O controle do STF agita a disputa política no país, com consequências imprevisíveis

Reale e Bicudo tentam o drible da vaca no STF​ — Conversa Afiada

Charge do Bessinha (Conversa Afiada)

Marcus André Melo
Folha

Raros ministros de cortes supremas foram objeto de reportagens em revistas internacionais de prestígio, como “The Economist”. O tom da reportagem sobre o ministro Alexandre de Moraes é de reprovação. O desgaste da corte é evidente — e agora se internacionaliza. A questão relevante é: a reputação judicial importa? Segundo Nuno Garoupa e Tom Ginsburg, importa muito.

Em “Judicial Reputation: A Comparative Theory”, os autores argumentam que a reputação é central para a autoridade e eficácia das cortes, especialmente porque os juízes carecem, como diria Hamilton, “do poder da espada e do dinheiro”. A partir de um modelo principal-agente, o livro propõe que os juízes são agentes da sociedade (o principal) e que a reputação funciona como um mecanismo para garantir conformidade, acesso a recursos e proteção institucional.

IMAGEM DETERIORADA – A reputação é moldada por audiências internas (membros da corte e atores judiciais) e externas (mídia, políticos, público e academia). Os autores sustentam ainda que há uma tendência crescente de os juízes se voltarem para audiências externas, especialmente em contextos de maior transparência se há pressão pública. Entre essas tendências, destaca-se a internacionalização da reputação, por várias razões, como uma dinâmica praticamente inexorável.

Por outro lado, existe um importante trade-off entre a reputação individual dos juízes e a reputação coletiva da corte. No nosso caso, as decisões monocráticas exacerbam o problema.

Entre os fatores que os autores identificam como prejudiciais à reputação do Judiciário está o envolvimento individual de juízes em funções não judiciais —empresariais, participação em comissões, elaboração de políticas públicas. Examinar o Supremo à luz dos achados do livro é um exercício de catalogação de anomalias.

DECLÍNIO DA REPUTAÇÃO – As implicações mais graves do declínio da reputação judicial dizem respeito à vulnerabilização paulatina da instituição. Todas as tentativas bem-sucedidas de intervenção em cortes superiores na América Latina foram precedidas por uma perda gradual de confiança no Judiciário, motivada por ataques à sua reputação.

É o que demonstra Gretchen Helmke em um estudo minucioso sobre interferências dos poderes Executivo e Legislativo nas Supremas Cortes de 18 países latino-americanos ao longo de 30 anos. Essas interferências assumiram formas diversas —nomeações e demissões irregulares, impeachments, aumento unilateral do número de juízes.

Tais ataques são reações de líderes populistas a ameaças percebidas à sua sobrevivência política e tendem a ocorrer no início dos mandatos. A probabilidade de interferência é inversamente proporcional ao grau de confiança da população no Judiciário. E há aqui um mecanismo perverso: a popularidade presidencial tende a subir após os ataques.

AVALIAÇÃO NEGATIVA – A confiança nas instituições judiciais na América Latina é, em geral, baixa —e apenas mediana no Brasil. É curioso observar que todos os ministros do STF têm avaliação negativa superior à positiva, segundo pesquisa da Atlas/Intel.

Ou seja, as reputações individuais não superam a reputação coletiva da Suprema Corte perante a sociedade.

Quanto mais poder acumulam os tribunais superiores, maiores são os incentivos para controlá-los. O controle do STF tornou-se o objetivo central da disputa política no país. O que afeta sua reputação. As consequências são incomensuráveis.

Trump comprou uma briga com Jerome Powell, do Fed, e não tem como ganhar

A imagem mostra um evento oficial ao ar livre, onde um homem de cabelo grisalho e óculos está falando ao microfone. Ele usa um terno escuro e uma gravata clara. Ao fundo, um homem com cabelo loiro e uma expressão séria observa. O ambiente é bem iluminado, com vegetação visível ao redor.

Trump odeia Powell, mas não tem poderes para demiti-lo

Rodrigo Zeidan
Folha

Trump comprou uma briga que não tem como ganhar. Jerome Powell tem mais poder que ele, pois o Fed detém a bomba atômica econômica: o controle sobre os juros americanos. Se os membros do banco central dos EUA resolverem jogar os juros para a estratosfera, o dólar voltará com tudo, mesmo que isso cause crise gigantesca lá e no resto do mundo.

Paul Volcker foi o último presidente do Fed a ignorar a inação do sistema político e resolver problema macroeconômico unilateralmente, custando o que custasse (e foi muito).

ESTAGFLAÇÃO – No final da década de 1970, a economia americana sofria de estagflação, combinação de baixo crescimento e alta inflação. A primeira onda veio com a crise do petróleo de 1973, que jogou os preços de produtos intensivos em energia na estratosfera (o preço do barril quase quadruplicou em seis meses).

A economia americana saiu de crescimento de 7% com 3,4% de inflação, em 1972, para uma retração de 2% e inflação de 12,4%, em 1974. A segunda crise do petróleo não foi diferente, com crescimento do PIB e preços saindo de 6,7% e 8,9%, respectivamente, em 1978, para zero e 12,4%, em 1980.

Além dos choques do petróleo, a persistente inflação dos anos 1970 foi causada por incertezas fiscais; o déficit público passou de 3% do PIB pela primeira vez desde a Segunda Guerra.

GASTOS SOCIAIS – Além disso, em 1976 ocorreu o primeiro impasse orçamentário americano, com o presidente Gerald Ford brigando com democratas que queriam aumentar os gastos públicos em programas sociais. Novos impasses ocorreram no governo Carter, sinalizando incapacidade da política fiscal de normalizar a economia. Como hoje, faltava credibilidade.

Volcker resolveu acabar com a inflação quase que por decreto. E conseguiu. Em 1980, a taxa de juros básica americana chegou a 20%, jogando a economia mundial em uma recessão profunda e disparando uma crise financeira nos EUA.

Contudo, os juros absurdos pagos pelo Tesouro americano, que chegaram a mais de 15% para títulos de dez anos, acabaram com qualquer escalada de preços, já que o capital mundial migrou para os papéis da dívida dos EUA.

MUITOS QUEBRARAM – A inflação saiu de 12,6%, em 1979, para 9,3%, em 1980, 4,5%, em 1981, e ficou por volta de 4% pelo resto da década. O choque de Volcker durou até 1982.

No começo, gerou protestos tão grandes que fazendeiros pararam Washington com centenas de tratores para reclamar dos juros altos que inviabilizavam as colheitas. Quebraram os fazendeiros e muitos outros.

História de presidente da República que demite chefe da autoridade monetária para forçar juros baixos acaba mal. Erdogan, presidente da Turquia, demitiu três em poucos anos, o mais recente em 2021. A inflação saltou de 19% em 2021 para 72% em 2022, terminando 2024 “somente” em 58,5%.

TRUMP RECUA – É por isso que a pressão de Dilma sobre o Banco Central ajudou a causar a crise, Lula não deveria ter batido de frente com Campos Neto, e o novo presidente da autoridade monetária insiste na independência da instituição.

Talvez Trump já tenha percebido que vai perder se desafiar Powell, pois afirmou que não tem intenção de demiti-lo (provavelmente, nem conseguiria).  

Mas, enquanto insistir em que o Fed deve fazer o que ele quer, vai colher o mesmo que qualquer presidente latino-americano: desconfiança e inflação. Afinal, ele não tem a senha dessa bomba.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG –
De recuo em recuo, Trump pode imitar Greta Gabor e acabar no Irajá, como acontece na comédia de Fernando Mello, que fez sucesso tempo atrás. (C.N.)

Reformas de Francisco mudaram muito pouco a Igreja e foram quase simbólicas

Imagem de um homem idoso, vestido com vestes brancas, que está levantando uma mitra branca da cabeça. Ele tem um sorriso suave e está em um ambiente com pessoas ao fundo, vestidas de preto.

Francisco suportou o celibato e a exclusão das mulheres

Demétrio Magnoli
Folha

“Mãe não é estado civil”, explicou, deplorando os preconceitos contra mães solteiras. “Quem sou eu para julgar?”, indagou, referindo-se à prática da Igreja de emitir condenações aos gays. Francisco será lembrado como um papa que cultivou a empatia com as pessoas comuns, com a vida humana como ela é. No lugar de editos imperiais sobre o céu e o inferno, a virtude e o pecado, escolheu a humildade da dúvida.

Quis empurrar a Igreja para fora do Palácio, na direção das ruas. Suas reformas, contudo, ficaram quase circunscritas ao âmbito simbólico ou cenográfico.

