026. Nesse sentido, a alteração demonstra fragilidade do arcabouço fiscal.

METAS FISCAIS – Pela regra que substituiu o teto de gastos, há uma banda de 0,25 ponto percentual do PIB para cima ou para baixo, e com isso, as contas públicas podem ter um resultado deficitário, ou superavitário, sem que as metas fiscais sejam descumpridas. O secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, justificou que o arcabouço não está sendo descumprido. Ele também ressaltou que o país não pode adotar medidas de renúncia de receita, sem compensação.

A questão deve ser vista com realismo, pois como Fernando Canzian escreveu na edição de segunda-feira na Folha de S. Paulo, o custo da dívida interna do país no ano passado foi de R$ 718 bilhões, resultado da incidência da taxa Selic sobre o total do endividamento.

REFLEXÃO – O cálculo conduz a uma reflexão contábil que indica que não está computada a despesa com a rolagem da dívida. Portanto, todos os anos teremos que enfrentar um déficit real muito grande. A realidade monetária precisa ser exposta e analisada friamente para que a opinião pública não seja iludida. O

Ao fixar o déficit zero para o próximo ano, o governo sinalizou que este ano, em vez de superávit, terá um cenário que exigirá o desembolso fiscal. A execução do orçamento, se for realizada com êxito, poderá zerar a diferença. Mas é preciso firmeza na execução do programa e na divulgação das contas.

Com o caso da atriz pornô, começam os julgamentos de DonaldTrump

Promotoria de NY afirma que Trump maquiou o pagamento

Pedro do Coutto

Nesta segunda-feira, nos Estados Unidos, começou o julgamento do ex-presidente Donald Trump pelo Tribunal de Nova York por acusação de suborno a uma atriz do cinema pornográfico para que não revelasse o relacionamento íntimo que mantiveram.

Trump será o primeiro ex-presidente da história americana a enfrentar a justiça criminal. O republicano foi intimado a comparecer a uma audiência para responder um processo sobre o pagamento de US$ 130 mil à ex-atriz pornô Stormy Daniels, a fim de comprar o silêncio dela sobre um relacionamento extraconjugal e proteger a campanha eleitoral de 2016, quando venceu a democrata Hillary Clinton.

ACUSAÇÃO – O empresário não foi acusado pelo pagamento em si, mas por disfarçá-lo como despesas legais da Organização Trump, o que pode resultar em uma pena de até quatro anos de prisão. Trump é acusado de 34 falsificações de documentos contábeis da Organização Trump para camuflar como “despesas legais” os pagamentos feitos a Stormy Daniels, que foram adiantados com dinheiro do então advogado e homem de confiança do ex-presidente, Michael Cohen.

O que impressiona na questão é que esse processo é mais um entre muitos que Trump responde por uma série de infrações que bateriam de frente com a legislação americana. Nova York é um tribunal mais duro para Trump e ele tenta sair-se bem do episódio, mas dezenas de outras ações o aguardam e que podem atrapalhar a sua campanha nas eleições de novembro.

LEGISLAÇÃO – A pergunta que se faz é se ele ficará inelegível ou não se for condenado pela Corte de NY. A legislação americana não prevê especificamente casos de inelegibilidade, mas isso não significa que alguém possa sair ileso de um processo muito ruim para poder livremente disputar a Presidência do país. Não faz sentido.

Os direitos não podem se confundir. Caso contrário, não haveria diferença entre candidaturas. A não existência de legislação específica não significa imunidade total para quem infringe pontos legais numa situação inédita na história dos Estados Unidos, de forma que mesmo que seja condenado pela justiça de Nova York, Trump poderá realizar a sua campanha livremente.

Uma contradição se coloca. Se alguém sem processo algum ou sem responder à justiça pode ser candidato, é difícil achar que um candidato que age de forma contrária, infringindo leis e a ética do país, possa transitar livremente à sua disposição para enfrentar as urnas. É importante considerar o abalo que poderá alcançar tanto para a democracia americana quanto para a ética.

