Transferência de Tarcísio para o PL deve influenciar eleição na Câmara

Tarcísio é hoje o mais cotado para herdar espólio de Bolsonaro na disputa ao Planalto, em 2026

Tarcísio muda de partido depois das eleiçôes municipais

Vera Rosa
Estadão  

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, disse ao presidente do PL, Valdemar Costa Neto, que vai se filiar ao partido do ex-presidente Jair Bolsonaro ainda neste ano. Mas a saída de Tarcísio do Republicanos, sua atual legenda, não será um divórcio litigioso. A expectativa ali é de que essa mudança abra caminho para o apoio do Palácio do Planalto ao deputado Marcos Pereira, candidato à sucessão de Arthur Lira (PP-AL) na Câmara.

As eleições que vão renovar a cúpula da Câmara e do Senado ocorrerão somente em fevereiro de 2025, mas já mobilizam os partidos. Para a cadeira de Lira, um dos candidatos é justamente Pereira, que comanda o Republicanos.

ARTICULAÇÕES – O Planalto não vai aparecer na disputa, mas, nos bastidores, faz articulações para não ter desafetos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com influência na direção da Câmara e do Senado.

Embora Tarcísio negue que tenha intenção de se candidatar ao Planalto em 2026, quando Lula pretende concorrer a novo mandato, a cúpula do PT não acredita nisso. É aí que a contenda nacional se cruza com o jogo no Congresso.

Convencidos de que o governador de São Paulo assumirá o papel de principal desafiante da direita contra Lula, daqui a dois anos, deputados petistas relutam em apoiar a candidatura de Marcos Pereira, hoje primeiro vice-presidente da Câmara.

COTA PESSOAL – Muitos argumentam que o PT não pode estar ao lado do presidente do Republicanos num embate tão importante porque se trata do partido de Tarcísio. O Republicanos controla o ministério de Portos e Aeroportos, mas a escolha de Silvio Costa Filho para a pasta é debitada na “cota pessoal” de Lula.

Aliados de Pereira avaliam que a transferência de Tarcísio para o PL ajuda o deputado a obter aval do Planalto na briga pela presidência da Câmara. Ex-ministro da Indústria e Comércio no governo de Michel Temer, Pereira também é bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus, de Edir Macedo, e Lula precisa se aproximar do segmento evangélico.

Há, porém, outro fator nesse jogo: o próprio Lira, que não definiu quem apoiará para sua sucessão. “O governo não vai encaminhar um nome para fazer disputa com Lira”, avisou o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE).

OS CANDIDATOS – Até agora, o nome preferido de Lira para comandar a Câmara é o do líder do União Brasil, Elmar Nascimento (BA), que não desfruta da confiança de Lula. Correm por fora os deputados Antonio Brito (SP) e Isnaldo Bulhões (MDB-AL). Líder do PSD, Brito conta com a simpatia do presidente, embora ministros duvidem de sua viabilidade eleitoral.

Em jantar no mês passado com Valdemar Costa Neto e com o líder da sigla no Senado, Rogério Marinho (RN), Tarcísio garantiu que migrará para o partido de Bolsonaro.

Valdemar entendeu que a mudança ocorrerá “lá para junho”. Quando questionado sobre o assunto, porém, o governador desconversa e diz apenas que “por ora” não há essa previsão. Amigos de Tarcísio, na outra ponta, garantem que ele só irá para o PL depois das eleições municipais.

ESTÃO ANSIOSOS – “Tarcísio falou para mim que virá para o nosso partido lá para junho e agora estão todos ansiosos”, disse Valdemar ao Estadão. “Ele está fazendo campanha para candidatos do Republicanos em São Paulo e nós entendemos isso. Faz muito bem. Precisa ajudar o partido que o elegeu. Mas o lugar do Tarcísio é no PL.”

Na avaliação de interlocutores do governador, uma troca de legenda neste momento pode causar impacto em sua base de sustentação no Estado e até no arco de alianças da candidatura do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), ao segundo mandato.

De qualquer forma, com Bolsonaro inelegível até 2030, a migração de Tarcísio – cotado para herdar o espólio do ex-presidente – dará a ele uma fatia bem mais gorda do Fundo Eleitoral. O PL tem 94 deputados e 13 senadores. O Republicanos conta com 43 e 4, respectivamente.