AVESSO À SANTIDADE – Francisco enfrentou a resistência dos tradicionalistas para, com sucesso parcial, abrir caminho à comunhão de divorciados que voltam a se casar. Empenhou-se na missão espinhosa de curar a ferida dos escândalos de pedofilia na Igreja, mas não atacou as raízes da abominação. Seu reformismo morno contrasta com as emoções suscitadas pela figura de um papa avesso à santidade ostentatória.

O “bispo das favelas”, como Bergoglio ficou conhecido na sua Buenos Aires, nunca desejou destruir as muralhas históricas que a Igreja ergueu em torno de seu castelo.

O celibato clerical e o veto à ordenação de mulheres, temas essenciais para o futuro do catolicismo oficial, permaneceram no pátio reservado aos tabus.

REGRAS ARCAICAS – Nenhum dos dois pertence à esfera dos dogmas ou da doutrina. São regras de disciplina organizacional estabelecidas na hora em que Roma alçava o cristianismo ao estatuto de religião imperial. O Sínodo de Elvira (circa 305) impôs o celibato e, pouco mais tarde, o Primeiro Concílio de Niceia (325) proibiu a ordenação sacerdotal feminina.

A “família da Igreja” separava-se das famílias, formando um corpo hierárquico masculino apartado da sociedade. Naquelas decisões encontram-se, por sinal, as fontes profundas do crônico abuso de menores no meio eclesiástico.

Como interpretar o sentido das deliberações de Elvira e Niceia? Sob a influência da visão marxista, uma corrente teórica sugere que sua finalidade era impedir que os filhos dos clérigos herdassem patrimônios da Igreja, formando dinastias privadas.

SÓLIDA EXPLICAÇÃO – A tese parece uma sólida explicação para a perenização das duas disciplinas, mas não passa no teste das circunstâncias históricas nas quais surgiram.

O Sínodo de Elvira foi uma reunião precária de 19 bispos e 36 presbíteros da atual Andaluzia. Niceia congregou mais de 200 bispos, mas realizou-se sob o patrocínio do imperador Constantino I. A Igreja que começava a se organizar carecia de patrimônios significativos.

Uma tese alternativa derrama luzes mais nítidas. Nos primeiros séculos, o cristianismo foi um movimento revolucionário: uma contestação popular das estruturas de poder de Roma.

NÃO HAVIA CELIBATO – Na época, não faltavam pregadores casados e as mulheres ocupavam as linhas de frente na difusão da nova fé. Mas, com a conversão de Constantino, o que era revolução sedimenta-se como instituição.

No início do quarto século, a Igreja submete à ordem o povo cristão, ergue as basílicas romanas e incorpora a cultura patriarcal do Império Romano.

A Igreja, monarquia de ambições imperiais, sobreviveu a Roma, à fragmentação medieval, à primazia do Estado-nação, ao tumulto da modernidade. O papa que se apaga pertence a uma tradição de mudanças adaptativas multisseculares. O passado esmaga o presente: Elvira e Niceia estão entre nós.

Putin se oferece para negociar paz, mas desta vez quem atrapalha é Trump

Presidentes dos EUA, Donald Trump (D), e da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, discutem antes de renião na Casa Branca — Foto: SAUL LOEB / AFP

Biden apoiou a guerra, mas Trump enfraqueceu Kelensky

Deu em O Globo

Após o presidente da Rússia, Vladimir Putin, declarar na sexta-feira que está pronto para manter negociações de paz com a Ucrânia “sem quaisquer condições”, propondo cessar-fogo, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, criticou seu colega pelos ataques a áreas civis no país vizinho nos últimos dias, dizendo que o russo “talvez não queira acabar com a guerra”.

Em uma publicação no Truth Social após seu encontro com o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky em Roma, à margem do funeral do Papa Francisco neste sábado, Trump também comentou que Putin “talvez precise ser tratado de forma diferente”. E acrescentou: “Muitas pessoas estão morrendo!”.

DISSE PUTIN – Neste sábado, Moscou informou que Putin disse ao enviado de Trump, Steve Witkoff, durante a reunião na sexta-feira, que estava disposto a negociar uma solução para o conflito na Ucrânia “sem pré-condições”.

— Durante as conversas de sexta-feira com o enviado de Trump, Witkoff, Vladimir Putin reiterou que a Rússia está pronta para retomar as negociações com a Ucrânia sem quaisquer pré-condições — disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, acrescentando que Putin já repetiu isso diversas vezes no passado.

Mais cedo, o encontro entre Trump e Zelensky — o primeiro presencial entre os dois desde que, com o vice-presidente JD Vance, protagonizaram uma acalorada discussão no Salão Oval, no final de fevereiro — foi descrito como positivo por ambos os lados. Porém, não aconteceu uma segunda reunião, inicialmente prevista pela Presidência ucraniana, devido às agendas de ambos.

DISSE ZELENSKY – “Foi uma boa reunião. Conversamos bastante pessoalmente. Espero que consigamos resultados em todos os pontos discutidos”, escreveu Zelensky nas redes sociais após o encontro, acrescentando que ambos falaram sobre uma trégua “total e incondicional”.

Ele também descreveu a reunião como “muito simbólica”, destacando que ela “poderá se tornar histórica se alcançarmos resultados conjuntos”.

Por sua vez, o diretor de comunicações da Casa Branca, Steven Cheung, afirmou que os líderes “se encontraram em caráter privado e tiveram uma discussão muito produtiva”, acrescentando que mais detalhes seriam divulgados posteriormente.

ATAQUES RUSSOS – A viagem de Zelensky ao Vaticano ocorreu após uma grande ofensiva russa às cidades ucranianas de Kiev, a capital, e Kharkiv, o que o levou a encurtar a visita que fazia à África do Sul nesta semana.

Na sexta-feira, a Ucrânia também negou que a Rússia tenha recuperado o controle de Kursk, a região de fronteira onde os ucranianos haviam lançado uma ofensiva surpresa no ano passado. Mais cedo, Putin disse que já controlava Kursk. Mas o Exército ucraniano afirmou que suas tropas ainda estão combatendo na área.

Pouco depois de chegar a Roma na sexta-feira, Trump defendeu que Ucrânia e Rússia realizem “negociações de altíssimo nível” para pôr fim à guerra de três anos, iniciada com a invasão russa. A declaração ocorreu após Witkoff se encontrar com Putin no mesmo dia, e Trump afirmou que ambos os lados estavam “muito próximos de um acordo”.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
– Como está em moda hoje na política e na diplomacia, as diversas partes envolvidas constroem narrativas próprias, bem diferentes umas das outras. Nesta guerra, nenhum dos três envolvidos tem razão, cada um age à sua maneira. Mas é preciso entender que a Ucrânia provocou a guerra lá atrás, ao hostilizar a população russa da Criméia.

Depois, a Ucrânia resolveu aderir à OTAN e a guerra recrudesceu, com entusiasmado apoio europeu e americano. Agora Trump fechou a torneira dos dólares e dos armamentos, os europeus também se retraíram e a Ucrânia está cada vez mais fragilizada diante da Rússia e endividada junto aos EUA e à Europa.

Com isso, a Rússia vai negociar a paz em condição de superioridade. Detalhe importante: o Ocidente julgou que a guerra levaria o governo Putin à falência, mas isso não aconteceu, embora as bilionárias reservas financeiras russas estejam bloqueadas no Ocidente.

Estamos chegando aos últimos capítulos. Mesmo assim, comprem pipocas. (C.N.)

Vivemos uma política que possibilita a eleição de bandidos e de quadrilhas

charge-erasmo-spadotto-legalizacao-corrupcao - blogdobarbosa

Charge do Erasmo Spadotto (Arquivo Google)

Muniz Sodré
Folha

Tão elástico é o escopo do identitarismo que até mesmo criminosos podem se vangloriar de uma identidade específica. Há quem se defina orgulhosamente como “bandido e não band-aid”. Semanas atrás, morreu em confronto com a polícia carioca um chefe do tráfico, bandido pleno, que se identificava como “Cheio de Ódio”.

Em “Dia Zero”, série em que Robert de Niro interpreta dois chefões da máfia, diz um deles que não existe meio-bandido. O que contraria a dosimetria penal de “meio-termo” para o 8 de janeiro, sugerida por Michel Temer.

BANDITISMO – Toda e qualquer identidade se constrói na relação com a alteridade, buscando unidade nas identificações. A isso se presta a palavra bandido, largo espectro de sentido para outras, como criminoso, celerado, ladrão, chantagista.

O italiano “bandito” designa alguém banido do convívio comunitário e mancomunado em bandos, com interesses próprios e disruptivos. Isso amplia o escopo do banditismo além da criminalidade penal, pois “bando” implica também desorganização social e moral de formas institucionais.

É ângulo adequado não só a associações criminosas de grande porte (máfias, milícias, sindicatos da morte) como também a aparatos de Estado que se constituam ilegalmente como autônomos. Um fenômeno ambíguo e ubíquo, portanto, no sentido de ocupar ao mesmo tempo lugares sociais diversos.

