Para melhorar a democracia, não é preciso elevar o número de deputados

Líder do DEM critica 'república da caserna' e vê risco em votações  importantes

Câmara já está entupida e vai ganhar mais 18 deputados

José Luiz Alquéres
Diário de Petrópolis

A democracia que consta ter sido inventada na Grécia antiga evoluiu muito desde então e permanece necessitando de contínuos aperfeiçoamentos. Só para dar um parâmetro, o contingente eleitoral ateniense era de cerca de 4% de sua população total. E ela foi, por séculos, o grande exemplo do que se chama democracia.

Tais aperfeiçoamentos são vitais para que políticos apressados, com base em algumas de suas disfuncionalidades, pretendam substituí-la por adaptações autoritárias que distorcem a essência daquilo que constitui a sua maior virtude.

REPRESENTAÇÃO DESIGUAL – Uma das maiores distorções que a democracia brasileira apresenta é a desigual representação das populações em função da sua dispersão no território nacional.

O conceito que todos os cidadãos são iguais e que a cada um corresponde um voto na Câmara dos Deputados é um claro exemplo de como aquele mandamento democrático é violado.

No Amapá, por exemplo, o quociente eleitoral de um deputado é de cerca de 90 mil votos. No Estado de São Paulo é de 630 mil votos. Isso significa que, em votações na Câmara Federal, os votos de sete cidadãos paulistas têm o mesmo peso que apenas um voto de um cidadão do Amapá.

NEFASTA DISTORÇÃO – É uma enorme distorção da democracia representativa e que leva a nefastas consequências na implantação de políticas públicas.

Este fato, que tem remotas origens históricas foi agravado durante o regime instituído pelo golpe militar visando manter os currais eleitorais do Norte e Nordeste nas mãos de seus velhos coronéis.

Não é uma invenção brasileira, pois os founding fathers dos EUA para manter a supremacia do voto branco fizeram com que cinco votos de pretos sulistas equivalessem a dois votos de brancos nortistas em nome da governabilidade da jovem nação, a primeira grande democracia dos tempos modernos.

Dirão os críticos que isso é necessário para que Estados menos povoados não sejam sub-representados no Congresso, mas isso é uma inverdade.

EXISTE O SENADO – A representação dos Estados da Federação no Congresso é equalitária no Senado Federal onde cada um deles possui o mesmo número de senadores.

Independentemente de sua população, há, evidentemente, a necessidade de uma reformulação na divisão territorial da região Norte, concebida ainda no império.

Essa incoerência mostra unidades da federação como o Amazonas e o Pará desproporcionalmente grandes em relação a outras unidades da federação. Uma boa política poderia ser dividi-las segundo as grandes bacias hidrográficas contidas nestes Estados.

PRESERVAÇÃO AMBIENTAL – Com isso, faríamos com que a prioridade para a preservação ambiental não decorresse de espúrias demarcações políticas e sim no respeito ao que a própria natureza sugere para a adequada conservação ambiental.

 Se formos analisar o porquê de tantas distorções na lógica da repartição territorial e representação política, veremos que o dedo podre de governantes autoritários sempre esteve por trás da nossa atual configuração política e que já é mais do que tempo para acabar com esta inconstitucional e aética desqualificação de alguns cidadãos em benefício de outros.

Mas atenção: não precisamos aumentar o número de deputados, apenas redistribuir o número atual de forma mais justa.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Excelente artigo, enviado por Mário Assis Causanilhas. O autor, José Luiz Alquéres, é um intelectual que faz muita falta ao governo federal. (C.N.)

3 thoughts on “Para melhorar a democracia, não é preciso elevar o número de deputados

  1. A Constituição de 1988 ainda é um atraso civilizatório.

    Prevê todas as regalias e privilégios e imunidades injustificáveis para castas do Legislativo e do Judiciário.

    Como em um Estado Unitário, demasiado poder e concentração de atribuições e recursos na União.

    Multiplicação de corruptos Municípios, sempre com o pires na mão.

    Todos querem ser membros dos poderes Legislativo e Judiciário com seus desmandos.

    Quantos recursos são dissipados com esse sistema político concentrador, autocentrado e ineficiente?

  2. Senhor Carlos Newton , os atuais e antigos ” parlamentares Brasileiros ” deram-nos provas cabais de que são perfeitamente ” dispensáveis e nocivos ” ao país , além de transformarem o congresso nacional num verdadeiro covil de ” criminosos e bandidos ” , contando com a ” omissão e conivência ” de alguns membros criminosos e corruptos da magistratura Brasileira , com o agravante de que nenhum deles tem interesse em atuar em beneficio do país e seu povo , e mais a mais a tal ” PCMI ” não deveria sob nenhuma hipótese ser ” aberta e conduzida ” por quaisquer parlamentar Brasileiro , pois nenhum deles são ” idôneos ou honestos ” , mas querem usarem a tal ” CPMI ” para roubarem provas contra si e contra seus comparsas , como é público e notório .

  3. Enquanto não cair ficha dando conta de que não vivemos, ou sobrevivemos, numa democracia de verdade mas isto isto sim numa plutocracia putrefata com jeitão de cleptocracia e ares fétidos de bandidocracia, fica difícil até para fazer comentários sobre aquilo que se afeiçoa a fake news endossada pela imprensa falada, escrita e televisionada que, no caso, de duas uma: tola ou cúmplice da mentira.

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