Lula anuncia estar procurando o “pilantra do ovo”, evitando se olhar ao espelho

Tribuna da Internet | Se continuar demorando, a autocrítica de Lula pode  chegar junto com autópsia

Charge do Jindelt (Arquivo Google)

Luiz Felipe Pondé
Folha

Você não quer saber quem é o pilantra que está tirando o direito do povo brasileiro comer ovo? Mais uma vez, o Lula revela quem é — um populista de esquerda. Também gostaria que comer fosse um direito, mas só um mentiroso usa esse fato como se fora de fato um fato. Comer não é um direito — é marca da nossa miséria. E o Lula sabe muito bem disso, por isso mente.

A gestão populista da economia do PT derreterá o real, a única coisa que presta que foi feita pelo Brasil por um governo recente, e nosso brilhante primeiro mandatário dirá que é culpa de um pilantra na cadeia produtiva. Argumento petista comum, mas que tem forte apelo na população — tem um milionário roubando meu direito de comer ovo, e o Lula vai me salvar.

PILANTROCRACIA – O Brasil é um país em que a imensa maioria de sua classe dirigente é feita de pilantras. E o presidente afirma estar procurando o pilantra do ovo? Cuidado com o espelho.

Mais alguns anos com esse perfil de políticos e do alto escalão do Judiciário, o país baterá nas rochas, culpando Trump, Musk, o capitalismo, enfim, qualquer um menos eles. Trata-se de uma tragédia específica em que não podemos contar com a inteligência pública, quase toda vendida ao PT.

Impressionante ver como se deduz a inflação do ovo a partir do aquecimento global. Muito calor, pouco milho, produtor dá menos milho para a galinha, ela põe menos ovo, você paga mais caro pelo ovo.

SÃO IRRESPONSÁVEIS – Como ficou fácil explicar tudo “cientificamente”. Ninguém é responsável pelo que acontece, só o produtor e quem “não acredita no aquecimento global”, como se “acreditar no aquecimento global” fizesse de você uma pessoa pura, pertencente ao clube dos santos. O século 21 deixou a inteligência burra.

A mesma coisa para o caos elétrico e os alagamentos em São Paulo. O descuido evidente de várias prefeituras com as árvores e as bocas de lobo, além da incapacidade dos responsáveis do setor privado pela rede elétrica de enfrentar a desordem crescente da cidade, não existem.

O que o brilhante inteligentinho com PhD afirma é que tudo isso é causado pelo aquecimento global.

PALAVRAS VAZIAS – Não se trata de negá-lo. Trata-se sim de perceber como “aquecimento global” ou “crise climática” virou uma cifra para falar algo que parece fazer sentido, mas são, na verdade, palavras vazias. Chove muito, aquecimento global, chove pouco, aquecimento global.

A perda da soberania na Amazônia para o crime organizado, aquecimento global. Queda na popularidade do Lula, aquecimento global. Juros altos, aquecimento global. A pilantragem também tem PhD.

Apesar de todas as juras de amor ao planeta, todo mundo, inclusive o santo Lula que pode destruir o país, e ainda assim será santo, continuará perfurando e faturando.

BALADA DE PILANTRAS – Nada segura o progresso. E os ricos europeus, com seu manto da santidade pós-Segunda Guerra, continuarão posando contra a matriz fóssil, por uma única razão — podem posar, têm grana, pelo menos por um tempo. Que os pobres paguem a conta do estrago.

O que a era Trump/Putin poderá provar é que a geopolítica e a política, segundo a justiça, foi uma balada de pilantras que começa a acabar e a geopolítica e a política voltam a ser o que sempre foram —a guerra por outros meios.

Há muito tempo que a filosofia avisa que o mundo do poder é um circo, mas aqueles que buscam o pilantra do ovo ou o ovo do pilantra juram não ser, claro, para seu próprio bem.

ELES AVISARAM? – Que os bolsonaristas de plantão não venham com seu ressentimento dizer que “avisaram”. Bolsonaro foi e é uma catástrofe, humilhou qualquer tentativa de ajudar o país e se livrar da gangue do PT, e continua humilhando e empatando a f… de quem quer construir alguma opção à tragédia que seria o PT levar 2026 para o seu saco e seu cofre.

A imensa maioria da classe política brasileira só está preocupada com a manutenção dos seus esquemas de corrupção.

Trabalham para isso 24 horas por dia, sete dias por semana, mais do que que vão a Brasília e seu modo “TQQ” de operar —terça, quarta e quinta em Brasília, o resto na piscina de casa no seu estado de origem.

CIRANDA DOS ABUSOS – Uma catástrofe doída de ver é o alto escalão do Judiciário entrar na ciranda dos abusos de orçamento, assim como se afundar nas paixões políticas partidárias, destruindo a percepção do Estado de Direito no país, o que, por sua vez, reforça o niilismo político que existe entre nós.

É comum se referir ao filme de Ingmar Bergman “O Ovo da Serpente”, de 1977, como o filme que descreve o início da tragédia nazista.

Pois bem, o ovo do pilantra decanta o ovo da nossa serpente, a prática política que destruiu e insiste em destruir o nosso país.

TCU detecta a corrupção da OEI, que desvia R$ 478,3 milhões na COP30

Leonardo Barchini (@leonardobarchini) • Instagram photos and videos

Secretário-geral do MEC, Barchini está envolvido

Caio Junqueira
CNN Brasil

A área técnica do Tribunal de Contas da União (TCU) viu possíveis irregularidades no contrato firmado entre o governo e a Organização de Estados Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI) para a organização da COP30 e pediu ao governo federal uma série de esclarecimentos.

O caso foi revelado pela CNN em fevereiro. A Secretário Extraordinária para a COP30, vinculada à Casa Civil da Presidência da República, fechou um contrato de R$ 478,3 milhões sem licitação com a organização.

CONTRATOS EM ALTA – Apenas no segundo semestre de 2024 foram fechados 5 acordos da OEI com o governo Lula que somam cerca de R$ 600 milhões, muito mais que os cerca de R$ 50 milhões de todos os governos anteriores.

No documento de oito páginas datado de 18 de março obtido pela CNN, a área técnica do TCU pede à Secretaria da COP30 os critérios da contratação.

“A falta de informações sobre os critérios que embasaram o valor contratado, aliada à magnitude financeira envolvida, reforça a necessidade de diligência à Unidade Jurisdicionada, para que sejam apresentados esclarecimentos detalhados sobre a composição do valor estimado de R$ 478,3 milhões”, diz o documento.

QUAIS OS CRITÉRIOS? – O texto do TCU pede esclarecimentos sobre “se houve análise comparativa com preços de mercado para serviços similares, incluindo eventuais cotações ou estudos que fundamentaram o montante, e os critérios objetivos que demonstram a economicidade da escolha da OEI em relação a outras alternativas disponíveis”.

O documento também aponta que o formato adotado difere de outras COPs, que fizeram concorrência para o serviço.

“A representação destaca uma discrepância significativa na abordagem adotada pelo Brasil para a organização da COP30, ao apontar que, diferentemente de edições anteriores como a COP26 (Reino Unido, 2021) e a COP27 (Egito, 2022), que se valeram de parcerias com o setor privado e ampla concorrência, o Governo Federal optou por um modelo de contratação direta, sem processo licitatório”, complementa o texto.

SEM LICITAÇÃO – Diz ainda que “as diligências já propostas no âmbito desta representação têm precisamente o objetivo de esclarecer as razões que levaram à adoção desse modelo de contratação direta, em detrimento de alternativas que priorizem a concorrência e a participação do setor privado, como observado nas COPs anteriores, sendo desnecessária, neste momento, a formulação de novos medidas específicas sobre o tema”.

O TCU também pede o detalhamentos dos critérios que levaram à contratação, já que há no Brasil outros organismos internacionais atuando.

“Tendo em vista que não houve o procedimento competitivo, isto é, a escolha da entidade foi realizada de maneira discricionária pelo órgão, e considerando que existe mais de um organismo internacional do qual a República Federativa do Brasil seja membro, atendendo aos termos do Decreto 11.941/2024, também deve ser questionado na diligência quais foram os critérios e justificativas da escolha da entidade pela Unidade Jurisdicionada.”

PAGAMENTO ANTECIPADO – O tribunal solicita ainda esclarecimentos sobre um possível pagamento antecipado do contrato.

“Embora o acordo com a OEI tenha sido assinado em 18/12/2024, registros do Portal da Transparência indicam pagamentos de R$ 5 milhões em 26/8/2024 e R$ 15,7 milhões em 23/12/2024 (peça 6, p. 8-9)”, diz o TCU, acrescentando:

“Esses valores, totalizando R$ 20,7 milhões, sugerem a possibilidade de execução antecipada do objeto do contrato antes de sua formalização ou a existência de outro instrumento contratual não declarado, o que compromete a legalidade e a transparência do processo. Diante disso, é imprescindível a realização de diligência à Unidade Jurisdicionada, para que sejam apresentados esclarecimentos sobre esses pagamentos”, afirma.

MÁ GESTÃO – A Corte de contas também aborda a possibilidade de que tenha havido má gestão de recursos públicos na execução do contrato.

“A representação destaca ainda a ausência de elementos que demonstrem a adequação econômica da contratação, o que pode sugerir, em tese, uma possível má gestão dos recursos públicos, violando princípios constitucionais como a eficiência e a economicidade, previstos no artigo 37 da Constituição Federal”, diz.

Um dos pontos tratados no documento é o que o TCU diz ser um “crescimento exponencial” dos contratos do governo Lula com a OEI, ocorridos, ainda segundo o tribunal, após a ida para o Ministério da Educação de Leonardo Barchini, como secretário-geral da pasta, após dirigir a entidade internacional.

