Rebelo espera pedido de desculpas de Moraes, mas isso jamais haverá

Após ameaça de prisão, Aldo Rebelo critica STF: "situação quase sem limite"  - Gazeta da Jurema

Moraes ameaçou mandar prender Aldo Rebelo no STF

Julia Affonso
Folha

O ex-ministro Aldo Rebelo disse que o ministro do STF Alexandre de Moraes tentou intimidá-lo durante audiência da ação penal sobre tentativa de golpe de Estado, na sexta-feira (23). “Na verdade, o que houve ali foi uma tentativa de intimidação de testemunha”, disse Aldo ao UOL. “O juiz pode desconhecer o depoimento, pode não considerar. Agora, como agiu, pressionar testemunha, não.”

Moraes ameaçou prender Aldo durante o depoimento. O fato ocorreu após o ex-ministro dos governos Lula e Dilma Rousseff responder a um questionamento do próprio ministro do STF. Aldo é testemunha de defesa do ex-comandante da Marinha Almir Garnier no processo.

PEDIR DESCULPAS – “Acho que [Moraes] deveria pedir desculpas”, disse neste sábado (24) ao UOL. “Talvez, não quisesse fazer isso na hora, mas k          que teria sido dita por Garnier ao ex-presidente Bolsonaro na reunião com os comandantes das Forças Armadas em novembro de 2022.

Garnier falou em “colocar as tropas à disposição”, o que é um dos principais pontos da denúncia contra Bolsonaro. Ex-comandantes do Exército e da FAB (Força Aérea Brasileira) afirmaram que ele foi o único dos chefes das Forças Armadas a sinalizar apoio ao plano golpista. A defesa dele tenta contestar essa versão.

Aldo foi interrompido por Moraes. O ministro questionou se ele havia presenciado a reunião dos comandantes militares com Bolsonaro. Ele negou. Moraes mandou que ele tratasse apenas dos fatos.

SEM CENSURA – Na sequência, Aldo respondeu: “Eu não admito censura”. Moraes mandou que ele se comportasse, caso contrário, seria “preso por desacato”.

Após o diálogo tenso, a defesa de Almir Garnier retomou os questionamentos e não voltou mais para a discussão sobre a expressão. Ao final, Aldo respondeu à pergunta da defesa do militar e explicou como funciona a cadeia de comando na Marinha.

Moraes em seguida pediu que a audiência transcorresse de maneira regular. Ele disse que respeitava o advogado de Garnier, Demóstenes Torres, e exaltou o currículo de Aldo após a pergunta da defesa se a Marinha sozinha possuía condições de dar um golpe de Estado.

LER NA IMPRENSA – “Não há conhecimento técnico para saber se a Marinha sozinha consegue dar um golpe de Estado. Aldo Rebelo é historiador e inteligente, ele sabe, por exemplo, que em 64 não precisou de toda a cadeia de comando para dar o golpe de Estado. Por favor, doutor Demóstenes, tenho o maior respeito pelo senhor, mas vamos levar isso com regularidade.”

O procurador-geral Paulo Gonet também chamou a atenção de Aldo Rebelo. “Quem faz as perguntas são os advogados e o procurador.”

O ex-ministro da Defesa chegou a comentar que tinha interesse nos fatos, ao que o Moraes encerrou o assunto. “Se o senhor quer saber, depois o senhor vai ler na imprensa.”

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Rebelo precisa esperar sentado, porque Moraes é do tipo de gente que nunca pede desculpas, porque acha (?) que jamais erra. Ele é teatral e se julga um deus ex-maquina.  (C.N.)

Ala do Supremo admite fazer acareação entre militares sobre o plano de golpe

Ex-comandante da FAB confirma ameaça de prisão de Bolsonaro por Freire Gomes  | Brasil 247

Há contradições nos depoimentos dos ex-comandantes

Basília Rodrigues
da CNN

Diante de inconsistências no depoimento dos ex-comandantes do Exército, Freire Gomes, e da Aeronáutica, Carlos Baptista, ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) passaram a admitir a possibilidade de fazer uma acareação entre os oficiais.

O relato dos dois militares impacta diretamente na defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), do ex-ministro da Justiça, Anderson Torres, e do ex-comandante da Marinha, Almir Garnier, que são réus no processo da trama golpista.

SE HOUVER CONSENSO – À CNN, dois integrantes da Corte afirmaram que a acareação pode ser adotada, mas somente se houver consenso entre o ministro relator, Alexandre de Moraes, e a Procuradoria Geral da República (PGR).

Para auxiliares do STF, apesar das controvérsias das testemunhas, Moraes teria ficado satisfeito com os depoimentos, porque não houve mudança de versão quanto às acusações principais, como sobre a existência de um plano de golpe em andamento.

Freire Gomes negou que tenha ameaçado voz de prisão a Bolsonaro. Baptista, no entanto, afirmou que isso ocorreu. O ex-comandante da Aeronáutica também disse não ter mais certeza da participação do ex-ministro da Justiça em um dos encontros que constam na ação penal do golpe.

Só agora caiu a ficha em Brasília sobre a possível sanção dos EUA a Moraes

Alexandre de Moraes delira e ameaça proibir redes sociais, se não respeitarem a lei - Blog do B.Silva

Charge do Marco Jacobsen (Arquivo Google)

Deu na CNN

A possibilidade de sanções dos Estados Unidos ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), já é uma possibilidade vista como real em Brasília, segundo o analista político Leonardo Barreto.

Em entrevista ao programa WW nesta sexta-feira (23), o sócio da consultoria Think Policy afirmou que “caiu a ficha” em Brasília sobre o risco de aplicação da medida.

JOGO DE XADREZ – Barreto destacou que as autoridades brasileiras começam a perceber que a movimentação de líderes bolsonaristas nos EUA, especialmente do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-RJ), não se trata apenas de “bravata”.

“Existe agora um jogo de xadrez”, explicou o analista, referindo-se às declarações do secretário de Estado americano, Marco Rubio, sobre a “grande possibilidade” de sanções a Moraes.

“Como o Rubio disse, eles estão num processo de apresentação de provas e a depender do tipo de reação que o governo brasileiro pode ter, a simples ameaça da aplicação dessa lei pode criar o ambiente pra aceleração desse processo político nos Estados Unidos”, analisou Barreto.

DE SURPRESA – O analista ressaltou que as autoridades brasileiras foram pegas de surpresa por essa “tempestade” e agora tentam entender se o processo já está definido ou se ainda é possível uma gestão diplomática da situação.

Barreto concluiu alertando que a falta de atuação da diplomacia brasileira nos Estados Unidos resultou em uma narrativa unilateral sobre o assunto nos EUA.

O pior é que há outros ministros que também podem ser penalizados, caso apoiem nos exageros de Moraes contra a liberdade de expressão.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
É a matriz USA dizendo à filial Brazil o que pode e o que não pode em matéria de censura à liberdade de opinião nas chamadas redes sociais, que têm baixa sociabilidade e alta porradaria. (C.N.)

Ao processar Ives Gandra Martins, a OAB paulista está degradando a própria imagem

Julgamento de Ives Gandra na OAB-SP por incitação golpista é suspenso após  pedido de vista

O jurista Ives Gandra sofre uma perseguido absurda

Mário Assis Causanilhas 

“Um país que arrasta aos tribunais um jurista de 90 anos por estudar a Constituição não é mais uma democracia. É uma farsa”. Este é o título do artigo de Angela Gandra, filha do ministro aposentado e constitucionalista Ives Gandra da Silva Martins.

Publicado em redes sociais na quarta-feira passada, 21 de maio, é um texto que deveria ser manchete em todos os jornais, motivo de revolta nacional e repúdio internacional. E para nós, da Tribuna da Internet, é um orgulho transcrevê-lo, em nome da liberdade de expressão que Ives Gandra sempre defendeu.

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“UM PAÍS QUE ARRASTA AOS TRIBUNAIS UM JURISTA DE 90 ANOS POR ESTUDAR A CONSTITUIÇÃO NÃO É MAIS UMA DEMOCRACIA. É UMA FARSA”.
Angela Gandra

“Meu pai Ives Gandra teve que defender-se mais uma vez, sustentando oralmente na OAB, contra a acusação de incitação a golpe, com 90 anos, recém-infartado, 66 anos de advocacia, por algo que escreveu em 1988. A obsessão vai anulando completamente a consecução da justiça.”

Dr. Ives Gandra, é um dos maiores juristas do Brasil, professor emérito, membro da Academia Brasileira de Filosofia, autor de dezenas de obras, entre elas a trilogia “Conheça a Constituição”. Foi consultor do Congresso, do Executivo, das Forças Armadas. Ajudou a moldar a Constituição de 1988, e agora é tratado como criminoso por interpretá-la.

DIREITOS VIOLADOS – O processo contra meu pai foi aberto na OAB porque a PF encontrou, no celular de Mauro Cid, arquivos com reflexões jurídicas de Gandra sobre o artigo 142 da Constituição. Um texto legal, discutido em faculdades de Direito há décadas, virou “prova” de crime.

