PF quer saber se Freire Gomes chegou a apoiar o golpe, mas depois desisitiu

General Freire Gomes e o valor no processo criminal do seu testemunho

Posição de Freire Gomes precisa ser melhor explicada

Sarah Teófilo
O Globo

Comandante do Exército no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o general Marco Antônio Freire Gomes é hoje considerado uma figura central na investigação que busca desvendar a atuação de um grupo criminoso que teria tentado dar um golpe de Estado no país para manter Bolsonaro na presidência mesmo depois da derrota nas urnas. Na semana passada, ele foi ouvido pela Polícia Federal (PF) e, segundo a colunista Bela Megale, implicou o ex-presidente na suspeita de atuação na trama.

A investigação da PF aponta que Freire Gomes não quis embarcar em uma aventura golpista, mas não deixa claro, ainda, como ele atuou após ter conhecimento das intenções golpistas de integrantes da antiga gestão. Em depoimento à PF, o militar disse que se opôs aos planos, conforme mostrou a colunista Malu Gaspar.

DISSE MAURO CID – O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, disse em sua delação premiada que Freire Gomes e os então comandantes da Aeronáutica, Baptista Júnior, e da Marinha, almirante Almir Garnier, participaram de uma reunião em dezembro de 2022, no Palácio da Alvorada, e que na ocasião Bolsonaro apresentou a minuta golpista ao grupo. O documento em questão propunha a instauração de um estado de sítio no país e a prisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.

Ao contar o caso a PF, Cid afirmou que “o ex-presidente queria pressionar as Forças Armadas para saber o que estavam achando da conjuntura”, e que ele saiu da sala quando o grupo iniciou a discussão. Foi Freire Gomes que posteriormente lhe contou o que foi conversado.

Registros de entrada no Alvorada mostram que o general entrou no mesmo horário que o ex-assessor internacional da presidência Filipe Martins, apontado como a figura que explicou as minúcias do decreto aos comandantes das Forças, e Garnier. Procurada, a defesa de Freire Gomes não retornou.

INFORMANDO CID… – A PF também identificou uma série de áudios que acredita terem sido enviados por Cid a Freire Gomes, nos quais o tenente-coronel relata o estado de espírito de Bolsonaro e também fala de forma clara sobre a minuta golpista e outras questões discutidas pelo grupo investigado.

No dia 12 de dezembro, por exemplo, cinco dias depois da reunião em que Bolsonaro apresentou a minuta aos comandantes das Forças, Cid enviou um áudio atualizando o general sobre o presidente, dizendo que ele havia sofrido muita pressão para tomar uma medida mais drástica “utilizando as Forças”.

Na ocasião, Cid afirmou que o então presidente havia “enxugado o decreto”, referindo-se ao texto golpista, e que o documento agora estava mais resumido.

MENSAGEM DE CORONEL – Na investigação, a PF cita, ainda, um áudio enviado a Cid por um coronel, no qual ele diz:

– O Freire não vai… Você não vai esperar dele que ele tome a frente nesse assunto. Mas ele não pode impedir de receber a ordem. (…) Ele tá com medo das consequências, pô. Medo das consequências é o quê? Ele ter insuflado? (…) Ele tá indo pra pior hipótese – afirma.

Para a PF, este áudio mostra que Freire Gomes não queria tomar a frente do assunto por medo das consequências, temendo ser responsabilizado. Ainda assim, os investigadores apontaram para a necessidade de se apurar melhor a conduta do general para observar se houve omissão, diante do fato de ele ter tomado ciência dos atos e mesmo assim ter ficado “inerte”.

###
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Não há novidades na matéria, mas estamos publicando porque resume bem a questão. Bolsonaro nomeou Freire Gomes para o comando do Exército em 31 de março de 2022, por se tratar de opositor de Lula. Mas há uma distância enorme entre se posicionar contra Lula e apoiar um golpe de estado. (C.N.)

6 thoughts on “PF quer saber se Freire Gomes chegou a apoiar o golpe, mas depois desisitiu

  1. A análise do mestre Pedro do Couto é excelente e vai as minúcias da preparação e tentativa de Golpe de Estado.

    A Nota da Redação está também no mesmo patamar de excelência.

    Cumpre destacar, que o general comandante, Freire Gomes não apoiou a intentona golpista. Por isso foi chamado de cagão e traidor pelo general Braga Neto, Bolsonarista de quatro costados. Os adjetivos de Braga Neto, funcionaram como uma alegação de defesa de Freire Gomes. Ainda pediu ao Major Ailton para entregar a cabeça dele aos leões e perseguir a família do general. Olha o nível dos golpistas encastelados no coração do governo Bolsonaro. Surreal.

    O Editor, pontuou com maestria, a data da nomeação do general Gomes Freire para o comando do Exército, em 31 de março de 2022, em substituição ao comandante de então, o general Edson Pujol, que era legalista e por essa razão foi demitido do comando da Força Terrestre. Bolsonaro, também demitiu os comandante da Marinha e da Aeronáutica. O clima nas Forças Armadas na ocasião, foi de consternação total. Os três comandantes eram militares da mais alta consideração entre seus pares. Ainda não foi explicado, qual os motivos que levaram Jair Bolsonaro a tomar essa decisão humilhante para os comandantes. Creio, que os três oficiais generais eram legalistas e Braga Neto, na ocasião, ocupando o Ministério da Defesa, soprou para Bolsonaro, a importância da demissão dos comandantes para facilitar a intentona golpista. Só deu certo em relação ao comandante da Marinha, Almir Garnier, segundo relato da delação premiada de Mauro Cid.

    Uma coisa é ser Bolsonarista outra coisa e apoiar aventuras golpistas. Nas Forças Armadas, o anti petismo é uma realidade incontestável. O governo tem consciência disso, mas, se não sabe, não aprendeu nada no exercício do Poder.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *