“E para sempre a amante solidão nos chama e abraça”, diz Lya Luft 

Grupo Livrarias Curitiba - Deixo aqui uma singela homenagem para essa  grande escritora nacional que vai fazer muita falta 💔 Lya Luft escreveu e  publicou vários romances, coletâneas de poemas, crônicas, ensaiosPaulo Peres
Poemas & Canções

A professora, escritora, tradutora e poeta gaúcha Lya Fett Luft, no poema “Canção Pensativa”, sente passar por um momento de solidão, mas sabe que tem de voltar à realidade e buscar um novo amor.

CANÇÃO PENSATIVA
Lya Luft

Um toque da solidão, e um dedo
severo me traz à realidade: não depender
dos meus amores, não me enfeitar
demais com sua graça, mas ver
que cada um de nós é um coração sozinho.

Cada um de nós perenemente
é um espelho a se mirar, sabendo
que mesmo se nesse leito frio e branco
um outro amor quer derramar-se em nós,
entre gélido cristal e alma ardente
levanta-se paredes para sempre.

(E para sempre
a amante solidão nos chama e abraça.) 

“Agora, se vocês me dão licença, eu vou ver um passarinho que me chama no quintal”

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Queiroz, no traço de Valtério Sales

Paulo Peres
Poemas & Canções

O advogado, publicitário, cantor e compositor baiano Walter Pinheiro de Queiroz Júnior usa várias figuras de linguagem, tornando mais bonito o conteúdo poético da letra de “Pode Entrar”, na qual ele fala da sua casa.

Walter Queiroz gravou a música “Pode Entrar” no LP “Filho do Povo”, em 1975, pela Phonogram.

PODE ENTRAR
Walter Queiroz

A casa escancarada a lua alí
Meu cachorro nunca morde
Meu quintal tem sapotí
tem um roseiral crescendo lindo
Quem for louco ou for poeta
Pode entrar e seja bem vindo

Aqui passa o bonde da Lapinha
Passa a filha da rainha
Passa um disco voador
As vezes ele gira, para e pisca
Como quem quase se arrisca
A parar pra conversar

Mas não me sinto só
Tenho um vizinho
Que é um bêbado velhinho
Que acredita no destino
Ele mora em cima do arvoredo
Ele tem muitos brinquedos
Ele sempre foi menino

Agora se vocês me dão licença
Eu vou ver um passarinho
Que me chama no quintal
Depois vou me deitar para sonhar
E dançar com a cigana
Que eu perdi no carnaval

Um mensageiro traz o encantamento da poesia em dose dupla

Livros de Luiz otavio oliani | Estante Virtual

Oliani publica poesias coletivas

Paulo Peres
Poemas & Canções

O Bacharel em Letras e Direito e poeta carioca Luiz Otávio Oliani teve a ideia de reunir diálogos com poetas brasileiros contemporâneos, divulgando-os nas redes sociais.

Esses poemas foram inicialmente publicados no seu mural do Facebook e depois migraram para o livro impresso “Entre-textos”, lançado pela Editora Vidráguas, de Porto Alegre, em 2013, uma publicação de 41 diálogos, ou seja, para cada poema Luiz Otávio responde com outro poema, um desafio chamado: o avesso do verso (reverso).

Por exemplo, Luiz Otávio Oliani, através o poema “Encantamento” responde ao “Mensageiro”, da escritora, contista, romancista, dramaturga e poeta carioca Carmen Moreno.

MENSAGEIRO
Carmen Moreno

O dom vem de Deus.
Dádiva, desce da luz, bruto.
Estende tua mão,
Trabalha tua mensagem,
Afia tua pena, talha tua palavra até o sangue!
Deus descerá um pouco, a cada verso,
Disfarçado sob teus signos.

ENCANTAMENTO
Luiz Otávio Oliani

no balde de juçaras
o homem busca
a água de que precisa

no terreno seco
procura o vento

encontra Deus
disfarçado de sabiá

Na verdade, poetas são estrelas que vivem como se fossem pessoas comuns

Lisie Silva: DE TUDO, UM POUCO...