 A ABI – sim, a Associação Brasileira de Imprensa – move um processo ético vergonhoso para punir um jurista por fazer o que qualquer livre pensador deveria ter o direito de fazer: estudar, escrever, debater.

Ives Gandra sempre deixou claro que a possibilidade de intervenção militar prevista no artigo 142 é nula. Ele jamais defendeu rupturas, mas sempre explicou – como mestre do Direito – os limites da ordem constitucional. Mas tudo isso está sendo ignorado pelo tribunal midiático inquisitório.

INCITAÇÃO AO GOLPE – Hoje, basta ler a Constituição em voz alta para ser tratado como criminoso e golpista. Explicar a lei virou “incitação ao golpe”, ensinar virou subversão e pensar virou ameaça.

A Justiça foi corrompida a tal ponto que já não se reconhece nem a si mesma. E os “jornalistas” – servos submissos do sistema – aplaudem, como cúmplices de um teatro farsesco.

Estão salvando o quê? Uma democracia que nunca existiu? Ou estão apenas enterrando, de vez, as últimas liberdades que restavam?

Eventos cristãos com exagero de gastos entram na mira de tribunais de contas

Padre Fábio de Melo se apresenta em Carmo do Rio Claro, no Sul de Minas: cachê de R$ 280 mil

Padre Fábio Melo faturou R$ 280 mil num show religioso

Luiza Marzullo
O Globo

“A nossa meta é, pelos próximos quatro anos, realizar eventos voltados ao público cristão”, afirmou o prefeito Filipe Carielo (PSD) ao subir ao palco antes do show do padre Fábio de Melo em Carmo do Rio Claro, cidade de 20 mil habitantes no Sul de Minas. O cachê do religioso foi de R$ 280 mil. A nível de comparação, o valor equivale à metade do repasse feito ao principal hospital do município em março deste ano.

Um levantamento do Globo identificou que, entre junho de 2024 e o último fim de semana, ao menos 38 prefeituras em 16 estados destinaram recursos públicos a eventos de cunho cristão, somando mais de R$ 13,8 milhões. Foram apoiadas 27 celebrações evangélicas, 13 católicas e uma cristã sem especificação.

SEM CONTROLE – Não há legislação nacional que regulamente a destinação de verbas públicas para eventos religiosos. Mas os gastos — que geralmente se dão por inexigibilidade de licitação — incomodam alguns tribunais de contas estaduais, que veem nesse expediente pouca transparência, e geram representações no Ministério Público.

No Rio de Janeiro, o Tribunal de Contas do Estado (TCE-RJ) tem um histórico crítico aos repasses. Um dos casos, em 2013, multou o então prefeito de Teresópolis Jorge Mario por destinar R$ 119 mil a um evento da Marcha Para Jesus em 2010.

Neste sábado, uma edição do mesmo evento ocorreu no Centro do Rio, com um aporte de R$ 1,9 milhão da Prefeitura. Outros dois eventos religiosos foram bancados recentemente pelo poder público: a Expo Cristã (R$ 3 milhões) e o Cariocão: Desbravando o Rio, promovido pela Igreja Adventista do Sétimo Dia.

CONTESTAÇÕES – Em nota, a prefeitura explicou que apoia manifestações culturais e religiosas “independentemente de credos” e afirmou que “a fé é uma escolha individual de cada carioca. É papel do poder municipal garantir que todos possam professar sua fé sem discriminação.”

Ainda assim, neste mês, uma representação foi protocolada no Ministério Público Federal contra o prefeito Eduardo Paes por suposto favorecimento ao público evangélico.

Contestações se repetem no Rio Grande do Norte. Lá, o Ministério Público recomendou à Prefeitura de Ouro Branco que evitasse gastar verbas públicas em eventos religiosos — como o Dia do Evangélico. Neste ano, contudo, uma festa católica recebeu R$ 17 mil.

CARNAVAL CRISTÃO – Já em Zé Doca (MA), o Ministério Público tentou suspender o “carnaval cristão” de fevereiro, chamado de “1° Zé Doca com Cristo”. A Justiça negou o pedido, e o evento foi realizado com um aporte de R$ 600 mil.

Municípios pequenos também contratam grandes nomes da música cristã. Em São Miguel das Matas (BA), a cantora gospel Bruna Karla recebeu R$ 180 mil no Dia do Evangélico. A verba representa mais de 80% do orçamento previsto para obras em unidades de saúde neste ano na cidade.

Em Campestre de Goiás (GO), de apenas três mil habitantes, a festa em louvor a São Sebastião e Nossa Senhora das Graças demandou um valor equivalente a 50,7% da arrecadação anual do IPTU.

TEMA COMPLEXO – Rodrigo Vittorino, coordenador do Centro de Estudos sobre Direito e Religião da Universidade Federal de Uberlândia, destaca a complexidade do tema:

— Há uma linha tênue entre religião e cultura. Muitas atividades religiosas têm componente cultural ou turístico, o que dificulta a fiscalização. Precisamos de critérios. Patrocinar proselitismo é inaceitável, mas há festas tradicionais que sempre receberam apoio.

As cidades citadas foram procuradas, mas apenas Carmo do Rio Claro se pronunciou. A gestão afirmou que os eventos seguem os princípios da impessoalidade, legalidade e interesse público: “O Estado, embora laico, não é antirreligioso — sendo legítimo fomentar atividades que contribuam para a formação cultural e espiritual da sociedade.”

No estado de Minas Gerais, onde a cidade é localizada, o TCE tem um entendimento flexível em relação aos eventos religiosos, tendo considerado a Marcha Para Jesus, em 2023, como de “caráter cultural e folclórico”.

DISCRIMINAÇÃO – O cientista político Vinicius do Valle, do Observatório dos Evangélicos, avalia que religiões de matriz africano são negligenciadas nesses eventos:

— Porque sua presença no espaço público é frequentemente reprimida. A ocupação religiosa do espaço público gera controvérsias pela desigualdade de tratamento – admitiu o especialista.

Desrespeito de Moraes ao ex-comandante do Exército foi inconveniente e inadmissível

Freire Gomes: Moraes sobe o tom com general

Moraes subiu o tom e chamou o general de mentiroso

Marcella Matos
Veja

Militares próximos ao ex-comandante do Exército, Marco Antônio Freire Gomes, não esconderam o incômodo com o tratamento dispensado ao general da reserva durante o depoimento prestado à Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal.

Na última segunda-feira, 19, Freire Gomes falou como testemunha de acusação no âmbito do processo que investiga uma tentativa de golpe orquestrada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. De acordo com a avaliação de colegas de farda, só o fato de ter testemunhado contra oficiais é, por si só, motivo de desgaste para o militar.

MORAES E A MENTIRA –  Para piorar, o ex-comandante levou um pito do relator do caso, ministro Alexandre de Moraes, que o acusou de estar mentindo durante o depoimento. “Não é natural ver um comandante do Exército, uma figura tão respeitada, tomando uma enquadrada de um ministro do STF”, afirmou um general a Veja.

Desde o início das investigações da trama golpista, os fardados reclamam de se sentirem perseguidos e por haver um suposto esforço de macular a instituição como um todo. Há mais uma dezena de militares investigados no inquérito, todos eles com mensagens e indícios contundentes de estarem envolvidos no enredo.

As articulações do principal deles, o ex-capitão e ex-presidente Jair Bolsonaro, foi narrada pelo próprio Freire Gomes em depoimento à Polícia Federal no ano passado. Desde que o caso veio à tona, o general submergiu, cortou laços com os colegas de farda e mergulhou em profunda tristeza, conforme narram pessoas próximas.

CONSTRANGIMENTO – Por isso, seus aliados viram um constrangimento desnecessário sobre uma pessoa que está colaborando com as investigações.

As declarações de Freire Gomes à PF foram tornadas públicas tempos depois por meio de um termo policial escrito. Desde então, ele jamais apareceu em público para comentar o caso.

Por ser o detentor da tropa terrestre, o ex-chefe do Exército é tratado nas investigações como o principal bastião para evitar que houvesse uma quartelada em 2022. Diante dos ministros do Supremo, porém, Freire Gomes minimizou a gravidade das articulações naquele momento.

PRENDER MORAES – O ministro Ele confirmou a série de reuniões com Bolsonaro e disse que o então presidente apresentou aos militares medidas como a decretação de GLO (Garantia da Lei e da Ordem), de estado de defesa e de sítio – o general reafirmou ainda que, entre as ideias levadas à mesa, estava a ordem de prisão do ministro Alexandre de Moraes.

No entanto, Freire Gomes afirmou que o ex-presidente apresentou “hipóteses” e “estudos” embasados na Constituição e não buscou influenciar ninguém. “Por isso não nos causou nenhuma espécie, não havia nada diferente disso”, afirmou.

Ele também evitou incriminar o ex-chefe da Marinha Almir Garnier, o único dos ex-comandantes tornado réu na trama golpista após supostamente colocar suas tropas à disposição de Bolsonaro.