SOLUÇÃO COMUNITÁRIA – Não à toa, décadas atrás, um prefeito carioca saudou as milícias como “solução comunitária” para a segurança.

Entre nós, caso despercebido é o do Poder Legislativo em suas três instâncias (municipal, estadual e federal) que, nas grandes capitais, desmoralizam a representatividade. Vereadores originam-se de redutos eleitorais dominados por traficantes e milicianos, sem esconder suas promíscuas fidelidades.

Polícias militares milicianizam-se pelo descontrole. Desembargadores vendem sentenças. A promiscuidade tem patamares inquietantes em São Paulo. No Rio de Janeiro, houve a prisão sucessiva de cinco governadores. De um desses, procede a mais deslavada e patética autoidentificação bandida de todos os tempos: “Exagerei”.

GANHAM ELEIÇÕES  – Mas o alarme soa mais alto quando, no plano federal, muitos se elegem como bandidos-matadores. Ou então quando a formação de bando se define por desconexão com a comunidade nacional.

Assim é que, segundo as pesquisas, a maioria dos brasileiros se mostra favorável à punição dos golpistas do 8 de janeiro, porém a Câmara arregimenta 262 assinaturas de apoio à anistia ampla. Ainda que não prospere, é vexaminosa a contaminação da dita alta legislatura por espírito alheio ao mais grave dos crimes contra a República, implicitamente abrindo portas à sua repetição.

Vexame possível apenas num contexto legislativo em que interesses de uma súcia (emendas sem transparência, favores eleitoreiros etc.) sobreponham-se à vida nacional. Não é criminalidade penalizável, mas banditismo mesmo. Por isso essa palavra se tornou tão sensível na Câmara.

TUDO AO CONTRÁRIO – Um deputado pode ter seu mandato cassado por denunciar a corrupção das emendas e chamar o líder de “bandido”.

Haverá quem ache apenas retórica a elasticidade desse conceito. Mas este é um tempo de choque de realidade, em que caem as máscaras das crenças e das palavras.

Com a democracia posta em xeque por sinistras boiadas, é hora de dar nome aos bois, lidando com aparências enganosas que realmente só se exibem diante da verdade do espelho: entidades bandidas.

Collor não fugiu ao seu destino e acabou vítima de sua ganância desenfreada

Ex-presidente Fernando Collor, 75 anos, é preso por corrupção

Insaciável, Collor já nasceu rico e queria enriquecer mais

Dora Kramer
Folha

Arnon de Mello, pai de Fernando Collor de Mello, costumava repetir uma frase que pode se aplicar ao destino do filho: “O que não vem em maio, vem em setembro”. Queria dizer que das dívidas pendentes com a vida não se escapa. Mais cedo ou mais tarde, a fatura é resgatada. É o que aconteceu ao ex-presidente.

O primeiro eleito pós-redemocratização e primeiro também a sofrer um impeachment, em 1992, dois anos depois absolvido dos crimes que o tiraram do Palácio do Planalto e agora confinado a uma cela em Maceió, onde tudo começou como prefeito da capital alagoana.

DE LAMBORGHINI – O castigo não veio a cavalo, como reza o ditado, mas acabou vindo a bordo da Lamborghini e outros luxos da mesma envergadura comprados com o fruto da corrupção a que se deu ao desfrute junto à hoje extinta BR-Distribuidora, da Petrobras, valendo-se do mandato de senador.

Collor não aprendeu nada com a chance que lhe deu o Supremo Tribunal Federal em 1994 e, pelo visto na trajetória que culminou com a condenação, não esqueceu nada do que assimilou em sua sociedade de traficâncias com Paulo César Farias (assassinado em 1996) desde o tempo de governador de Alagoas até a Presidência da República.

Uma aliança perfeita entre personagens complementares: PC sabia como arrancar dinheiro de entes públicos e privados; Collor não queria saber de onde vinha a bufunfa, desde que suficiente para financiar suas extravagâncias e gosto por ostentação. Isso embalado na presunção conjunta de que poderiam enganar a todos o tempo todo.

VÍTIMAS DA AMBIÇÃO – Não puderam enganar a todos. Paulo César padeceu vítima da ganância alheia travestida de crime passional, e Collor sucumbiu à própria ambição, arrogância e vaidade delirante de quem aos cinco anos de idade sonhava em vestir as meias vermelhas de um cardeal.

Agora terá pela frente oito anos de dez meses de pena por condenação criminal para refletir acerca das palavras do pai sobre como pode ser infausto o destino de quem ignora avisos de um maio hipotético cujo preço real é cobrado num setembro figurado.

Musk vai reduzir seu papel no governo Trump, sem abater os tais gastos

Donald Trump & Elon Musk: Männer-Freundschaft in Gefahr? Zoff hinter den  Kulissen

Musk gosta de brincar de governo, mas está assustado

Deu na BBC

Elon Musk, CEO da Tesla, anunciou que vai reduzir sua participação no governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, depois que os resultados financeiros da empresa, divulgados semana passada, mostraram uma queda acentuada no lucro e na receita nos primeiros meses deste ano.

As vendas da montadora despencaram, e a marca vem enfrentando críticas diante do envolvimento político cada vez maior de Musk na nova gestão da Casa Branca.

LUCROS EM QUEDA – De acordo com os resultados divulgados, o lucro da Tesla despencou 71% no primeiro trimestre deste ano, em comparação com o mesmo período de 2024, uma queda atribuída, entre outros fatores, às atividades políticas de seu CEO.

A empresa americana de veículos elétricos registrou US$ 409 milhões de lucro entre janeiro e março, em comparação com US$ 1,4 bilhão no mesmo período do ano anterior.

Esta queda coincide com uma crescente controvérsia em torno de Musk, cuja participação no governo Trump e apoio a políticos de direita radical na Europa provocaram protestos, boicotes e danos à imagem da marca. A empresa, de fato, citou a “mudança no sentimento político” como uma das razões para a queda no lucro, assim como a “incerteza nos mercados automotivo e de energia”.

“ASSESSOR DE TRUMP” – A queda nos lucros da Tesla foi atribuída não apenas a fatores comerciais e logísticos, mas também à figura cada vez mais controversa de Elon Musk.

Seu papel como assessor de Trump no Departamento de Eficiência Governamental (Doge, na sigla em inglês), órgão federal que cortou milhares de empregos e orçamentos públicos, gerou críticas entre determinados setores nos EUA.

A Tesla viu suas vendas caírem drasticamente em seu principal mercado doméstico, a Califórnia, um Estado caracterizado por suas fortes tendências progressistas, onde Trump perdeu na votação para Kamala Harris na eleição de novembro passado. Em paralelo, a imagem negativa do governo Trump na Europa e em outros mercados pode ter dissuadido muitos clientes em potencial de comprar um Tesla.

FREIO DE ARRUMAÇÃO – Pouco depois da divulgação dos resultados financeiros da Tesla na terça-feira, Musk anunciou em uma teleconferência com analistas de Wall Street que, a partir de maio, vai reduzir “significativamente” sua dedicação ao Doge.

Ele disse que provavelmente vai continuar a dedicar um ou dois dias por semana para trabalhar em questões governamentais, “enquanto o presidente quiser que eu faça isso, e enquanto for útil”.

Musk afirmou que as “reações negativas” vêm de pessoas que “vão tentar atacar a mim e à equipe do Doge”. Mas descreveu seu trabalho à frente do departamento como “crucial”, e declarou que “colocar ordem na sede do governo é algo que está praticamente concluído”.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Como empresário, Musk é movido principalmente pelo lucro. Aceitou trabalhar com Trump no enxugamento do governo, mas não imaginava o furacão que o presidente republicano criaria nos Estados Unidos e no mundo, com tarifaços, ameaças e tudo mais. No meio do vendaval, Musk está saindo de fininho, no estilo Martinho da Vila, bem devagar, devagarinho. Trump enganou muita gente, inclusive seus melhores amigos. E o futuro dos Estados Unidos e do mundo se tornou uma incógnita ainda mais desafiadora. (C.N.)

Desta vez, não roubam o dinheiro do governo, preferem roubar aposentados e pensionistas

O pobre como ativo: INSS, bets e a nova lógica da extração – Estúdio 5º  Elemento

Roubar de pobre deveria se considerado “crime hediondo”

Elio Gaspari
O Globo

As últimas grandes roubalheiras nacionais, o “mensalão” e o “petrolão”, gravitavam em torno do dinheiro da Viúva e, de certa forma, ocorriam no andar de cima. Já a fraude da rede varejista Americanas poupava a Viúva, mas era coisa de maganos. Desta vez, graças à Controladoria-Geral da União e à Polícia Federal, descobriu-se que quadrilhas aninhadas em 11 entidades estavam roubando os aposentados do INSS.