Lisiê SIlva, poeta de bem com a vida

Paulo Peres
Poemas & Canções

A poeta amazonense Lisiê Silva faz uma homenagem especial a quem transforma sentimentos em poemas espalhados pelo mundo. E tem toda razão ao dizer que os poetas são estrelas que vivem como se fossem pessoas comuns.

POETAS SÃO ESTRELAS
Lisiê Silva
 

Os poetas são estrelas…
Vivas, brilhantes, ascendentes…
Que vivem como pessoas comuns.
Se revelam ao mundo
através de suas palavras: a Poesia.

São os sábios dos sentimentos.
Doutores nos segredos da alma.
Escultores da grandeza do espírito.
São os mágicos da vida:
Transformam a alegria,
a dor e a tristeza
em arte de rara beleza.

São pensadores que entendem
a maior de todas as ciências:
A do coração!
São loucos de amor,
passivos no seu mundo interior.
Amantes criativos,
Sonhadores perdidos.

São apaixonados evoluídos.
Astros viajantes do tempo.
Estrelas vivas que acendem
o universo da paixão.

Uma bela canção de amor à Natureza, por Xangai e Ivanildo Vilanova  

Xangai - Qué Qui Tu Tem Canário (1981)

Xangai, grande compositor baiano

Paulo Peres
Poemas & Canções

Xangai, o cantor, violeiro e compositor baiano Eugênio Avelino (conhecido pelo apelido, devido à Sorveteria Xangai, que era propriedade de seu pai) compôs com seu parceiro Ivanildo Vilanova uma das mais extensas letras da música brasileira, exaltando a natureza, em muitas das suas manifestações. A música “Natureza” foi gravada no CD Xangai – Mutirão da Vida, em 1998, pela Kuarup.

