Paulo Peres
Poemas & Canções
O advogado e poeta mato-grossense Manoel Wenceslau Leite de Barros afirma ser na vida um “apanhador de desperdícios”, sempre inspirado na natureza e que através das palavras compõe seus silêncios.
O APANHADOR DE DESPERDÍCIOS
Manoel de Barros
Uso a palavra
para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água, pedra, sapo.
Entendo bem o sotaque das águas.
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos,
como as boas moscas.
Queria que a minha voz
tivesse um formato de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra
para compor meus silêncios.
É… tudo bem, fica assim. Espero que um menos avisado, ao ler esse escrito, não pense que é saudável comer mosca! E assim life goes on.