MORAES ACUSA – Demonstrando uma visível irritação, o ministro Alexandre de Moraes interrompeu o depoimento e fez um alerta ao militar. “Eu vou dar uma chance à testemunha falar a verdade. Se mentiu à polícia, tem que dizer que mentiu à polícia. Não pode no STF dizer que não lembra, que talvez. A testemunha foi comandante do Exército. Consequentemente, está preparado a lidar sob pressão. Eu solicito que, antes de responder, pense bem”, disse o relator do caso. À essa altura, o militar respondeu que, com 50 anos de Exército, jamais mentiria.

O início dos depoimentos ao STF evidenciou divergências importantes entre Freire Gomes e o ex-chefe da Aeronáutica, Baptista Júnior. Questionado, o advogado João Marco Rezende, defensor do ex-comandante, nega ter havido qualquer mudança de postura de Freire Gomes.

“O general manteve o que foi dito à Polícia Federal. Mas aí vem a questão de divergências em termos de interpretação, o que é natural em qualquer processo criminal. Os dois comandantes retratam da mesma maneira as reuniões, o desenrolar dos fatos e como foi o posicionamento das Forças Armadas em relação ao que estava sendo proposto”, afirma o criminalista.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
– O comportamento de Moraes é um enigma pior do que o da Esfinge do Planalto de Gizé. Ninguém sabe se ele é desequilibrado emocionalmente, bipolar ou apenas mal-educado. Façam suas apostas, porque o tempo voa e logo saberemos. (C.N.)

Em defesa de Janja, Lula manda fazer MP para censurar as redes sociais

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva

Desesperado, Lula não sabe o que fazer para agradar Janja

Sérgio Roxo
O Globo

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu neste sábado a regulação das platafomas responsáveis pelas redes sociais e pediu uma discussão sobre o tema com o Congresso Nacional.

— É preciso que a gente discuta com o Congresso Nacional a responsabilidade de regular o uso das empresas (que operam as redes sociais) neste país. Não é possível que tudo tenha controle menos as empresas de aplicativos.

JUSTIFICATIVAS – Em discurso num evento em Mato Grosso, o presidente falava sobre a necessidade de combater as mentiras usadas na política. Citou a decisão do governo de proibir a entrada de celulares em escolas no país e também tratou de um caso de bullying contra uma estudante propagado pelas redes sociais, antes de defender a regulação das plataformas.

Na verdade, o governo já prepara um projeto de lei para regulação das plataformas digitais. O texto está sendo discutido por nove ministérios e deve ser mandado ao Congresso após o aval do presidente.

Em reunião no Palácio do Planalto na quinta-feira, ficou definido que o projeto vai propor que a Agência Nacional de Proteção de Dados (ANPD) deve ser a encarregada de atuar como “xerife” das redes, inclusive com poder de multá-las e até bloqueá-las caso as ordens de remoção de conteúdo sejam descumpridas.

COM JINPING – A regulação das redes sociais voltou a ganhar destaque depois que foi revelado que a primeira-dama Janja da Silva fez uma observação sobre o algorítimo do TikTok durante jantar de Lula e ministros com o presidente da China, Xi Jinping, em visita do brasileiro ao país há duas semanas.

Lula participou neste sábado da cerimônia de lançamento de um programa de recuperação de áreas agrícolas degradadas na cidade de Campo Verde, no Mato Grosso. A iniciativa busca melhorar os solos e, assim, aumentar a produtividade das lavouras. Batizado de Solo Vivo, o programa é voltado para a agricultura familiar. Tem investimento de R$ 42,8 milhões do governo e contempla dez assentamentos do estado.

Ainda em seu discurso, o presidente disse que o governo repassa recursos para estados e municípios, mesmo governados por adversários políticos. O governador do Mato Grosso, Mauro Mendes (União Brasil), que apoiou Jairo Bolsonaro (PL) em 2022, estava presente na cerimônia.

APELO POPULAR – Lula também citou em sua fala os programas de apelo popular que o seu governo já apresentou ou pretende implementa. Falou do financiamento de reformas de casas, que ainda será lançado, e do projeto de elevação da faixa de isenção de imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil. Mencionou ainda a medida provisória do setor elétrico que visa isentar da cobrança de tarifa famílias inscritas no CadÚnico.

— Assinei uma medida provisória reduzindo o preço da energia elétrica para o povo brasileiro mais pobre. Porque o rico compra energia no mercado aberto, mais barato, e quem paga cara a energia é o povo pobre que compra no mercado regulado.

Na sequência, o presidente perguntou para a plateia quanto custava o botijão de gás na região e falou sobre a intenção do governo de ampliar o vale-gás.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Com o aumento da IOF, Lula vai distribuir dinheiro à população pobre. É bom que o faça, mas lamenta-se que seja às custas da classe média. Como dizia a presidanta Dilma, o PT faz o diabo para se eleger. E bota diabo nisso… Quanto à regulação das redes sociais, nenhum país conseguiu fazê-lo sem estabelecer censura. Então, é só pedir ao Alexandre de Moraes, porque ele sabe fazer isso com o maior prazer. Moraes tem uma cabeça brilhante, que reluz até no escuro. (C.N.)

Defesas de ex-comandantes questionam efeito prático de possíveis acareações

PGR vai esperar fim de depoimentos para avaliar acareação entre comandantes

As declarações têm sido muito contraditórias, diz a PGR

Julliana Lopes
da CNN

Segundo a analista de política Julliana Lopes, da CNN, as defesas dos envolvidos questionam a eficácia prática de uma possível acareação entre testemunhas e réus— processo jurídico que busca apurar declarações ou depoimentos divergentes, a ser instalado pela Procuradoria-Geral da República (PGR).

Ela afirma que, no caso específico, que apura uma tentativa de golpe de Estado, há um entendimento entre os advogados de que tal procedimento não pode mudar o rumo das investigações.

QUESTÕES DÚBIAS – As defesas dos acusados argumentam que, apesar de algumas questões “dúbias”, já existe um entendimento claro da Suprema Corte sobre os fatos específicos relacionados às reuniões em questão, em que teria se discutido uma possibilidade de ruptura institucional após as eleições de 2022.

Portanto, na visão desses advogados, uma acareação neste momento teria pouco impacto no rumo das investigações.

RELATOS E REAÇÕES – Como explica Julliana Lopes, dois aspectos se destacaram na semana de depoimentos – os relatos sobre uma suposta pressão exercida por Jair Bolsonaro (PL) sobre os militares e as reações diante das exposições feitas pelos aliados e pelo próprio ex-presidente.

A investigação continua em andamento na primeira turma do Supremo Tribunal Federal, com a coleta de depoimentos sendo uma etapa crucial para esclarecer os eventos relacionados à suposta tentativa de golpe de Estado.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
As acareações seriam divertidíssimas, uma atração a mais. Mas dificilmente Moraes aceitará programá-las. Ele gosta de ser atração máxima e única. (C.N.)

Israel decide ocupar toda a Faixa de Gaza, e a guerra nunca mais terá fim

Em 'cerco total' de Israel, número de deslocados em Gaza sobe 30% em 24  horas e chega a quase 340 mil

Israel não permitirá que os palestinos voltem às suas casas

Mario Sergio Conti
Folha

Às vésperas de completar 600 dias, a guerra em Gaza só piora. As atrocidades de hoje são maiores que as de ontem e menores que as de amanhã. Mais de 51 mil palestinos já morreram, incluindo 15.506 crianças e 916 bebês de menos de um ano. São cifras defasadas: Israel matou mais 29 meninas e meninos na quinta-feira (22).

A contagem é feita pelo Ministério da Saúde local, que, se não diferencia vítimas civis das militares, dá o nome de todas. Como o Hamas o dirige, Israel diz que as cifras mentem, mas oculta quantos cadáveres produziu. Tampouco autoriza a entrada de jornalistas no enclave.

HÁ VÍDEOS E FOTOS – Nem por isso Gaza é indevassável. Há vídeos de repórteres que moram ali e fotos de satélite. As imagens dos últimos dias mostram a agonia de crianças esquálidas e olhos saltados. Moleques de nariz escorrendo que estendem panelas vazias a adultos perplexos. Ruínas e mais ruínas

Como fundo sonoro para os filmes da fome, Netanyahu e seus ministros proclamaram que tanques tomarão territórios; os palestinos serão chutados para os quintos; Gaza será governada por eles. Nada de dois Estados, será Israel do rio ao mar, do Jordão ao Mediterrâneo.

Até os governos europeus protestaram. Pode ter sido um revide extraoficial às críticas, ou os soldados israelenses estavam distraídos, o fato é que mandaram bala em diplomatas europeus que entraram em Gaza. A resposta oficial foi a cabala de sempre: quem contesta a matança é antissemita.

MORTE DO CASAL – O aluvião de críticas refluiu graças a um terrorista norte-americano. Assim que ele fuzilou um casal de funcionários israelenses, Netanyahu gritou que seus críticos eram cúmplices de “assassinos em massa, estupradores, matadores de bebês e sequestradores”. Gastou mais tempo difamando Macron do que censurando o assassino em Washington.