NATUREZA
Ivanildo Vilanova e Xangai

É o céu uma abóbada aureolada
Rodeada de gases venenosos
Radiantes planetas luminosos
Gravidade na cósmica camada
Galáxia também hidrogenada
Como é lindo o espaço azul-turquesa
E o sol fulgurante tocha acesa
Flamejando sem pausa e sem escala
Quem de nós pensaria apagá-la
Só o santo doutor da natureza
De tais obras, o homem e a mulher
São antigos e ricos patrimônios
Geram corpos em forma de hormônios
Criam seres sem dúvida sequer
O homem após esse mister
Perpetua a espécie com certeza
A mulher carinhosa e indefesa
Dá à luz uma vida, novo brilho
Nove meses no ventre aloja o filho
Pelo santo poder sã natureza
O peixe é bastante diferente
Ninguém pode entender como é seu gênio
Reservas porções de oxigênio
Mutações para o meio ambiente
Tem mais cartilagem resistente
Habitando na orla ou profundeza
Devora outros peixes pra despesa
E tem época do acasalamento
revestido de escamas esse elemento
Com a força da santa natureza
O poroquê ou peixe-elétrico é um tipo genuíno
Habitante dos rios e águas pretas
Com ele possui certas plaquetas
Que o dotam de um mecanismo fino
Com tal cartilagem esse ladino
Faz contato com muita ligeireza
Quem tocá-lo padece de surpresa
Descarga mortífera absoluta
Sua auto voltagem eletrocuta
Com os fios da santa natureza
Tartaruga gostosa, feia e mansa
Habitante dos rios e oceanos
Chegar aos quatrocentos anos
Pra ela é rotina, é confiança
Guarda ovos na areia e nem se cansa
De por eles zelar como defesa
Nascido os filhotes com presteza
Nas águas revoltas já se jogam
Por instinto da raça não se afogam
E pelo santo poder da natureza
O canário é pássaro cantor
Diferente de garça e pelicano
Papagaio, arara e tucano
Todos eles com majestosa cor
O gavião é um tipo caçador
E columbiforme é a burguesa
O aquático flamingo é da represa
A águia rapace agigantada
Eis o mundo das aves a passarada
Quanto é grande, poderosa e bela a natureza
A gazela, o antílope e o impala
A zebra e o alce felizardo
Não habitam em comum com o leopardo
O leão e o tigre-de-bengala
O macaco faz tudo mas não fala
Por atraso da espécie, por franqueza
Tem o búfalo aspecto de grandeza
O boi manso e o puma tão valente
Cada um de uma espécie diferente
Tudo isso é obra da natureza
Acho também interessante
O réptil de aspecto esquisito
O pequeno tamanho do mosquito
A tromba prênsil do elefante
A saliva incolor do ruminante
A mosca nociva e indefesa
A cobra que ataca de surpresa
Aplicar o veneno é seu mister
De uma vez mata trinta se puder
Mas isso é coisa da natureza
No nordeste há quem diga que o corão
Possui certos poderes encantados
Através de fenômenos variados
Prevê a mudança de estação
De fato no auge do verão
Ele entoa seu cântico de tristeza
De repente um milagre, uma surpresa
Cai a chuva benéfica e divina
Quem lhe diz, quem lhe mostra, quem lhe ensina?
Só pode ser o autor da natureza
Quem é que não sabe que o morcego
Com o rato bastante se parece
Nas cavernas escuras sobe e desce
Sugar sangue dos outros é seu emprego
Às noites escuras tem apego
Asqueroso ele é tenho certeza
Tem na vista sintoma de fraqueza
Porém o seu ouvido é muito fino
E um sonar aparelho pequenino
Que lhe deu o autor da natureza
Admiro a formiga pequenina
Fidalga inimiga da lavoura
No trabalho aplicado professora
Um exemplo de pura disciplina
Através das antenas se combina
Nos celeiros alheios faz limpeza
Formigueiro é a sua fortaleza
Onde cada uma delas tem emprego
Uma entra outra sai não tem sossego
Isso é coisa da santa natureza
A aranha pequena, tão arguta
De finíssimos fios faz a teia
Nesse mundo almoça, janta e ceia
É ali que passeia, vive e luta
Labirinto intrincado ela executa
Seu trabalho é bordado em qualquer mesa
Quem pensar destruir-lhe a fortaleza
Perderá de uma vez toda a esperança
Sua rede é autêntica segurança
Operária das mãos da natureza
A planta firmada no junquilho
Begônia, tulipa, margarida
As pedras riquíssimas da jazida
Com a cor, o valor, a luz, o brilho
A prata e o ouro cor de milho
O brilhante, a opala e a turquesa
A pérola das jóias da princesa
É difícil, valiosíssima e até
Alguém pensa ser vidro mas não é
É um milagre da santa natureza
O inseto do sono tsé-tsé
As flores gentis com seus narcóticos
As ervas que dão antibióticos
A mudança constante da maré
A feiúra real do caboré
no pavão é enorme a boniteza
Tem o lince visão e agudeza
E o cachorro finíssima audição
Vigilante mal pago do patrão
Isso é coisa da santa natureza?
A cigarra cantante dialoga
Através do seu canto intermitente
De inverno a verão canta contente
E a sua canção não sai da voga
Qualquer árvore é a sua sinagoga
Não procura comida pra despesa
Sua música sinônimo de tristeza
Patativa da seca é o seu nome
Se deixar de cantar morre de fome
Mas isso a gente sabe que é da natureza

Doces recordações dos anos dourados inspiram a poesia de Lena Basso

Poeta - O site do poeta brasileiro >>>

Lena Basso, poeta paulista

Paulo Peres
Poemas & Canções

A pedagoga, professora e poeta paulista Merilena Ferioli Basso, mais conhecida por Lena Basso, eternizou em versos  os “Anos 60” , com suas doces recordações.

“ANOS 60″
DOCES RECORDAÇÕES

Lena Basso

Quanta recordação me traz
uma época que não volta mais.
Doces ilusões guardadas,
lindos momentos vividos,
despreocupação geral,
uma grande curtição!

O vestido de bolinhas,
saia godê e gola rolê,
sandália de tirinhas
eram minha indumentária
para ir na praça passear,
…tomar Banho de Lua.

Radinho de pilhas ligado,
ouvindo e aprendendo,
cantarolando sem parar
música popular e rock importado.

Nas curvas das estradas
meu pensamento se perdia.
Eu era feliz e disso sabia.
O pouco que tive, sempre foi tudo
para provar das melhores emoções.
O que faltou, se é que faltou,
foram apenas pequenos detalhes.