O mundo em alerta máximo, após ataque iraniano a Israel

Explosões iluminam o céu de Jerusalém durante o ataque iraniano

Pedro do Coutto

O mundo novamente está sob mais uma nova tensão, consequência do conflito entre o Irã e Israel. O ataque lançado pelo Irã neste sábado contra Israel abalou o Médio Oriente, uma vez que, embora ambas as nações sejam inimigas declaradas, houve sabotagem mútua e Teerã comemorou o ataque realizado pelo Hamas em outubro do ano passado. No entanto, a escalada não pegou de surpresa Israel ou as potências internacionais, que aguardavam a resposta das forças iranianas ao ataque de 1º de Abril atribuído a Israel contra o edifício do consulado iraniano em Damasco, na Síria.

Sete membros do Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica foram mortos na ofensiva aérea.O ataque foi considerado o maior do tipo contra alvos iranianos desde que o então presidente dos EUA, Donald Trump, deu aval à operação que matou de Qassem Soleimani, chefe da Unidade de Força Quds do IRGC, em Bagdá, em 2020.

APOIO – O reflexo mundial neste momento é muito grande, levando os Estados Unidos a declararem apoio ao governo de Tel-Aviv, o que pode forçar a um posicionamento do governo Putin ao lado do Irã. Ao expressar forte condenação pelo ataque, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse que “ajudamos Israel a derrubar quase todos” os mísseis e drones.

“O Irã e os seus representantes que operam a partir do Iêmen, Síria e Iraque lançaram um ataque aéreo sem precedentes contra instalações militares em Israel”, disse Biden.

O conflito agora inclui ataques isolados de drones e de bombas que atravessam o espaço. Impressionante como o mundo não consegue viver em paz. Não há um dia em que não exista uma guerra, provocando mortes e destruição. Vejamos qual será o posicionamento do governo brasileiro na ONU diante do conflito que acarreta sem dúvida um ameaça à própria humanidade.

‘Só por teimosia, Padilha vai ficar muito tempo’, diz Lula após críticas de Lira

Lula elogia atuação de Padilha na articulação política

Pedro do Coutto

Os ataques do deputado Arthur Lira ao ministro Alexandre Padilha ganharam contornos de comédia, levando o presidente Lula a dizer nesta sexta-feira que o ministro das Relações Institucionais permanecerá no cargo “só por teimosia”. A fala do presidente acontece após críticas feitas pelo presidente da Câmara que chamou Padilha de “incompetente” depois de ser questionado por jornalistas sobre a votação na Câmara que manteve a prisão do deputado Chiquinho Brazão.

Nos bastidores, parlamentares dizem que Lira ficou contrariado com o que considerou ser uma interferência do governo, sobretudo de Padilha, na análise pela Câmara da situação de Brazão. Padilha disse, publicamente, que o governo orientaria pela manutenção da prisão. Em um evento no Rio de Janeiro, o ministro de Lula se defendeu. Questionado sobre a fala de Lira, Padilha disse que não desceria “a esse nível” e que seguirá atuando sem “rancor”.

ATO – “O único ato que fizemos durante a votação desse tema foi afirmar que o governo defendia a prisão desse parlamentar que [foi preso], a partir de um processo de investigação de seis anos, com uma atuação forte do ministro Flávio Dino e do ministro Ricardo Lewandowski no governo do presidente Lula”, disse Padilha.

Paralelamente, a declaração de Lula em defesa de Padilha, dada durante a inauguração da sede da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores, em São Paulo, deixa clara uma desarticulação entre as forças políticas. Governistas têm receio de que a crise entre Padilha e Lira atrapalhe a votação de propostas de interesse do Executivo

Apesar de vitorioso em votações, como acabou sendo no caso do deputado Chiquinho Brazão, o Planalto não está numa situação confortável em relação à maioria no Congresso. Os problemas fundamentais estão sendo esquecidos enquanto os confrontos se deslocam para o campo do humor.

Governo prepara medidas para liberar recursos para o financiamento habitacional

Objetivo é criar fonte de recursos alternativa ao FGTS

Pedro do Coutto

Importante, sem dúvida, o projeto anunciado pelo governo de investir maciçamente no projeto de casa própria, “Minha Casa, Minha Vida”, incluindo a participação nas carteiras de crédito de bancos que possam representar algum problema no financiamento para as pessoas físicas em função dos juros cobrados.

O governo vai usar a estatal Emgea (Empresa Gestora de Ativos) para aumentar o crédito imobiliário – uma promessa do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. O Tesouro fará aporte de R$ 10 bilhões na empresa para compra de carteiras de financiamento imobiliário dos bancos.