“SÉRIAS QUESTÕES” – “Ainda, diante das suspeitas de favorecimento à Organização dos Estados Ibero Americanos (OEI) apontadas na representação, envolvendo Leonardo Barchini, que ocupou a Direção da OEI entre setembro de 2023 e julho de 2024 e assumiu a Secretaria-Executiva do Ministério da Educação (MEC) em 31/7/2024, é fato que o apontado crescimento exponencial dos gastos com a organização — de R$ 17,4 milhões em 2023 para uma projeção de R$ 676,1 milhões até 2025 — levanta sérias questões sobre possível influência indevida”. E acrescenta:

“Neste momento inicial do processo, propõe-se que a análise e as medidas a serem tomadas pelo Tribunal de Contas da União se concentrem exclusivamente na contratação atualmente questionada, referente ao Acordo de Cooperação Internacional para a organização da COP30, no valor de R$ 478,3 milhões“.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
–  Parabéns ao jornalista Caio Junqueira, que denunciou esse escândalo de corrupção da melhor qualidade. A ganância da espanhola OEI espantou o experiente subprocurador-geral do TCU, Lucas Furtado, que é muito rigoroso e não vai deixar em branco essa evasão de recursos públicos. Comprem pipocas, porque a Janja da Silva está envolvida até o pescoço.
(C.N.)

Partidos que formam o Centrão relutam em pedir urgência para a anistia

Deputado Sóstenes Cavalcante durante coletiva | Agência Brasil

Sóstenes Cavalcante precisa da assinatura de outros líderes

Josias de Souza
do UOL

Os partidos do centrão já descartam Jair Bolsonaro (PL) como possível candidato à presidência de República em 2026 e relutam em embarcar no pedido de urgência da votação da anistia aos condenados pelos atos golpistas de 8/1.

Os presidentes da Câmara e do Senado, Hugo Motta (Republicanos-PB) e Davi Alcolumbre (União-AP) estão cuidando de seus interesses nas eleições de 2026. O deputado precisa se reeleger e o senador, que ainda tem mais quatro anos de mandato, está pavimentando as reeleições dos parlamentares que o conduziram à presidência do Senado.

JOGO DUPLO –Nisso, está inserida uma negociação com o governo e um jogo duplo com Lula. O governo tem que cuidar dos quase dois anos que restam para Lula e precisa do centrão.

 É nesse contexto que se dá a discussão sobre a anistia. O centrão está obviamente acomodando isso em um banho-maria. Ainda que passasse na Câmara, seria brecado no Senado. Não há nenhuma disposição do Hugo Motta em pautar isso na Câmara nesse momento. Pode até ser lá na frente, mas não agora.

Há, sim, um jogo duplo e isso ficou claro na bancada evangélica. Sóstenes ainda não obteve as assinaturas de urgência. Ele repetiu que tem um requerimento pronto, mas as assinaturas ainda não estão lá.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGSomente agora o Congresso está retomando os trabalhos. Sóstenes Cavalcante, líder do PL, ainda não tem as assinaturas dos líderes da direita na Câmara para declarar urgência, mas logo terá. O apoio mais difícil de conseguir é o líder dos Republicanos, porque o partido tem candidato próprio e forte (Tarcísio de Freitas) e reluta em dar moleza a Bolsonaro. Todo partido sonha em eleger o próximo presidente, a democracia é assim. (C.N.)

Em meio às ameaças de Trump, Brasil vai propor pacto comercial com Japão

Lula injetará R$ 30,7 bi na economia para recuperar popularidade

Enfim, uma viagem de negócios que deve dar resultados

Jamil Chade
do UOL

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai propor ao Japão um acordo comercial com o Mercosul, na esperança de reforçar a presença do bloco no mercado asiático. A ideia vai ser levada pelo governo brasileiro durante a viagem de Lula para Tóquio, na próxima semana.

Fontes diplomáticas confirmaram ao UOL que o tema está na agenda, ainda que não esteja definido se seria um acordo de livre comércio ou apenas de associação, no qual ambos os lados se comprometem a reduzir barreiras e garantir maior acesso ao fluxo comercial.

MERCOSUL – Dependendo da resposta do Japão, o Brasil levará a ideia para os demais sócios do Mercosul.

Com a aproximação, o governo Lula tem dois objetivos: reforçar a relação com a Ásia, no momento de uma onda protecionista por parte dos EUA, e garantir fortalecimento interno do Mercosul. Um dos aspectos centrais para o Brasil será conseguir maior acesso para carnes no mercado japonês.

Em fevereiro, a ApexBrasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimento) preparou um levantamento sobre o Japão, marcando o 130º aniversário do estabelecimento das relações diplomáticas entre os dois países.

BOAS PERSPECTIVAS – O estudo identificou mais de 360 perspectivas para as exportações brasileiras, incluindo combustíveis minerais, minérios de cobre e ferro, soja, celulose, milho, trigo e centeio, além de carne suína e bovina.

Entre 2020 e 2024, a pauta exportadora brasileira cresceu, em média, 7,8%. A taxa foi superior ao crescimento limitado da economia japonesa: nos últimos anos, a taxa de crescimento do Japão tem sido uma das mais baixas entre os países ricos. Em 2022, a expansão do PIB foi de 1,2%, contra 1,7% em 2023 e apenas 0,3% em 2024.

Hoje, minérios de ferro, carnes de aves e café verde representam 43,4% das vendas brasileiras para o Japão. No total, as exportações brasileiras para o Japão alcançaram US$ 5,6 bilhões em 2024, tornando o Brasil a 15ª principal origem das importações japonesas.

INVESTIMENTOS – A Apex também destaca como o Japão vem ampliando sua presença no Brasil. Em 2023, o estoque de Investimento Estrangeiro Direto japonês no Brasil totalizou US$ 36,1 bilhões, um aumento de US$ 6,6 bilhões em comparação com 2022.

Hoje, o Japão é o 11º maior investidor no Brasil, principalmente em setores como metalurgia, agronegócio, veículos, química e petroquímica, alimentos e bebidas.

Entre 2013 e janeiro de 2024, foram registrados mais de 220 projetos de investimento do Japão no Brasil. No conjunto, esses investimentos foram responsáveis pela criação de mais de 32,7 mil empregos no Brasil.

NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGO Brasil é um dos países com maior potencial de crescimento. Mas o problema são os sucessivos governos incompetentes, que não têm sabido aproveitar essas ótimas perspectivas e  não investem em setores com maior expectativa de crescimento. O problema é a incompetência dessa gente. (C.N.)

Sandice ou não, EUA ficam para trás e a China avança sobre a Groenlândia

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Imensa, a Groenlândia tem somente 60 mil habitantes

Igor Patrick
Folha

“Apoiamos fortemente o seu direito de determinar o próprio futuro e, se escolherem, daremos as boas-vindas aos Estados Unidos da América. Mas [se não], vamos tomar a Groenlândia de um jeito ou de outro”.

Foi assim que Donald Trump tratou uma das suas maiores prioridades de política externa em um discurso ao Congresso neste mês. Sandice ou “nada fora do roteiro” para este novo normal na Casa Branca, diriam alguns. Mas a fala carrega implicações geopolíticas significativas, talvez ignoradas pelo grau de excentricidade em tudo que cerca o novo líder americano.

A Groenlândia é um sintoma de uma ambição americana maior: o controle do Ártico. Com posição estratégica entre a América do Norte e a Europa, abriga a base aérea de Thule, pilar da defesa americana na região e já fez parte dos sonhos expansionistas do republicano desde seu primeiro mandato, quando abordou a Dinamarca com uma proposta de compra.

OS OBJETIVOS – Se a Groenlândia se tornasse de fato um estado americano, o controle do território ampliaria a presença militar dos EUA, limitaria a influência de rivais como China e Rússia e garantiria acesso às significativas reservas de minerais críticos, como terras-raras, essenciais para tecnologias verdes e sistemas de defesa.

Preocupados com a dependência da China em insumos estratégicos, os EUA há muito veem a exploração dessas reservas como uma oportunidade para diversificar suas cadeias de suprimentos e fortalecer a segurança econômica.

O crescente interesse também se justifica pela possibilidade de acesso a petróleo e gás natural, à medida que as mudanças climáticas fazem o gelo recuar e novas áreas de exploração se tornam viáveis.

LEVAR A SÉRIO? – Mas a questão central aqui é que nada parece coeso o suficiente para ser levado a sério. A despeito da sanha extrativista de Trump, a obsessão pelo Ártico também vem acompanhada de um paulatino desmantelamento das estruturas governamentais que cuidam de temas assim.

No fim da semana passada, por exemplo, foi a vez de tesourar a Comissão de Pesquisa do Ártico dos EUA e a Iniciativa Polar do think tank Wilson Center, dois dos principais centros dedicados à análise estratégica da região.

O desmonte terá implicações claras, especialmente no que tange à cooperação com aliados tradicionais nesta seara como Canadá e Noruega, abrindo espaço para que instituições nestes países busquem parcerias não nas Américas, mas na Ásia.

CHINA AVANÇA – Enquanto os americanos recuam, a China avança. Formalizada em sua Política para o Ártico de 2018, Pequim busca consolidar presença na região por meio de pesquisa científica, exploração de recursos naturais e investimentos em infraestrutura.

Autodenominada “Estado Próximo ao Ártico”, a China vê a região como estratégica para sua Rota da Seda Polar.

Justamente por isso, tem reforçado parcerias com a Rússia em projetos energéticos como o Yamal LNG, além de financiar tentativas de investimentos na mineração de terras raras na Groenlândia.

