O tarifaço de Trump e a reação brasileira: Entre improviso e o desafio da soberania

Charge do J.Bosco (O Liberal)

Pedro do Coutto

A imposição de tarifas comerciais elevadas contra produtos brasileiros pelo presidente norte-americano Donald Trump acendeu uma luz vermelha no governo brasileiro. Com forte impacto sobre setores estratégicos da economia — como o agronegócio, a siderurgia e a indústria de base —, o tarifaço não é apenas um gesto isolado de política econômica dos Estados Unidos. Ele representa uma inflexão no relacionamento comercial entre os dois países e evidencia, sobretudo, o grau de vulnerabilidade da política externa e comercial do Brasil frente a ações unilaterais vindas de Washington.

O governo Lula, ao que tudo indica, está ciente da gravidade da situação. No entanto, a resposta brasileira tem sido marcada por improvisações, com foco em medidas emergenciais, em vez de uma estratégia de longo prazo. Entre as alternativas em discussão, está o uso de recursos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para sustentar o capital de giro de empresas exportadoras que serão diretamente afetadas pela perda de competitividade. Em outras palavras, a ideia é compensar, com dinheiro público, a queda das receitas causadas pelas tarifas americanas.

LONGO PRAZO – A proposta, embora bem-intencionada no curto prazo, levanta sérias questões. Primeiro, porque substitui receitas privadas — fruto de exportações — por gastos públicos. Segundo, porque se trata de uma medida episódica, insustentável ao longo do tempo.

O tarifaço é permanente. O aporte do BNDES, por sua vez, é um movimento único, pontual. Não se pode esperar que o banco estatal injete capital nas empresas brasileiras a cada novo gesto de protecionismo internacional. Isso comprometeria os fundamentos fiscais do país, além de gerar uma distorção perigosa: o Brasil assumiria os prejuízos impostos por decisões políticas de outra nação.

Por trás dessa reação apressada, está uma contradição estrutural: o Brasil ainda é demasiadamente dependente de poucos parceiros comerciais, e os Estados Unidos ocupam lugar central nesse cenário. A falta de uma estratégia eficaz de diversificação de mercados deixa o país exposto a riscos externos que poderiam ser mitigados.

FRAGILIDADE – Com mais alternativas de exportação, os impactos de medidas protecionistas vindas de Washington seriam diluídos. Mas o que se vê, infelizmente, é uma insistente fragilidade no comércio exterior brasileiro, que segue refém de velhas rotas e de relações assimétricas.

O comportamento errático de Donald Trump, por sua vez, já é conhecido no cenário global. Desde seu primeiro mandato, o magnata republicano vem utilizando o protecionismo como instrumento político, não apenas econômico. Tarifas, barreiras, boicotes e sanções são aplicados com o objetivo de fortalecer sua imagem de líder nacionalista e intransigente.

No caso brasileiro, não é diferente. Ao anunciar tarifas contra produtos brasileiros, Trump não busca apenas equilibrar a balança comercial — ele busca palco. Quer provocar reações, gerar controvérsia e aparecer nos noticiários como o presidente que “não abaixa a cabeça para ninguém”.

AUMENTO DE PREÇOS  – Mas enquanto Trump faz política para sua base eleitoral, o Brasil colhe prejuízos. A elevação de tarifas significa aumento de preços para os consumidores americanos, sim, mas principalmente significa redução do volume exportado pelos produtores brasileiros. Com isso, perdem as empresas, perdem os trabalhadores, perde o Estado — que vê sua arrecadação encolher. E perde o país, que se vê acuado diante de uma medida que poderia ser enfrentada com mais vigor diplomático e mais preparo técnico.

O episódio evidencia um ponto sensível: o Brasil carece de uma política comercial robusta, ativa, propositiva e menos dependente de improvisos. É urgente que o país invista na ampliação de seus acordos bilaterais e multilaterais, estreite relações com mercados da Ásia, África e América Latina e diversifique sua pauta exportadora. Além disso, é preciso modernizar as estruturas de defesa comercial, capacitar empresas para atuar em mercados internacionais mais sofisticados e aumentar a presença do país em fóruns globais de negociação, como a OMC.