O discurso tétrico lembrou o verso de W.H. Auden que fala da “fria e controlada ferocidade da espécie humana”. O poeta também foi lembrado por ser o autor de “Espanha, 1937”, a “Guernica” literária da Guerra Civil Espanhola, o canto que cata os cacos dos combates e os atira ao futuro. Ele parece se referir a Gaza, às angústias de agora.

Aos 30 anos, Auden era uma das figuras mais estimadas da esquerda britânica. Como Hemingway, engajou-se nas Brigadas Internacionais e foi defender a República na Guerra Civil. Na volta, escreveu “Espanha, 1937”, que logo estava em todas as bocas.

DISSE ORWELL – Houve quem o criticasse. George Orwell, um dos primeiros, fixou-se no verso “a aceitação consciente da culpa quando é necessário assassinar”. Amigos judeus dizem algo parecido: a morte de inocentes horroriza, mas é necessária para proteger Israel, temos consciência disso.

O autor de “1984” acusou Auden de escrever com essa dureza porque “nunca cometera um assassinato, nenhum de seus amigos fora assassinado, talvez nunca tenha visto o cadáver de alguém assassinado”.

Orwell, que também fora à Espanha, tomara um tiro no pescoço e vira pilhas de mortos, disse que “não escreveria com leveza sobre homicídios”. A primeira crítica, pois: Auden falava do que não sabia, compunha versos abstratos para falar de mortes concretas, fingia emoções.

PEGOU PESADO – “Eu não falaria levianamente sobre assassinatos”, continuou. “Para mim, o homicídio deve ser evitado. Qualquer pessoa comum acha isso.” Pegou pesado: “Os Hitler e os Stálin acham a morte necessária, mas não propagandeiam sua insensibilidade”. Segunda crítica, então: “Espanha, 1937” era irresponsável, amoral, insensível.

Auden mudou-se para Nova York e estava lá no dia em que Hitler invadiu a Polônia e deflagrou a Segunda Guerra Mundial. Rascunhou no balcão de um bar da rua 52 talvez a mais famosa das suas obras, “1º de Setembro de 1939”. Ela diz:

“O povo todo sabe, até eu,
O que toda criança aprende:
Aquele a quem se faz o mal
Revidará, e mais mal fará”

MAIS REVIDE – O povo todo sabe que os palestinos revidarão o mal de que são vítimas, e os israelenses se vingarão do mal que lhes é feito. Apesar do encadeamento categórico de maldade e revanche, o poema propõe: “Amemos uns aos outros ou morreremos“. Na época, Auden se afastava do marxismo e se aproximava do cristianismo, o que pode explicar o verso.

O poeta veio a voltar atrás e abjurou tanto “Espanha, 1937” como “1º de Setembro de 1939”. Justificou-se: eram poemas “desonestos”, expressavam “sentimentos e crenças que seu autor nunca teve”, uma evidente inverdade.

Nenhuma guerra satisfaz a todos, há vencedores e vencidos. A força faz com que uns ganhem e outros percam. A força, não a poesia.

No encontro com Jinping, Lula e Janja confundiram a vida pública e a privada

Janja pede liberação de mais público na posse de Lula - 30/12/2022 - Poder  - Folha

Lula também não sabe separar vida pública e a privada

Demétrio Magnoli
Folha

O célebre jantar com Xi Jinping continua a assombrar Janja da Silva. As críticas, concentradas na primeira-dama, evidenciam duas inclinações paralelas do debate público brasileiro: a opção preferencial pela fofoca, especialmente quando o alvo é uma mulher, e o impulso diferencial de proteção do chefe de Estado, que seria vítima impotente de travessuras de seus familiares. No percurso, passa-se ao largo da política –e, no caso, da política de Estado.

De fato, a comédia chinesa abrange quatro erros. Janja cometeu o menor deles.

PRIMEIRO ERRO – A palavra de Lula precisa ser levada a sério, para o bem ou o mal. Segundo o presidente, foi ele, não sua esposa, que infiltrou o TikTok à mesa de refeições. Erro número um: o Brasil, nação soberana, tem os meios para regular as redes sociais e, portanto, deve abster-se de reclamar ações de outros países. Xi Jinping presenteou Lula com essa aula gratuita de relações internacionais.

Na versão de Lula, Janja teria seguido o rumo que ele indicou, descrevendo os pecados do TikTok. E o erro número dois é que o presidente fala pelo Brasil, pois dispõe de mandato popular, mas a primeira-dama não exerce representação.

“Não há protocolo que me faça calar”, exclamou ela, acendendo a tocha de um curioso feminismo amparado em atributos do marido.

PÚBLICO E PRIVADO – Nesse passo, revelou a ignorância típica dos ativistas: o “protocolo”, aqui, não é uma norma burocrática anacrônica, mas a fronteira que assinala a distinção entre o público (a soberania popular) e o privado (o laço de casamento).

Lula cometeu o terceiro erro, ao escandalizar-se com o vazamento dos diálogos. Na sua invectiva contra um sujeito oculto (Rui Costa?), o presidente definiu o evento como um “jantar privado”.

Na verdade, era um jantar de Estado –ou seja, um ato diplomático oficial. O normal, em países democráticos, é dar publicidade às conversas travadas em encontros dessa natureza, com exceção de temas de segurança nacional.

“ESPECIALISTA” – O erro mais grave foi obra de Lula. Segundo o presidente, Xi Jinping aceitou sua solicitação de enviar ao Brasil um “especialista” na regulação das redes sociais. A ditadura chinesa cerca as redes com a “Grande Muralha Digital”. S

eu alvo principal não são crimes de pedofilia ou pornografia, mas a palavra política dissonante. É como se Lula convidasse um especialista de Trump para contribuir com nossa política imigratória.

Numa tentativa heroica de consertar o erro capital, o chanceler Mauro Vieira emprega o recurso extremo de desmentir o presidente, jurando que “não há nenhum programa de visita de especialista chinês”.

CONTROLE DA MÍDIA – A comédia dos quatro erros não nasceu de um céu azul. Nos mandatos anteriores de Lula, o PT clamava pelo “controle social da mídia” —isto é, por algum tipo de censura da imprensa profissional.

Hoje, só militantes febris ainda cultivam a antiga obsessão, e o foco de quem manda voltou-se para as redes sociais. Sob o álibi da necessária regulação das redes, o governo sonha criminalizar a “desinformação” e o “discurso de ódio”, abstrações sujeitas à interpretação da autoridade estatal.

Diante de Xi Jinping, Janja teria afirmado que o algoritmo do TikTok favorece a direita. Crime digital? Não: trata-se da busca pelo “algoritmo certo”, capaz de favorecer a esquerda. Da Grécia clássica para cá, aprendemos que toda comédia contém uma tragédia.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
A piada de confundir a vida pública com a privada é do Barão de Itararé, e não resisti em repeti-la, porque está acontecendo de novo. (C.N.)

Comprovado! Fraude no INSS é culpa de Dilma, mas Lula vai atribuir a Bolsonaro

Dilma cai cocô charge

Charge do Zappa (humortadela.com.br)

Hugo Marques
Veja

O Instituto Lula, que pertence ao presidente da República, divulgou nota informando que a fraude no INSS começou na gestão do presidente Michel Temer, que governou o Brasil a partir de 2016, após o impeachment de Dilma Rousseff. Na mesma nota, Lula ressalta que a fraude passou a ser investigada no seu mandato.

Essa é a estratégia que o atual governo pretende adotar caso o Congresso instale uma CPMI para investigar o golpe contra os aposentados. “Tudo começou com ‘facilidades’ criadas por Michel Temer, em 2016 – após o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff. Uma transformação digital iniciada em 2017, ocorreu sem o devido aperfeiçoamento dos controles internos por parte do governo golpista”, diz a nota.

CULPA DE BOLSONARO – A mesma nota reproduz uma frase do presidente da República, acusando Jair Bolsonaro. “Estamos desmontando uma quadrilha que foi criada em 2019, e vocês sabem quem governava o Brasil em 2019. Vocês sabem quem era Ministro da Previdência em 2019, quem era chefe da Casa Civil em 2019. A gente poderia ter feito um show de pirotecnia. Mas a gente não quer uma manchete de jornal. A gente quer apurar. E aquelas entidades que roubaram vão ter seus bens congelados. Desses bens vamos repatriar o dinheiro para que a gente possa pagar as pessoas”, ressaltou Lula.

O Instituto Lula também tenta reforçar que lhe coube a atual gestão a descoberta das fraudes. “Somente com Lula começou a ser investigada. Após inquérito aberto pela Polícia Federal (PF), milhares de aposentados receberão seu dinheiro de volta graças às medidas determinadas por Lula”, diz a nota do Instituto.

NA VERDADE, PORÉM – A investigação não foi uma iniciativa do governo. Pelo contrário. Informado sobre as fraudes, o Ministério da Previdência nada fez para coibi-la. Coube à Polícia Federal e à Controladoria-Geral da União (CGU) – instados por denúncias publicadas pela imprensa – a apuração do caso.