Todo mês, tungavam coisa de R$ 50 de milhões de aposentados, gente que recebe, na média, R$ 4 mil. As quadrilhas conseguiram do INSS os dados pessoais das vítimas e fraudaram autorizações para os descontos.

DEVE SER MAIS – A roubalheira contra os aposentados do andar de baixo envolveu um ervanário que vai a R$ 6,3 bilhões, mas só o prosseguimento das investigações chegará ao montante exato da tunga. Uma auditoria feita pelo TCU nas contas de um só ano já estimou o desvio em R$ 1,55 bilhão.

Uma pesquisa feita pela CGU junto de 1.300 aposentados mostrou que 97% não haviam autorizado os descontos. Mais: 70% de 29 entidades investigadas haviam sido credenciadas pelo INSS sem apresentar a devida documentação.

Num primeiro lance, na quarta-feira, 700 policiais federais e 60 servidores do INSS cumpriram 211 mandados de busca e apreensão em 13 estados e Brasília, prenderam três pessoas e sequestraram mais de R$ 1 bilhão em bens e dinheiro, inclusive uma Ferrari e um Porsche. Fala-se até num Rolls Royce.

APENAS O COMEÇO – Para felicidade geral, o diretor da PF, Andrei Passos Rodrigues, anunciou que a operação da semana passada é apenas “uma investigação que está no seu começo”.

A reação (tardia) do governo foi puramente marqueteira, arruinada pelo desassombro do ministro da Previdência, doutor Carlos Lupi. Naquela manhã, ele garantiu, durante uma entrevista coletiva: “A indicação do doutor Stefanutto é da minha inteira responsabilidade”. Alessandro Stefanutto, presidente do INSS, foi demitido horas depois.

Lula e Lupi são adultos e sabem o que estão fazendo. Há anos tratam do INSS com a opção preferencial pela empulhação. Lupi prometeu zerar a fila da Previdência até o final de 2023 e hoje ela já passou dos dois milhões de vítimas.

QUADRILHAS ATUAIS – A coletiva dos ministros destinava-se a mostrar que haviam sido desbaratadas quadrilhas cevadas pelo governo anterior. Pelas cifras e pelas datas, a história parece ser outra.

Durante o governo de Jair Bolsonaro, a tunga passou de R$ 604 milhões para R$ 706,2 milhões. Com Lula 3.0 ela pulou de R$ 1,3 bilhão para R$ 2,6 bilhão.

A repórter Maria Cristina Fernandes mostrou que em agosto de 2023 já haviam chegado à Câmara dos Deputados denúncias de descontos indevidos, e o deputado Gustinho Ribeiro (Republicanos-PB) alertou o Tribunal de Contas da União. Portanto, em agosto de 2023 o governo soube que os aposentados estavam sendo roubados.

SEM PROVIDÊNCIAS – Entre 2023 e abril de 2025, o INSS e o Ministério da Previdência fizeram coisa nenhuma. Suspenderam os repasses para logo depois retomá-los. A Dataprev recomendou que se usasse a biometria para registrar a autorização dos descontos. Não foi ouvida.

Entre a manhã e a tarde de quarta-feira, o governo simulou uma ação coordenada para proteger os aposentados que vinham sendo roubados. Mostrou alguma surpresa e informou que pretende ajudar no ressarcimento dos lesados. Fica combinado assim.

Em dezembro de 2023, o repórter Luiz Vassalo publicou o caso de Josefa Brito, de 74 anos, moradora no extremo Sul de São Paulo. Ela brigava na Justiça para receber de volta seu dinheiro, tungado pela Ambec. Tomavam-lhe R$ 45 a cada mês.

ELA CONTOU – “Eu procurei a Justiça porque eu fui ao INSS e me mostraram lá que a Ambec estava descontando. É pouco, mas me faz falta. E eu não autorizei desconto nenhum. Como que pode descontar na sua aposentadoria uma coisa que você não autoriza? O aposentado ganha pouco, não dá nem para comprar medicamento.”

Josefa estava num grupo de 600 pessoas que processava a Ambec. Àquela altura, corriam 2,3 mil ações contra a entidade.

A Ambec atende pelo bonito nome de Associação dos Aposentados Mutualistas para Benefícios Coletivos. Segundo o TCU, em dezembro de 2021 ela tinha três associados, um ano depois (governo Lula 3.0) eles eram 600 mil e sua arrecadação ficou em R$ 91 milhões.

FIGURA CENTRAL – A CGU listou o empresário Maurício Camisotti como “figura central” da Ambec. Só o prosseguimento da investigação poderá detalhar suas conexões com a rede de negócios da entidade. Por enquanto, sabe-se que seis parentes seus estavam na Ambec ou tinham tratos com ela.

O juiz Massimo Palazzolo, da 4ª Vara Criminal Federal de São Paulo, viu “fundadas razões” para suspender suas operações com o INSS e bloquear até R$ 174 milhões da entidade e de outras quatro empresas que com ela operavam.

As quadrilhas que tungavam os aposentados tiveram a ajuda da inércia de um braço do governo e do acesso aos dados pessoais das vítimas.

IRMÃO DE LULA – Horas depois da ruinosa fala do ministro Lupi, veio outra surpresa: José Ferreira da Silva, o Frei Chico, irmão mais velho de Lula, de 83 anos, é o vice-presidente do Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos do Brasil (Sindnapi), uma das entidades listadas na investigação.

Lula teve pelo menos 17 irmãos (sete do casamento de Lindu, sua mãe) e já completou dez anos como presidente do Brasil. Todos seus irmãos viveram ou vivem modestamente.

Foi Frei Chico quem o atraiu para a vida sindical, da qual catapultou-se para a política. Como vice-presidente do Sindnapi, acima dele só está Milton Baptista de Souza Filho, conhecido como Milton Cavalo, nomeado por Carlos Lupi há duas semanas para o Conselho Nacional da Previdência Social.

IMPOSTO SINDICAL – O comissariado de Lula 3.0 vive assombrado pela reforma trabalhista de Michel Temer feita em 2017. Ela desossou as finanças dos sindicatos ao extinguir o Imposto Sindical, pelo qual o trabalhador contribuía com um dia de salário a cada ano.

Desde então, a máquina sindical busca arrecadar por meio do que chamam de “contribuição”. O Supremo Tribunal considerou constitucional o desconto desse mimo na folha de pagamento dos trabalhadores, sindicalizados ou não. Seria uma remuneração por serviços prestados pelos sindicatos. Como há sindicatos que não prestam serviço algum, legalizaram-se centenas de tungas coletivas.

No caso da roubalheira contra os aposentados, as quadrilhas foram direto ao crime, fraudando até mesmo as assinaturas das vítimas.

Gilmar Mendes fez três gols no julgamento de Collor, e todos eles foram contra

Gilmar Mendes recebe reclamações pela redução do número de zonas eleitorais  para as eleições de 2018 - ÉPOCA | Expresso

Gilmar até fez beicinho, mas desta vez não adiantou nada

Josias de Souza
do UOL

Defender o Supremo Tribunal Federal é defendê-lo da mania de alguns de seus ministros de transformar obsessões pessoais num processo de desmoralização do plenário da Corte. Na penúltima irrupção do fenômeno, Gilmar Mendes molhou a toga por Fernando Collor. Fez três gols. Todos contra.

No julgamento, Gilmar votou pela absolvição de Collor. Teve a companhia apenas de Nunes Marques. Na análise dos embargos, derramou saliva pela redução da pena de mais de oito anos de cadeia à metade. Dessa vez, compôs a minoria ao lado de Nunes Marques, Dias Toffoli e André Mendonça.

ORDEM DE PRISÃO – Exausto das manobras protelatórias da defesa, o relator Alexandre de Moraes deu um basta. Escorado nas decisões do plenário, mandou prender Collor. Embora o jogo estivesse jogado, Moraes submeteu seu despacho ao aval dos colegas. Gilmar tentou cavar uma prorrogação, levando o debate do plenário virtual para o físico.

Collor já havia sido capturado pela Polícia Federal, em Maceió, quando a sessão virtual para o referendo à decisão de Moraes foi iniciada, às 11h de sexta-feira. O término estava marcado para 23h59. No instante em que Gilmar interveio, apenas Flávio Dino havia se manifestado, avalizando a tranca.

Subvertendo a praxe, alguns colegas se recusaram a guardar seus votos para a sessão presencial requisitada por Gilmar, sem data para acontecer. Atropelaram o decano. Seguiram Dino no aval a Moraes os ministros Edson Fachin, Luís Roberto Barroso, Cármen Lúcia e até Dias Toffoli.

