Desoneração, um erro cometido por Dilma em 2017, vem agora atrapalhar o governo Lula 

Déficit zero defendido por Haddad enfrenta ceticismo - 28/08/2023 - Mercado - Folha

Haddad tem de segurar a descarga de Dilma, seis anos depois

Victoria Azevedo
Folha

A Câmara dos Deputados aprovou nesta quarta-feira (30) o texto do projeto de lei que prorroga até 2027 a desoneração da folha de pagamento para 17 setores da economia. O texto representa uma derrota dupla para o governo Lula e para o ministro Fernando Haddad (Fazenda), que é contrário tanto ao teor principal da proposta como ao benefício para municípios incluído pelos congressistas. Ambos reduzem as receitas federais.

O projeto recebeu 430 votos favoráveis e 17 contrários. Na noite anterior, a Câmara já havia aprovado a urgência da matéria por 390 votos —mais do que os 308 votos exigidos por uma PEC (proposta de emenda à Constituição). Somente 15 parlamentares votaram contra a urgência.

MENOR ARRECADAÇÃO – Como a proposta foi alterada pelos deputados, o texto volta para na[alise dos senadores. Na Casa vizinha, vão tratar de mudanças feitas pela Câmara.

Haddad é contra a proposta porque ela levará a uma perda de arrecadação no momento em que o governo federal enfrenta dificuldades para alcançar a meta fiscal de 2024, que prevê déficit zero. Além disso, reduzirá a receita da Previdência Social.

A medida permite que os setores desonerados paguem alíquotas de 1% a 4,5% sobre a receita bruta, em vez de 20% sobre a folha de salários para a Previdência Social e outras contribuições. O próprio Haddad já havia se posicionado publicamente contra a proposta da desoneração da folha como um todo, dizendo que ela viola dispositivos da Constituição.

MAIS DESONERAÇÃO – A relatora da matéria, Any Ortiz (Cidadania-RS), incluiu de última hora um artigo no texto que permite que empresas de transporte rodoviário coletivo de passageiros tenham uma redução da alíquota da contribuição sobre a receita bruta de 2% para 1% até o fim de dezembro de 2027.

Além de ignorarem o apelo de Haddad contra a desoneração, os paramentares foram além e incluíram no texto uma medida que reduz a contribuição previdenciária paga por municípios sobre o salário de servidores. Com isso, o projeto passou a prever uma redução da contribuição previdenciária paga por municípios.

A CNM (Confederação Nacional dos Municípios) estima que as gestões locais deixarão de pagar R$ 7,2 bilhões por ano com a medida.

Haddad disse que o avanço no Congresso do socorro às prefeituras, por meio do corte de alíquotas previdenciárias sobre a folha de servidores, está “um pouco atabalhoado”.

HADDAD PROTESTA – “Você vai criar uma nova renúncia fiscal, sem lastro, sem repor. Como é que vai ficar o déficit da Previdência? Então, é uma questão de razoabilidade. Não estou pedindo nada que não seja razoável. E estou me colocando à disposição, também”, disse, na portaria do ministério.

A desoneração da folha começou por meio de MP (medida provisória) do governo Dilma Rousseff (PT), em 2011, e teve sucessivas prorrogações e ampliações.

Após o impeachment, a própria Dilma afirmou que a política foi um equívoco. “Acho que cometi um erro importante, o nível de desoneração de tributos das empresas brasileiras. Reduzimos a contribuição previdenciária, o IPI, além de uma quantidade significativa de impostos. Com isso, tivemos uma perda fiscal muito grande”, afirmou em entrevista ao jornal Valor Econômico em 2017.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG –
Dilma disse que, ao invés de investir, os empresários aumentaram a margem de lucro às custas de mais fragilidade nas contas pública. E fica a pergunta: Lula não tinha comprado a maioria na Câmara? Comprou, mas não levou. Vai ser difícil governar. (C.N.)

9 thoughts on “Desoneração, um erro cometido por Dilma em 2017, vem agora atrapalhar o governo Lula 

  1. E alguém fala sobre os aumentos pretendidos pelas FFAA’s, pelo Judiciário? Alguém fala em cortar as mordomias do topo da pirâmide pública, onde “elles”, os políticos se incluem? Nossos gestores são muito engraçados… lutam para sustentar uma das maiores cargas tributárias do planeta e que oferece dos piores retornos sociais a sua população. Mas cortar na própria carne é impensável!

  2. Para “cobrir”, parecendo um garanhão árabe, selecionam e “apontando, escolhem culpados”, conforme a deficiência dos atuais trapalhões para tanto alçados!

  3. O legislativo deveria se preocupar com o déficit público,mas parece que isso não é problema.

    Aí, votam coisas que em vez de diminuir, aumentam o déficit. Isso vai aumentar o déficit da Previdência. Adivinhem quem vai pagar a conta mais uma vez?

    Reforma tributária justa, reforma judiciária, reforma política, nem pensar.

    Agora estão falando em reforma administrativa. Vai sobrar para quem?

  4. A maioria dos parlamentares, é elitista, falar em tirar dinheiro dos ricos, eles criam dificuldades, mas são os primeiros a tirar dinheiro do pobres.

    O INSS, já não anda bem de finanças com essa medida, vai piorar.
    Parece que esses parlamentares estão apostando no quanto pior melhor.

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