COMPULSÓRIO – Além disso, o governo quer reduzir o compulsório da caderneta de poupança, que é o dinheiro que precisa ficar depositado no Banco Central sem poder ser usado pelas instituições financeiras. A proposta é destinar o recurso liberado para o financiamento de moradia. As medidas têm potencial para injetar no mercado R$ 300 bilhões, segundo técnicos a par das discussões.

O investimento em programa de habitação é fundamental, pois além de representar uma absorção de mão-de-obra na construção de novas unidades, reflete também a liberação do pagamento de aluguel através do tempo e que se constitui numa evasão de recursos. Muitas vezes as famílias não têm condições de suportar as despesas da locação de imóveis. Basta ver o reajuste anual através do IGP-M que no governo atual tem avançado pouco, mas que avançou muito no governo Bolsonaro.

Com investimentos no setor de habitação, uma parte será destinada evidentemente para o saneamento. Além disso, surgem também investimentos nas próprias comunidades. Os recursos serão gradativamente liberados e substituirão a oferta de créditos particulares pela capitalização estatal. O déficit de moradias é muito grande, podendo ser estimado em cerca de 10 milhões de residências, o que fará com que diminua em consequência a violência urbana num percentual expressivo e importante. Vejamos como serão aplicados os recursos a partir do projeto.

EMBATE –  Na esfera política do governo, continuou o embate entre o deputado Arthur Lira e o ministro Alexandre Padilha. O desentendimento teve início numa opinião do ministro sobre votação da Câmara no caso de Chiquinho Brazão. Alexandre Padilha observou um esforço de bastidores para livrar Brazão da prisão estabelecida.

O presidente da Câmara dos Deputados criticou nesta quinta-feira o ministro de Relações Institucionais e disse que Padilha é um “desafeto pessoal” e “incompetente”. Lira deu a declaração ao ser questionado por jornalistas, em evento no Paraná, se a decisão da Câmara de manter a prisão do deputado Chiquinho Brazão indica um possível enfraquecimento da liderança dele na Casa.

VAZAMENTO – “Essa notícia foi vazada pelo governo, basicamente do ministro Padilha, que é um desafeto, além de pessoal, e incompetente. Não existe partidarização. Eu deixei bem claro que a votação de ontem é de cunho individual, cada deputado é responsável pelo voto que deu. Não teve um partido que fechasse questão”, afirmou.

Mas o fato é que entre Padilha e Lira a desavença tem precedentes e ambos têm problemas políticos que geraram inclusive a acusação feita por Lira de que o ministro da articulação política é incompetente. O fato não chega ser um problema muito grave para o governo, mas é sempre uma questão a ser equacionado buscando a estabilidade do quadro atual.

Aprovação de governadores de oposição vai de 62% a 86%, diz Quaest

Situação de emergência: Articulações do crime abalam a sociedade

Cidadãos rendidos à espera de ação de governantes

Pedro do Coutto

As reportagens publicadas ontem pelo O Globo, Folha de S.Paulo e Estado de S. Paulo revelaram a profundidade através da qual o crime organizado está se infiltrando nas atividades tanto privadas quanto estatais. É o resultado de uma articulação entre as milícias e o esquema político formado até por parlamentares cujas bases eleitorais dependem em grande parte de ações definidas.

É o resultado também da legislação recente que permite a aquisição de armas por parte de quem não tem direito. O poder dos criminosos com isso é ampliado e os resultados estão aí no dia a dia dos centros urbanos com índices muito acima dos padrões. Os tiroteios nas comunidades se multiplicam e inocentes perdem a vida absurdamente enquanto o crime avança em sua proporção.

ILEGALIDADE – A revisão dos critérios para a aquisição de armas está surtindo efeito no atual governo, mas existe um acúmulo de armamentos que ainda precisa ser desmantelado, pois é por aí que se amplia o poder do tráfico, das milícias e dos todos os que atuam na ilegalidade, incluindo a extorsão e a imposição de presença.

Impressiona o silêncio das autoridades através dos últimos anos. Uma aceitação que decorre de do imundo produto do crime que produz bandidos na base de perspectiva de lucros em dinheiro. O governo federal, os governos estaduais e também as Câmaras de Vereadores devem se unir à Polícia Federal num esforço concentrado, uma vez que a situação é de emergência. Basta ver as mortes de adolescentes que ocorrem nas áreas onde tiroteios são frequentes.