POLÍTICA ERRÁTICA – Sem uma presença científica robusta, os EUA estão perdendo capacidade de monitoramento ambiental e enfrentam um crescente déficit de conhecimento e estrutura em relação às mudanças climáticas no Ártico.

É uma política errática, demasiadamente centrada na militarização e desprovida de uma visão de longo prazo, que coloca Washington em desvantagem estratégica enquanto Pequim consolida seu papel como uma potência emergente também por este pequeno pedaço gelado do planeta Terra.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Existe uma distância enorme entre o que Trump pretende e o que pode alcançar. É muito mais estratégico ocupar social e economicamente do que tentar dominar pela violência. (C.N.)

Trump revoga a permissão para que 532 mil imigrantes legais ficassem nos EUA

Presidente dos EUA, Donald Trump, caminha na Casa Branca

Trump não faz diferença entre imigrantes legais e ilegais

Deu em O Globo

O governo do presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou a revogação da permissão temporária de permanência de mais de meio milhão de pessoas beneficiadas por um programa adotado pelo seu antecessor, Joe Biden, destinado a cidadãos de países que enfrentam instabilidade política e perseguição. A determinação afeta imigrantes de Cuba, Venezuela, Haiti e Nicarágua.

Segundo a ordem publicada pelo Departamento de Segurança Interna, todos os beneficiários do programa conhecido pela sigla CHVN, oficialmente chamado de Permissão Temporária para Cubanos, Haitianos, Nicaraguenses e Venezuelanos, que não apresentarem uma justificativa legal para permanecer nos Estados Unidos, deverão deixar o país até o dia 24 de abril.

DEPORTAÇÃO – Quem permanecer após o prazo será considerado em situação irregular, e estará sujeito a deportação, a menos que tenha obtido outro status de imigração que lhe permita ficar no país.

“A permissão é inerentemente temporária, e apenas a permissão não é uma base considerável para obter qualquer tipo de status migratório”, diz o comunicado, assinado pela secretária de Segurança Interna, Kristi Noem.

“[O governo Biden] concedeu a eles [imigrantes] oportunidades de competir por empregos americanos e prejudicar os trabalhadores americanos; forçou funcionários públicos de carreira a promover os programas mesmo quando a fraude foi identificada; e então culpou os republicanos no Congresso pelo caos que se seguiu e pelo crime que se seguiu.”

CAMINHOS LEGAIS – Chamado de “caminhos legais” pelo governo de Joe Biden, o programa lançado em 2022 foi inicialmente destinado a venezuelanos, mas posteriormente ampliado para as demais nacionalidades.

Ele permitia que seus beneficiários ficassem por até dois anos nos EUA desde que apresentassem um patrocinador baseado no país, e cujo status migratório estivesse de acordo com alguns parâmetros. As pessoas autorizadas poderiam levar suas famílias aos Estados Unidos, viver e trabalhar de forma regular, e tentar obter outros tipos de vistos.

Na época, o governo Biden alegou que a medida ajudaria a reduzir a imigração irregular pelas fronteiras, mas Trump considerou que o programa constitui um “abuso amplo” dos argumentos humanitários para receber imigrantes, e suspendeu novos pedidos assim que chegou ao cargo, uma decisão que está sendo contestada nos tribunais.

SEM CONTROLE – Dos cerca de 532 mil beneficiados, não se sabe quantas pessoas conseguiram mudar seu status migratório após a chegada aos Estados Unidos.

O anúncio integra a ofensiva anti-imigração de Donald Trump, uma de suas bandeiras de campanha, durante a qual prometeu realizar a maior campanha de deportação da História dos EUA.

E em breve, o governo pode anunciar o fim de mais um programa de proteção a estrangeiros: no começo do mês, o presidente disse que a Casa Branca estuda revogar a permissão temporária concedida a 240 mil ucranianos que fugiram da guerra em seu país.

PERVERSIDADE – A Welcome.US, que ajuda as pessoas que buscam refúgio nos Estados Unidos, pediu às pessoas afetadas pela medida que procurem “imediatamente” aconselhamento jurídico.

— Isso está tirando o sustento de milhares e milhares de pessoas que estão aqui legalmente, tornando-as indocumentadas e colocando suas vidas em risco — disse Guerline Jozef, diretora executiva da Haitian Bridge Alliance, uma organização de defesa dos imigrantes haitianos.

Empresas como Amazon e Honda, que enfrentam escassez de trabalhadores, contrataram muitos beneficiários do programa desde sua criação. “Essas pessoas vieram para cá legalmente e têm contribuído para a economia” — acrescentou Jozef.

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NOTA DA REDAÇÃO DO  BLOGPara milhões de pessoas carentes que migraram para os EUA, Trump é uma espécie de reencarnação do demônio, totalmente desprovido de sentimentos humanitários. Age como se tivesse uma pedra de gelo no lugar do coração. (C.N.)

Um terço dos deputados quer anistia, mas o apoio cai ao incluir Bolsonaro

Moraes vota para condenar a cabeleireira Débora Rodrigues a 14 anos de cadeia - OpiniãoMT

Débora pegará 14 anos, por fazer a gozação: “Perdeu mané”

Deu no Estadão

Pelo menos um terço (174) dos 513 parlamentares da Câmara dos Deputados apoia a anistia aos presos do 8 de Janeiro, principal pauta movida pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus apoiadores no Congresso, segundo o Placar da Anistia do Estadão — levantamento exclusivo para identificar como cada um dos deputados se posiciona sobre o tema.

Esse número é o suficiente para garantir a apresentação da urgência do projeto de lei no plenário da Casa, ideia apresentada pelo PL, e está a 83 votos de atingir a maioria absoluta da Câmara.

MAIORIA SIMPLES – Para um projeto de lei ser votado na Casa legislativa, é preciso haver pelo menos 257 deputados na sessão. O texto é aprovado com votos da maioria simples, ou seja, maioria dos presentes.

Pergunta 1: É a favor da concessão de anistia aos envolvidos nos atos de 8 de Janeiro?

Pergunta 2: Concorda com proposta de anistia total (isenção da pena e processo) ou redução da pena aos envolvidos?

Pergunta 3: Considera que a anistia também deve atingir os denunciados ao STF no processo que envolve o ex-presidente Jair Bolsonaro e outras 33 pessoas?

TRÊS OPÇÕES – Do total de entrevistados, 383 (75% da Casa) responderam às três perguntas sobre o tema. Os deputados podiam escolher as opções “sim”, “não” ou “não quero responder”. O levantamento é dinâmico, e será atualizado constantemente caso os parlamentares que não responderam se manifestem ou se houver mudança de posição.

O tema da anistia começou a ganhar tração no Congresso Nacional no ano passado, quando Bolsonaro começou a defender uma anistia aos presos do 8 de Janeiro, que, segundo ele, não o beneficiaria.

O projeto de lei 2.858/2022, de autoria do deputado federal Major Vitor Hugo (PL-GO), é o texto sobre o tema com a tramitação mais avançada no Legislativo hoje.

INCLUI BOLSONARO – Além de propor o “perdão” das pessoas responsabilizadas pela invasão em Brasília, ele abre brecha para favorecer o ex-presidente, já que pode abranger pessoas que participaram de eventos antes ou depois de 8 de janeiro de 2023, que tenham conexão com os atos daquele dia.

O projeto foi retirado da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara em outubro do ano passado pelo então presidente da Casa Arthur Lira (PP-AL). A medida atrasou sua tramitação. Sem isso, o texto poderia ter sido votado pela comissão ainda naquele mês.

O Estadão mostrou que juristas viam o texto apresentado na CCJ como “muito amplo” e com brechas que poderiam favorecer o ex-presidente.

ENTENDIMENTO VARIÁVEL – Dados do Placar da Anistia do Estadão mostram que quem é contra a anistia é irredutível na punição aos golpistas, com a exceção de poucos deputados, que entendem que quem cometeu infrações menores na invasão poderia receber penas mais proporcionais.

O entendimento dos parlamentares pró-anistia varia. A ala mais radical na Câmara defende, em sua maioria, uma anistia total para todos os envolvidos nos atos golpistas e que o indulto se estenda até para Bolsonaro.

No grupo pró-anistia, quem não defende um perdão completo a todos os envolvidos no 8 de Janeiro argumenta que o que aconteceu naquele dia não foi uma “tentativa de golpe de Estado” e, sim, um “ato de vandalismo” e, para sustentar o argumento, diz ser injusta a pena para a cabeleireira Débora Rodrigues dos Santos, mulher acusada de pichar a estátua da Justiça, na frente do STF, com a frase “perdeu, mané”. Em depoimento, ela afirmou ter feito isso usando um batom.

14 ANOS – Nesta sexta-feira, 21, o ministro do STF Alexandre de Moraes votou para condenar Débora a 14 anos de prisão em regime inicial fechado. O julgamento continua e a votação segue aberta até 28 de março. A Procuradoria-Geral da República (PGR) atribui cinco crimes a Débora — golpe de Estado, tentativa de abolição violenta do estado democrático de direito, associação criminosa armada, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado.

“Esse negócio está muito nebuloso”, diz o deputado João Leão (PP-BA), que preferiu não se posicionar, mas que diz que há excessos cometidos pelo Supremo e que, se Bolsonaro for condenado, defenderia uma anistia para ele.

“Se você tiver comprovação real que foi o cara que quebrou vidro, eu acho que esse cara tem que sofrer uma pena. mas a mulher que escreveu com o batom na estátua, tomar 14 anos de prisão, aí não.”

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
É um absurdo medieval propor 14 anos de cadeia para a cabelereira, presa há dois anos sem ver os filhos pequenos, o que é fora da lei. Alexandre de Moraes não é magistrado; é somente um psicopata com toga de ministro. Deveria ser aposentado compulsoriamente, em nome da verdadeira Justiça. (C.N.)