Conforme mostrou Veja desta semana, depois de revelado o escândalo, o governo Lula chamou de volta a procuradora Márcia Eliza Souza para a direção de benefícios do INSS.

Em 2019, ela conseguiu enfrentar as associações que impunham cobranças indevidas aos aposentados do INSS, cobrando a devolução do dinheiro e suspendendo acordos de cooperação com a autarquia.

SUSPENSÃO E INQUÉRITO – Em maio daquele ano, Maria Elisa suspendeu por 60 dias os descontos realizados por uma das associações em função do volume considerável de reclamações que o INSS recebeu, o que gerou a abertura de um inquérito no Ministério Público de São Paulo.

Diante da ação do INSS, as associações tiveram de dar explicações ao Ministério Público sobre o esquema de arrecadação.

 Uma das pessoas ouvidas na época foi o sindicalista Canindé Pegado, da CGT, responsável pelo acordo da Centrape com o INSS, assinado em dezembro de 2015, durante o governo Dilma Rousseff – documento que, na sequência, permitiu à entidade descontar ilegalmente mensalidades das pensões dos aposentados.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
– Como se vê, o PT está pronto para atribuir a Bolsonaro mais essa herança política podre, que na verdade foi autorizada pela Dilma no início de seu segundo mandato. Parafraseando o que diz a Bíblia, vamos dar a César o que é de César, e a Dilma o que é de Dilma. (C.N.)

PT lança campanha em favor de Janja nas redes sociais, mas a ideia não colou

PT lança campanha em defesa de Janja após primeira-dama ser alvo de  críticas nas redes sociaisSamuel Lima
O Globo

O Partido dos Trabalhadores (PT) convocou uma campanha nas redes sociais em defesa da primeira-dama, Rosângela da Silva, a Janja, que tem sido alvo de críticas desde que veio à tona a informação de que ela teria atacado o algoritmo do TikTok em jantar com o presidente da China, Xi Jinping, alegando que este favorece influenciadores de extrema-direita.

“A primeira-dama Janja tem se posicionado com firmeza por um ambiente digital mais seguro, especialmente para mulheres, crianças e adolescentes, as maiores vítimas dos crimes virtuais”, afirma a peça de divulgação, que tentou levantar a tag #EstouComJanja.

FOI UM FRACASSO – Apesar do esforço, o assunto passou longe dos trending topics do Twitter, lista que aponta os termos que mais ganham relevância a cada hora. Fatos políticos como o depoimento do ex-ministro Aldo Rebelo no inquérito dos atos do 8 de Janeiro e o recuo do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em alterar a cobrança do IOF tiveram mais repercussão.

Já na contagem do Instagram, foram menos de 100 publicações.

Enquanto isso, perfis de direita seguem explorando o assunto. O deputado federal Marcel Van Hattem (Novo-RS), compartilhou trecho de entrevista de Janja para o jornal Folha de S. Paulo para dizer que a primeira-dama defende “o modelo chinês de prisão por opinião”.

ATO DE MACHISMO – Janja declarou na mesma entrevista que considera o vazamento da informação sobre o encontro a portas fechadas com o presidente da China um ato de machismo.

Em entrevista a jornalistas após a repercussão da conversa, Lula afirmou que foi ele que tomou a iniciativa de abordar o tema e Janja “pediu a palavra” para mencionar os abusos cometidos na rede.

— Fui eu que fiz a pergunta. Eu perguntei ao companheiro Xi Jinping se era possível ele enviar para o Brasil uma pessoa da confiança dele para a gente discutir a questão digital, e sobretudo o TikTok. E aí a Janja pediu a palavra para explicar o que está acontecendo no Brasil, sobretudo contra as mulheres e contra as crianças.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
É uma novela ao vivo, contando a repisada história de um homem velho, importante e rico, que se apaixonou por uma mulher mais jovem e pobre, que na época devia cerca de R$ 200 mil em condomínio. Casou-se com ela, que tenta ser famosa e quer aparecer a todo custo. O resultado aí está. O público que ainda tem paciência para assistir à novela odeia a personagem dela. E o homem velho, importante e rico se desespera cada vez mais… Comprem pipocas, porque essa bagaça não vai dar certo. (C.N.)

Imagine um país assim, onde a Justiça domina até a confederação de futebol

Charge do Mário César (Arquivo Google)

Conrado Hübner Mendes
Folha

Imagine país fictício. País onde realismo fantástico ganha contorno de legalismo fantástico. Lá, juiz decano da corte suprema é também empresário. Empresário do agro, empresário da educação, promoter e host de encontros multissetoriais da riqueza concentrada. Não reconhece conflitos de interesse quando julga caso da banca que remunera a esposa nem de patrocinador de sua empresa.

Ativista da política de nomeação para cargos judiciais e executivos, interlocutor partidário, amigo dos chefes de imprensa. Nenhuma das fontes geradoras de recursos de poder lhe escapa. Sem recato, ataca colega, ataca promotor, ataca legislador, ataca povos originários, ameaça ONGs, jornalistas e professores.

E MUITO MAIS – Organiza simpósios entre agentes políticos e econômicos do país hipotético. Simpósio, entenda bem, no sentido grego de “festejar junto”. Mas um festejar mais avacalhado e profano. Saem filosofia e poesia, entram magistocracia e oligarquia.

No banquete não tem Aristóteles nem Sófocles, não tem pergunta filosófica ou espiritual. Não há chistes contemplativos nem janela para humor inteligente e contra-hegemônico. Sobram impulsos espoliatórios e negociações extrativistas, inquietações desregulatórias e o fim de direitos trabalhistas. Permutas constitucionais em defesa do “interesse nacional”.

Desses simpósios participam quase todos os juízes de cortes superiores. Avessos à solidão, topam todo convite para comer com a advocacia que os paquera e para palestrar ao empreiteiro que estende a mão da amizade. Um campeonato de partidas e contrapartidas.

TUDO EM FAMÍLIA – Muitos dos juízes têm parentes-advogados. Homens de família e de bens, lutam pelo sucesso de filhos e esposas. A ponto de tornarem difícil praticar advocacia sem que advogados plebeus façam “parcerias” com advogados do patriciado dinástico.

Até a confederação de futebol desse país quimérico se joga na rede desse influencer de toga, no sentido latino, pré-digital.

A mídia não se sente livre para tratar do assunto. Não se atreve nem a perguntar, que dirá investigar e criticar. Sua coragem se encerra num cochicho privado. Pois tem medo das consequências.

MAIOR JOGADOR – Tamanho poder vertical de intimidação e retaliação faz do juiz imaginário o jogador mais granular e eficaz do Estado.

Nesse país zombeteiro, há jurisprudência lotérica sobre honra e liberdade de expressão para cidadãos comuns. E existe jurisprudência segura e previsível sobre a honra do juiz ornitorrinco. Toda uma jurisprudência da honra para si. Jurisprudência de um homem só.

Se “jurisprudência lotérica” e “jurisprudência individual” soam oxímoros, bem-vindo às charadas desse Estado de Direito tropical, em que jornalistas não podem interpelar cúpulas magistocráticas por sua libertinagem. Uma zona pouco franca aonde liberdade de imprensa e liberdade acadêmica não têm autorização para chegar.

O QUE TEMER? – A autoridade mais alta de proteção de direitos é a mesma que pode te assediar e punir. Por crítica objetiva e bem informada. Em língua culta.

E assim se faz a alquimia do legalismo fantástico: contra a lei, o maior operador da lei. De seu porrete se faz legalidade, dominação e silêncio.

Estamos em Magistocondo, cidade que García Márquez, tivesse mais preguiça e menos refino, poderia ter inventado: 500 Anos de Colusão (com pitadas de Acordão).

CPI do INSS pode ser CPI da Sucessão e dificultar muito a reeleição de Lula

Davi Alcolumbre

Alcolumbre, capanga de Lula, faz o jogo e atrasa a CPI

Josias de Souza
do UOL

A maior lente de aumento de Brasília é Davi Alcolumbre olhando para si mesmo. Tudo parece girar ao redor do umbigo do presidente do Senado e do Congresso. Ele acionou a barriga para empurrar da próxima terça-feira para 17 de junho a sessão em que seria formalizada a criação da CPI mista sobre o assalto contra os aposentados.

Bem pago pelo Planalto, Alcolumbre alegou que não faria sentido convocar uma sessão agora apenas para a leitura do requerimento de CPI. Faltou definir sentido. Supondo-se que a nova data seja para valer, o requerimento da CPI será lido no plenário do Congresso em meio às festas juninas e às vésperas do recesso parlamentar de julho.

Os partidos seriam, então, convidados a indicar os seus representantes. Com mais um ou dois golpes de barriga, o Planalto conseguiria facilmente retardar para agosto a instalação da CPI.

MUDAR DE NOME – Com a popularidade periclitante, Lula imagina que, até o início do segundo semestre, o avanço das investigações da Polícia Federal e a eventual descoberta de uma fórmula mágica para devolver o dinheiro às vítimas tornariam irrelevante a CPI.