No Dia Internacional da Mulher, meu coração, não sei por quê, bate feliz… 

Carinhoso - Braguinha - LETRAS.MUS.BR

Braguinha, um compositor realmente genial

Paulo Peres
Poemas & Canções

O compositor carioca Carlos Alberto Ferreira Braga (1907-206), conhecido como Braguinha ou João de Barro, fez uma belíssima declaração de amor ao colocar letra no famoso choro “Carinhoso”, um dos maiores clássicos da MPB, composto por Pixinguinha.  “Carinhoso” foi gravado por Orlando Silva, em 1937, pela RCA Victor. É a segunda música brasileira mais gravada, junto com Aquarela do Brasil (Ary Barroso), com 430 gravações. Só perdem para Garota de Ipanema (Tom e Vinicius), com 442 gravações.

CARINHOSO
Pixinguinha e Braguinha

Meu coração, não sei por quê
Bate feliz quando te vê
E os meus olhos ficam sorrindo
E pelas ruas vão te seguindo,
Mas mesmo assim foges de mim.

Ah se tu soubesses
Como sou tão carinhoso
E o muito, muito que te quero.
E como é sincero o meu amor,
Eu sei que tu não fugirias mais de mim.

Vem, vem, vem, vem,
Vem sentir o calor dos lábios meus
A procura dos teus.
Vem matar essa paixão
Que me devora o coração
E só assim então serei feliz,
Bem feliz.

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DIA INTERNACIONAL DA MULHER!
Paulo Peres

Quero parabenizá-la, dizendo que
não existe palavra capaz de definir,
peculiarmente, esta dádiva chamada
MULHER, maravilha infinita
que embeleza o cotidiano!…

Na criativa poesia de Lêdo Ivo, é possível mudar, mas continuar o mesmo

Homenagem a Lêdo Ivo – Educação Emocional e Terapia por meio de contosPaulo Peres
Poemas & Canções

O jornalista, cronista, romancista, contista, ensaísta e poeta alagoano Lêdo Ivo (1924-2012), membro da Academia Brasileira de Letras, no soneto “A Mudança”, afirma que se pode mudar e permanecer bem longe das mudanças, sendo, ao mesmo tempo, quem vive e quem morre.

A MUDANÇA
Lêdo Ivo

Mudo todas as horas.
E o tempo, sem demora,
muda mais do que fia.

Mudo mas permaneço
bem longe das mudanças.
Como uma flor, floresço.
Sou pétala e esperança.

Mudo e sou sempre o mesmo,
igual a um tiro a esmo.
Como um rio que corre.

Sem sair de onde estou,
de tanto mudar sou
o que vive e o que morre. 

Walter Franco e as velas abertas, sempre em busca de novos horizontes

Walter Franco – Wikipédia, a enciclopédia livre

Walter Franco morreu aos 74 anos

Paulo Peres
Poemas & Canções

O cantor e compositor paulista Walter Rosciano Franco (1945-2019), na letra de “Vela Aberta”, mostra que na praia o desejo por horizontes novos é constante e as velas abertas sempre despertam anseios de navegar. Nestes momentos percebemos que todos os povos possuem muito em comum e podem ser irmanados.  A música foi gravada por Walter Franco no LP Vela Aberta, em 1980, pela Epic/CBS.

VELA ABERTA
Walter Franco

Lá vai uma vela aberta
Se afastando pelo mar
Branca visão que desperta
Anseios de navegar

Meus olhos seguem a vela
Pela vastidão do mar
Ainda se torna mais bela
Na expressão do teu olhar
Expressão vaga e perdida
Que eu nem sei como explicar
Nela vejo refletida
Toda beleza do mar

Quero os horizontes novos
Que ele vai me ofertar
Sou irmão dos outros povos
Que estão para além do mar

Duas marionetes sem brio e a relação por um fio, na poesia de Jorge Ventura

Jorge Ventura, poeta e ator carioca

Paulo Peres
Poemas & Canções

O publicitário, ator, jornalista e poeta carioca Jorge Ventura, no poema “Marionetes”, destacou as dualidades sempre existentes nas relações entre as pessoas.

MARIONETES
Jorge Ventura  

Existe entre nós
um par com duas pontas.
Cada qual com dois prós,
cada qual com dois contras.

Puxa-se uma corda daqui,
outra dali,
mãos e pernas espalham-se
emaranhados
em movimentos manipulados,
sabe Deus por quem.