Mortes chegam a 50 mil e Israel tenta expulsar de Gaza todos os palestinos

19.mar.2025 - Palestinos inspecionam os escombros de uma casa após ela ser destruída em um ataque israelense na Cidade de Gaza

Adolescentes palestinos vasculham uma casa bombardeada

Jamil Chade
do UOL

O Ministério da Saúde em Gaza anunciou neste domingo que as mortes na região superaram a marca dos 50 mil. Os dados estão sendo publicados depois de uma retomada da ofensiva israelense em Gaza e o colapso das negociações para um acordo de paz. O motivo para a retomada dos ataques, segundo Tel Aviv, seria a recusa do Hamas em libertar os reféns que continuam sob seu poder.

O atual estágio da crise entre palestinos e israelenses começou em 7 de outubro de 2023, quando o Hamas fez um ataque contra Israel e deixou 1,2 mil mortos. O grupo palestino ainda fez reféns, o que levou o governo de Benjamin Netanyahu a iniciar uma ofensiva sem precedentes sobre Gaza.

113 MIL FERIDOS – Além dos 50 mil mortos, os dados oficiais e que são usados inclusive pelos organismos internacionais apontam que existam 113 mil pessoas feridas, além de milhares de outros desaparecidos e que estariam sob os escombros.

O governo de Israel alega que muitos dessas vítimas são ativistas do Hamas e que os números não fazem distinção entre combatentes e civis. Os palestinos, porém, apontam que mulheres e crianças representam 70% das mortes.

Netanyahu foi indiciado pelo Tribunal Penal Internacional por crimes de guerra e crimes contra a humanidade. Uma ordem de prisão foi estabelecida. Mas o governo de Donald Trump decidiu não apenas reforçar o apoio ao líder israelense como adotou sanções financeiras e de vistos contra o procurador-geral do Tribunal, Karim Khan.

LIMPEZA ÉTNICA – Desde o colapso do cessar-fogo, mais  673 pessoas foram mortas em Gaza. O número de 50 mil mortos foi atingido na noite deste domingo, depois que Israel matou mais 26 palestinos, incluindo um dos líderes políticos do Hamas.

Além dos ataques, o governo de Israel aprovou uma proposta para criar um órgão que irá conduzir as “saídas voluntárias” da população de Gaza. A meta do governo Trump é a de retirar uma parte ou todos os palestinos, plano que vem sendo criticado pelos demais países árabes e pela comunidade internacional.

Grupos de direitos humanos e mesmo a ONU chamaram o plano de criminoso, equiparando a operação a uma “limpeza étnica”.

PAÍSES DE DESTINO – Israel Katz, ministro da Defesa, afirmou que o novo órgão irá “coordenar a passagem por terra, mar e ar para os países de destino” da população palestina em Gaza.

Nos EUA, membros do governo Trump falam abertamente sobre o “direito bíblico de Israel” sobre terras palestinas, enquanto o próprio presidente diz que irá “tomar” Gaza para construir uma “riviera, com hotéis”.

Trump também alertou que, se o Hamas não soltar todos os israelenses, “as portas do inferno se abrirão”.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Não há esperanças de que Israel queira a paz. Cada vez fica mais claro que o objetivo de Netanyahu é expulsar todos os palestinos que ainda estão na Faixa de Caza e povoá-la somente com israelenses. E assim vai sendo sepultada a decisão da ONU de criar dois estados na região – Israel e Palestina. (C.N.)

Eduardo Bolsonaro voltará ao país para disputar eleição de 2026, diz Costa Neto

Moraes concede liberdade provisória a Valdemar Costa Neto

Costa Neto acredita que Eduardo se elegerá deputado

Deu na Folha

Apesar de o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) cogitar pedir asilo político nos EUA e permanecer indefinidamente em solo americano, o PL conta com ele como candidato na eleição do ano que vem.

Questionado pelo Painel sobre o tema, o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, diz não ter dúvida do retorno de Eduardo. “Lógico [que ele volta ao Brasil]. Vai ser nosso senador”, afirmou o dirigente.

O filho de Jair Bolsonaro vem sendo cogitado para disputar uma das duas vagas ao Senado por São Paulo em 2026. Outra hipótese mencionada é ele disputar a Presidência no lugar do pai, que está inelegível.

EXILADO POLÍTICO – A decisão do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) de se licenciar do cargo para permanecer nos Estados Unidos fez com que ganhasse de parlamentares bolsonaristas o status de “exilado político” e manifestações de solidariedade.

Por outro lado, integrantes do governo Lula (PT) e parlamentares de esquerda viram no gesto uma tentativa de vitimização e de difamação do país no exterior.

Eduardo anunciou, na manhã desta terça-feira (18), que continuaria nos EUA com sua família, onde já tem passado boa parte do ano, numa cruzada para convencer a administração de Donald Trump a aplicar sanções a ministros do STF (Supremo Tribunal Federal), sobretudo, Alexandre de Moraes.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
O autoexílio de Eduardo Bolsonaro é mais um problema para Moraes e para o Supremo, devido às sanções pretendidas por Trump e Musk. Proibidos de entrar nos EUA, os ministros do Supremo ficarão inconsoláveis, dá até pena… (C.N.)

Em meio às disputas políticas, fora da caridade não existirá solução

Allan Kardec, grande mestre francês

Antonio Carlos Rocha

O professor e educador francês Allan Kardec, criador da doutrina do Espiritismo, certa feita disse que “fora da caridade não há salvação”. Assim, podemos adaptar a assertiva e proclamar que “fora da caridade não tem solução”. É por aí a nossa proposta política, em busca de uma versão com propósitos inspirados no Budismo, que busca fazer as coisas certas.

Foi no século 6 antes de Cristo que Sidarta Gautama, o Buda, pela primeira vez pregou sobre a importância da compaixão.

IMPORTANTE LIVRO – Valho-me das palavras enfeixadas no livro “Os Ensinamentos do Buda sobre Harmonia Social e Comunitária – uma Antologia de discursos do Cânone Páli, do Bhikku Bodhi, Editora Vozes, 230 páginas. Como se vê, uma editora católica franciscana que cada vez mais publica ótimas obras literárias sobre o Darma, a doutrina budista.

Bhikkhu (monge) Bodhi nasceu nos EUA, em 1944, bacharel em Filosofia pela Brooklyn College e doutorado pela Claremont Graduate School.

Seu livro resgata a parte social e política da Filosofia que o Buda nos deixou. E para isso mergulhou nos mais antigos textos que Sidarta ensinou na Língua Páli, o idioma que ele falava, uma variante do sânscrito.

BEM DE MUITOS – “Para o bem-estar de muitos”, foi assim que o Buda explicou a sua proposta de Caridade e Compaixão. E não apenas de uns poucos privilegiados, pois isso é egoísmo. Bem-estar no mais amplo dos sentidos.

Aliás, outro dia um amigo me disse que eu sou “budistólico”, um neologismo para identificar-me, misto de budista e católico. Gostei da definição e passei a usá-la. Até porque o vocábulo lembra o termo “bucólico” e eu e o Buda gostamos muito de florestas.

Alguém pode dizer que o Buda “gostava” das árvores, mas eu afirmo que Ele está vivo, “vivendo” conosco em várias dimensões.

“IDE E PREGAI” – Caridade e Compaixão são sinônimas. E o sábio Kardec, em uma vida anterior, foi sacerdote druida, ele diz isso em um de seus vários livros, assinalando que missionários budistas já andavam pela velha Europa pregando, conforme atestam historiadores, pois o próprio Buda determinou: “Monges, ide e pregai esta doutrina que é boa no início, no meio e no fim”.

Com todo o respeito, o que eu discordei de Paulo Freire foi quando o educador escreveu que “o socialismo deve chegar antes da caridade”, senão a proposta de um socialismo partidário acaba. A meu ver, o socialismo pode e deve ser melhorado com a caridade, a compaixão.

Plano contra Moraes nos EUA inclui processo no Departamento de Justiça

Tribuna da Internet | Regulamentar redes sociais ainda é um desafio para a  ciência jurídica

Charge do Kleber Sales (Correio Braziliense)

Julia Chaib
Folha

O plano do deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e aliados de Donald Trump contra Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), nos Estados Unidos inclui um possível processo no Departamento de Justiça mirando o ministrow.

Além de sanções econômicas e medidas para bloqueio de visto, o roteiro considera que o órgão dos EUA, que tem funções de Ministério Público — órgão inexistente no país—, pode investigar o ministro pelo crime de conspiração contra direitos fundamentais.

É MESMO CRIME – Segundo um advogado próximo da gestão Trump, a lei prevê como delito que se conspire ou ameace uma pessoa nos Estados Unidos no sentido de impedi-la de exercer prerrogativas garantidas na Constituição, como a liberdade de expressão, sem que se tenha autoridade para isso

Esse advogado avalia que as ações do magistrado são uma tentativa de coação contra a liberdade de expressão. A pena para quem é condenado por esse crime varia de pagamento de multa a prisão por até dez anos.

O argumento é que Moraes se enquadraria na infração por ter emitido decisões que preveem a aplicação de sanções a empresas de redes sociais como o X e o Rumble, com ordens para fornecimento de informações sobre usuários e suspensão de contas sob pena de aplicação de multas, além de ter mirado pessoas nos EUA.

EM SOLO AMERICANO – Integrantes da articulação no país têm tentado mostrar às autoridades que 14 indivíduos em solo americano foram alvo de Moraes, entre eles: Elon Musk, dono do X; Jason Miller, ex-assessor de Trump que foi detido num aeroporto brasileiro e ouvido no inquérito das fake news; e Steve Bannon, que foi o principal estrategista do presidente americano e é citado no inquérito das milícias digitais.