PEDRADA DE DOIDO – Neste sábado, Gilmar deu meia-volta. Desistiu da sessão presencial. Com maioria de seis votos já sacramentada, a sessão virtual será reaberta nesta segunda-feira.

Fã do provérbio português segundo o qual “ninguém se livra de pedrada de doido nem de coice de burro”, Gilmar demorou a perceber que apedrejava a supremacia do Supremo, além do próprio pé.

O Supremo estaria apanhando menos nas ruas se buscasse inspiração numa aposta do pontificado reformador de Francisco, sepultado neste sábado em Roma.

LIÇÃO DO PAPA – O papa jogou suas fichas na “sinodalidade” da Igreja. Inspirou-se no modo de agir dos cristãos primitivos, que privilegiavam as decisões colegiadas. Se Deus é brasileiro, o Supremo seguirá a lição do papa argentino.

O sínodo da Suprema Corte é o seu plenário. Todos sabem o que deve ser feito. Quem não quiser seguir o papa pode se inspirar na ministra aposentada Rosa Weber. Ela votava com método.

Se o Supremo formava jurisprudência num sentido ‘A’, Rosa adotava a decisão ‘A’, mesmo que preferisse uma alternativa ‘B’.

Na justiça do STF o que vale é a força bruta, e até fazer intimação em UTI

BOLSONARO OFICIAL DE JUSTICA. Foto:  JAIR BOLSONARO VIA FACEBOOK

Moraes obrigou a oficial de Justiça a descumprir a lei

J.R. Guzzo
Estadão

Digamos que um assaltante à mão armada, um traficante de drogas ou um assassino serial esteja internado na UTI do Hospital Star de Brasília com problemas gastrointestinais pesados, depois de passar por uma cirurgia com doze horas de duração – a sexta que já teve de fazer desde que recebeu uma facada no estômago, sete anos atrás, que o levou à beira da morte.

O ministro Alexandre de Moares, então, manda um oficial de justiça entrar no seu quarto e lhe entregar uma intimação para que ele apresente, em cinco dias, a defesa prevista para a fase da ação penal a que responde.

ARTIGO 244 – Qual seria, honestamente, a reação da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, das classes culturais ou do ministro da Justiça, sempre tão sensível quando se trata de defender os direitos dos criminosos? É certo, na hipótese acima, que Alexandre de Moraes teria violado esses direitos por desrespeitar o que está escrito no artigo 244 do Código de Processo Penal – a autoridade judicial está proibida de intimar um doente em estado grave.

Teriam de dizer, logo de cara, que a intimação apresentada no quarto da UTI foi flagrantemente ilegal. Poderiam dizer também que é um ato de crueldade grosseira, mesquinha e inútil.

Mas quem está na UTI do Hospital Star de Brasília não é um assaltante, um traficante ou um assassino – é o ex-presidente Jair Bolsonaro, e aí muda tudo.

CIDADÃOS DE SEGUNDA – No Brasil de hoje, diante do aplauso emocionado da esquerda e das mentes civilizadas, Bolsonaro e quem mais for descrito como sendo de “extrema direita” não têm direito à proteção de nenhuma lei.

Se tiverem, vão usar seus direitos para destruir a democracia – e o STF obviamente não pode aceitar isso. Democracia acima de todos. Supremo acima de tudo.

Bolsonaro, apesar do Código de Processo Penal inteiro, teve de assinar em seu quarto a intimação do ministro Moraes, porque na justiça do STF o que vale é a força armada, e não o que está escrito na lei. Esse tipo de decisão tem a tendência de se fazer acompanhar por explicações particularmente boçais.

GRAVOU UMA LIVE – No caso, Moraes alegou que o ex-presidente tinha gravado uma live no seu quarto – portanto, no seu elevado entender, estava em condições de ser citado pelo oficial de justiça. Nem se preocupou em consultar a lei que demonstrou não conhecer.

Temos aí mais uma etapa no processo geral de depravação que vive hoje o Supremo: passaram, agora, a atribuir a si próprios conhecimentos científicos que simplesmente não têm. De onde o ministro Moraes tirou a ideia de que ele também pode, além de tudo que já pode, tomar decisões na condição de médico?

Onde está o laudo atestando a situação clínica de Bolsonaro? É assim que funciona o “Estado de Direito” do Supremo. Vai ser daí para baixo.

Prisão de Collor é tratada pelo STF como precedente para prender Bolsonaro

Charge do Amarildo (Arquivo Google)

Cézar Feitoza
Folha

A prisão do ex-presidente Fernando Collor de Mello por decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) é tratada por ministros da corte como um precedente para a eventual condenação de outro antigo ocupante do Palácio da Alvorada: Jair Bolsonaro (PL).

Integrantes do tribunal ouvidos pela Folha, como ministros e assessores, destacam que a rejeição do segundo recurso de Collor contra a condenação, considerado protelatório, seguiu uma jurisprudência criada no caso do mensalão.

ADIAR A PENA – Essa foi uma forma de evitar que as defesas lancem mão de recursos semelhantes aos já rejeitados pelo tribunal como uma forma de adiar o início do cumprimento da pena.

O reforço da jurisprudência no caso Collor é avaliado no Supremo como um ensaio para os acusados por planejar um golpe de Estado após a eleição de 2022. O argumento é de que o precedente pode ser usado para evitar o prolongamento das ações penais mesmo após eventual condenação.

O STF também sinaliza com o envio de Collor a uma cela especial em presídio comum a possibilidade de Bolsonaro não ficar em uma unidade militar ou superintendência da Polícia Federal caso condenado pela trama golpista.

PRISÃO DIFERENCIADA – A possível prisão diferenciada de Bolsonaro é uma preocupação no Exército. Generais discutem, nos bastidores, conjecturas sobre uma eventual detenção do ex-presidente em uma unidade militar.

Bolsonaro é capitão reformado do Exército e, como ex-presidente da República, foi comandante-em-chefe das Forças Armadas de 2019 a 2022.

A legislação brasileira prevê a prisão especial como benefício para detenções provisórias. Em eventual condenação definitiva, o ex-presidente perderia o direito, além de ser expulso do Exército, em processo paralelo na Justiça Militar.

TERCEIRA IDADE – A principal dúvida sobre a situação de Collor é se o ministro Alexandre de Moraes vai conceder o direito à prisão domiciliar. A defesa dele argumenta que o ex-presidente é idoso (75 anos), tem três doenças (Parkinson, transtorno bipolar e apneia de sono grave) e precisa de tratamento especial, com medicamentos de uso contínuo e visitas frequentes ao médico.

Em audiência de custódia, porém, Collor negou ter doenças e usar remédios. Moraes pediu uma manifestação do procurador-geral da República, Paulo Gonet, sobre o pedido de prisão domiciliar.

A expectativa no Supremo é que a decisão de Moraes também crie um precedente para uma eventual prisão de Bolsonaro. O ex-presidente tem 70 anos e enfrenta sequelas decorrentes da facada que sofreu na campanha eleitoral de 2018.

SEXTA CIRURGIA – Bolsonaro foi submetido no último dia 13 à sexta cirurgia no estômago e está internado na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do hospital DF Star, em Brasília.

Um ministro do Supremo ainda ressaltou que Collor é o primeiro ex-presidente preso por decisão do STF desde a redemocratização. Os outros dois ex-mandatários detidos, Lula e Michel Temer, respondiam a processos em instâncias inferiores.

Como a Folha mostrou, o STF pretende julgar Bolsonaro e outros sete acusados de integrar o núcleo central da trama golpista ainda este ano, para evitar a contaminação do processo com o calendário eleitoral de 2026.

EM OUTUBRO – As previsões internas são de julgamento definitivo do caso em outubro deste ano, com a Primeira Turma do Supremo dedicada nos meses seguintes à análise de recursos. Os demais núcleos denunciados pela PGR devem ter seus processos finalizados depois.

Quanto a Collor, foi condenado pelo STF a oito anos e dez meses de prisão. A decisão é de maio de 2023. Ele foi acusado pela PGR de receber propina de um esquema de corrupção na BR Distribuidora, empresa subsidiária da Petrobras, em ação penal derivada da Operação Lava Jato.

Comprovantes encontrados no escritório do doleiro Alberto Youssef, além de depoimentos de colaboradores da operação, foram usados como elementos de prova na ação.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Collor e Bolsonaro têm pontos de semelhança. Os dois são insanos. tiranos e insensíveis. Collor nasceu rico, mas a corrupção fez parte de sua formação, quis ser cada vez mais rico, enquanto o rachadista Bolsonaro também fazia do amor ao dinheiro seu objetivo maior. Nenhum dos dois mereceu chegar à Presidência, mas o destino assim quis. Junto com Lula, outro corrupto de primeiríssima, amigo dos amigos e refinado socialista, formam um trio de presidentes bisonhos que demonstram o primarismo da política brasileira. Enquanto não se livrar deles, o Brasil fica marcando passo. (C.N.)