O vaivém dos gonzos
range os limites estipulados,
em meio a trapos, farrapos
e desculpas esfarrapadas.

Duas marionetes sem brio
e a relação por um fio

Num soneto de rimas perfeitas, Jorge de Lima vai perdendo a lucidez…

A POESIA DO BRASIL: JORGE DE LIMA (1893-1953)... E OS 100 ANOS DO LIVRO "XVI ALEXANDRINOS"...

Jorge de Lima, retratado por Portinari

Paulo Peres
Poemas & Canções

O político, médico, pintor, tradutor, biógrafo, ensaísta, romancista e poeta alagoano Jorge Mateus de Lima (1893-1953) em “Solilóquio Sem Fim e Rio Revolto”, conversa consigo mesmo e foge completamente da razão, num soneto de rimas absolutamente perfeitas.

SOLILÓQUIO SEM FIM E RIO REVOLTO
Jorge de Lima

Solilóquio sem fim e rio revolto –
mas em voz alta, e sempre os lábios duros
ruminando as palavras, e escutando
o que é consciência, lógica ou absurdo.

A memória em vigília alcança o solto
perpassar de episódios, uns futuros
e outros passados, vagos, ondulando
num implacável estribilho surdo.

E tudo num refrão atormentado:
memória, raciocínio, descalabro…
Há também a janela da amplidão;

E depois da janela esse esperado
postigo, esse último portão que eu abro
para a fuga completa da razão.

Entre o tempo e o destino, há um caso antigo, um elo, um par…

VÍDEO: Vital Lima e Nilson Chaves relembram 40 anos de composições históricas no #LibCult | Música | O Liberal

Vital e Chaves, dois grandes compositores

Paulo Peres
Poemas & Canções

O filósofo, instrumentista, cantor e compositor paraense Euclides Vital Porto Lima, com seu parceiro Nilson Chaves, na letra de “TempoDestino”, mostra o que poderia ocorrer caso o tempo ficasse parado. Essa música foi gravada por Vital Lima e Nilson Chaves no LP Interior, em 1986, pela Vision.

TEMPODESTINO
Nilson Chaves e Vital Lima

Há entre o tempo e o destino
um caso antigo, um elo, um par
que pode acontecer, menino,
se o tempo não passar?
Feito essas águas que subindo
forçaram a gente a se mudar
Que pode acontecer, meu lindo,
se o tempo não passar?
O tempo é que me deu amigos
e esse amor que não me sai
que doura os campos de trigo
e os cabelos de meu pai
Faz rebentar paixões
depois se entrega às criações
e assim mantém a vida…
Que acontecerá aos corações
se o tempo não passar?
Não mato o meu amor,
no fundo porque tenho amizade nele
que já faz parte do meu mundo
do tempo entre eu e ele.

Ao homem cabe pontuar a própria vida, mas não é preciso usar o ponto final

Bola de futebol... é um utensílio... João Cabral de Melo Neto - PensadorPaulo Peres
Poemas & Canções

O diplomata e poeta pernambucano João Cabral de Melo Neto (1920-1999), no poema “Questão de Pontuação”, afirma que o homem que pontuar a sua vida é aceito por todos, mas ele só discorda do ponto final.

QUESTÃO DE PONTUAÇÃO
João Cabral de Melo Neto

Todo mundo aceita que ao homem
cabe pontuar a própria vida:
que viva em ponto de exclamação
(dizem: tem alma dionisíaca);
viva em ponto de interrogação
(foi filosofia, ora é poesia);
viva equilibrando-se entre vírgulas
e sem pontuação (na política):
o homem só não aceita do homem
que use a só pontuação fatal:
que use, na frase que ele vive,
o inevitável ponto final.

A Terra é a mãe da vida e quem a ama deve aprender a cuidar dela

Vital Farias, O Cantador

Vital Farias e a filha Giovanna

Paulo Peres
Poemas & Canções

O músico, cantor e compositor paraibano Vital Farias, na letra de “Não Jogue Lixo No Chão”, conclama as pessoas a repensarem as suas atitudes, sob pena de inviabilizarem a vida no planeta para as gerações vindouras. Esta música faz parte do CD independente Uyraplural-Giovanna Farias & Vital Farias, produzido pelo próprio Vital Farias em 2002, que marcou a estreia de sua filha e cantora Giovanna Farias.