POSTURA SOBERANA – Do ponto de vista diplomático, o governo brasileiro precisa atuar com mais firmeza e clareza. A política externa não pode ser apenas reativa. É necessário recuperar uma postura soberana, assertiva e estratégica. O Itamaraty, que por décadas foi referência em atuação técnica e respeitada no mundo, precisa reassumir protagonismo no debate internacional, em vez de correr atrás dos danos causados por gestos impulsivos de outras lideranças.

O tarifaço imposto por Trump não é apenas um entrave econômico — é um alerta geopolítico. Mostra que o mundo está cada vez mais volátil e que a dependência excessiva de um único parceiro pode custar caro. A resposta brasileira precisa ir além do paliativo. É hora de planejar o futuro com menos dependência, mais estratégia e mais coragem. Porque soberania não se sustenta com empréstimos emergenciais. Sustenta-se com visão, preparo e liderança.

12 thoughts on “O tarifaço de Trump e a reação brasileira: Entre improviso e o desafio da soberania

  1. 1) É a chegada dos Brics, uns são contra outros a favor, mas a marcha do mundo é assim mesmo…

    2) Trump e o tarifaço é um novo mundo que se descortina…

    3) E o começo dos EUA aceitarem a perda da hegemonia, mas vai ainda demorar um pouco…

    • Caro amigo … Bortolotto dizia que a China ainda demoraria uns 30 a superar os EUA … Porém, há profecias que indicam subida iminente de Pindorama, certamente por nossa CIDADÃ pacifista.

      Abraço.

    • Precisamos da gana do Japão das três primeiras décadas pós segunda guerra; da tática dos Tigres Asiáticos; da estratégia e engenharia da China.

      Não dá para enxergar apenas o imediatismo, dirigir cambaleante por estrada desconhecida.

      Lula teve três longas décadas e concentrou tudo em si.

      Até Vargas fez melhor e em menos tempo.

      Dom Pedro Segundo, atravessando o século XIX, tinha tudo para ser o maior dentre todos, mas foi devorado pela parcimônia.

      O que cabe pensar?

      Se na virada do século projetos de Novos Tenentismos, como o MV BRASIL, que se perdeu na História, afirmavam:

      Brasil: o paîs do Século XXI.

      Em tom mais profético, embora realista, do que as transcrições inspiradas do século XX.

      Mas nada vem de graça neste universo.

      Progresso não combina com preguiça, falta de disposição, de planejamento, equilîbrio estático ou meramente inercial.

      A vida na Terra é cooperação e também competição.

      Qual o PROJETO NACIONAL?

      Sem Lula, sem Bolsonaro, sem personalismos.

      Um projeto a ser construîdo pelo Brasil e para os brasileiros no nosso tempo e para as décadas vindouras.

  2. De repente a imprensa acadelada que se acumpliciou com a intervenção da CIA na eleição de 2022, A PEDIDO DO PT-STF, virou defensora da soberania. É a mesma gente que silencia quando o narcotraficante Luladrão propõe a submissão do nosso Parlamento aos ditames da elite globalista. Aqui, quem paga, escolhe a música.

  3. Senhor Jorge , então deixaríamos (Brasil) de nos transformarmos uma pseud ” colônia da China ” caso aceitemos em continuar sendo ” lacaios , capachos e títeres ” dos EUA , OTAN , sendo que os EUA nunca nos vendeu produtos dos quais precisávamos até hoje , mas sim o que bem entendem e quando o faziam era com vendas casadas e sob rigoroso ” controle e limitação ” de suas tecnologias ultrapassadas e limitadas , estão aí as FFAAs. Brasileiras , verdadeiras reféns dos EUA , graças aos nossos inimigos internos Brasileiros lesa-pátria .

  4. As exportações brasileiras para os EUA, são da ordem de 12 por cento de todo o comércio nacional.
    A China vem em primeiro lugar com 28 por cento e a União Européia importa 13 por cento dos nossos produtos.
    O Brasil opera com defict com os americanos, significa que importamos mais do que exportamos para a América, logo, a luz da lógica e da racionalidade, esse tarifaço não se sustenta.
    Trata-se de um capricho, do ego inflado de Trump, que faz beicinho contra a atuação do Brasil no âmbito do BRICS e o inconformismo de Trump contra o processo da tentativa de Golpe de Estado, na qual Jair Bolsonaro é o personagem central da trama golpista.