Além deles, são citados vários brasileiros que estão nos EUA, como Paulo Figueiredo, Rodrigo Constantino, Allan dos Santos e Ludmila Lins Grillo.

As informações constam num documento extenso, de mais de mil páginas, que está sendo levado a órgãos do governo com cópias de processos.

MAIS INGERÊNCIAS – Na última semana, Moraes determinou às empresas Meta e X que informem à PF em até dez dias os dados de contas de perfis utilizadas pelo influenciador bolsonarista Allan dos Santos, sob pena de multa de R$ 100 mil por dia em caso de descumprimento. O ministro atendeu a um pedido da Polícia Federal em investigações sobre fake news contra uma jornalista.

Allan é considerado foragido desde 2021. Ao menos duas pessoas envolvidas na estratégia contra Moraes dizem já ter ido prestar informações ao Departamento de Justiça, que estaria ciente da situação.

O presidente da comissão judiciária da Câmara americana intimou oito big techs a fornecer todas as decisões que poderiam significar tentativa de censura. A expectativa de aliados de Bolsonaro é que a medida revele outras ordens de Moraes que possam reforçar as acusações nos EUA.

EM PARALELO – O processo no Departamento de Justiça, se for consolidado, ocorreria em paralelo ao esforço por outras sanções contra o ministro.

Uma das apostas de bolsonaristas é que Moraes possa ser sancionado com base na chamada Lei Magnitski. A legislação, aprovada no governo Barack Obama, impõe restrições a vistos, congela contas e ativos dos alvos no exterior e impõe restrições financeiras a empresas.

A ideia seria que Moraes seja punido de modo parecido com as sanções aplicadas ao procurador do Tribunal Penal Internacional, Karim Khan, em retaliação pelo mandado de prisão contra o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu.

VISTO E BLOQUEIO – Khan não pode entrar nos EUA e recebeu uma sanção da OFAC (Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros), que pertence ao Departamento do Tesouro dos Estados Unidos. Com isso, ele teve eventuais bens nos EUA bloqueados e ficou impedido de fazer transações com instituições americanas. O decreto de Trump determinando a sanção foi emitido em fevereiro.

A sugestão levada a integrantes da Casa Branca é por uma punição semelhante a Moraes, na qual mais pessoas poderiam ser incluídas em 120 dias. Isso porque bolsonaristas avaliam que delegados da Polícia Federal, como Flávio Shor, e o procurador-geral, Paulo Gonet, também teriam atentado contra a liberdade de expressão de pessoas e empresas em solo americano.

Eduardo Bolsonaro acredita que a sanção é factível. Outras duas pessoas envolvidas também consideram uma questão de tempo para a punição.

OBJETIVO FINAL – Em última instância, o objetivo da articulação bolsonarista é que eventuais sanções a Moraes provoquem pressão sobre o Judiciário brasileiro e levem a um recuo nas ações contra Bolsonaro e aliados, o que, por ora, é difícil de ocorrer.

Na sexta-feira (21), uma decisão do governo americano foi usada como exemplo por um aliado de Bolsonaro de como a possibilidade de sanção é real.

O secretário do Departamento de Estado, Marco Rubio, baniu a entrada nos EUA da ex-presidente da Argentina Cristina Kirchner, seus dois filhos e um dos ministros de sua gestão à frente da Casa Rosada. Eles foram proibidos de entrar em território americano sob a acusação de “envolvimento em corrupção significativa”. Kirchner é uma das antecessoras de Javier Milei, que tem a simpatia de Trump.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Êpa! Sanção por “envolvimento em corrupção significativa pode pegar muita gente, inclusive Janja da Silva, a “madrinha” das nebulosas transações da ONG espanhola OEI, que passou a ser co-gestora de grandes, pequenos e médios eventos no Brasil e está na mira do TCU. (C.N.)

“Pacto da irresponsabilidade” empurra para 2027 a conta da reeleição de Lula 

Charge: Cortes no orçamento - Blog do AFTM

Charge do Cazo (Blog do AFTM)

Carlos Andreazza
Estadão

A aprovação – em março de 2025 – da Lei Orçamentária Anual para 2025 antecipa o conjunto bandalheiro em que consistirá o Orçamento do ano eleitoral, aquele que garantirá os dinheiros à (tentativa de) reeleição de todos. Não será apenas Lula o candidato. Há um esquema de poder a ser prorrogado. O Congresso – o orçamento secreto – também pretende se reeleger.

Farão o diabo. Juntos. Como o feito, com (por) Bolsonaro, em 2022. Você pagará. Depois da eleição. Não existe Gás para Todos de graça. E, se o governo quer dobrar a aposta eleitoreira na gastança, o Parlamento dirá – diz – “tudo bem”; desde que tenha o seu incluído na farra. Para rir, tem de fazer rir.

NINGUÉM LEU… – A embocadura do troço – o pacto pela irresponsabilidade – foi exibida na última quinta. A começar pela forma. Esquema Lira de atropelamento da atividade legislativa. Ninguém leu o texto. São mais de mil páginas. Relatório apresentado no mesmo dia em que seria votado na comissão e no plenário.

O Parlamento aprovou o bicho sem a menor ideia do que chancelava – o que lhe confirma o caráter ficcional. Quase ficcional; porque o Congresso sabia absolutamente o que aprovava – na matéria que lhe interessava.

A ficção é para você, mortal. Para eles, concretude – trator e pavimentação. O que lhes interessava: a garantia dos bilhões para emendas parlamentares, fixada a porção que, via emendas de comissão, bancará a versão 3.0 do orçamento secreto.

PEÇA FARSANTE – Serão R$ 50 bilhões para emendas parlamentares, dos quais R$ 11,5 bilhões às de comissão. Assegurado esse espaço, o restante consistiria em erguer peça orçamentária farsante – que, conforme as práticas do governo gastador-inflacionário, superestima receitas e subestima despesas. O Pé-de-Meia, por exemplo, vai pendurado quase todo para fora: a custar mais de R$ 10 bilhões, tem previsto só R$ 1 bilhão.

O relator, Ângelo Coronel, cumprindo o papel de ser mais otimista até do que a HP de Haddad, estima superávit de R$ 15 bilhões.

O cronista ora obrigado a registrar que o STF autorizou que o pagamento de precatórios não forme sob o teto de gastos. Contará para o endividamento. Para meta fiscal, somente em 2027 – depois do ano eleitoral. Coincidência; porque o Supremo não faz esse tipo de cálculo.

GLEISI AVALIZOU – A turma – Planalto e donos do Congresso – acertou tudo por cima. Gleisi Hoffmann assinou a promissória. Compromisso de pagamento de emendas de comissão ainda de 2024; mais um extra para cada um dos 594 deputados e senadores. Quase R$ 7 bilhões ao todo.

Não lhes faltarão recursos. Tudo assentado para 26. Davi Alcolumbre estava todo pimpão. Teve efeito haver colocado a faca no pescoço do governo – atrasando a existência do Orçamento – pela solução das emendas parlamentares. Afinaram-se.

O ano começou. Em certo sentido, também acabou.

Governo monta bunker para blindar Janja, que não aceita deixar viagens de lado

Lula se casa com Janja em SP; Gil do Vigor e políticos estão entre os  convidados | São Paulo | G1

Janja gosta de se exibir, viajar e usar cartão corporativo

Jeniffer Gularte
O Globo

Diante do diagnóstico de que a primeira-dama, Janja da Silva, virou alvo preferencial de ataques da oposição, o governo montou um grupo informal para tentar blindá-la e oferecer uma estratégia jurídica e política. No último mês, Janja chegou a ensaiar um recolhimento para evitar desgastes, mas voltou aos holofotes ao não abrir mão de viagens internacionais, mesmo com avaliação interna de que seus roteiros no exterior geram desgaste a Lula.

A primeira-dama embarcou uma semana antes do presidente para o Japão e, na próxima quarta-feira, irá a Paris para a Cúpula Nutrição para o Crescimento.

BUNKER DE PROTEÇÃO – O que vem sendo chamado internamente de “bunker de proteção” à primeira-dama é formado pelo ministro da Advocacia-Geral da União, Jorge Messias, a ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, o líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), e o grupo de advogados do Prerrogativas.

Messias acompanha de perto as representações feitas contra a atuação de Janja, seja na Justiça, no Tribunal de Contas da União (TCU) e no Ministério Público Federal (MPF). Uma delas pedia a saída de Janja das dependências do Palácio do Planalto, mas foi arquivada em 14 de março.

Gleisi e Lindbergh ajudam a fazer a disputa política nas redes sociais, enquanto o Prerrogativas, com o advogado Marco Aurélio de Carvalho à frente, tem a tarefa de defender a imagem de Janja na sociedade civil.

‘AÇÃO COORDENADA’ – A avaliação interna é que em um espaço muito curto de tempo houve uma “ação coordenada da oposição” contra Janja com ataques que, no passado, segundo o governo, não ocorriam no mesmo nível de agressividade com outras primeiras-damas.

Houve um consenso de que o movimento passou a afetar a imagem de Janja, apesar de judicialmente nenhuma das representações contra ela terem prosperado.

Pressionada por esses desgastes, Janja chegou a buscar um ajuste na sua atuação. De acordo com aliados, a primeira-dama indicou que iria focar no que julga indispensável, sem deixar de se posicionar nos assuntos que identifica relevantes. A ideia era adotar postura mais cautelosa.

