Projeto prevê anistia ampla a Bolsonaro, aliados e apoiadores do 8 de Janeiro

A proposta estende o perdão aos participantes de acampamentos

Camila Turtelli
O Globo

Um dos textos em discussão entre líderes da oposição e do Centrão na Câmara prevê que Jair Bolsonaro fique novamente elegível para a disputa presidencial de 2026 e oferece uma anistia ampla, que incluiria, além do ex-presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), envolvidos nos atos de 8 de janeiro e alvos do Supremo Tribunal Federal (STF) em inquéritos como o das fake news e o das milícias digitais.

A versão a que O Globo teve acesso inclui o perdão, inclusive por crimes cometidos via redes sociais, a ofensas a instituições, apoio logístico e financeiro a protestos e ataques à soberania nacional. O texto trata também de medidas cautelares, o que, por exemplo, tornaria sem efeito a imposição de tornozeleira eletrônica a Bolsonaro. A proposta também estende o perdão aos participantes de acampamentos em frente a quartéis.

INCONSTITUCIONAL – Ministros da Corte avaliam que uma proposta do gênero seria considerada inconstitucional, pelo entendimento de que não é possível anistiar crimes contra a democracia. Nesta quinta, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), afirmou que não há definição sobre o texto e que as discussões com os líderes a favor e contra a anistia ainda estão em andamento. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), articula um projeto alternativo, menos abrangente.

A versão que circula na oposição marca o início da anistia em 14 de março de 2019, dia em que o STF instaurou o inquérito das fake news, investigação que atingiu Bolsonaro e aliados e se desdobrou em outras frentes, como o caso das milícias digitais. O projeto diz que seriam perdoados aqueles que estejam “sendo ou, ainda, eventualmente, possam vir a ser investigados, processados ou condenados” pelas seguintes condutas:

“ILÍCITOS CIVIS” – No aspecto eleitoral, o texto diz que a anistia alcança “ilícitos civis, administrativos e eleitorais vinculados ou associados às condutas referidas no caput, afastando-se, inclusive, todas as inelegibilidades já declaradas ou que venham a ser declaradas pela Justiça Eleitoral contra os beneficiários desta lei”.

Há ainda a previsão de perdão para envolvidos em crimes contra a soberania nacional, o que abarca a situação de Eduardo Bolsonaro. Ele foi indiciado pela Polícia Federal por, segundo as investigações, ter atuado junto ao governo dos Estados Unidos para coagir o STF no curso do julgamento da trama golpista. A gestão do presidente Donald Trump aplicou punições como a cassação do visto de entrada no país e sanções financeiras por meio da Lei Magnitsky.

CASOS PREVISTOS – Em outro artigo, que engloba o 8 de janeiro, o projeto prevê anistia nos seguintes casos: a prestação de apoio administrativo, logístico ou financeiro, bem assim qualquer outra; forma de contribuição, estímulo ou incentivo; ou dano contra o patrimônio da União, deterioração de patrimônio tombado, incitação ao crime, apologia de crime ou criminoso, organização criminosa, associação criminosa, ou constituição de milícia privada;

Essa minuta não é assinada pelo deputado Rodrigo Valadares (União-SE), que foi relator do tema em 2024, e não há indicação de que será a versão escolhida para ser votada, mas tem o apoio do PL, a maior bancada da Câmara. A própria oposição admite que outras propostas circulam nos bastidores, todas ainda em fase de ajustes. “Nós temos algumas sugestões de texto, duas ou três versões. Esse é o mínimo do mínimo”, disse Sóstenes.

5 thoughts on “Projeto prevê anistia ampla a Bolsonaro, aliados e apoiadores do 8 de Janeiro

  1. Não é anistia: projeto cria vale-tudo golpista (e leva governo Lula de roldão)

    Minuta divulgada não apenas livra os que atentaram contra a democracia e as instituições hoje e de ontem, mas incentiva os de amanhã

    É uma peça de pornografia legislativa a minuta (…) para a já desarrazoada ideia de anistia aos condenados nos processos por tentativas de golpe de Estado.

    Não apenas ele livra os praticantes do 8 de Janeiro, os responsáveis pelas milícias digitais, os investigados pela Abin paralela e os que estão sendo julgados pela trama golpista: tal como está redigido, o projeto é um convite para ataques futuros às instituições, que estariam a salvo de qualquer punição, dada a abrangência do libera-geral.

    Se for adiante, equivalerá a declarar o fechamento do Poder Judiciário.

    É um vexame que Hugo Motta deixe esse tipo de propositura correr solta pelos corredores e reuniões secretas da Câmara, sem colocar um freio e um limite ao menos em até onde se pode ir no achincalhe de outro Poder.

    Diz a tal minuta que ficam perdoados aqueles que estão “sendo ou, ainda, eventualmente, possam vir a ser investigados, processados ou condenados” pelas seguintes condutas:

    – Ofensa ou ataque a instituições públicas ou seus integrantes; descrédito ao processo eleitoral ou aos Poderes da República;

    – Reforço à polarização política;

    – Geração de animosidade na sociedade brasileira;

    – Situações de natureza assemelhada às anteriores.”

    Pode se chamar projeto vale-tudo golpista.

    Fonte: O Globo, Opinião, 04/09/2025 17h42 Por Vera Magalhães

    Acorda, Brasil!

  2. Caros participantes da TI , onde esta a ” legitimidade e legalidade ” dessas medidas retaliatórias e criminosas por parte dos ” congressistas lesa-pátria e traidores da pátria contras os membros do judiciário do país , envolvidos nos processos contra os ” subversivos e golpistas ” do evento criminoso do dia 08/01/2023 , visando a total e plena impunidade ?

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