NÃO JOGUE LIXO NO CHÃO
Vital Farias

Não jogue lixo no chão
Chão é pra plantar semente
Pra dar o bendito fruto
Pra alimentação da gente

O peixe que sai do rio
O amor que sai do peito
A água limpa da fonte
O sentimento perfeito

Não jogue lixo no chão

A natureza é quem cria
O amor imediatamente
Milagre que faz da vida
Bendito fruto do ventre

Não jogue lixo no chão

Não jogue lixo no chão
Nem rios, lagos e mares
A terra é nossa morada
Onde habita nossos pares

A terra que tudo cria
Não pede nada demais
Se tratada com carinho
Para vigorar a paz

Se queres sabedoria
Aprenda isto de cór
A terra é a mãe da vida
Útero ventre maior

Não jogue lixo no chão

O amor pode ser tão grande que não é necessário dizer nada…

Tribuna da Internet | “Prefiro tê-la jovem no meu sonho, do que velha, apertá-la nos meus braços…”Paulo Peres
Poemas & Canções

O advogado, político e poeta acreano José Guilherme de Araujo Jorge (1914-1987) ou, simplesmente, J. G. de Araújo Jorge, foi conhecido como o Poeta do Povo e da Mocidade, pela sua mensagem social e política e por sua obra romântica, como no poema “O Resto é Silêncio”, no qual  J.G. de Araújo Jorge mostra que, quando dois amantes estão um no outro, como se estivessem sozinhos, o resto é silêncio.

O RESTO É SILÊNCIO
J.G. de Araújo Jorge

E então ficamos os dois em silêncio, tão quietos
como dois pássaros na sombra, recolhidos
ao mesmo ninho,
como dois caminhos na noite, dois caminhos
que se juntam
num mesmo caminho…

Já não ouso… já não coras…
E o silêncio é tão nosso, e a quietude tamanha
que qualquer palavra bateria estranha
como um viajante, altas horas…

Nada há mais a dizer, depois que as próprias mãos
silenciaram seus carinhos…
Estamos um no outro
como se estivéssemos sozinhos..

E o poeta Vinicius, humildemente, colocou letra num choro de Pixinguinha…

Documentário mostra parceria entre Vinicius e Pixinguinha - Jorn

Vinicius e Pixinguinha, gênios da música

Paulo Peres
Poemas & Canções

O diplomata, advogado, jornalista, dramaturgo, compositor e poeta carioca Vinícius de Moraes (1913-1980), na letra do chorinho “Lamento”, confessa a tristeza do desamor e tenta a reconciliação. O choro “Lamento”, composto por Pixinguinha em 1928, foi originalmente apenas instrumental e somente em 1962 ganhou essa letra do Vinícius de Moraes. O chorinho foi gravado por Elizeth Cardoso no LP Muito Elizeth, em 1966, pela Copacabana.

LAMENTO
Pixinguinha e Vinícius de Moraes

Morena, tem pena
Mas ouve o meu lamento
Tento em vão te esquecer
Mas olhe, o meu tormento é tanto
Que eu vivo em prantos, sou tão infeliz
Não há coisa mais triste, meu benzinho
Que esse chorinho que eu te fiz

Sozinho, morena
Você nem tem mais pena
Ai, meu bem, fiquei tão só
Tem dó, tem dó de mim
Porque eu estou triste assim por amor de você
Não há coisa mais linda neste mundo
Que o meu carinho por você

Morena, tem pena…

Nas contradições do mundo, surge muita dificuldade na crença em Deus

A crença em Deus subsiste devido ao... Sigmund Freud - PensadorPaulo Peres
Poemas & Canções

Formado em Letras (Português e Literatura), artista gráfico, músico e poeta carioca João de Abreu Borges (1951-2019) versificou seu “Antipanteísmo”, inconformado com a crença de que Deus e todo o universo são uma única e mesma coisa e que Deus não existe como um espírito separado.