Lula e seus operadores ainda não se deram conta de que a demora produzirá apenas a mudança do nome do problema. Enterrada ou instalada, a CPI do INSS vai sendo gradativamente rebatizada de CPI da sucessão. Com idade avançada, os aposentados já não se importam com o passar do tempo. O que incomoda é ser tratado como detrito. O custo eleitoral pode ser alto.

Crise do IOF abala relacionamento entre o ministro Haddad e Galípolo 

Galípolo não foi consultado pela Fazenda sobre aumento do IOF - Estadão

Galípolo não foi consultado , protestou e Haddad mudou

Josias de Souza
do UOL

Nos bastidores do governo, a crise produzida pelo vaivém na elevação das alíquotas do Imposto Sobre Operações Financeiras, o IOF, é tratada como uma “barbeiragem” de Fernando Haddad e sua equipe.

No Planalto, o recuo que evitou que a fumaça emanada do mercado evoluísse para um incêndio é parcialmente atribuído a um alerta transmitido a Lula pelo presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo.

RELACIONAMENTO – A crise produziu uma trinca no relacionamento entre Haddad e Galípolo, que foi seu braço direito na pasta da Fazenda antes de ser transferido por Lula para o BC. O estranhamento entre os dois acentuou-se na noite de quinta-feira.

Galípolo irritou-se porque o secretário-executivo de Haddad, Dario Durigan, disse aos repórteres que ele havia sido consultado sobre as medidas. Ficou subentendido que o presidente do BC avalizara a derrapagem.

Haddad viu-se compelido a desmentir Durigam. Numa postagem feita na rede X às 20h20m de quinta-feira, o ministro anotou que “nenhuma” das providências foi “negociada com o BC.”

ANTIPATIA – Nesta sexta-feira, Galípolo cuidou de tornar pública sua “antipatia” e “resistência” à utilização do IOF como ferramenta para atingir as metas fiscais que a equipe econômica se antoimpôs.

O chefe do BC participou por videoconferência de seminário promovido pela FGV, no Rio de Janeiro. A alturas tantas, foi instado a comentar o receio dos operadores do mercado de que a elevação do IOF sobre fundos de investimento no exterior seria um prenúncio de controle cambial.

O temor do mercado não fazia nexo, pois o Brasil registra um fluxo positivo de entrada de capitais. De resto, possui um nível confortável de reservas em dólar. Mas o receio levou ao recuo do governo.

MAIS RECEITA – Em sua resposta, Galípolo soou como se compreendesse que o objetivo do Ministério da Fazenda da era o aumento da arrecadação, não o controle do câmbio:

“Não está dentro do meu mandato a questão da alíquota do IOF, mas sempre foi minha posição quando disse que não gosto da proposta. Ficou bastante evidente que o objetivo [da proposta] era o objetivo fiscal, da meta de superávit”, afirmou.

Mas Galípolo não deixou dúvidas quanto à sua avaliação de que o objetivo não justificava o risco: “Minha antipatia, resistência, de não gostar da ideia de você utilizar a alíquota de IOF como expediente para você tentar perseguir a meta fiscal, decorre justamente desse receio [do mercado].”

GESTÃO FISCAL – Sob refletores, Galípolo soou compreensivo ao falar sobre a complexidade da gestão fiscal: “Tenho visto meus amigos Simone Tebet e Fernando muito engajados em tentar produzir esse debate”.

Longe dos holofotes, o ex-número 2 de Haddad empenhou-se em tomar distância da “barbeiragem” da Fazenda nas conversas que manteve com seus contatos no mercado financeiro.

Fazenda e BC vivem uma fase glacial. A quebra do gelo exigirá muita conversa.

Haddad está perdido e desesperado, perdeu inteiramente a credibilidade

Fernando Haddad, ministro da Fazenda, mostrou falta de convicção no episódio do IOF

Lula, Gleisi e PT conseguiram destruir a imagem de Haddad

Carlos Andreazza
Estadão

O ministro da Fazenda está perdido. Perdidaço. Suas últimas entrevistas foram constrangedoras. Suas decisões mostram incapacidade – falta de recursos para avaliações técnicas e políticas – e fraqueza. Fernando Haddad não tem convicção. Comunica isolamento. Foi atropelado.

Anunciou conjunto de medidas – o pacote original de aumentos no IOF, com implicações em câmbio e crédito – como um “pequeno ajuste”. Um grupo de iniciativas – para repressão financeira – que propunha controle de capitais: “pequeno ajuste”. São leitores assim, sob tal desconexão com o mundo real, que tomam decisões econômicas no Brasil.

VALE TUDO – A lógica que fundamenta as decisões econômicas deste Dilma III: arrecadar; arrecadar para gastar. Só o crescimento da despesa é seguro. Por criativo que seja o agente arrecadador, em algum momento a engenhosidade se esgotará.

Não tardaria até que acionassem o botão do IOF. A regra é clara – a história ensina: apelou para o IOF, girou a chave da agonia. Recorreu ao IOF, declarou o vale tudo.

(O cronista chama a atenção para a fila de espera a que cidadãos possam alcançar o direito à aposentadoria-pensão: eram 914 mil os que aguardavam quando Lula assumiu. São quase 2,7 milhões agora. Dados da própria Previdência Social, que não os divulgava desde dezembro. A falta de transparência nos autorizando a especular sobre se o governo do povo estaria represando gastos à custa dos nossos mais velhos e vulneráveis.)

PELA REELEIÇÃO – Vem aí a eleição e nós – de novo – financiaremos a tentativa de reeleição de um presidente. Não há de onde tirar mais grana. E a rapaziada nunca cortará despesas estruturalmente.

Restaria convocar o IOF para pedalar a conta e rolar o explosivo adiante – dinheiro extra a nos ser cobrado também para que os haddads finjam cumprir as regras frouxas do tal arcabouço fiscal que eles mesmos criaram. Pronto.

Um conjunto de ações – mais IOF, em 2025 – por meio do qual a turma acreditava estar colaborando com o Banco Central. Conjunto que onera o crédito às empresas, que tributa meios de produção, que interfere na economia real – e a Fazenda avaliando que ajudaria o BC no combate à inflação. Delirante.

“CREDIBILIDADE” – Um conjunto de ações por meio do qual – falou o secretário do Tesouro Nacional – a galera imaginava “gerar credibilidade”. Uau!

E então o recuo. Recuo parcial decidido em reunião sem Haddad. Decisão que seria produto “de diálogo e avaliação técnica”. Os técnicos que optaram por voltar atrás: Rui Costa, Gleisi Hoffmann e Sidônio Palmeira.

O ministro da Fazenda está perdido e desesperado. Recorrer ao IOF é expressão de desespero. As reações que colhe sendo menos em função do impacto material do bicho. Se estão lançando a cartada do IOF já agora, ao que apelarão até a eleição? Lembre-se de que Simone Tebet declarou que o mundo acabará em 2027, quando explodirá a bomba fiscal que engordam e empurram.

Supremo faz acerto de contas com os militares e manda recado aos cadetes

Canal Meio | Que golpe? Charge de @martinez_marcelo para a ...

Charge do Marcelo Martinez (Arquivo Google)

Francisco Leali
Estadão

A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal mandou para o banco dos réus oficiais do Exército acusados de tentativa de golpe. A lista completa tem dez nomes e inclui generais de quatro estrelas. A turma foi chamada de “núcleo 3″ na denúncia do Ministério Público Federal. O julgamento que se viu ultrapassou os limites do caso em si. Ministros da corte fizeram de seus votos um acerto de contas com as Forças Armadas.

Nos anos recentes, o mesmo STF pareceu temer os ventos que vinham do Quartel General do Exército no Setor Militar Urbano em Brasília. Dali, um comandante da força pressionou publicamente os magistrados usando o antigo Twitter. Na Era Bolsonaro, ministros andaram visitando fardados e vice-versa.

PRESSÕES AO TSE – Nos meses que antecederam o pleito de 2022, do Ministério da Defesa veio nova onda para pressionar o Tribunal Superior Eleitoral, levando a corte a permitir que oficiais ganhassem o direito de virar peritos de urna eletrônica. No 8 de Janeiro, o plenário do STF virou terra arrasada pela malta que clamava por intervenção militar.

Na tarde do último dia 20, foi a vez a Primeira Turma expor os abusos da conduta de parte da caserna. Do ministro Flávio Dino veio a admoestação sobre os caminhos que militares tomaram.

O magistrado apontou para “a doutrina do inimigo interno”. Essa, segundo ele, foi usada para perseguir cidadãos e cidadãs tão patriotas quanto qualquer integrante das Forças Armadas. E citou episódios da história brasileira:

INIMIGO INTERNO – “Quando nós fazemos alusão aqui ao longo da apreciação do recebimento da denúncia há outros eventos da história brasileira, a exemplo do manifesto dos coronéis de 1954, a ambiência que se gerou em 1964, o AI-5 e outros eventos tristes da vida brasileira, nós vamos encontrar simbolicamente nesta sala a ideia deletéria que deve ser expungida para sempre do ethos das instituições militares segundo a qual existem inimigos internos, elementos hostis na pátria que devem, portanto, ser alvo de combate militar”, disse Dino.

