Paulo Peres
Poemas & Canções
A professora, jornalista e poeta carioca Cecília Meireles (1901-1964), no poema “Noturno”, mostra sofrimento que muitas vezes os sonhos nos trazem, às vezes, noite após noite.
NOTURNO
Cecília Meireles
Suspiro do vento,
lágrima do mar,
este tormento
ainda pode acabar?
De dia e de noite,
meu sonho combate:
vem sombras, vão sombras,
não há quem o mate!
Suspiro do vento,
lágrima do mar,
as armas que invento
são aromas no ar!
Mandai-me soldados
de estirpe mais forte,
com todas as armas
que levam à morte!
Suspiro do vento,
lágrima do mar,
meu pensamento
não sabe matar!
Mandai-me esse arcanjo
de verde cavalo,
que desça a este campo
a desbaratá-lo!
Suspiro do vento,
lágrima do mar,
que leve esse arcanjo meu longo tormento,
e também a mim, para o acompanhar!
1.
A todo miseravel que implora
Para matar a fome que padece
O santo padre oferta de sobra
Solenes e pausadas preces
2.
Há gente de mente cheia
De egoismo inveja e fel
Que bisbilhota a vida alheia
E ainda almeja ir pro céu!
Êta vida sofrida
———————
O carnaval acabou
O surdo emudeceu
O pobre mais pobre ficou
E nos quatro dias choveu
A virgem bailarina
Seduzida virou senhora
E seu Don Juan na surdina
Na quarta-feira foi-se embora