ESTRATÉGIA DA ANISTIA – Dirigentes do PL começaram a condicionar o apoio a candidatos ao comando da Câmara e do Senado à aprovação de projetos de lei de anistia a Bolsonaro e também a seguidores dele que se envolveram nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023.

A divulgação da iniciativa, no entanto, criou problemas para Valdemar. Até mesmo a família de Bolsonaro – que já se indispôs com o presidente do PL por discordar do recurso impetrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para cassar o mandato do senador Sergio Moro (União Brasil-PR) – reprovou a antecipação da estratégia, hoje em banho-maria.

Desde 8 de fevereiro, quando a Polícia Federal deflagrou a operação Tempus Veritatis (Tempo da Verdade), Bolsonaro e Valdemar estão proibidos de manter contato, por decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.

FICAR DE BEM… – “Não estou trabalhando pela anistia agora. Até as eleições municipais de outubro, vamos todos brigar muito e depois ficar de bem”, argumentou Valdemar. “Além disso, o PL pode ter candidato à presidência da Câmara.”

O nome cogitado é o do líder do PL, Altineu Côrtes (RJ), mas ele próprio admite ter poucas chances nesse páreo. No Senado, o PL já confirmou o apoio a Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) para a cadeira de Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

As últimas pesquisas que mostraram Tarcísio competitivo numa eventual disputa com Lula, em 2026, serviram para animá-lo ainda mais, embora até lá o cenário político possa mudar muito.

DIZ VALDEMAR – Um exemplo de mudança foi citado pelo próprio Valdemar. “Quando Bolsonaro me falou, lá atrás, que ia lançar Tarcísio ao governo paulista, eu respondi: ‘Você está louco? Ele não conhece São Paulo’. Agora, quando Bolsonaro fala alguma coisa, eu tenho de pensar”, afirmou Valdemar.

A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro tem mais intenções de votos do que Tarcísio e vem sendo tratada como “plano B” do PL, mas sua rejeição é alta. Bolsonaro quer fortalecer a direita no Senado e lançar Michelle para uma vaga na Casa.

Interlocutores do governador de São Paulo observam que a senadora Tereza Cristina (PP-MS) é cotada para ser candidata a vice numa chapa liderada por ele. Tarcísio e Tereza foram ministros do governo Bolsonaro. Ele, de Infraestrutura; ela, da Agricultura.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Todos os caminhos levam a Tarcísio de Freitas, que pode funcionar como uma terceira via ligada a Bolsonaro e capaz de atrair eleitores que preferiram Lula em 2022 e depois se arrependeram. Vai ser uma eleição eletrizante. (C.N.)

6 thoughts on “Transferência de Tarcísio para o PL deve influenciar eleição na Câmara

  1. deve, talvez, dizem, credo, palavrões. o tema perde a firmeza. Tarcisio já é forte no partido que está, imaginem indo para o PL de Bolsonaro. Dores de cabeça imensas nos redutos politicos. Adversários terão insonias brabas.

    Reelegendo o prefeito da capital, outra credencial fortíssima para o governador. É cabra novo, o correto seria Senado ou reeleição. degrau por degrau. Mas o dever cívico está batendo na porta dele.

    Lula, tem, a meu ver, um enorme trjnfo: a caneta cheia de tinta. ele e a escória petista sabem que em eleiçao vale tudo, menos perder.

    Tarcisio tem a força do pais chamado São Paulo. Há meses, Lula tentou flertar com Tarcisio, não deu pedal. Evidente que as vaias que Lula recebeu, dos prefeitos, são forte indicio da largada para outubro. Desamparar prefeitos, nesta altura do campeonato, é perigoso.

  2. Outro favor, gostemos dele ou não, que vai botar fogo nas eleições, sobretudo a presidencial, é a entrada na rinha, com tudo, de Sérgio Moro. abolvido, por unanimidade, pelo TSE. moro vem com sangue nos olhos, cheio de munição. bolsonaro rindo adoidado.

  3. guilherme, boa sacada. sp com paraná, duas potências economicas, eleitorais e politicas. ambos jovens. briga será boa. imagina se bolsonaro podesse ser candidato.

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