Enem prova que aluno é submetido a catecismo político em vez de aprender

Charge da selfie da redação do Enem | Selfie Blog

Charge do Nef (Jornal de Brasília)

J.R. Guzzo
Estadão

O último Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o mais importante teste para avaliação de conhecimento dos alunos brasileiros antes da universidade, não foi apenas mais uma vergonha. Também não foi só uma prova da desonestidade fundamental que os comissários do Ministério da Educação aplicam na formulação das perguntas. Nem foi uma nova prova da malversação de dinheiro público, em favor de interesses ideológicos particulares.

Mais do que tudo, o Enem deste ano deixa claro porque o Brasil continua tendo um dos piores sistemas de ensino público do mundo.

CATECISMO POLÍTICO – Os donos do aparelho educacional não permitem que os estudantes aprendam a fazer conta, a escrever em português e a adquirir uma compreensão mínima de um texto escrito. Em vez disso, usam o Estado brasileiro e os seus recursos para obrigar os alunos a obedecerem a um catecismo político. Ou respondem às perguntas como os donos do Enem querem que elas sejam respondidas, ou não passam no exame.

Das 90 questões apresentadas este ano, pelo menos 40% se referiam aos temas da misoginia, diversidade, luta de classes, homofobia, pobreza e racismo – ou o orgulho de ser negro.

E o restante do conhecimento humano? Foi apertado no espaço que sobrou. No balanço geral, metade das perguntas não mediam o que o aluno aprendeu em seus anos de educação básica. Faziam propaganda política e ideológica em estado bruto, sem disfarces, como no “horário gratuito” do período eleitoral.

DENÚNCIA VAZIA – O agronegócio foi denunciado pelos autores da prova como uma atividade nociva ao Brasil e à natureza – ou aluno respondia que o setor mais avançado da economia do Brasil é ruim para o país, ou a sua resposta estava errada.

O capitalismo é obviamente condenado; exige-se, nas alternativas “certas”, que o aluno aponte o sistema como um mal em si. As perguntas apresentam como fatos indiscutíveis o que são unicamente as crenças políticas dos professores.

Fala-se nas “estruturas de opressão sócio e historicamente construídas”. Mais: além de uma fraude em termos de avaliação objetiva de conhecimentos, o Enem deste ano foi uma espetacular exibição de ignorância por parte dos que fizeram as perguntas.

PURA INCOMPETÊNCIA – Há questões redigidas com erros técnicos grosseiros; já não se trata, aí, de desvio de conduta, mas de pura incompetência. Há erros de português. Há perguntas impossíveis de se responder corretamente – ou todas as alternativas de resposta estão erradas ou todas estão certas, o que obriga o aluno a jogar na sorte.

O compositor Caetano Veloso, por exemplo, não conseguiu responder à pergunta que foi feita sobre duas de suas próprias canções. Depois de refletir com muita atenção sobre cada uma das alternativas, afirmou que todas estavam certas. Como é obrigatório cravar apenas uma opção das cinco apresentadas, a chance de errar é de 80%. É um dos pontos mais baixos a que já chegou o Enem.

Bancada do agro quer anulação de questões do Enem sobre o setor e convocação do ministro da Educação. E o presidente do Inep, após acusações de viés ideológico na prova, disse que nem não demoniza agronegócio.

MÉTODO EFICAZ – A ditadura ideológica imposta à educação brasileira é, além de uma violação aos direitos dos estudantes, o método mais eficaz de se concentrar renda que existe no Brasil. Os objetivos políticos dos encarregados de ensinar se opõem à aquisição de conhecimento real; isso cria um sistema que mantém a maioria dos alunos da escola pública em situação de ignorância perpétua.

Não aprendem o que é indispensável para se ter mais oportunidades, obter remuneração melhor ou reduzir a sua desigualdade. É um sistema que condena milhões de jovens brasileiros a viverem fazendo os trabalhos mais pesados, recebendo os salários mais baixos e tendo as menores chances de conseguir uma existência mais cômoda.

 Os educadores brasileiros não estão interessados em ensinar matemática, ciências e outras disciplinas necessárias para alguém atender às exigências do mercado de trabalho e da sociedade de hoje. Querem fazer “pedagogia na esperança” – essa mesma que mantém o Brasil como um dos países mais ignorantes sobre a face da Terra.

3 thoughts on “Enem prova que aluno é submetido a catecismo político em vez de aprender

  1. Só na cabeçinha de primata dessa direitinha nacional o agro é um ente acima do bem e do mal que não pode ser criticada. Onde está o erro da questão, onde está a doutrinação?

    Obrigar a usar o termo revolução no lugar de ditadura militar pode ser considerado um exemplo de doutrinação ideológica, ou tá suave por ser da direita?

    https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2021/11/bolsonaro-pediu-que-enem-trocasse-golpe-de-1964-por-revolucao-em-questoes-dize

    • O que resultou no “Brasil, um dos países mais ignorantes da Terra” foram os Acordos MEC-USAID dos anos 64 em diante, em que se rebaixou o nível de de ensino de Humanas em favor de um ensinamento “técnico” e “mais adequado” ás necessidades de trabalho de um país dov3º Mundo. Leia-se “exploração de mão de obra barata pelas empresas estrangeiras e nacionais (queaí tirariam – tiram -também seus proveitos)

  2. O Enem parece aquelas provas de múltiplas escolhas, onde das cinco alternativas só sobra uma, a mais óbvia de todas, aí o aluno treinado, aquele que quer realmente tirar uma boa nota, faz o X no quadrinho. O aluno vítima da lacração da escola já está amplamente doutrinado, para ele é fácil identificar a resposta que já lhe anteciparam lá na escola, o aluno não-doutrinado também já foi alertado, crava a resposta mais absurda que é a tomada como certa pelos inventores das questões. O Enem virou uma prova de faz-de-conta.

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