VIAJAR É PRECISO – Esse recuo não inclui as viagens internacionais. A decisão sobre esses roteiros ocorre no espaço restrito de discussão do casal presidencial. No último sábado, Janja embarcou para o Japão junto com a equipe precursora do presidente. O time composto por assessores, policiais e integrantes do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) sempre viaja com antecedência aos destinos que serão visitados por Lula.

O governo adotou total discrição sobre as atividades de Janja no Japão, que durante essa semana participou de um evento de sustentabilidade dentro de agendas da COP30, que ocorrerá em novembro em Belém, além de uma atividade cultural na Embaixada do Brasil em Tóquio.

Antes de voltar ao Brasil, Lula autorizou a ida de Janja para participar da Cúpula Nutrição para Crescimento, a convite do governo francês, entre 26 e 30 de março, em Paris.

DESGASTE AUMENTA – Semanas antes, no entanto, Janja desistiu de ir a Nova York representar o Brasil na 69ª sessão da Comissão sobre a Situação da Mulher (CSW), evento ligado a Organização das Nações Unidas (ONU).

Em 2024, Janja esteve nos EUA para participar do mesmo evento. A desistência este ano ocorreu em meio ao desgaste de suas viagens. A última ocorreu em fevereiro, quando Janja representou oficialmente o governo no evento Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, em Roma, e encontrou o Papa Francisco.

O roteiro na Itália motivou manifestações públicas de parlamentares de oposição como Marco Feliciano, Rosângela Moro, Flávio Bolsonaro e Caroline de Toni, e virou alvo de uma notícia de fato no MPF.

DESISTÊNCIA – A primeira-dama também declinou de ir a Nova York no momento em que a ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, corre o risco de perder o cargo na reforma ministerial. Cida chefiou a missão aos EUA. Uma ala do governo dá como certa sua saída.

Janja, por ora, também deixou adormecida a ideia de criação de um gabinete formal que pudesse estabelecer limites claros para sua atuação. A primeira-dama voltou a tocar no tema em meados de 2024, mas o assunto não prosperou sob o mesmo argumento com que foi barrado no começo de 2023.

Ministros próximos de Lula levaram ao presidente o cenário de que Janja poderia ser convocada pela oposição com frequência a dar explicações sobre sua função.

PÉ NO FREIO – Auxiliares palacianos afirmam que já é perceptível, em algum nível, a mudança de postura de Janja. A primeira-dama diminuiu a frequência em eventos e tem feito menos pedidos que eram identificados como provenientes do seu gabinete.

Na semana passada, Janja fechou seu perfil no Instagram. devido a uma onda de comentários de ódio e misóginos nas publicações. Nas redes sociais, também houve certa adaptação nas postagens, com seleção mais criteriosa sobre assunto dos quais Janja se manifesta.

No Planalto, porém, não é descartado que esse recuo seja temporário e Janja volte a buscar protagonismo. Há um ano, seria cabo eleitoral de candidatas do PT às eleições municipais. Assim como Lula, Janja, no entanto, fechou o período eleitoral distanciada dos palanques femininos.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Pesquisa AtlasIntel/Bloomberg de fevereiro mostra que 58% dos brasileiros têm imagem negativa da primeira-dama, índice que era de 40% em outubro. E a maioria das menções a Janja nas redes sociais é negativa (53,4). Quando o TCU investigar a atuação dela em benefício da milionária corrupção da ONG espanhola OEI, aí é que as pesquisas vão desabar. (C.N.)

Direita dá um tempo no esperneio para aguardar o ritmo do julgamento no STF

Tribuna da Internet | Provas de golpe orquestrado podem minar o projeto de  anistia e barrar impunidade

Charge do Clayton (O Povo/CE)

Dora Kramer
Folha

Com o julgamento das ações por tentativa de golpe de Estado e atos correlatos prestes a começar, tudo que os adultos sentados na sala da direita não querem é criar confusão com o Supremo Tribunal Federal nem conturbar ainda mais o ambiente político.

Daí que o deputado Eduardo Bolsonaro (PL) foi aconselhado a se afastar da cena e desistir de presidir a Comissão de Relações Exteriores da Câmara. Daí decorre também o certo alívio naquele campo com o ato esvaziado em prol da anistia aos executores de atos antidemocráticos entre o fim de 2022 e início de 2023.

PARA TUMULTUAR – O filho do ex-presidente iria para a comissão com o intuito de tumultuar, criando situações para insinuar reprimendas dos Estados Unidos ao Supremo, reforçando apreço por Donald Trump enquanto o presidente americano afronta o mundo democrático, Brasil incluído, e põe em risco a economia global. Eduardo Bolsonaro fará seu show nesse roteiro de qualquer jeito, mas fora da cena nacional.

Não é prudente, avalia-se, colocar o carro à frente dos bois, bem como aconselha-se a não menosprezar a inteligência dos ministros do STF acreditando que cairiam em provocações que reforçassem a tese de um julgamento persecutório.

São sagazes o suficiente para não entrar nessa pilha. Há também a percepção de que quanto mais Bolsonaro se coloca na linha de frente da defesa da anistia, figurando assim como principal beneficiário, menos chances o projeto tem de ser aprovado tão cedo. Ilustra a própria vaidade, mas inibe apoios à defesa de alívios de penas em casos pontuais.

MELHOR AGUARDAR – A coisa perdeu tração no Congresso. Os presidentes da Câmara e do Senado não estão a fim de comprar tensões adicionais com o Executivo e o Judiciário.

Comandantes de partidos do centrão, como PSD e Republicanos, tampouco. A despeito de às vezes se posicionarem com um pé lá e outro cá, ainda permanecem de corpo a alma agarrados aos ministérios.

Por essas e algumas outras (emendas) é que os mais experientes acham melhor esperar o tom e o rumo do julgamento para só então espernear.

Muitas nações tentaram proibir o café, alegando que tinha “caráter subversivo” 

A imagem é dividida em duas partes. À esquerda, um personagem laranja com cabelo verde e expressão triste, com a boca aberta e uma gota de saliva azul, está sob o texto 'SEM CAFÉ'. À direita, o mesmo personagem aparece feliz, com os braços levantados em sinal de aprovação, dentro de uma xícara branca com café, sob o texto 'COM CAFÉ'. O fundo é roxo.

Ilustração de Pedro Vinicio (Folha)

Hélio Schwartsman
Folha

Do século 16 até principalmente a segunda metade do 18, soberanos de diversas nações tentaram proibir o café. Eles fracassaram. Basta ver que, hoje, porção não desprezível da humanidade se socorre matinalmente da infusão de grãos de plantas do gênero Coffea. Mas não dá para dizer que a intuição desses reis estivesse errada.

A bebida café deu origem aos cafés, lugares onde pessoas de diferentes estratos sociais se reuniam para apreciar o líquido e conversar. Eram, portanto, do ponto de vista das autoridades, verdadeiros antros de subversão.

ESPAÇO SOCIAL – O filósofo alemão Jürgen Habermas corrobora essa tese. Para ele, os cafés na Inglaterra, ao lado dos salões literários na França e das Tischgesellschaften (reuniões ao redor da mesa) na Alemanha, são a origem do que ele chama de esfera pública (Öffentlichkeit), o espaço social discursivo no qual cidadãos identificam problemas, trocam ideias e eventualmente formam consensos.

É um traço essencial das democracias contemporâneas, cujas políticas são influenciadas não só pelo voto, mas também pela opinião pública.

E vai ganhando tração na sociedade hodierna a noção de que existe o direito de não ser ofendido. O corolário disso é que as pessoas devem sempre contar com espaços seguros, nos quais as ideias que lhe são mais caras estariam ao abrigo de críticas e contestações.

DEBATE PÚBLICO – Não vejo como conciliar esse suposto direito de não ser ofendido com a Öffentlichkeit habermasiana. Na verdade, para que o debate público exerça sua mágica, é necessário que cada tese lançada na arena de discussões choque ou tire da zona de conforto uns 30% da população (imagino aqui uma distribuição gaussiana das opiniões).

Ninguém precisa ser mal-educado ao desafiar as crenças alheias. Como mostraram alguns dos filósofos iluministas, é possível fazê-lo com respeito e elegância. Mas, se precisarmos escolher entre examinar livremente todas as ideias e preservar suscetibilidades, não tenho dúvida de que devemos optar pelo primeiro.

Não dá para proibir o café.

Forças Armadas acham que um general pode ser “poupado” pelo Supremo

General do Exército no AM está entre indiciados por tentativa de golpe

General Nilton Rodrigues não estaria envolvido, dizem

Rafael Moraes Moura
O Globo

Entre os 23 militares denunciados pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por envolvimento na trama golpista para impedir a posse do presidente Lula, a cúpula das Forças Armadas calcula que ao menos um tem chances de escapar de uma condenação do Supremo Tribunal Federal (STF).

Nas avaliações internas feitas reservadamente por militares de alta patente, a leitura é a de que o general de duas estrelas Nilton Diniz Rodrigues é o que tem contra si menos evidências de participação na intentona golpista que culminou com a invasão e a depredação da sede dos três poderes em Brasília, em 8 de Janeiro.

ERA ASSISTENTE – Na leitura desses militares, Nilton só foi envolvido na trama por ser na época assistente do então comandante do Exército, o general Freire Gomes.

As nove citações a Nilton encontradas na denúncia envolvem uma reunião que discutiu a elaboração da “Carta ao Comandante do Exército de Oficiais Superiores da Ativa do Exército Brasileiro”, uma mensagem exortando o comandante a aderir ao golpe que circulou em grupos e listas no WhatsApp.

O general foi incluído pela Procuradoria-Geral da República (PGR) no chamado “núcleo 3” da trama golpista, formado por um policial federal e militares da ativa e da reserva do Exército, incluindo os “kids pretos” acusados de tramarem o sequestro e a morte de autoridades.

