PL perde influência no Congresso e PT assume protagonismo, aponta estudo

Paulo Mendes Campos tinha momentos de uma poesia autodestrutiva

Não te espantes quando o mundo... Paulo Mendes Campos - PensadorPaulo Peres
Poemas& Canções

O jornalista, escritor e poeta mineiro Paulo Mendes Campos (1922-1991), no poema “Balada do Homem de Fora”,  divaga que o mundo foi feito para quem dele tire proveito.

BALADA DO HOMEM DE FORA
Paulo Mendes Campos

Na alma dos outros há
searas de poesia;
em mim poeiras de prosa,
humilhação, vilania.

O pensamento dos outros
ala-se em frases castiças;
o meu é boi atolado
em palavras movediças.

No gesto dos outros vai
a elegância do traço;
no gesto torto que faço
surge a ponta do palhaço.

O trato dos outros tem
desprendimento, altruísmo;
venho do ressentimento
para os brejos do egoísmo.

O amor de muitos floresce
em sentimento complexo;
mas o meu é desconexo
anacoluto: do sexo.

Na face dos outros vi
a sintaxe do cristal;
na amálgama dos espelhos
embrulhei o bem no mal.

A virtude contra o crime
é um cartaz luminoso
dos outros todos; mas eu
posso ser o criminoso.

Os outros brincam de roda
(carneirinho, carneirão);
são puros como a verdade;
mas eu minto como um cão.

Há quem leia Luluzinha,
há quem leia pergaminhos;
leio notícias reversas
nos jornais de meus vizinhos.

Os outros ficaram bravos
ao pôr de lado o brinquedo,
bravos, leais, sans reproche;
mas eu guardei o meu medo.

Encaminha a mente deles
uma repulsa moral;
na minha pulsa o High Life
do mais turvo Carnaval.

Todos foram tão bacanas
na quadra colegial;
só eu não fui (mea culpa)
nem bacana, nem legal.

O trem dos outros tem
um ar etéreo e eterno;
às vezes ando vestido
como um profeta do inferno.

Muitos voam pelas pautas
que se desfazem nos astros;
amei Vivaldi, Beethoven,
Bach, Debussy, mas de rastros.

Certos olhos são vitrais
onde dá a luz de Deus;
Deus me deu os meus e os teus
para a dor dar-te adeus.

Há tanto moço perfeito
like a nice boy (inglês);
eu falo mais palavrões
que meu avô português.

Os outros são teoremas
lindos de geometria;
eu me apronto para a noite
nos pentes da ventania.

Para quem foi feito o mundo?
Para aquele que o goze.
Como gozá-lo quem gira
no perigeu das neuroses?

Copiei com canivete
este grifo de Stendhal:
“Nunca tive consciência
nem sentimento moral”.

Faço meu Murilo Mendes
quanto à força de vontade:
“Sou firme que nem areia
em noite de tempestade”.

Há gente que não duvida
quando quer ir ao cinema;
duvido de minha dúvida
no meu bar em Ipanema.

Outros, felizes, não bebem,
não fumam; eu bebo, fumo,
faço, finjo, forço, fungo,
fuço na noite sem rumo.

Outros amam Paris, praias,
cataventos, livros, flores,
apartamentos – a vida;
eu nem amo meus amores.

Os outros podem jurar
que me conhecem demais;
quando acaso penso o mesmo,
o demônio diz: há mais…

A infância dos outros era
o céu no tanque da praça;
a minha não teve tanque,
nem céu, nem praça, nem graça.

Até na morte encontrei
a divergência da sorte:
a deles, flecha de luz,
a minha, faca sem corte.

O espaço deles é onde
circunda a casa o jardim;
mas o meu espaço é quando
um parafuso sem fim.