Collor assombra Lula com fantasma da Lava Jato e também assusta Bolsonaro

Prisão do Collor | DIARINHO

Charge do Ed Carlos (Diarinho)

Eliane Cantanhêde
Estadão

A prisão de Fernando Collor joga luzes sobre a corrupção crônica no Brasil e traz de volta o fantasma do petrolão e da Lava Jato que assombra o presidente Lula, derrotado por Collor em 1989. Já presidente, anos depois, Lula desprezou as acusações contra Collor como “politiquices”, disse que ele faria um “mandato extraordinário” ao voltar à cena política como senador e… o premiou com duas diretorias da BR Distribuidora, subsidiária da Petrobras, epicentro do maior escândalo de corrupção da história brasileira.

Collor transformou as diretorias de Operações e de Postos de Serviço da BR num belíssimo balcão de negócios que, segundo investigações da PF e a ação contra ele no Supremo, lhe renderam em torno de R$ 20 milhões em propinas. Até hoje, é inexplicável que o petista Lula tenha dado um presentão desses para um ex-presidente cassado por corrupção, senador inexpressivo e adversário que jogou sujo contra ele. Por que será?

CABIA MAIS UM – O que fica evidente é que, no esquemão da Petrobras, sempre cabia mais um. Filho de político (que matou um colega a tiros no plenário do Senado), Collor foi prefeito de Maceió, governador de Alagoas e venceu a primeira eleição direta após a ditadura militar usando a fantasia de “caçador de marajás”, quando ele próprio era o marajá, de família muito rica, que na juventude ostentava mulheres lindas, carrões e petulância por Brasília.

É o passado fazendo alertas para o presente e o futuro: desconfiem de aventureiros que se arvoram salvadores da Pátria, que se dizem antipolíticos sendo políticos.

Collor sofreu o impeachment, mas foi absolvido pelo Supremo anos depois, cumpriu o prazo de inelegibilidade, virou senador, aproximou-se de Lula, deu-se muito bem na BR e voltou às manchetes policiais e à mira da Justiça em 2015, no auge da Lava Jato, embolado com o PT.

COLEÇÃO DE CARRÕES – Na “Casa da Dinda”, famosa em Brasília, a PF encontrou uma Lamborghini, uma Ferrari e um Porsche. Não é para qualquer um…

É triste, desanimador e também irritante que os dois candidatos do segundo turno da primeira eleição direta pós ditadura tenham sido alvos, ambos, da falecida Lava Jato, envolvendo justamente a Petrobras, principal e mais simbólica estatal brasileira.

A diferença é que Lula foi julgado e condenado, inicialmente, pela primeira instância de Curitiba e pelo juiz Sergio Moro, mas o processo de Collor correu no Supremo.

DESMANCHE – Numa reviravolta histórica, o mesmo Supremo que havia mandado Lula para a prisão pelo triplex do Guarujá concluiu que Curitiba não era o foro adequado, devolveu os processos à estaca zero e abriu caminho para o terceiro mandato e o desmanche da Lava Jato.

Enquanto isso, Collor navegava de recurso em recurso, embargo em embargo, e seu processo só “transitou em julgado” na última quinta-feira, quando o ministro Alexandre de Moraes deu um basta no que conhecemos como “chicana jurídica” – a velha enrolação, ou procrastinação − e mandou prendê-lo.

Assim como traz de volta o fantasma do petrolão assombrando Lula, a prisão de Collor aumenta o pavor de Jair Bolsonaro de parar na cadeia com seu julgamento por tentativa de golpe no STF. Collor remete ao passado, assombra o presente, projeta o futuro e diz muito sobre o Brasil. Por falar nisso, quem mandou matar PC Farias, o “operador” de Collor?

Fux mostra que a condenação da mulher do batom será ilegal, sem haver provas

PGR recomenda prisão domiciliar para mulher que pichou estátua do STF com a  frase “Perdeu, mané” – Agenda do Poder

“Prova” de Moraes foi a selfie que Débora fez no celular

Malu Gaspar e Rafael Moraes Moura
O Globo

Antes de entregar seu voto pela condenação da cabeleireira Débora dos Santos a apenas 1 ano e seis meses de prisão, submetido nesta sexta-feira ao plenário virtual do Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro Luiz Fux procurou Alexandre de Moraes para avisar de sua divergência.

Relator das investigações relacionadas aos atos golpistas de 8 de Janeiro, Moraes propôs uma pena de 14 anos de prisão para Débora, que pichou com batom a inscrição “Perdeu, Mané” na estátua da Justiça que fica em frente à sede do STF no dia 8 de janeiro de 2023.

CINCO CRIMES – No mês passado, Moraes considerou que a cabeleireira cometeu cinco crimes: associação criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado de Direito, golpe de Estado, dano qualificado e deterioração do patrimônio tombado.

Fux, por sua vez, propôs na última sexta-feira (25) a condenação de Débora apenas pelo último crime da lista – deterioração do patrimônio tombado.

Seu voto representa um forte contraponto ao de Moraes, que está sob pressão de parlamentares e setores da opinião pública por conta do projeto de lei que tramita no Congresso pela anistia aos golpistas do 8 de janeiro.

GRANDE MAL-ESTAR – O posicionamento de Fux tinha, portanto, grande potencial de provocar mal-estar. Por isso, ele decidiu procurar Moraes para avisar antecipadamente de sua posição, porque não queria parecer desleal ao abrir a divergência no julgamento.

Alexandre de Moraes, relator do caso, foi o primeiro a votar: “A denúncia descreve de forma detalhada, com todos os elementos, todos os requisitos exigidos, tendo sido coerente a exposição dos fatos, com a descrição amplamente satisfatória dos fatos, da tentativa de golpe de estado, tentativa de abolição violenta do estado de direito”.

Mas Fux, conforme contou a interlocutores, avisou ao relator que não via todos os crimes elencados pela Procuradoria-Geral da República e endossados por Moraes no voto.

SEM PROVAS – Em seu voto, Fux diz que no processo não há as provas materiais alegadas pelo relator Moraes, que pediu a pena de 14 anos, mas multa de R$ 50 mil e multa-parte dos R$ 30 milhões atribuídos a danos.

“No presente caso, o que se tem é precisamente o contrário: há prova apenas da conduta individual e isolada da ré, no sentido de pichar a estátua da justiça utilizando-se de um batom”, escreveu Fux, em voto depositado no plenário virtual do STF, uma plataforma digital que permite a análise de casos longe das transmissões ao vivo da TV Justiça e dos olhos da opinião pública.

“Não há elementos da vinculação subjetiva da ré com outros acusados”, acrescentou, destacando ainda que, durante os atos praticados no 8 de Janeiro, a cabeleireira “só permaneceu na parte externa da Praça dos Três Poderes, não tendo adentrado em nenhum dos prédios públicos então depredados e destruídos (nem do Congresso Nacional, nem do Supremo Tribunal Federal, nem do Palácio do Planalto)”.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Se o Supremo fosse um tribunal verdadeiramente democrático, os ministros teriam de provar a existência das provas materiais dos crimes cometidos. Porém, não o farão. Comportam-se como analfabetos jurídicos que usam a toga e a tribuna para saciar a sede de vingança política. E ainda chamam isso aí de justiça… (C.N.)

Direção do PRD expulsa Collor e alega que nem sabia que ele estava filiado…

Collor foi “monitorado” pela PF antes de ser preso; entenda

|Supremo ainda vai decidir o local da prisão

Jussara Soares
da CNN

Isolado politicamente, o ex-presidente Fernando Collor, preso nesta sexta-feira (25) em Maceió (AL), teve a filiação suspensa pelo Partido da Renovação Democrática (PRD). A direção da legenda, que é uma fusão do PTB e do Patriota, afirmou que desconhecia que Collor estava vinculado ao partido.

A decisão evidencia ainda mais o isolamento político do ex-presidente, 33 anos após sofrer o processo de impeachment. Preso por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), Collor, de 75 anos, não recebeu manifestação pública de solidariedade de figurões da política.

DIREITOS POLÍTICOS – Em nota, o PRD diz que fez o cancelamento da filiação de Collor com base no fundamento no artigo 15 da Constituição Federal que prevê suspensão dos direitos políticos no caso de condenação criminal transitada em julgado e com o estatuto da legenda.

“Nada mais havendo a declarar, mantemos como política partidária não nos manifestarmos a respeito de decisões judiciais vinculadas à terceiros cabendo ao Poder Judiciário a tarefa de interpretar as leis, garantir os direitos individuais e resolver conflitos”, diz a nota do PRD, presidido por Ovasco Resende.