    Trump deseja a Anistia para Bolsonaro e sua turma de generais e coronéis golpistas, porque o atual presidente dos EUA, também tentou continuar no Poder após perder para Joe Biden em 2020 e incentivar a invasão do Congresso americano, chamado de Capitólio. Lá teve cinco mortos na tentativa de invasão e dezenas de feridos. Trump anistiou todos os golpistas, assim que tomou posse, em janeiro deste ano.
    Se não houver Anistia aos golpistas brasileiros, ficará a impressão de que no Brasil, os criminosos são julgados e presos, após a ampla defesa e o contraditório no escopo do processo e nos Estados Unidos, os golpistas saem impunes, livres, leves e soltos, para tentar novamente destruir a Democracia dos Estados Unidos.

    Trump não aceita ficar abaixo do Brasil, sua vaidade doentia não admite derrota.

  5. Assisti na TV Justiça ao discurso do presidente do STF, ministro Luis Roberto Barroso, na abertura do segundo semestre do Judiciário ontem. O magistrado expôs a história das tentativas de Golpe de Estado desde o nascimento da República. O primeiro foi o golpe contra o Marechal Deodoro, articulado pelo vice, o Marechal Floriano.

    Entendo, que a cronologia foi sucinta para caber naquele espaço de tempo, presentes os ministros no Plenário, a PGR e a AGU. A OAB, convidada, não compareceu pelo seu representante.

    O ministro Barroso, não contou, dois episódios marcantes de conspiração contra o Poder central.

    O primeiro contra o Marechal Floriano. Os maragatos saíram do Sul em direção ao Rio de Janeiro para depor Floriano. Quando os maragatos chegaram numa cidade do Paraná, o Barão Idelfonso fez um acordo para que os maragatos não saqueassem a cidade, com apoio de cinco empresários.
    Bem, Floriano sufocou os rebeldes e mandou prender o Barão e os cinco empresários, colocados num trem para serem julgados no Rio de Janeiro.
    No meio da viagem, o trem parou , os presos foram retirados do comboio e fuzilados a mando de Floriano.

    O segundo episódio, foi a tentativa de Golpe contra o presidente, general Ernesto Geisel, armado pelo ministro do Exército, general Silvio Frota, da linha dura da força terrestre, inconformado com os movimentos de Geisel em direção a distensão lenta, gradual e segura, rumo a devolução do Poder aos civis, completado no governo do sucessor, o general João Batista Figueiredo.

    • O imperador Nero Trump, tenta botar fogo no mundo, como o louco romano, que ateou fogo em Roma.

      Na sua busca desenfreada para fazer a América Grande de Novo, Trump usa a arma da chantagem, da ameaça a todos os países com tarifas descabidas, que estão causando instabilidade no comércio mundial.
      Ninguém acredita mais no cumprimento de Acordos Comerciais com os EUA. Trump, ao seu bel prazer, desfaz acordos e desestrutura o comércio global.
      Está ocorrendo uma reação dos Blocos Econômicos, principalmente vindas da Comunidade Européia e dos países aziaticos, China e Índia.

      O poderio americano, pode estar sendo reduzido drasticamente, com a chantagem de Donald Trump, que usa o tarifaço para empreender seu Colonialismo âmbito das nações.

      Aqueles países, que não aceitam o garrote econômico, incluído o Brasil, vão sofrer ameaças de todo tipo, inclusive na invasão da soberania dos países, que não aceitam se submeter aos desejos do atual governo dos EUA, personificado na figura Trumpista.

  6. Caro Nascimento … Boa tarde!

    Já li que são 2 linhas – uma a do Deodoro que determinou ser enterrado com vestes civis e outra a do Floriano da linha dura.

    • Lionço, o Marechal Deodoro da Fonseca era monarquista. Deodoro foi atraído para o movimento da derrubada da Monarquia pela ala republicana das Forças Armadas.

      Floriano Peixoto tinha um apetite para o Poder Autoritário, acima de tudo e de todos, com ele no comando.

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