CAMPANHA – A cada dia o problema se agrava em pontos urbanos cuja presença do crime é mais evidente e até mais transparente. É também essencial uma campanha publicitária contra o uso de drogas. A tarefa exige um prazo, mas isso não quer dizer que não deva ser colocada em prática imediatamente.

Aliás está sendo, mas é preciso que o cerco se aperte ainda mais contra as fontes de consumo e os avanços das extorsões para que as atividades ilícitas venham a cair. A sociedade não suporta mais o que está acontecendo e é preciso colocar-se um basta, pois caso contrário todos estarão sob ameaça.

Lula e Barroso rechaçam declarações e ataques de Elon Musk ao STF

Elon Musk chamou Moraes de ditador

Pedro do Coutto

Foram bastante firmes e sobretudo lógicas as afirmações do presidente Lula e do presidente do Supremo, Luís Roberto Barroso, rechaçando as declarações de Elon Musk sobre a atuação da rede social X no Brasil, independentemente das leis brasileiras. Um absurdo.

Lula disse nesta terça-feira que bilionários do mundo precisam aprender a preservar a floresta, fazendo uma referência (sem citá-lo nominalmente) a Elon Musk, e que nos últimos dias vem fazendo ataques ao ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes e ao atual governo.

FALTA SERIEDADE  – “Hoje temos gente que não acredita que o desmatamento, as queimadas, prejudicam o planeta Terra, e muita gente não leva a sério o que significa manutenção das florestas, da vida no planeta e que não tem para onde fugir. Tem até bilionário tentando fazer foguete, viagem, para ver se encontra lugar lá fora”, afirmou. “Ele [bilionário] vai ter que aprender a viver aqui, utilizar o muito do dinheiro que ele tem para ajudar a preservar isso aqui, melhorar a vida das pessoas”, completou.

Já Luís Roberto Barroso afirmou em nota na última segunda-feiraque o tribunal “atuou e continuará a atuar na proteção das instituições”, e que “toda e qualquer empresa que opere no Brasil está sujeita à Constituição Federal”. A nota foi divulgada após um fim de semana marcado por ameaças do empresário e ataques à Corte Suprema.

DESCUMPRIMENTO –  – Musk usou o próprio perfil no X para dizer que passaria a descumprir ordens judiciais do STF que bloqueiam, no Brasil, o acesso a perfis de investigados por atos antidemocráticos. Em resposta, Moraes incluiu Elon Musk no inquérito das milícias digitais.

Em todos os países em que o sistema funciona tem que ser seguidas as leis locais, caso contrário estaria aberto um grande espaço sem limites, podendo-se divulgar o que quiser, livremente das responsabilidades que envolvem os autores das desinformações.

PUNIÇÃO – O problema promete desdobrar-se em outras etapas porque a empresa de Musk parece não querer recuar após suas declarações. De qualquer forma, a punição a ser aplicada, caso a reincidência se repita, dependerá da justiça brasileira. Mas é preciso sustentar o caráter legal que estabelece limites para as comunicações de forma geral.

Não que não possam ser divulgadas opiniões que contrariem o governo brasileiro. No caso de pessoas físicas, cabe o recurso por parte dessas exigindo o direito de resposta. É mais uma etapa com que o governo Lula se defronta e que marca uma investida de Musk no mercado internacional da comunicação.

Confronto entre Musk e Moraes demonstra que internet não é terra sem-lei

Musk anunciou que liberaria contas que haviam sido bloqueadas

Pedro do Coutto

O confronto envolvendo o ministro Alexandre de Moraes e o bilionário Elon Musk está funcionando para internacionalizar um debate entre a empresa responsável pela rede social X (antigo Twitter) e o governo brasileiro. Claro que o ministro Alexandre de Moraes tem razão, sobretudo porque Musk insinuou que poderia recusar-se a cumprir a decisão do Supremo Tribunal Federal, o que é um absurdo. De fato, a internet não pode se transformar numa terra isolada.