Líder do PRD na Câmara, o deputado Fred Costa (MG) confirmou a expulsão à CNN, dizendo que a filiação do ex-presidente não foi notada no momento da fusão entre o Patriota e o PTB, partido originário de Collor.

FILIADOS PRESOS – A fusão que deu origem ao PRD foi autorizada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em novembro de 2023.

Na ocasião, a nova legenda expulsou o ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha, o ex-deputado Roberto Jefferson, a sua filha Cristiane Brasil, e o ex-deputado Daniel Silveira. Assim como Collor, Jefferson e Daniel Silveira estão presos.

Dos três políticos que estão presos, dois estão prestes a conquistar prisão domiciliar – Daniel Silveira, que acaba de descontar mais 38 dias de pena, por fazer cursos e ler livros na cadeia, e Roberto Jefferson, que está doente, mas pode se tratar em casa. 

Na recusa do Ministério, só faltou Lula pedir desculpas ao União Brasil…

Após desistir de ministério, Pedro Lucas diz que Lula entendeu a decisão

Lucas sabe que assumir ministério é uma tremenda fria

Dora Kramer
Folha

Se o Palácio do Planalto precisava de uma certidão passada em cartório do inferno para constatar quem é o mais forte no embate com o Congresso, não precisa de mais nada. A recusa do deputado Pedro Lucas (MA) em assumir o ministério das Comunicações na conta do União Brasil tem a ver com questões internas do partido, mas não só.

Conversa diretamente com a perda de apoios dentro da base a posições e proposições do governo e remete à indisposição dos ex-presidentes da Câmara e do Senado em assumir ministérios.

EXECUTIVO FRACO – Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (PSD-MG) demonstraram a quantas andava a correlação de forças quando não viram razão para deixar um Legislativo forte para integrar um Executivo fraco respondendo a um presidente da República em situação de erosão de popularidade.

A diferença é que nenhum dos dois foi oficialmente anunciado. Pacheco recusou na fase de sondagem e Lira rechaçou as especulações de pronto dizendo não ver motivo para entrar num barco com sinais de naufrágio no horizonte.

Pedro Lucas, líder do União, recebeu o convite de Lula (PT), consta ter aceitado, mas ressalvou que precisava consultar a bancada. Pelo visto, isso foi entendido como mera formalidade, pois ato contínuo Gleisi Hoffmann (PT) anunciou a escolha.

QUESTÃO DE VALORES – A ministra das Relações Institucionais certamente o fez autorizada pelo presidente. Ao convidado faltou experiência, independência e atenção a rituais. Mas em Lula esteve ausente a percepção de que cargos não valem o mesmo de antes.

Habituado a fritar os seus, o Planalto foi cozido por 12 dias em banho-maria por um partido de visão antagônica. Diante disso, o que fazer? Retaliar ao modo tradicional não seria opção por carência de capital disponível para tanto.

A solução foi manifestar irritação com a desfeita para então engolir o choro e depois pedir gentilmente ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), que renovasse os préstimos com outra indicação ao cargo recusado. Só faltou Lula se desculpar pelo mau jeito.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGPedro Lucas sabia que assumir ministério seria uma tremenda fria, porque ele seria investigado pela imprensa e liberou emenda para a prefeitura do pai. Para ele, é melhor continuar como lider do que se expor no ministério. (C.N.)

Quadro médico de Bolsonaro continua preocupante, devido à paralisação do intestino

O ex-presidente Jair Bolsonaro, em entrevista realizada durante internação

Bolsonaro parece estar bem, mas há problemas graves

Victoria Abel
O Globo

O ex-presidente Jair Bolsonaro segue internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital DF Star, em Brasília, “estável clinicamente, sem febre ou alterações da pressão arterial”, de acordo com boletim divulgado neste sábado pelo hospital. Não há previsão de alta.

Bolsonaro está internado há duas semanas na unidade de saúde, após precisar por mais uma cirurgia para tratar de uma obstrução parcial do intestino.

AINDA EM JEJUM – De acordo com o boletim deste sábado, o ex-presidente ainda tem “sinais de gastroparesia (retardo do esvaziamento do estômago) e ainda não apresentou movimentos intestinais espontâneos”, e por isso ainda não pode retomar a alimentação oral nem por sonda gástrica.

Devido a esse problema, a nutrição continua sendo feita diretamente na veia.

Esta foi a sexta operação realizada pelo ex-presidente desde 2018, quando ele foi vítima de uma facada durante a campanha na qual se elegeu presidente da República. Todas as cirurgias foram feitas em decorrência da sequela desse ferimento.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
O boletim médico requer tradução espontânea. O quadro geral de Bolsonaro é bom e estável, mas o problema é o funcionamento do intestino, que não está reagindo. Esta é a tradução de que há “sinais de gastroparesia (retardo do esvaziamento do estômago) e ainda não apresentou movimentos intestinais espontâneos, e por isso ainda não pode retomar a alimentação oral nem por sonda gástrica”. O filho Carlos está apreensivo e admitiu nas redes sociais sua preocupação com a falta de movimentos espontâneos no intestino, porque geralmente eles começam a acontecer entre o segundo e o sétimo dia depois da cirurgia. (C.N.)

Ninguém se entende, Gilmar Mendes recua e o julgamento de Collor volta a ser virtual

Gilmar Mendes anuncia parceria com universidade portuguesa

Gilmar desiste de fazer julgamento de Collor no plenário

Fabíola Perez
do UOL

O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes cancelou neste sábado, dia 26, seu pedido de destaque no julgamento que determinou a prisão do ex-presidente Fernando Collor. O ministro havia levado o julgamento de decisão de Alexandre de Moraes ao plenário físico, mas agora voltou atrás.

Assim, o julgamento virtual será retomado na segunda-feira, após a retirada do destaque do ministro Gilmar. A decisão de Moraes começou a ser julgada pelos demais ministros na sexta-feira (25), dia em que ex-presidente foi detido pela Polícia Federal (PF).

PRISÃO DE COLLOR – Ex-presidente foi preso na sexta-feira para cumprir pena de oito anos e dez meses por corrupção e lavagem de dinheiro em um esquema na BR Distribuidora. A prisão foi determinada por Moraes, que rejeitou recursos contra a condenação, ocorrida em 2023.

A prisão aconteceu às 4h, segundo seu advogado. Ao mandar prender Collor, Moraes pediu que caso fosse enviado ao plenário virtual para análise dos demais colegas. A sessão chegou a ser marcada para as 11h da sexta, mas Gilmar Mendes interrompeu-a pouco depois, enviando o caso para análise do plenário físico.

O placar estava em 4 a 0 a favor da prisão, com votos de Flávio Dino, Edson Fachin e Luís Roberto Barroso, além do voto do relator, o próprio Moraes.

VÁRIOS RECURSOS – A pena total de Collor, estabelecida pelo STF em 2023, é de oito anos e dez meses de prisão e 90 dias-multa. Desde então, a defesa de Collor e dos outros envolvidos apresentou embargos de declaração para esclarecer pontos do acórdão e rever alguns aspectos da condenação.

Da pena total, quatro anos e quatro meses eram relativos ao crime de corrupção passiva. A defesa recorreu desta condenação específica. O relator do caso, o ministro Moraes, negou os embargos.

Em junho de 2024, porém, o ministro Dias Toffoli apresentou um voto-vista, entendendo que a pena de Collor para o crime de corrupção passiva deveria ser reduzida para quatro anos e 80 dias-multa.

LAVA JATO – Ação é desdobramento da Lava Jato. Collor foi denunciado pela PGR em 2015 sob a acusação de receber R$ 20 milhões em propinas entre 2010 e 2014 para viabilizar, por meio de indicações políticas, um contrato de troca de bandeira de postos de combustível celebrado pela BR Distribuidora, subsidiária da Petrobras.

STF já havia rejeitado recursos de Collor em que ele afirmava que a pena não correspondia ao voto médio do plenário.

A alegação dele é de que deveria prevalecer os votos de André Mendonça, Dias Toffoli, Gilmar Mendes e Nunes Marques, que votaram por reduzir a pena do ex-presidente para quatro anos.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Tudo que envolve a Lava Jato acaba ficando complicado. Os ministros do Supremo se enrolaram tanto para conseguir condenar Collor que agora
está difícil se acertarem e ficam batendo cabeça.
(C.N.)