Operação no Rio gera mais críticas a Lula do que a Castro nas redes sociais

Da tragédia ao comício: operação letal vira combustível da direita para 2026

Na engrenagem invisível do crime, a propina sustenta o poder do Comando Vermelho

O crime sobrevive ao se infiltrar nas brechas do poder

Pedro do Coutto

A recente reportagem de O Globo sobre o Comando Vermelho (CV) lança luz sobre um aspecto pouco discutido, porém decisivo, da atuação da facção: a profissionalização da corrupção. Segundo as investigações, dentro da estrutura da organização criminosa há até um “especialista em propinas” — alguém cuja função é administrar pagamentos a agentes públicos e negociar vantagens que mantenham o império do tráfico funcionando com mínima interferência do Estado.

Essa revelação, mais do que um detalhe, expõe a essência do crime organizado no Brasil: ele não sobrevive apenas à base da violência, mas sobretudo pela capacidade de corromper e se infiltrar nas brechas do poder.

ALIANÇA – O Comando Vermelho, nascido nas prisões cariocas durante a ditadura, evoluiu de uma aliança de detentos para uma máquina empresarial do crime, expandindo-se por diversos estados e até alcançando conexões internacionais.

O que antes era um grupo armado, hoje é uma rede que movimenta bilhões e controla territórios com a mesma eficiência de uma corporação. O tráfico de drogas e de armas continua sendo a espinha dorsal, mas o diferencial contemporâneo é a capacidade de operar financeiramente — lavar dinheiro, investir em empresas de fachada e comprar silêncio.

É a economia paralela do crime, sustentada por um mercado de propinas que vai desde o policial de base até setores mais sofisticados da máquina pública. O caso revelado no Complexo da Penha, onde um integrante da facção atua exclusivamente como articulador de propinas, é o retrato dessa engrenagem invisível. Ele não dispara armas, não negocia drogas — negocia impunidade.

FERRAMENTA ESTRATÉGICA – Essa função demonstra que a corrupção deixou de ser uma consequência eventual e se tornou uma ferramenta estratégica. A propina garante o fluxo de informações, o alívio em fiscalizações, a liberdade de circulação de drogas e armas. Em outras palavras, é o óleo que faz girar a máquina do crime.

O problema é que esse sistema corrompe não apenas as instituições, mas a própria ideia de Estado. Quando o crime consegue comprar tolerância ou inação, o poder público deixa de ser a instância legítima do território. Nas comunidades dominadas, o Comando Vermelho dita regras, impõe horários, regula conflitos e até presta “serviços” sociais — papel que deveria ser do Estado. O dinheiro da propina, nesse contexto, não é apenas um suborno: é uma forma de poder.

ESQUEMA – As investigações recentes mostram o tamanho da estrutura financeira envolvida. Em 2025, a polícia descobriu um esquema de lavagem de dinheiro do CV que movimentou cerca de R$ 6 bilhões em um ano, com notas mofadas e marcadas pelo cheiro de drogas.

Em outro caso, planilhas apreendidas indicavam um caixa de R$ 13,8 milhões em apenas um mês, usado para custear advogados, armas e operações. Tudo isso revela um modelo de negócio altamente sofisticado, que depende tanto da violência quanto da capacidade de corromper.

O Estado, por sua vez, continua refém de uma lógica reativa: operações policiais grandiosas, confrontos em favelas, prisões pontuais — sem atacar o núcleo do problema, que é o dinheiro. Enquanto a repressão se concentra no varejo do tráfico, a elite do crime aperfeiçoa seus mecanismos de lavagem e influência.

FRONTEIRA – O enfrentamento eficaz exigiria outro tipo de estratégia: investigação financeira, rastreamento de fluxos, transparência institucional e controle rigoroso sobre servidores e empresas que interagem com o poder público. O que está em jogo vai além da segurança. É uma disputa pelo controle simbólico e prático do Estado. A propina, nesse contexto, é o instrumento que dilui a fronteira entre legalidade e ilegalidade. Cada agente comprado, cada licitação desviada, cada olhar desviado diante de um crime alimenta essa fronteira cinzenta onde o Comando Vermelho prospera.