Em seguida veio o voto da ministra Cármén Lúcia. Ela preferiu fazer outra leitura dos atos analisados no processo. Para a magistrada, os ali sob julgamento não tinham um inimigo real. Fabricaram um adversário com a única intenção de permanecer no poder.

Dino e Cármén concordaram numa comparação histórica. Lembraram que nem no golpe de 1964, nem no pós-AI-5, da ditadura militar, projetou-se matar ministros do STF. Eles foram cassados, com dois ss, como disseram os ministros. No plano golpista em julgamento, o verbo projetado pelos réus grafa-se com “ç”: queriam caçar e matar magistrados.

MATAR O INIMIGO – Este plano, aliás, está no centro das acusações contra a turma do ex-presidente Jair Bolsonaro que gestava uma minuta de golpe. A ideia de aniquilar quem discorda é qualidade de regimes ditatoriais, ainda que seus autores adotem palavras como liberdade e democracia.

Mesmo que se questione que o caso seria para outra esfera da justiça, o STF já chamou para si o direito de processar e julgar o golpismo recente. E o ministro Dino resumiu numa frase a mensagem final aos cadetes que adentram na carreira militar:

“Quem pode distinguir, classificar e punir as pessoas é o Poder Judiciário. E mais ninguém”.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Muito preciso e esclarecedor esse artigo de Francisco Leali, coordenador da reportagem política do Estadão. Pessoalmente, acho “meio muito” perigosa essa revanche com as Forças Armadas. Considero uma tremenda infantilidade provocar os militares. Vou escrever sobre isso. (C.N.) 

Lula acaba com 17 anos de transparência em despesas e coloca a culpa na AGU

Foto grátis natureza morta de pilha de documentos

Governo Lula colocou em sigilo 16 milhões de documentos…

Maria Vitória Ramos e Bruno Morassutti
Folha

Já dissemos nesta coluna que a aplicação da LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados) na administração pública tem sido um desastre. Mas é preciso reforçar e ilustrar a gravidade da situação. O apagão promovido pelo Ministério da Gestão e Inovação, sob suposta orientação da AGU (Advocacia-Geral da União), marca um retrocesso histórico na política de transparência federal.

O fato é que o governo retirou do ar mais de 16 milhões de documentos necessários para o controle de R$ 600 bilhões em recursos públicos.

ACESSO AOS GASTOS – Desde a promulgação da Constituição de 1988, os brasileiros têm o direito de acessar o inteiro teor de contratos públicos e documentos que fundamentam os gastos do governo —seja em repartições públicas ou pela internet.

No plano federal, esse direito antecede inclusive a LAI (Lei de Acesso à Informação), sancionada em 2011. O Siconv, sistema de convênios e contratos, existe desde 2008.

Em 2022, o Executivo federal lançou o TransfereGov para consolidar e ampliar essa política, com acesso direto a documentos primários como notas fiscais, croquis, atas e laudos. O Brasil se tornou referência mundial no tema, superando países com IDH superior.

FORA DO AR – Entretanto, em 2024, a ministra da Gestão, Esther Dweck, retirou do ar mais de 16 milhões de documentos públicos, alegando que a medida era necessária para cumprir a LGPD e proteger dados pessoais. Em sua justificativa, o ministério disse ter seguido orientação da AGU.

O próprio órgão, porém, afirmou ao jornal O Globo que o parecer não se aplica aos dados de convênios e que os documentos podem “continuar plenamente acessíveis, auditáveis e publicamente disponíveis”.

Em live na última sexta-feira (16), o ministério alegou que existem outros dados de fiscais de contratos, atas de entidades privadas, entre outros. Nada disso é informação pessoal que possa ser restrita: conforme a própria ANPD (Autoridade Nacional de Proteção de Dados), dados de entidades privadas e seus proprietários são públicos, motivo pelo qual o cadastro nacional de pessoas jurídicas os divulga na internet e qualquer um pode legalmente acessar num registro público.

AMEAÇA À DEMOCRACIA – Assim, mais uma vez, como escreveu na Folha o ministro Bruno Dantas, ex-presidente do Tribunal de Contas da União, a má aplicação da LGPD ameaça a democracia brasileira.

A reação ao apagão de dados se intensificou nos últimos dias, com novas reportagens e o posicionamento de dezenas de entidades. Na segunda-feira, o Ministério Público acionou o TCU, pedindo a suspensão imediata da medida adotada pelo governo.

Na mesma linha, considerando que o apagão inclui dados sobre emendas parlamentares, as organizações Contas Abertas, Transparência Brasil e Transparência Internacional – Brasil, que atuam como amici curiae (partes interessadas) na ADPF 854 (Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental), solicitaram ao ministro do STF Flávio Dino que determine a imediata restauração do acesso público aos documentos.

É PROIBIDO PROIBIR – Chega a ser cansativo repetir: não possui expectativa de privacidade quem recebe recursos públicos.

É requisito e pressuposto para receber dinheiro público que seja possível à sociedade, e não apenas a burocratas, saber quem recebeu, como e para quê foi gasto. Tudo isso com acesso a informações primárias e detalhadas, direto na fonte.

O que está em jogo é muito mais do que acesso a despesas públicas. É o direito de fiscalizar o Estado.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGE ainda chamam Lula de defensor da democracia, mas meu senso de ironia não chega a tanto. (C.N.)

Maluf, Collor e até Bolsonaro têm atestados médicos para evitar cadeia

CBN - A rádio que toca notícia - Deputado Paulo Maluf recebeu alta nesta  manhã

Maluf simulou estar com câncer e ganhou prisão domiciliar

Wálter Maierovitch
do UOL

O habeas corpus liberatório teve a sua origem próxima em 1215. Com os aperfeiçoamentos e a regra republicana da igualdade, esse instituto jurídico representou uma conquista civilizatória. Nasceu com a Magna Carta imposta ao rei João Sem-Terra (João 1º de Inglaterra) pelos barões e clérigos. Isso a fim de não serem presos, privados da liberdade de locomoção, mas escravos e estrangeiros não gozavam desse direito.

A partir daí, nenhum homem livre pode ser preso ou detido sem flagrante ou condenação pelos seus pares, e nem custodiado em desconformidade com as leis.

CONTRA O ABUSO – Com efeito, o remédio do habeas corpus é usado para colocar fim à ilegalidade e o abuso, a cercear a natural liberdade de locomoção.

No Brasil, onde o habeas corpus é uma garantia constitucional, os políticos poderosos e os endinheirados potentes passaram a buscar, dadas as limitações do habeas corpus, fórmulas para se livrarem da cadeia. Ou seja, buscaram outros remédios jurídico-constitucionais com efeitos a garantir, no lar doce lar, o cumprimento de penas.

Os corruptos Paulo Salim Maluf e Nicolau dos Santos Neto, já morto e em vida apelidado de juiz Lalau por ter ingressado na Magistratura trabalhista sem concurso público e desviados verbas públicas da construção do complexo do Fórum Trabalhista, deram-se bem.

ATESTADO MÉDICO – Ambos lograram substituir o habeas corpus pelo atestado médico comprovador de gozarem de precário estado de saúde, sem condições de tratamento nas cadeias.

A partir daí, e pela inexistência de hospital penitenciário a dar suporte aos doentes poderosos e potentes, criou-se remansosa e pacífica jurisprudência, edulcorada com ingredientes humanitários. Entre os operadores do direito e os acadêmicos das faculdades, o precedente judiciário ganhou o nome de ‘jurisprudência Maluf-Lalau’.

Pela precariedade do estado de saúde atestado e referente ao mega corrupto Maluf, pode-se concluir que não teria atingido os 93 anos de idade, não estivesse em prisão domiciliar, na sua mansão do aristocrático bairro paulista do Jardim Europa.

CADEIRA DE RODAS – Maluf havia sido recolhido ao presídio da Papuda em dezembro de 2017 e, três meses depois, depois de inúmeras imagens em deslocações em cadeira de rodas, recebeu o benefício de domiciliar, em decisão do ministro Dias Tóffoli.

Recentemente, o corrupto e lavador de dinheiro Fernando Collor de Mello, condenado em regime prisional inicial fechado, foi contemplado, com fundamento em atestado médico, com prisão albergue domiciliar.

Collor não passou mais de 24 horas em prisão fechada. De repente, os cidadãos comuns e a população carcerária de doentes pobres e sem prestígio, descobriram que Collor, fazia bastante tempo, estava com vários problemas de saúde.

BOLSONARO NA ESPERA – No nosso Estado de Direito, existem vários institutos que, por motivos variados, levam à impunidade ou melhoram situações gravosas de criminosos poderosos ou potentes.

O ex-presidente Jair Bolsonaro, por exemplo, busca desesperadamente a impunidade e o fim da inelegibilidade. Na lista dos remédios jurídico-legais, Bolsonaro escolheu, para conquistar a extinção da punibilidade, a anistia. Seu “plano b”, caso venha a ser condenado com pena de prisão fechada, será o “atestado médico”.