Poetas que escreveram sobre a natureza foram com frequência adeptos do panteísmo. Um bom exemplo desta crença está em alguns poemas de Fernando Pessoa. O panteísmo ensina que Deus é todo o universo, a mente humana, as estações e todas as coisas e ideias que existem. A palavra panteísmo vem de dois termos gregos que significam tudo e Deus.

ANTIPANTEÍSMO
João de Abreu

Acho que chega, meu Deus,
De tantos ateus,
De tantos emigrantes
De suas próprias almas
Sem viver o que
aqui e agora
É só o que morreram
no passado
Ou quase no futuro
Não haverão mais de existir

Acho que chega, meu Deus,
Deixe-me sozinho,
Então,
Com meu corpo estranho
Que um dia irá partir

E eu nem tenho o direito
De saber
Para onde vão tantos sonhos
Tantos caminhos…

Um livro aberto você pode encontrar na cabeça de um poeta acordado

Ilka Bosse - Empresária Aposentada - Choupana I. C. Representação | LinkedIn

Ilka Bosse, poeta catarinense

Paulo Peres
Poemas & Canções

A pedagoga (formada em duas habilitações na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras), empresária aposentada, escritora, cronista e poeta catarinense Ilka Bosse, conhecida como Bailarina das Letras, tentou entender uma “Cabeça de Poeta”.

CABEÇA DE POETA
Ilka Bosse

Livro aberto tu encontras
na cabeça de um poeta acordado
Com a sabedoria tu te confrontas
entre estrofes ou poema inacabado.

É incógnita o que nesta cabeça contém
Pois vê o poeta tudo diferente, …do avesso
Querer entendê-lo? Acredito, já não convém
Pois o poeta que é poeta não tem endereço!

Ele vai folhando sua sabedoria nata
Deleita na natureza, beijando a verde mata
Sonha sua dor/desejo/alegria/emoção e paixão

À beira-mar, na areia, …onde edificou castelos
Em delírios volta à realidade, compõe versos belos
Morre o Poeta, mas fica, na biblioteca, seu coração.

“Pede a banda pra tocar um dobrado, olha nós outra vez no picadeiro…”

Parceria entre Ivan Lins e Vítor Martins rendeu mais de 100 músicas – Jornal da USP

Ivan e Martins, parceiros magistrais

Paulo Peres
Poemas & Canções

Na letra de “Somos todos iguais nesta noite”, em parceria com Ivan Lins, o compositor (letrista) paulista Vitor Martins compara o mundo a um circo, onde seguimos o ritmo da banda de fanfarra, em alusão à ditadura militar vigente no país de 1964 a 1985. A música intitula o LP Somos todos iguais nesta noite, lançado por Ivan Lins, em 1977, pela EMI-Odeon.

SOMOS TODOS IGUAIS NESTA NOITE
Ivan Lins e Vitor Martins

Somos todos iguais nesta noite
Na frieza de um riso pintado
Na certeza de um sonho acabado
É o circo de novo

Nós vivemos debaixo do pano
Entre espadas e rodas de fogo
Entre luzes e a dança das cores
Onde estão os atores

Pede a banda
Pra tocar um dobrado
Olha nós outra vez no picadeiro
Pede a banda
Prá tocar um dobrado
Vamos dançar mais uma vez

Somos todos iguais nesta noite
Pelo ensaio diário de um drama
Pelo medo da chuva e da lama
É o circo de novo

Nós vivemos debaixo do pano
Pelo truque malfeito dos magos
Pelo chicote dos domadores
E o rufar dos tambores

Hilda Hilst usa linhos e unguentos para o coração machucado pelo tempo

As mulheres em geral são chatíssimas;... Hilda Hilst - PensadorPaulo Peres
Poemas & Canções

A ficcionista, dramaturga, cronista e poeta paulista Hilda Hilst (1930-2004) usa o poema “Penso Linhos e Unguentos”, para os ferimentos que o tempo produziu no coração.

PENSO LINHOS E UNGUENTOS
Hilda Hilst

Penso linhos e unguentos
para o coração machucado de tempo.
Penso bilhas e pátios
Pela comoção de contemplá-los.
(E de te ver ali à luz da geometria de teus atos)
Penso-te
Pensando-me em agonia. E não estou.
Estou apenas densa
Recolhendo aroma, passo
O refulgente de ti que me restou.