A reportagem do Globo não apenas revela um crime — revela um sistema. E enquanto o país continuar tratando a corrupção como uma anomalia, e não como parte essencial da engrenagem que sustenta o poder paralelo, continuará condenado a enxugar gelo. O verdadeiro combate ao crime organizado não se faz apenas com fuzis ou helicópteros, mas com integridade, investigação e vontade política. Porque o poder do Comando Vermelho não está apenas nas armas — está, sobretudo, no bolso de quem se vende para mantê-lo.

Especialistas apontam diferentes destinos para pena de Bolsonaro após decisão final do STF

Maioria absoluta dos favelados (88%) aplaude com entusiasmo a operação

Traficante do Comando Vermelho na PB é preso em megaoperação no Rio de Janeiro

As facções e milícias oprimem e exploram os favelados

Fabiano Lana
Estadão

Se há um calcanhar de Aquiles eleitoral na esquerda é a questão de como combater a criminalidade. Se fizermos uma generalização de como pensam esses militantes, a ideia é que o pequeno criminoso só age de maneira violenta porque não tem opções nem perspectivas de vida. Seria vítima de um sistema injusto que alimenta a desigualdade.

Um dos grandes problemas desse tipo de avaliação é o elitismo alienante. Até porque, nem mesmo as pessoas mais pobres, que vivenciam as dificuldades sociais, concordam com a tese. Ao contrário.

BRASIL REAL – A pesquisa da AtlasIntel divulgada nesta sexta-feira, 31, coloca mais luz sobre o problema. De acordo com a sondagem: 88% dos entrevistados que moram em favelas no Rio de Janeiro aprovaram a megaoperação ocorrida esta semana no Rio de Janeiro. O dado é avassalador.

Nem mesmo as 120 mortes foram suficientes para fazer os moradores das comunidades rejeitarem o trabalho policial. Não consideram seus “vizinhos” mortos como vítimas da sociedade.

Um detalhe: 70% dos moradores das favelas consideraram “inapropriado” o minuto de silêncio solicitado pelo ministro Guilherme Boulos pelas vítimas da operação carioca.

ALIENAÇÃO – Ou seja, muita gente, muitas vezes do conforto de seus lares de classe média, de bairros ricos, de cafés afrancesados, quer ensinar como os que sofrem com o problema devem lidar com ele.

Talvez só quem não experimenta diretamente a questão pode vir com teses generalizantes como “o traficante é vítima”, “ele roubou o celular para tomar uma cervejinha”, “nós, ricos, precisamos pagar o pedágio da desigualdade brasileira”, dizem, na arrogância de não sentir a questão na pele e dar lições sobre o assunto.

BOBAGENS – Quem é de esquerda acredita, em geral, que as sociedades humanas são desiguais e injustas, e os oprimidos pelos mais poderosos – os antigos escravos, os atuais assalariados, os informais – devem ser liberados, seja por meios pacíficos, seja pela violência revolucionária.

O traficante, no final das contas, estaria em linha direta com sua ascendência escrava e teria direito à redenção. Sua periculosidade, portanto, se justificaria. Confiram como há uma série de obras de arte, seja no cinema, na música, na literatura, que corroboram essas hipóteses do bandido-herói.

O quase silêncio constrangido do governo petista em relação à megaoperação tem razão de ser. É um tema que os deixa acuados. A direita – mesmo com toda a hipocrisia que sempre acompanha os temas morais – tem a linguagem que a maioria da população aprova quando se trata de crimes: que venha o castigo.

LIÇÃO DE VIDA – Nada de compreensão, nada de análise sociológica, nada de tentativa de realizar os fatos. É a vida como ela é. A pesquisa Atlas também mostrou que a maioria dos brasileiros quer ver operações como essas repetidas.

A questão, entretanto, é que há chance de todas essas operações estarem combatendo as consequências do problema, não a sua causa. Afinal, o dinheiro do tráfico não brota do chão. Há milhões de pessoas dispostas a gastar muito para comprar um produto ilegal. E há outras milhares dispostas a matar e morrer para entrar nesse negócio.

Até hoje, as guerras às drogas, que ocorrem de maneira até mundial, fracassaram. Os EUA e parte da Europa Ocidental partiram para tentativas de legalização, mas os resultados seguem inconclusos.