Para quem levou uma facada e quase perdeu a vida, com cirurgias posteriores realizadas por problemas decorrentes, uma enfermaria de penitenciária não seria recomendada, ou melhor, representaria risco. Em síntese, os cuidados humanitários a Bolsonaro, pela jurisprudência consolidada, serão realizados, certamente, no ‘lar doce lar’.

AGORA, ZAMBELLI – A deputada Carla Zambelli foi recentemente condenada pelo STF (Supremo Tribunal Federal). As suas penas privativas de liberdade foram elevadas.

A decisão condenatória ainda não transitou em julgado, seu partido representou à Presidência da Câmara Federal cobrando manifestação sobre o benefício da imunidade parlamentar, e ele já seleciona seus atestados médicos.

Detalhe: como magistrado concursado que passou por varas criminais, de execução de penas, de inquéritos, corregedoria de presídios, Tribunal de Alçada Criminal e Tribunal de Justiça, nunca topei com petições de presos pobres, doentes, solicitando, com apoio em atestados médicos, prisão domiciliar para cumprir o restante da pena em barraco de favela.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
– Para escapar da prisão em 2018, Maluf não apenas fez o truque da cadeira de rodas, como também alegou sofrer de câncer. Não era mentira. Ele realmente foi operado de câncer na próstata em 1990. Mas ficou curado e nunca teve recaída nesses 35 anos. E foi solto em 2018 sem ser submetido a nenhum exame. Isso é Brasil. (C.N.)

Ninguém observou o mundo com tanta arte e amor quanto Sebastião Salgado

Nunca houve nem jamais haverá fotógrafo como Salgado

Deu na Folha

Sebastião Salgado, considerado o maior fotógrafo da história, morreu nesta sexta-feira, aos 81 anos, em Paris. Ele deixa Lélia Wanick Salgado, sua mulher desde 1967, e os filhos Rodrigo e Juliano.

Salgado foi vítima de uma leucemia grave, provocada por uma forma particular de malária, contraída na Indonésia, em 2010, segundo nota oficial da família. Ele morreu um dia antes de realizar um de seus sonhos: visitar a exposição de seu filho mais novo, Rodrigo Salgado, que tem síndrome de Down, em uma igreja dessacralizada da cidade de Reims, no interior da França.

MOSTRA DE RODRIGO – Doze obras de Digo, seu apelido, foram transformadas em vitrais ao estilo renascentista. A abertura da mostra está mantida para este sábado.

Num desses episódios misteriosos da vida, a data se tornará um marco de reconhecimento à arte do filho e homenagem ao pai, na presença de seu grande amor, Lélia, e do filho mais velho, Juliano, cineasta indicado ao Oscar com o documentário “O Sal da Terra”, que dirigiu com Wim Wenders.

Depois de outras homenagens que receberá na França, Salgado deve ser cremado e suas cinzas enterradas no Instituto Terra, que Lélia idealizou na fazenda onde Tião foi criado, em Aimorés, no norte de Minas Gerais. Hoje, o cineasta Juliano cuida da ampliação do Instituto para que ele recupere nascentes na bacia do Rio Doce.

Descubriendo Grandes Fotógrafos

Salgado documentou a exploração humana pelo mundo

“MILHARES DE ANOS” – A reportagem da Folha esteve com Salgado há um mês, para entrevistá-lo sobre os vitrais de Rodrigo. Na ocasião, ele disse que vinha fazendo um novo tratamento, que lhe dera mais energia. “Minhas fotos talvez sobrevivam cem anos, mas os vitrais dele vão ficar por milhares de anos”, disse Salgado na ocasião.

Confira 10 fotos marcantes de Sebastião Salgado | Jornal Correio

Criança indígena fotografada na selva amazônica

Atualmente está em cartaz uma retrospectiva da obra de Salgado em Deauville, cidade do litoral norte da França. Na inauguração da exposição, em fevereiro, Salgado emocionou-se com a homenagem. “Algumas vezes as pessoas me dizem que sou um artista, eu digo que não, que sou um fotógrafo”, afirmou.

Sebastião Ribeiro Salgado Júnior nasceu em 1944 na pequena Aimorés. Ele começou a estudar direito, mas logo mudou para economia, área na qual obteve um mestrado pela Universidade de São Paulo. Ativista de esquerda, mudou-se para a França em 1969, fugindo da ditadura no Brasil.

ATRÁS DA CÂMERA -Funcionário da Organização Internacional do Café, o brasileiro viajava com frequência para a África, onde começou a fotografar após experimentar uma câmera que sua mulher havia comprado em 1970. “Percebi que instantâneos me davam mais prazer do que relatórios financeiros.”

Como humanista, Salgado dedicou seu olhar às injustiças do mundo —fotografou a mineração e levantes sociais, como a Revolução dos Cravos, em Portugal, em inconfundíveis imagens em preto e branco que aliavam beleza e compromisso.

Esta é uma das fotos da série “Exodus”, feita na Etiópia

Tornou-se fotojornalista independente em 1973 e passou por agências como Sygma e Gamma, antes de entrar para a célebre Magnum, em 1979. Nesse período, durante a cobertura da guerra de independência de Moçambique, sofreu um acidente quando uma mina terrestre atingiu o carro onde estava. O episódio rendeu a ele dores crônicas na coluna por décadas.

ATENTADO A REAGAN – A consagração veio com suas fotografias da tentativa de assassinato do presidente dos Estados Unidos Ronald Reagan em 1981, que presenciou enquanto cobria um evento presidencial em um hotel —Salgado tirou 76 fotos em 60 segundos.

Publicaria seu primeiro livro em 1986, “Outras Américas”, com registros que reuniam uma boa dose de paisagens —tanto naturais, como humanas— de cidades litorâneas do Brasil, além de países como Bolívia, Chile, Peru, Equador, Guatemala e México, feitas entre 1977 e 1983. A obra ressaltou a resistência cultural de populações pobres da América Latina.

No mesmo ano, também publicou “Sahel: O Homem em Pânico”, fruto de sua parceria com os Médicos sem Fronteiras na cobertura da seca no Norte da África.

FOTOS MARCANTES – No final dos anos 1980, ganhou novo impulso com uma série de imagens em preto e branco de Serra Pelada, local de mineração de ouro na Amazônia que atraiu 50 mil trabalhadores que acalentavam o sonho de ficar ricos. Seus registros davam a impressão de que o garimpo era um formigueiro humano.

Ele também ficou conhecido como um dos principais defensores da preservação ambiental com suas fotografias da Amazônia. Em 1996, suas lentes testemunharam uma das maiores ocupações na história do MST, o Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra. O resultado foi o celebrado livro “Terra”, editado pela Companhia das Letras.

ASPECTOS GRÁFICOS – Para o editor Luiz Schwarcz, publisher da Companhia das Letras, a morte de Salgado representa uma “grande perda”. “Era um perfeccionista, realmente. Além da amplitude, era muito preocupado com aspectos gráficos.”

Durante um evento no Palácio do Planalto nesta sexta, por ocasião da visita do presidente de Angola, João Lourenço, ao Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu um minuto de silêncio pela morte de Salgado. “Certamente, se não o maior, um dos maiores e melhores fotógrafos que o mundo já produziu”, disse.

Lula também disse que o presente previsto para ser entregue a Lourenço é um livro com fotografias de Salgado —a escolha do presente ocorreu antes do falecimento do fotógrafo.

PERDA MUNDIAL – “Sebastião Salgado foi o maior e mais importante fotógrafo brasileiro, além de parceiro habitual da Folha, onde publicou séries históricas de imagens, numa colaboração que nos enche de orgulho. A perda é mundial”, acrescenta Sérgio Dávila, diretor de Redação da Folha.

A Academia de Belas Artes da França, da qual Salgado era membro, descreveu o fotógrafo como uma “grande testemunha da condição humana e do estado do planeta”, em comunicado em que anunciou a sua morte.

De Ruanda à Guatemala, passando por Indonésia e Bangladesh, o brasileiro documentou fomes, guerras, êxodos e exploração trabalhista no Terceiro Mundo com o olhar empático e imparcial “de alguém que vem da mesma parte do mundo”, como ele costumava dizer.

AMBIENTALISTA – Seu universo esteticamente elegante era também uma celebração das mais belas paisagens e ao mesmo tempo um alerta sobre a necessidade de protegê-las diante da emergência climática.

Salgado recebeu prêmios de prestígio, incluindo o Príncipe das Astúrias e o Prêmio Internacional da Fundação Hasselblad, e foi tema do documentário indicado ao Oscar “O Sal da Terra”, dirigido por Wim Wenders e pelo filho Juliano Salgado, sobre suas viagens a lugares remotos como o Círculo Polar Ártico e Papua Nova Guiné, que inspiraram seu livro “Gênesis”, lançado em 2013.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Não houve, não há e nunca haverá um fotógrafo como Sebastião Salgado, preocupado em proteger o Homem, a Natureza e a Vida. O mundo deve muito a ele. Esta sexta-feira foi um dia muito triste para a humanidade. (C.N.)