ACUSAÇÕES PESADAS – A denúncia desse grupo será julgada pela Primeira Turma do STF entre os dias 8 e 9 de abril. Assim como o ex-presidente Jair Bolsonaro, que integra o núcleo 1, eles são acusados pelos crimes de tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, tentativa de golpe de Estado, envolvimento em organização criminosa armada, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado.

Na acusação da PGR, Paulo Gonet afirma que para assegurar o êxito das iniciativas golpistas, “os kids pretos” decidiram organizar reunião para desenvolver “estratégias de pressão” sobre os comandantes.

Em uma das mensagens captadas pelos investigadores, o coronel Bernardo Romão Corrêa Netto, então assistente do comandante militar do Sul, escreve ao coronel Fabrício Moreira de Bastos, em 26 de novembro de 2022: “Resolvi tomar uma iniciativa e conto com o apoio do Nilton para isso. Reunir alguns FE (Forças Especiais) em funções chaves para termos uma conversa sobre como podemos influenciar nossos chefes. Para isso vamos fazer uma reunião em Brasília”.

CONFIRMAÇÃO – “Bora”, responde Fabrício Bastos, aderindo à proposta. O coronel Corrêa Netto acrescenta: “O Nilton está vendo onde”.

Dois dias depois, Correa Netto encaminhou mensagem para o então ajudante de ordens de Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid, informando o endereço e horário da reunião, que ocorreu às 19h, no salão de festas de um edifício da 305 Norte, onde residia o coronel Márcio Nunes de Resende Júnior.

Um dos temas do encontro foi a elaboração de uma minuta de uma “Carta ao Comandante do Exército de Oficiais Superiores da Ativa do Exército Brasileiro”, que buscava apoio para os planos golpistas.

FORÇAS ESPECIAIS  – “Os diálogos confirmam a ideia de reunir exclusivamente militares com formação em Forças Especiais que poderiam, de algum modo, influenciar seus comandantes, valendo-se também dos seus conhecimentos táticos especializados”, frisa Gonet, que também denunciou Corrêa Netto e Moreira de Bastos.

“As mensagens faziam referência ao general Nilton Diniz Rodrigues, que assumira, no período, a função de Assistente do General Marco Antônio Freire Gomes. A necessidade do apoio de Nilton se justificava exatamente por sua proximidade com o Comandante do Exército, que notoriamente repelia ações intervencionistas.”

Conforme informou o blog, a cúpula das Forças Armadas já discute reservadamente as sanções a serem aplicadas aos militares denunciados que eventualmente se tornarem réus por conta de envolvimento na trama golpista.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Há outro general em situação melhor. É o quatro estrelas Estevam Theóphilo, cuja acusação não tem provas materiais e é baseada em “é tido que…”. Isso parece brincadeira, mas é verdade, e Theophilo conta com testemunho de 14 generais que se ofereceram para defendê-lo. (C.N.)

Estratégia de Eduardo Bolsonaro é congelar contas de Moraes nos EUA

Apesar de você”: Eduardo Bolsonaro tomou a decisão certa

Eduardo não conseguirá evitar a condenação de Bolsonaro

Letícia Casado
do UOL

O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) trabalha junto a congressistas da base de Donald Trump e com integrantes do governo norte-americano para aplicar um tipo de sanção ao ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), que poderia levar ao congelamento de contas bancárias do magistrado em instituições financeiras que atuam em solo americano.

A medida foi mencionada por Eduardo na terça-feira em entrevista para o programa “Oeste sem Filtro”, no YouTube, horas depois de ele anunciar que se licenciaria do mandato para passar uma temporada nos Estados Unidos. Seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), também participou da entrevista. Aliados da família confirmaram à coluna que a iniciativa é uma das principais razões pelas quais Eduardo decidiu ficar no país.

MAIS FAMOSO – “Cada vez mais o Alexandre de Moraes vai ficar famoso aqui nos Estados Unidos. Acho que dificilmente ele vai conseguir escapar dessas sanções, seja do visto, seja de uma que venha pela lei Magnitsky, que pune supostos abusadores e violadores de direitos humanos. Isso, para que as pessoas entendam, é a chamada morte financeira, é a pena de morte financeira”.

A lei Magnitsky permite que o governo americano adote sanções migratórias, financeiras e comerciais contra autoridades que cometam violações de direitos humanos ou envolvidas em casos graves de corrupção. As punições podem incluir bloqueio de bens e de contas bancárias, e a pessoa fica proibida de manter aplicações financeiras naquele país.

Para isso, a autoridade precisa ser incluída pelo governo dos Estados Unidos em uma lista específica — e a pessoa pode recorrer à Justiça americana contestando a decisão.

MARGINALIZAÇÃO – Enquanto a autoridade estiver na lista, as empresas que atuam nos EUA ficam proibidas de manter negócios com ela —seja um banco que tem sede ou filial no país ou uma bandeira de cartão de crédito que opera nos Estados Unidos. É sobre isso que se trata a declaração de Eduardo na entrevista.

A iniciativa está no escopo do mapeamento de bens dos ministros do STF que está sendo feito por aliados da família Bolsonaro.

O procedimento não é simples. Essa lei é usada, por exemplo, contra ditadores que praticam crimes humanitários. Bolsonaristas e trumpistas insistem no discurso de que a atuação de Moraes estaria no mesmo nível.

DEPUTADO PRESSIONA – Dias após a denúncia contra Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado, o deputado republicano Rich McCormick fez uma publicação no X criticando o ministro do STF e defendendo a aplicação da lei contra Moraes:

“Peço ao governo Trump e ao Congresso que imponham sanções Magnitsky, proibições de visto e penalidades econômicas. Os EUA devem defender a democracia, a liberdade de expressão e o estado de direito — antes que seja tarde demais @realDonaldTrump”.

O tema também foi mencionado no fim de fevereiro entre o blogueiro Paulo Figueiredo —radicado nos EUA e também alvo de Moraes— e o empresário Elon Musk, agora assessor de Trump.

LEI EM VIGOR – Musk especulou em uma postagem sobre possíveis sanções ao ministro. “Moraes não tem bens nos Estados Unidos?”, perguntou o empresário. Figueiredo respondeu que sanções poderiam ser aplicadas mesmo que ele não tenha propriedades em território americano e citou a lei Magnitsky.

No dia seguinte, a Folha de S.Paulo revelou que escritórios de advocacia dos EUA entraram em contato com bolsonaristas para propor que apresentem testemunhos contra o ministro com base nessa lei.

Em seguida, foi a vez do senador Mike Lee, também no X: “Eu indico o Voldemort brasileiro para a lista da lei Magnitsky”.

DELEGADO DA PF – Na mesma entrevista, Eduardo Bolsonaro disse que o delegado Fábio Shor, da Polícia Federal, também está no alvo de sanções. Shor atuava nos inquéritos que estão sob o comando de Moraes e é criticado por bolsonaristas. Ele recebeu ameaças virtuais e foi alvo de intimidação na porta de casa.

“Estou vendo o futuro muito negativo, não só para Alexandre de Moraes, mas também para o Fábio Shor”, disse Eduardo.

O filho do ex-presidente disse que o fato de estar se fixando nos Estados Unidos facilita o diálogo com congressistas e integrantes do governo americano.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Cada um ataca com as armas de que dispõe. A atuação de Eduardo Bolsonaro não adiantará nada, porque houve claro conluio entre investigação (Polícia Federal), análise (Procuradoria) e relatório (Supremo). Tudo indica que Bolsonaro será condenado, mesmo sem provas materiais. (C.N.)

De repente, Brasil fica estranhamente calmo neste fim do verão dos pânicos

Charge: Deus mercado. Por Miguel Paiva

Charge de Miguel Paiva (Arquivo Google)

Vinicius Torres Freire
Folha

Em dezembro, houve o pânico de dólar e juros. Em janeiro, a revolta das mentiras do Pix. A popularidade de Luiz Inácio Lula da Silva caiu para perto da zona de rebaixamento. Desde fevereiro, não mais do que de repente, do vento fez-se a calma, ao menos calmaria sob céus suspeitos.

Há pouco ruído na política politiqueira — Congresso e cercanias. A gritaria contra o governo nas redes anda menor. Ainda caro, o dólar baixou do exagero de R$ 6,27 de dezembro para a casa dos R$ 5,60. Os motivos são díspares, mas o clima está mais ameno.

AS EMENDAS… – O Orçamento foi aprovado de modo suave, embora com custos. Entre emendas e penduricalhos assemelhados, o governo se comprometeu a colocar R$ 61 bilhões nas mãos de deputados e senadores.

Equivale a 70% do investimento federal em 2024 (boa parte das emendas é investimento, mas se trata aqui de ordem de grandeza); o Bolsa Família levou quase R$ 171 bilhões no ano passado.

Gleisi Hoffmann, ministra das relações políticas, tida como belicosa, fez o acordo, com apoio de Casa Civil e Fazenda. O Orçamento tem contas fictícias, o que é “business as usual” e vai exigir contenções grandes, lá por maio —se o governo quiser manter a calmaria.

DIMINUI RECEIOS – Mas a aprovação diminui receios de tumulto, o que deve agradar até aos povos dos mercados. Por falar neles, a reação à lei de mudança no Imposto de Renda foi quase nenhuma.

Os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, David Alcolumbre (União Brasil-AP), têm preferido conversas reservadas a ruídos públicos, em especial quanto ao essencial, emendas. No mais, eles e os novos presidentes de comissões importantes do Congresso têm afirmado que não vão dar trela para pautas da “polarização”.