No sábado, Musk anunciou que liberaria contas na rede social que haviam sido bloqueadas por decisões judiciais. Esta decisão pode beneficiar uma série de influenciadores e expoentes do bolsonarismo que estão com seus perfis suspensos, como Luciano Hang, dono da Havan; Allan dos Santos, blogueiro; Daniel Silveira, ex-deputado cassado; Monark, youtuber; e Oswaldo Eustáquio, também blogueiro. Musk alega que as “multas pesadas” aplicadas pelo ministro estão fazendo a rede social perder receitas no Brasil. Por esse motivo, o dono da Tesla ameaça fechar o escritório do X no país.

LIMITES – A constelação de sistemas e limites das redes sociais não deve ser de total liberdade, até porque a liberdade tem os seus limites nos casos em que a lei prevê, como é o caso de direito de resposta às acusações e difamações, injúrias ou calúnias. Não é possível que uma empresa não respeite normas que são tão nacionais quanto internacionais, tal a sua abrangência na área da comunicação e da atividade jornalística.

A base da questão ao lado da legalidade é a legitimidade que funciona como o pilar de sustentação de tudo que se desenrola no universo da internet. A liberdade não pode ser confundida com um instrumento que viole a si mesma ou às leis internacionais. O ministro Alexandre de Moraes mandou sustar fake news e isso não pode ser contestado, pois o contrário seria considerar a desinformação como legítima. O debate vai se estender e não vejo perspectiva de Elon Musk sair vitorioso.

Se alguém noticiar, por exemplo, a prisão ou condenação de outro que não ocorreu, não estará usando o direito de informação, mas deformando a realidade e esse aspecto demonstra que não se pode defender as fake news. No universo envolvendo praticamente um número enorme de países, ocorrem problemas desse tipo e a resposta mais eficaz, na minha opinião, é o direito de resposta imediato. Daí a necessidade de agilidade do sistema, regulado de forma eficiente.

Petrobras e julgamento pelo TRE do Paraná: decisões políticas que marcarão a semana

Julgamento que pode levar à cassação do mandato de Moro

Pedro do Coutto

A semana que se inicia está tomada por duas decisões políticas que podem se prolongar por alguns dias, mas que dificilmente serão adiadas: o caso da permanência de Jean Paul Prates na Presidência da Petrobras e o julgamento pelo Tribunal Regional Eleitoral do Paraná quanto ao mandato do senador Sergio Moro.

A permanência de Prates no cargo pode ser difícil, pois o próprio Lula faz restrições ao presidente da estatal, e isso dificulta qualquer resolução. Falta ao governo unidade sobre as ideias e projetos, daí porque Prates é um ponto que se distancia do contexto e também do consenso.

CREDIBILIDADE – Conforme disse recentemente, se não conseguir substituir Jean Paul Prates, depois que correntes do PT manifestaram o desejo de Aluízio Mercadante no cargo, Lula terá uma perda considerável de credibilidade. Ele se empenha para alcançar índices maiores de popularidade, importantes sobretudo em função das eleições municipais deste ano. Há disputas que são muito relevantes no cenário municipal, mas que se refletem no contexto nacional, a exemplo da Prefeitura de São Paulo e do Rio de Janeiro.

Sobre algumas restrições para a perda do mandato do ex-juiz, essas não aparentam estar bastante consolidadas. Afinal, a projeção pública que Sergio Moro adquiriu veio de sua atuação no processo da Lava-Jato cujas sentenças foram anuladas pelo Supremo Tribunal Federal com base na parcialidade do magistrado. Seja como for, haverá recurso, mas a matéria deverá acabar na Corte Suprema na qual Moro não encontra sinais de apoio.

COMPLEXIDADE – A matéria tem a sua complexidade além da emoção e isso poderá concluir num desfecho possivelmente baseado em caminhos percorridos pelo ex-juiz que abandonou a magistratura para ser ministro da Justiça de Jair Bolsonaro, durando pouco no cargo, após os laços com o então governo terem se desfeito na reunião de 22 de abril de 2020. A passagem de Sergio Moro como ministro da Justiça e Segurança Pública não lhe acrescentou politicamente uma contribuição positiva.

Após se demitir, Moro colocou-se novamente numa situação desconfortável, uma vez que tempos depois encontraria-se com o então presidente da República, assessorando-o no debate das disputas eleitorais contra Lula, apesar de Bolsonaro o ter demitido de seu governo, conforme ficou registrado pela transmissão pela TV Globo. São fatos importantes que irão definir as pautas desta semana em uma nova etapa no quadro nacional.