Paulo Peres
Poemas & Canções
A professora aposentada, escritora, tradutora e poeta gaúcha Lya Fett Luft 1938/2021, no poema “Não Sou Areia” revelava que, junto com o destino, escrevia o roteiro para o palco do seu tempo.
NÃO SOU AREIA
Lya Luft
Não sou areia
onde se desenha um par de asas
ou grades diante de uma janela.
Não sou apenas a pedra que rola
nas marés do mundo,
em cada praia renascendo outra.
Sou a orelha encostada na concha
da vida, sou construção e desmoronamento,
servo e senhor, e sou mistério.
A quatro mãos escrevemos o roteiro
para o palco de meu tempo:
o meu destino e eu.
Nem sempre estamos afinados,
nem sempre nos levamos
a sério.
Quem sou eu?
Sou uma estrada sinuosa
Por mim passam todas as gentes:
Homens simples, mulheres vaidosas
Ricos, pobres, culpados, inocentes
Levo a vida a todos os nortes
Por vales e montes vagueio
Levo à fama, à miséria, à morte
Sou idealizado em devaneios
Mudo com o adverso e o querer
Mas à realidade me confino
Sou o que voce é ou venha a ser
Melhor logo dizer: sou o destino!