A manifestação de domingo, pró-golpe e anistia, foi grande o bastante para não desanimar militantes que a viram pelas telas; na política, apenas a extrema direita tem levado gente para a rua. Mas não alarmou o país, não se espalhou e nem parece fazer parte de um “crescendo” de ruído político: “não pintou um clima”.

MAIS DISPARATES – Lula diz disparates demagógicos sobre inflação, diesel, ovo e picanha. Mas seu governo não tomou decisão maluca sobre preços. O projeto do novo consignado, apesar do escândalo estereotipado que causou em parte de “o mercado”, vai na direção do que é justo e eficiente; o impacto negativo ora previsível na política monetária será pequeno.

Uma mudança importante nas aplicações financeiras dos donos do dinheiro grosso do mundo fez o preço do dólar baixar e até deu oxigênio para a esquálida Bolsa brasileira.

Parte do dinheiro que sai dos EUA parece pingar em emergentes ou, no mínimo, a reviravolta americana contribui para encarecer e tornar arriscadas “apostas” na alta do dólar.

JUROS ALTOS – No Brasil, em parte também por causa da dureza do Banco Central, os juros no mercado recuaram em relação aos picos de janeiro (caindo um ponto percentual no caso de taxas para 2 e 3 anos). Sim, ainda é arrocho. Não haverá refresco maior enquanto não se der jeito na situação fiscal, que é grave.

Por falar “no fiscal”, como diz o povo do mercado, até o aumento de gasto do governo federal foi contido. Sim, a despesa cresceu 12% em termos reais, acima da inflação, desde o início de Lula 3, um espanto. Mas, nos 12 meses até este janeiro de 2025, a despesa caiu 0,8%.

Depois do Carnaval, o ano começou estranhamente ameno.

Eduardo Bolsonaro tem empresa holding nos EUA em endereço de residência

Casa no Texas onde está registrado o endereço de holding da qual Eduardo Bolsonaro é sócio

A casa é confortável e Eduardo Bolsonaro pode até morar nela

Jamil Chade
do UOL

Uma holding registrada nos EUA em nome de Eduardo Bolsonaro (PL-SP) tem seu endereço em uma residência, na cidade de Arlington, Texas. Dados oficiais do registro do estado norte-americano apontam que a Braz Global Holding tem apenas três sócios, entre eles, o filho do ex-presidente indiciado, Jair Bolsonaro (PL).

Abrir uma empresa holding nos EUA é legal, inclusive para estrangeiros. A região do registro da empresa é a mesma de onde Eduardo Bolsonaro tem feito suas lives e fotos desde que decidiu deixar o Brasil.

Em recente entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, ele indicou que estava naquele momento em Dallas, também no Texas. Mas tem evitado anunciar onde fixará residência no país.

FUNDADA EM 2023 – A abertura da empresa, em março de 2023, ocorreu quando Jair Bolsonaro estava nos EUA, depois de ser derrotado nas eleições presidenciais de 2022.

A holding tem mais dois sócios. Um deles é André Porciuncula Esteves, que, no registro da holding, aparece no mesmo endereço de Eduardo Bolsonaro. Esteves teve um cargo no governo do pai do deputado. Ele ainda ocupou, por alguns meses, a Secretária de Fomento e Incentivos da Cultura no governo Bolsonaro. Era ele quem administrava, por exemplo, os recursos da lei Rouanet. O incentivo, atacado pelo bolsonarismo, teve um incremento durante sua gestão.

Numa postagem nas redes sociais, o deputado federal Pedro Campos (PSB-PE) destacou como, durante a gestão da lei Rouanet pelo sócio de Eduardo, o valor de captação saltou R$ 600 milhões.

EX-POLÍCIA MILITAR – Antes de entrar para o governo, Esteves era policial militar na Bahia. O mesmo Esteves é ligado ao Liber Group Brasil, que tem Paulo Generoso com um dos sócios. Generoso é, justamente, o outro sócio de Eduardo Bolsonaro em sua holding no Texas.

Segundo reportagem exclusiva da Agência Pública e também publicada pelo UOL de 2023, é em sua residência que está registrada a holding com o filho do ex-presidente. Naquele momento, Eduardo se recusou a comentar sobre a empresa aberta nos EUA.

No mesmo endereço, está também registrada a empresa Liber Group Brasil, sem a presença oficial de Eduardo Bolsonaro, mas com os outros dois sócios que aparecem na Braz Global Holding.

MOVIMENTO – Generoso é um dos fundadores do Movimento República de Curitiba, criada em 2016 para apoiar a Operação Lava Jato. Ele teve suas contas nas redes sociais suspensas por disseminação de desinformação.

Um levantamento realizado pelo UOL com dados oficiais do estado do Texas indica que os moradores de Arlington têm uma renda média de US$ 73 mil por ano, ou R$ 418 mil.

Em média, o aluguel de um apartamento com dois quartos na cidade sai por US$ 1.500 (R$ 8.600). Já uma casa com as mesmas proporções estaria avaliada, em média, em US$ 351 mil, cerca de R$ 2 milhões.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Nos Estados Unidos, Eduardo Bolsonaro vai fazer bela propaganda do ministro Alexandre de Moraes e do STF junto ao governo e ao Congresso americano. É muito provável que baixem sanções contra os exageros do ministro, decisão que será uma vergonha internacional para o Brasil, em meio à deterioração da democracia americana nas mãos do lunático Trump, que é uma vergonha muito maior. (C.N.)

Mudança na Lei da Ficha Limpa elimina brecha que beneficiaria Bolsonaro

Charge reproduzida do Arquivo Google

João Gabriel
Folha

A atual redação do projeto de lei que flexibiliza a Lei da Ficha Limpa acaba com a brecha que possibilitaria ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tentar reverter sua inelegibilidade e concorrer nas eleições de 2026. O ponto principal da proposta é a redução do prazo de perda dos direitos políticos. Sua autora é a deputada Dani Cunha (União Brasil-RJ), filha do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha.

Atualmente impedido de concorrer, Bolsonaro poderia ser beneficiado se o tempo de cassação fosse reduzido, podendo voltar a disputar eleições.

VOTAÇÃO ADIADA – A proposta chegou a entrar em debate no plenário do Senado na terça-feira (18), mas a baixa presença de parlamentares e a possibilidade de que fosse rejeitada adiou a votação.

A redação que saiu da Câmara dos Deputados e foi aprovada pela CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) determinava que a perda dos direitos eleitorais ficaria condicionada a casos de “comportamentos graves aptos a implicar cassação de registros, de diplomas ou de mandatos”.

Bolsonaro foi condenado em 2023 pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) junto com seu então candidato a vice-presidente, o ex-ministro Walter Braga Netto (PL), por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação.

SEM CASSAÇÃO – Mas, como a chapa acabou derrotada nas eleições de 2022, o tribunal não cassou diploma ou registro do ex-presidente. Como o projeto tinha efeito retroativo (ou seja, afetaria casos anteriores à sua aprovação), caso ele fosse aprovado da forma como estava após a votação na CCJ, permitiria a Bolsonaro tentar reverter sua inelegibilidade.

Depois dessa votação, porém, o relator do texto, o senador Weverton (PDT-MA), acatou uma emenda do líder do governo, Randolfe Rodrigues (PT-AP), que altera esse dispositivo e, na prática, acaba com esse argumento.

A redação proposta por ele mantém a inelegibilidade válida para casos de comportamento grave, mas suprime o trecho que condicionava essa pena à cassação de registros, de diplomas ou de mandatos.

BOLSONARO BLOQUEADO – Segundo parlamentares da base do governo e especialistas ouvidos pela Folha, essa mudança impede que o ex-presidente use o projeto (caso ele seja aprovado e transformado em lei) como argumento para tentar reaver seus direitos políticos.

“A emenda acatada elimina a possibilidade de o ex-presidente Jair Bolsonaro alegar a norma em seu favor. Da forma como está no novo relatório, essa hipótese está descartada”, afirma o advogado e ex-juiz Márlon Reis, um dos idealizadores da Lei da Ficha Limpa.

Três parlamentares aliados a Bolsonaro disseram, sob reserva, que não tinham notado a mudança, mas adotaram o discurso de que não acreditavam que o texto anterior seria suficiente para reverter a inelegibilidade do ex-presidente.

LEI DE ANISTIA – A principal esperança desse grupo reside no projeto de lei da anistia, que hoje é alvo de divergências na Câmara dos Deputados e não tem a simpatia do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP).

Bolsonaro e seus aliados tentam conseguir apoio de nomes do centrão para tentar fazer a proposta avançar. No caso do projeto sobre a Lei da Ficha Limpa, o principal ponto do projeto é a mudança no início da contagem do prazo de inelegibilidade para oito anos.

Pelo texto atual, esse tempo passa a contar apenas a partir do trânsito em julgado da condenação, é acrescido ao tempo restante de mandato do político (caso ele ainda esteja em exercício) e pode ser cumulativo em caso de mais de uma sentença.

PRAZO UNIFICADO – Com o projeto, o prazo deixa de ser cumulativo e passa a ser unificado em oito anos. Além disso, passa-se a contá-lo a partir da decisão judicial ou da condenação, da eleição na qual ocorra o ilícito ou da renúncia (ou seja, sem levar em conta o tempo restante no cargo).

“A maior gravidade deste projeto está na redução drástica dos prazos de inelegibilidade”, afirma Márlon Reis.

Sob condição de anonimato, parlamentares dizem que a emenda de Randolfe não foi o que impediu a votação nesta terça, mas sim a possibilidade de derrota. Na deliberação preliminar de um recurso, 34 senadores foram a favor de o projeto avançar, e 21 contra, margem avaliada como pequena para seguir a sessão.