Cristianismo só se fortaleceu dois séculos depois da morte de Cristo

Título: Os povos do ungido 
A ilustração de Ricardo Cammarota foi executada em técnica manual com tinta aquarela sobre papel. Na horizontal, proporção 13,9cm x 9,1cm, a imagem apresenta uma composição livre com elementos de pintura aquarela e colagem digital. Com traços estilizados e soltos, em cores vibrantes, há uma figura rosto humana masculino cabelos longos e barba. Há símbolos de gênero (masculino/feminino e outros) e símbolos religiosos (cruzes) sobrepostos à figura humana. No canto esquerdo, há uma vela acesa. O fundo é composto por manchas de cores variadas, em atmosfera abstrata e texturizada. A sobreposição de elementos sugere uma complexidade de significados e reflexão sobre as relações entre estes conceitos.

Ilustração de Ricardo Cammarota (Folha)

Luiz Felipe Pondé
Folha

Como foram os dois primeiros séculos da era cristã entre os cristãos? Pouco se sabe. De cara, sabe-se hoje que, por exemplo, esses primeiros “cristãos” não se viam ou se chamavam de cristãos. A multiplicidade reinava no âmbito daquilo que “evoluiu” para o cristianismo dos concílios, da Antiguidade tardia e da Idade Média.

Se você pegasse uma máquina do tempo e desembarcasse numa daquelas cidades para as quais Paulo escreveu suas cartas — por volta do ano 60 da era comum — você ficaria espantado com o fato de que “os cristãos” não se chamavam de cristãos, nem formavam qualquer unidade possível de ser imaginada então.

OBRA IMPORTANTE – O livro “After Jesus Before Christianity”, de Erin Vearncombe, Brandon Scott e Hal Taussig, busca esclarecer algumas características desses dois primeiros séculos da era cristã. Afora a riqueza de dados trazidos na obra, que faz dela importante, o fato de ter sido escrita por pesquisadores cristãos é um problema.

O tempo todo o leitor percebe um viés de interpretar os achados sob a luz de um certo tipo de teologia contemporânea de cepa progressista, pautada pelas obsessões ideológicas do século 21.

Os autores apresentam naquilo que chamam de “experimento” uma ideia que guia todo o percurso: “o futuro não é inevitável: frequentemente é randômico, uma questão de acasos”. O experimento se trata de, a partir dos achados históricos, imaginar o que seria a religião de Cristo se ela “evoluísse” dentro do quadro de multiplicidade, descentralização e enfrentamento da ordem política e social que marcava os “povos do ungido”.

LINHAGEM DE BISPOS – Qual seria a narrativa oficial a que eles se opõem? Jesus desceu dos céus para estabelecer a igreja cristã. Seu nascimento marca o surgimento das civilizações. Durante sua vida, ele disse a verdade e fez coisas que só Deus poderia fazer. Ele passou seus ensinamentos para seus mais leais seguidores, os apóstolos.

Esses apóstolos passaram adiante, de forma correta, os ensinamentos e realizações magníficas de Jesus para os bispos da igreja nascente que, por sua vez, os passaram para os bispos dos próximos dois séculos.

Essa linhagem fiel de bispos sintetizou perfeitamente tudo o que Jesus disse e fez para o credo de Niceia no século 4º, que, por sua vez, transmitiu a plena verdade de tudo isso para o século 21.

CRENÇA OFICIAL – Claro que esse sumário é monstruosamente didático, mas, sem dúvida, resume bem a crença oficial do processo de estabelecimento da igreja cristã do século 1º ao 21. A forma como essas comunidades eram designadas por elas mesmas e pelas autoridades romanas não passa nem perto da palavra cristianismo.

Exemplos: “os seguidores do partido do ungido” —ungido é Christos em grego, tradução de “Messias”, pois o rei de Israel era ungido com óleos —, “os povos de Jesus”, “o clube de Jesus”, “escola do salvador”.

Segundo Pierluigi Piovanelli, no seu “Le Jésus des Historiens”, essa multiplicidade de grupos cristãos iniciais nunca teve na “religião do amor” sua unidade. Isso é uma construção posterior.

PONTOS PRINCIPAIS – São seis os grandes temas desenvolvidos pela primeira obra citada aqui. Eles resistiram à violência típica do Império Romano criando comunidades alternativas, fugindo, buscando levantar o moral dos infelizes do império.

Eles praticavam transgressão de gênero. Aqui o viés ideológico é claro. Nessas comunidades, os gêneros eram fluidos, mulheres se vestiam de homem. Todo mundo sabe que mulheres se vestirem de homens e vice-versa é apontado em vários momentos na Antiguidade, mesmo entre romanos. A homoafetividade e a transexualidade sempre existiram.

Os homens eram vulneráveis e menos dominadores. O que quer dizer isso? Choravam o tempo todo, não eram machões, não eram autoritários? A imagem bate bem com a ideia de um cristão ideal, mas “vulnerabilidade” é uma expressão carregada de ranço ideológico feminista.

ERAM ISRAELISTAS – Eles viviam em famílias escolhidas e não de sangue. Jesus mesmo falava que abandonassem famílias e o seguissem. Tudo bem. Mas o cristianismo não inventou comunidades sem linhagem de sangue. A ideia de famílias escolhidas no século 21 é claramente ideológica, contra a “família natural” que seria patriarcal.

Consideravam-se israelitas. Serem reconhecidos como do partido do ungido, no Império Romano, era mortal, porque o ungido era uma categoria política em Israel, logo essa identificação custou caro aos cristãos, vistos como rebeldes ao império.

Seus modos de organização eram múltiplos, não havia qualquer intenção de unidade. Praticavam a cultura oral, sem apelo à escrita. Enfim, sem a linhagem de bispos, esse tipo de cristianismo teria acabado ao fim de 200 anos.

Sérgio Moro diz que a prisão de Collor é mais um acerto da Lava Jato

Análise: Moro classifica prisão de Collor como "uma vitória da lei e da  Justiça” | CNN 360°Pedro Venceslau
CNN Brasil

Como principal juiz da Operação Lava Jato, o senador Sérgio Moro (União – PR) classificou como um fato altamente positivo a prisão do ex–presidente Fernando Collor nesta sexta-feira, dia 25. “Foi uma vitória da lei, da Justiça e um desdobramento da Lava Jato”, disse Moro à CNN.

“A prisão suscita diversas questões: por que outros ladrões da Petrobrás estão soltos injustificadamente? Por que omite-se, nas notícias, que foi Lula quem entregou a BR Distribuidora ao Collor?”.

LAVA JATO – A investigação aconteceu no âmbito da Operação Lava Jato. Procurada, a assessoria de imprensa da Presidência da República ainda não se manifestou.

O ex-presidente Collor foi denunciado pela PGR (Procuradoria-Geral da República) em 2015, acusado de receber propina para viabilizar, por meio de indicações políticas, contratos na BR Distribuidora, subsidiária da Petrobras.

A defesa alegou problemas de saúde para requerer o benefício da prisão domiciliar, mas o próprio Collor arruinou a estratégia, dizendo à Polícia Federal que goza de excelente saúde. Disse também que gostaria de cumprir a pena em Maceió.

Terça-feira, o “kit obstrução” paralisa a Câmara até colocar anistia em pauta

Oposição planeja obstrução na Câmara caso projeto de lei de anistia não  avance | Jovem Pan

Sóstenes, do PL, vai comandar a obstrução na Câmara

Caio Junqueira
CNN Brasil

O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos), entendeu o recado do Supremo Tribunal Federal e do Palácio do Planalto e travou o projeto que anistia os investigados no 8 de janeiro. O líder do Podemos na Câmara, Rodrigo Gambale (SP), retirou o apoio do partido e facilitou a deliberação

Foi mais uma derrota clara da oposição bolsonarista, que insiste no tema como pauta única do seu campo político. E uma vitória clara de Hugo Motta, que sai do episódio com crédito junto ao governo e ao Supremo.

KIT OBSTRUÇÃO – Oposição promete “kit obstrução” até anistia ser pautada, porque continua valendo a lista de apoio individual, assinada por mais do que a maioria absoluta.

O que será medido agora é se o bolsonarismo irá optar por uma estratégia agressiva contra quem barrou sua pauta — que atende ao desejo de sua base — ou por um caminho mediado entre os três Poderes, que pressupõe um recuo político.

O que ficou certo hoje é que a anistia só deve sair se houver um acordão. Embora hoje não haja nenhum sinal de que esse acordão vá acontecer.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Tudo depende da convicção dos deputados. Se a maioria absoluta (257) continuar apoiando a anistia, o presidente Hugo Motta será obrigado a colocar em votação o pedido da “urgência urgentíssima”. Se for aprovado esse requerimento, conforme tudo indica, a anistia começa a ser discutida imediatamente até ser votada em definitivo. Se aprovada em plenário, segue para o Senado. Caso os senadores também apoiem, vai à sanção do presidente Lula para se tornar lei e entrar em vigor.  O esquema é esse. A partir desta terça-feira, começa a ser usado o kit obstrução, que interrompe as votações na Câmara. (C.N.)